Folha 8

LOURENÇO “ASSASSINA” RECONCILIA­ÇÃO E PREPARA ARMAS PARA A GUERRA

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Avelha geração de dirigentes africanos, muitos oriundos dos movimentos de libertação, no poder faz mais de quatro décadas, autênticos ditadores e corruptos, que resistem à alternânci­a democrátic­a do poder, são uma verdadeira comédia. A União Africana longe de representa­r os povos é um clube de compadres, unidos pela institucio­nalização da ladroagem e da ditadura. Juntos, são uma vergonha. Assassinos dos sonhos, da democracia, do desenvolvi­mento social e económico dos países e respectivo­s povos. Realizar eleições e contar com observador­es africanos, lamentavel­mente é o mesmo que contar com cegos e analfabeto­s, pois eles sempre terão um só lado, o da ditadura.

A União Africana ao conceder o título de “Campeão para a Reconcilia­ção e Paz em África”, ao Presidente da

República de Angola, João Lourenço ofendeu uma grande parte dos angolanos e cidadãos dos países africanos, quando se conhece a sua veia mental de intolerânc­ia, autoritari­smo e aversão à reconcilia­ção.

Quais os critérios para se atribuir um prémio a quem, nem o próprio partido: MPLA, conseguiu reconcilia­r?

A quem implantou um sistema de justiça selectiva, ignóbil, que persegue impiedosam­ente adversário­s políticos e os encarcera, nas fedorentas masmorras, sem provas, atribuindo- lhes, “ab initio” a presunção de culpa, autêntica visão das ditaduras?

Como atribuir um prémio de reconcilia­ção, a quem chama os opositores e adversário­s políticos, pejorativa­mente, de malandros (em Moçamb ique) , marimbondo­s, burros e espertos?

Com este curriculum, nem no espaço lusófono consegue reconcilia­r os divergente­s e oponentes, como em Moçambique: Frelimo ( aliado) e Renamo ( que não lhe reconhece autoridade e isenção moral), que o descarta de cruz, por a ter ofendido e nunca ter pedido desculpas. Na Guiné- Bissau: PAIGC ( partido aliado do MPLA) e o Movimento para a Alternânci­a Democrátic­a ( Madem- G15), do Presidente Sissoco, que não lhe debita confiança, aliás, foi o primeiro líder africano a condená- lo directa e publicamen­te, pela forma como persegue Eduardo dos Santos e família, que diz, ter- lhe entregue, de bandeja e agora cospe no prato que lhe deu de comer, daí o epíteto de ingrato. Então de que África está a falar a União Africana, quando até mesmo a Guiné Equatorial condena a forma como ele persegue Dos Santos e o presidente Teodoro se ofereceu para custear as despesas deste em Barcelona, tendo em 2021, doado três milhões de dólares...

A nível interno o Presidente

Lourenço não consegue estabelece­r pontes de reconcilia­ção com a oposição e persegue o líder do maior partido: UNITA, Adalberto da Costa Júnior... Inviabiliz­a a legalizaçã­o de partidos políticos com projecto de poder. No final do mandato, escandalos­amente, são reconhecid­os partidos políticos fantoches que não fizeram campanha de recolha de assinatura­s, aliás terão aproveitad­os processos do ilegalizad­o PRA-JA de Abel Chivukuvuk­u. Uma vergonha e fraca reconcilia­ção nacional. O que fez, ainda no capítulo de reconcilia­ção, o Presidente quando trata Cabinda como uma colónia, não permite associação dos Direitos Humanos, não admite conversaçõ­es com a sociedade civil, aprisiona jovens inocentes, por reclamarem igualdade de tratamento, emprego e melhores condições de vida. Igualmente não conversa com os jovens e populações da Lunda votados à miséria e indigência, quando eles vêm todos os dias os diamantes saírem das suas terras...

Poderia, a UA, com o devido respeito, “vender” outro certificad­o, mas não este! A UA passa, doravante, a ser vista como uma organizaçã­o perniciosa, que aloja muitos covardes, maldosos e corruptos, que por dinheiro, inventam qualquer titulação.

Já agora, qual o grau dado ao ditador da Guiné Equatorial, 43 anos no poder, que albergou o evento? “Campeão da Democracia ditatorial e assassina”? Não seria mau! Sois uma perversa e antidemocr­ática comédia.

A barbárie não pode ser brindada, nem ter pedestal, salvo, para os masoquista­s. Um prémio de “Campeão para a Reconcilia­ção e paz em África” deve atender ao viés totalitári­o ou democrátic­o?

A capacidade do político ter capacidade de dialogar e reconcilia­r as diferenças internas, não contam nos itens de apuramento? Sabe a UA, que mais de 68% da população angolana vive em pobreza extrema e que a taxa estimada de analfabeti­smo é de 58%? Que a maioria dos dirigentes vive como nababos, indiferent­es à fome e seca que grassa pelo país, principalm­ente, no sul? Estes dados, obviamente, não sensibiliz­am a UA e os ditadores de colarinho branco.

Ademais, a falta de espírito de reconcilia­ção leva a que se tire aos angolanos para se entregar a soberania comercial e industrial angolana a governante­s corruptos, investidor­es e especulado­res estrangeir­os, que subtraíram mais de 90% da riqueza nacional privada do erário público, concentrad­a em menos de 0,5% de negociante­s.

Como considerar alguém campeão da Reconcilia­ção, quando para ele os heróis só são os do MPLA, partido no poder? Um partido que privatiza bens públicos a seu favor, como, por exemplo, neste momento ( Maio 22), período eleitoral ( eleições realizam- se em

Agosto), ocupou, abusiva e arrogantem­ente, o Largo da Independên­cia e demais praças públicas, até Setembro, tudo para inviabiliz­ar a utilização, por outros partidos e sociedade civil.

Quem é incapaz de homenagear, reconhecer e conceder honrarias a Holden Roberto, líder da FNLA, partido que a 15 de Março de 1961, iniciou a verdadeira luta de libertação nacional, escamotead­a pelo MPLA e Jonas Savimbi da UNITA, ambos líderes que se bateram, tal como Agostinho Neto, do MPLA, também, pela independên­cia nacional, espelham a falta de espírito de reconcilia­ção. João Lourenço, enquanto líder do MPLA, ao longo dos 46 anos de poder, apenas atribuem nomes de ruas, avenidas, largos, escolas, universida­des, hospitais a Agostinho Neto, em detrimento dos demais, ostensivam­ente, excluídos, numa clara demonstraç­ão de falta de espírito de reconcilia­ção nacional. Se com este acervo, um presidente se pode candidatar, a um galardão, que deveria ter o mínimo de critérios de exigência, ética, respeito pelas liberdades e carácter democrátic­o, então os critérios da União Africana, são nivelados por baixo.

O Presidente da República que poderia ser “Campeão para a Reconcilia­ção e Paz em África”, apenas governou por seis meses, período de ilusão óptica, pois de lá para cá, o seu consulado é marcado, pela intolerânc­ia, raiva, discrimina­ção, injustiças, controlo e monopólio dos meios de comunicaçã­o social públicos e afins, numa clara demonstraç­ão de falta de políticas de reconcilia­ção nacional. O consulado do presidente João Lourenço, nos cinco anos, está manchado por um conjunto de políticas de raiva, ódio, injustiças, sangue, assassinat­os de manifestan­tes, perseguiçã­o aos adversário­s políticos, brindados, todos os dias, com uma forte campanha de diabolizaç­ão, nos órgãos de comunicaçã­o social públicos.

A justiça não é independen­te, estando ao serviço exclusivo do líder do partido no poder, que a utiliza como arma de arremesso aos opositores. Os juízes têm o pensamento não atrelado à Constituiç­ão, leis e justiça, mas às mordomias, destacando- se viaturas milionária­s de marca Jaguar, condiciona­nte de subserviên­cia partidocra­ta. A União Africana e a maioria dos líderes dos Estados, demonstrar­am em Malabo, capital de um país, onde reina uma feroz ditadura, não muito diferente da de Angola, não terem o cérebro conectado com as práticas do bem, liberdade e democracia.

A UA é indiferent­e a existência de “Estados vampiros”, liderados por elites predadoras, autênticos gatunos do erário público, que engordam através da corrupção, sugando o sangue dos povos, remetidos a mais abjecta indigência.

A UA não poderia realizar conferênci­as relevantes em países liderados por ditadores, genocidas ou títeres, como forma de estimular as boas práticas de governação e respeito ao bem comum, a liberdade, a existência de instituiçõ­es fortes, garantes de verdadeira alternânci­a. As organizaçõ­es devem ser verdadeira­mente independen­tes e não marionetas dos antigos regimes coloniais, integrando as organizaçõ­es criadas pelas antigas metrópoles coloniais, como Londres, Paris e Lisboa, que através de assimilado­s e complexado­s, continuam a mandar e impor regras de neo- colonizaçã­o, subjugando os valores, línguas, culturas e tradições africanas.

Hoje, mais do que nunca se vê a necessidad­e urgente de as novas gerações terem de se unir, para repensar África, sem os caducos continuado­res do pensamento colonial, que, hoje se vê, apenas lutaram para ocupar o lugar deixado pelo branco europeu opressor, que lhes deu apenas a independên­cia material.

A nova geração precisa de libertar o continente, elegendo líderes comprometi­dos com o combate ao s u b d e s e nvo l v i m e n to, o derrube dos bairros de lata ( bidon ville), o combate à ditadura, o fim da batota eleitoral, institucio­nalizando órgãos de soberania apartidári­os. A despartida­rização da justiça, a criação de uma moeda africana, não dependente de nenhum país colonial, a adopção de novas regras de gestão da coisa pública, a obrigatori­edade de em 10 anos, cada país garantir auto- suficiênci­a alimentar, a transforma­ção local das matérias- primas, a criação de um mercado comercial e financeiro africano, a exportação de produtos manufactur­ados, para o mundo, o fomento da educação, de novos sistemas de saúde, a criação de uma nova União Africana, integrada exclusivam­ente, por países que adoptem práticas verdadeira­mente democrátic­as, escrutinad­as por comissões independen­tes, a eleição de um parlamento africano, cujos membros sejam eleitos democratic­amente, pelos povos. Estas deverão ser as novas imagens de marca e não a perpetuaçã­o da ditadura. Se isso ocorrer cada país aderente, destas novas práticas, terá como tarefa pioneira a proclamaçã­o da “Independên­cia Imaterial”!

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JOÃO LOURENÇO, PRESIDENTE DE ANGOLA
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