O PARADIGMA MUDOU MESMO?
Apropósito do mau estado do troço que liga a Vidrul ao Kifangondo, Dom Maurício Camuto escreveu:
“(...) aquando da vinda do PR JLO ao Bengo realizouse aí um trabalho paliativo, para o Presidente pensar que está tudo muito bem, como sempre. Uma semana depois, se tanto, o troço estava outra vez na mesma. Qual é o interesse, em fazer aquele tipo de trabalho, enganar o Presidente?”
O líder da diocese de Caxito pode tê-lo feito involuntariamente, mas as suas palavras são uma valente denúncia da mentira que tem sido o novo paradigma prometido aos angolanos em 2017.
Antes de 2017, o paradigma era rigorosamente o mesmo: as deslocações do Presidente da República eram antecedidas de obras paliativas, por isso, de duração e qualidade duvidosas. Intrigantemente, o Presidente da República acreditava ou fingia acreditar naquilo que o mais comum dos cidadão tomava como trampa.
De poucas falas, José Eduardo dos Santos raramente fazia considerações sobre o que os seus olhos viam.
Do seu antecessor, o Presidente João Lourenço não herdou, apenas, o mau hábito de anunciar, com meses de antecedência, as suas deslocações a capitais de província, dando tempo a que os governadores locais façam algumas obras de fachada. Ao mau hábito, o Presidente João Lourenço acrescentou a emoção.
Em Caxito, para onde se deslocou de carro, o Presidente João Lourenço quase se esvaiu em lágrimas porque encontrou ruas limpas, porque lavadas na noite anterior.
Em Ndalatando (para onde se deslocou de avião, quando uma viagem por estrada lhe daria uma outra percepção da realidade) e em Malange, o nosso “emocionado” Presidente enalteceu realizações que sobreviveram apenas o tempo em que esteve lá.
Do seu antecessor, o actual Presidente da República herdou, também, o paradigma de não exigir do seu staff relatórios prévios às duas deslocações provinciais para confronta-los com os governadores locais.
Do seu antecessor, João Lourenço herdou, ainda, o paradigma de evitar visitas surpresas a empresas ou províncias para ver as coisas no seu “estado natural”. Agora, diante de avassalador relato do Bispo da Diocese de Caxito o que fará o Presidente da República? Sentará à pedra quem o enganou – no caso o seu amigo ministro da Construção e Obras Públicas – ou enfiará a cabeça na areia, dando à imensa turba que o idolatra interesseiramente liberdade de repreender o clero por partilhar o sofrimento do rebanho? Conhecida a facilidade com que se emociona, ao Presidente da República aconselha-se uma visita relâmpago ao Complexo Hospitalar Cardio Pulmonar Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, que inaugurou com pompa e circunstância há menos de 2 meses.