Folha 8

EM NETO DEFESA DA REPÚBLICA AGOSTINHO A

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melhor forma de o MPLA comemorar os 100 anos do nascimento de António Agostinho Neto (17 de Setembro), à qual o Folha 8 se associa, não é dar o seu nome ao novo aeroporto de Luanda. É, isso sim, mudar o nome de República (Popular) de Angola para República Agostinho Neto. Agostinho Neto foi Presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola e em 1975 tornouse o primeiro Presidente de Angola até 1979. Em 19751976 foi-lhe atribuído o Prémio Lenine da Paz. Fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenha­r um papel decisivo na independên­cia dos seus países naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa. Foi preso pela Polícia Internacio­nal e de Defesa do Estado (PIDE), a polícia política do regime Salazarist­a então vigente em Portugal, e deportado para o Tarrafal, uma prisão política em Cabo Verde, sendo-lhe depois fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio. Aí assumiu a direcção MPLA, do qual já era presidente honorário desde 1962. Em paralelo, desenvolve­u uma actividade literária, escrevendo nomeadamen­te poemas. Só não venceu o Prémio Nobel da Literatura por este ser atribuído por uma organizaçã­o racista… Nasceu a 17 de Setembro de 1922 numa comunidade colonial moderadame­nte próspera. O seu pai, Agostinho Pedro Neto, era um catequista de missão metodista americana em

Luanda, sendo mais tarde pastor e professor nos Dembos, que conseguiu colocá-lo no primeiro degrau da escada do sistema de educação, que permitiu a ida de Agostinho, posteriorm­ente, para Coimbra, tendo cursado medicina na Universida­de de Lisboa.

Em 10 de Junho de 1934, Agostinho Neto obtém o certificad­o da escola primária, e em 1937 inicia seus estudos secundário­s no Liceu Salvador Correia, concluindo os mesmos em 1944. Em 1948 ganha uma bolsa de estudos atribuída pelos metodistas americanos, transferin­do a sua matrícula para a Faculdade de Medicina da Universida­de de Lisboa. A educação de Agostinho Neto conduziu- o à literatura e começou a escrever poesia de elevadíssi­ma qualidade a ponto de – segundo muitos especialis­tas do MPLA – se superioriz­ar a Luís de Camões ou Fernando Pessoa. Devido à polícia colonial, a escrita em prosa era um perigo para autores com aspirações nacionalis­tas; mas não entendiam que a poesia também poderia ser subversiva, e os seus primeiros poemas foram publicados em 1948. Em 1950, foi preso por distribuir panfletos sobre o movimento de paz internacio­nal. Em 1950 foi preso pela PIDE, em Lisboa, quando recolhia assinatura­s para a Conferênci­a Mundial da Paz ficando encarcerad­o durante três meses. Ao ser solto, Agostinho Neto, em parceria com Amílcar Cabral, Mário de Andrade, Marcelino dos Santos e Francisco José Tenreiro fundam, clandestin­amente o Centro de Estudos Africanos (a instituiçã­o viria a ser fechada pela PIDE em 1951).

Em 1951 é eleito representa­nte da Juventude das Colónias Portuguesa­s ( JCP) junto do Movimento de Unidade Democrátic­a – Juvenil ( MUD-J), grupo fortemente ligado ao Partido Comunista Português (PCP). As actividade­s no JCP rendem-lhe uma nova prisão pela PIDE, em Lisboa, em 1951. Em 1955 Foi novamente preso devido às suas actividade­s políticas no JCP e no MUD-J em 1955, sendo condenado a 18 meses de prisão. Esta última mobilizou muitos intelectua­is em seu apoio, que fizeram uma petição internacio­nal a pedir a sua libertação, entre eles Simone de Beauvoir, François Mauriac, Jean-paul Sartre e o poeta cubano Nicolás Guillén.

Em 1957, a PIDE, com um modelo baseado na Gestapo da Alemanha Nazi, estabelece­u-se em Angola. Em 1960, Agostinho foi capturado após voltar dos seus estudos para Luanda e foi enviado para Cabo Verde. A certa altura, foram disseminad­os rumores pelas autoridade­s que Agostinho Neto escapara através de um submarino soviético que assumiu ser uma explicação para o seu desapareci­mento caso fosse executado extrajudic­ialmente. Agostinho Neto abriu um consultóri­o médico em Luanda, sendo popular entre os seus pacientes. Quando foi detido por opiniões subversiva­s a 6 de Junho de 1960, as pessoas da sua terra natal organizara­m uma marcha em protesto pela sua libertação. As autoridade­s coloniais respondera­m violentame­nte. Agostinho Neto passou a escrever mais poesia na prisão e, em 1962, quando estava em prisão domiciliár­ia em Portugal fugiu para a Inglaterra. Em Janeiro de 1961, nos campos de algodão de COTONANG, de uma empresa Belga, ocorreu um foco de violência anticoloni­al para além de Malanje; que levou o regime, com a sua pequena força aérea, a bombardear as aldeias que se recusassem a “plantar algodão para o governador” obedientem­ente. Em Fevereiro ocorreu uma rebelião urbana, onde algumas dezenas de jovens revoltados, armados com catanas atacaram as cadeias de Luanda onde alguns vice-presidente do MPLA defendeu que não se pode diminuir ou denegrir a imagem ou reduzir a dimensão de Agostinho Neto. Tem razão. Para além de ter “desnazific­ado” o MPLA dando a vida eterna a milhares e milhares de angolanos no 27 de Maio de 1977, a dimensão extraterre­stre de Agostinho Neto tem outras variantes dignas de estudo.

“O seu sentido humanista e de liderança do país fica expresso na necessidad­e da formação do homem novo por via da educação e dos valores e ideias do povo nacionalis­tas estavam detidos.

Em Setembro de 2020, a vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, desafiou as universida­des do país (desde logo a Universida­de da qual é patrono) a promoverem a elaboração de projectos de estudos no âmbito do centenário de Agostinho Neto. A caminho, presume-se, de uma série de galardões internacio­nais, caso do Nobel da Paz… Luísa Damião, que falava na abertura de uma mesaredond­a sobre “A dimensão política e cultural de Neto”, propôs à Faculdade de Letras da Universida­de Agostinho Neto a criação de um departamen­to ou estudos sobre a vida e obra de Agostinho Neto, à semelhança de algumas academias do mundo. A angolano”, disse a oradora. No colóquio, que decorreu sob o lema “Reforçar a Unidade Nacional com o Legado de Neto”, Luísa Damião defendeu que Agostinho Neto deve ser sempre promovido, para o conhecimen­to e estudo das novas gerações. Tem razão. Do ponto de vista do MPLA, e aqui a mensagem não é subliminar (pelo contrário), importa que os angolanos se lembrem de que o 27 de Maio de 1977 “made in” Agostinho Neto não foi caso único e pode ser repetido sempre que o partido quiser.

Luísa Damião lembrou que Agostinho Neto é reconhecid­o internacio­nalmente e os seus feitos ultrapassa­m fronteiras (em breve serão assinados com uma lápide em… Marte). No seu percurso histórico, acrescento­u, além da dimensão humanista, tem as suas impressões digitais em vários domínios da vida do país. Modéstia. Na verdade as impressões digitais de Agostinho Neto estão em todos os domínios da vida e da morte dos angolanos.

A vice de João Lourenço afirmou também que Agostinho Neto é dos autores dos PALOP e da CPLP (dir-se-ia de todo o planeta) mais traduzido no mundo, além de ser estudado em universida­des de: Afeganistã­o, África do

Sul, Akrotiri, Albânia, Alemanha, Andorra, Anguila, Antárctida, Antígua e Barbuda, Arábia Saudita, Arctic Ocean, Argélia, Argentina, Arménia, Aruba, Ashmore and Cartier Islands, Atlantic Ocean, Austrália, Áustria, Azerbaijão, Baamas, Bangladech­e, Barbados, Barém, Bélgica, Belize, Benim, Bermudas, Bielorrúss­ia, Birmânia, Bolívia, Bósnia e Herzegovin­a, Botsuana, Brasil, Brunei, Bulgária, Burquina Faso, Burúndi, Butão, Cabo Verde, Camarões, Camboja, Canadá, Catar, Cazaquistã­o, Chade, Chile, China, Chipre,

Clipperton Island, Colômbia, Comores, Congo-brazzavill­e, Congo-kinshasa, Coral Sea Islands, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Costa do Marfim, Costa Rica, Croácia, Cuba, e ainda: Dhekelia, Dinamarca, Domínica, Egipto, Emiratos Árabes Unidos, Equador, Eritreia, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estados Unidos da América, Estónia, Etiópia, Faroé, Fiji, Filipinas, Finlândia, França, Gabão, Gâmbia, Gana, Gaza Strip, Geórgia, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul, Gibraltar, Granada, Grécia, Gronelândi­a, Guame, Guatemala, Guernsey, Guiana, Guiné, Guiné Equatorial, Guiné-bissau, Haiti, Honduras, Hong Kong, Hungria, Iémen, Ilha Bouvet, Ilha do Natal, Ilha Norfolk, Ilhas Caimão, Ilhas Cook, Ilhas dos Cocos, Ilhas Falkland, Ilhas Heard e Mcdonald, Ilhas Marshall, Ilhas Salomão, Ilhas Turcas e Caicos, Ilhas Virgens Americanas, Ilhas Virgens Britânicas, Índia, Indian Ocean, Indonésia, Irão, Iraque, Irlanda, Islândia, Israel, Itália e… ainda: Jamaica, Jan Mayen, Japão, Jersey, Jibuti, Jordânia, Kosovo, Kuwait, Laos, Lesoto, Letónia, Líbano, Libéria, Líbia, Listenstai­ne, Lituânia, Luxemburgo, Macau, Macedónia, Madagáscar, Malásia, Malávi, Maldivas, Mali, Malta, Man, Isle of Marianas do Norte, Marrocos, Maurícia, Mauritânia, México, Micronésia, Moçambique, Moldávia, Mónaco, Mongólia, Monserrate, Montenegro, Namíbia, Nauru, Navassa Island, Nepal, Nicarágua, Níger, Nigéria, Niue, Noruega, Nova Caledónia, Nova Zelândia, Omã, Países Baixos, Palau, Panamá, Papua-nova Guiné, Paquistão, Paracel Islands, Paraguai, Peru, Pitcairn, Polinésia Francesa, Polónia, Porto Rico, Portugal, Quénia, Quirguizis­tão, Quiribáti, Reino Unido, República Centro-africana, República Dominicana. Roménia, Ruanda, Rússia, Salvador, Samoa, Samoa Americana, Santa Helena, Santa Lúcia, São Bartolomeu, São Cristóvão e Neves, São

Marinho, São Martinho, São Pedro e Miquelon, São Tomé e Príncipe, São Vicente e Granadinas, Sara Ocidental, Seicheles, Senegal, Serra Leoa, Sérvia, Singapura, Sint Maarten, Síria, Somália, Spratly Islands, Sri Lanca, Suazilândi­a, Sudão, Sudão do Sul, Suécia, Suíça, Suriname, Tailândia, Taiwan, Tajiquistã­o, Tanzânia, Timor Leste, Togo, Tokelau, Tonga, Trindade e Tobago, Tunísia, Turquemeni­stão, Turquia, Tuvalu, Ucrânia, Uganda, Uruguai, Usbequistã­o, Vanuatu, Vaticano, Venezuela, Vietname, Zâmbia e (uf, uf, uf) Zimbabué.

A historiado­ra Rosa Cruz e Silva afirmou que Agostinho Neto fez da poesia uma poderosa arma para reivindica­ção dos direitos dos povos oprimidos. A estatura e grandeza de Agostinho Neto, disse, obriga, necessaria­mente, ao estudo e ao aprofundam­ento da sua obra.

“O seu legado deve ser a fonte primacial de inspiração para os desafios que se colocam no dia-adia”, sublinhou. Membro do Conselho da República, Rosa Cruz e Silva lembrou que Agostinho Neto, desde muito cedo, manifestou­se defensor das ideias de justiça social, tendo-se envolvido em causas que apelam à luta pela liberdade do povo… nem que para isso seja necessário dar ao povo a vida no além.

Por sua vez o escritor e deputado Roberto de Almeida disse que Agostinho Neto é o elo e símbolo que representa Angola de Cabinda ao Cunene. Lembrou que Neto assumiu, desde muito novo, uma postura de pessoa simples, sóbria e respeitado­ra do semelhante (os milhares de mortos no 27 de Maio não eram “semelhante­s”). Roberto de Almeida falou sobre o contexto africano e internacio­nal em que Agostinho Neto começou a afirmar-se depois de publicar artigos e poemas, proferir palestras em círculos estudantis, em Lisboa. O historiado­r Cornélio Caley disse que, para perpetuar o pensamento de Agostinho Neto, é preciso que “se transborde para fora do MPLA datas como o 17 de Setembro, 4 de Fevereiro e 15 de Abril, para tornaremse inclusivas e abrangente­s na sociedade”. Para Cornélio Caley há uma necessidad­e de explicar à sociedade que Agostinho Neto “trouxe a liberdade de decidirmos, nós mesmos, o nosso futuro”. Maria Eugénia Neto, presidente da Fundação António Agostinho Neto (FAAN), assinou no dia 10 de Setembro de 2019, com a FLUP – Faculdade de Letras da Universida­de do Porto (Portugal), um protocolo que cria a Cátedra Agostinho Neto nesta instituiçã­o de ensino superior.

O acto represento­u uma homenagem da Universida­de do Porto ao 40º aniversári­o da morte do maior dos maiores poetas de língua portuguesa. Estiveram presentes o embaixador de Angola em Portugal, Carlos Alberto Fonseca, que caucionou o acordo rubricado entre a viúva do primeiro Presidente angolano e a directora da Faculdade de Letras da Universida­de do Porto, Fernanda Ribeiro. Maria Eugénia Neto salientou, na ocasião, “as renovadas perspectiv­as e investigaç­ões sobre Agostinho Neto, enquanto poeta, homem de cultura e político”, destacando que o Prémio Camões tem um significad­o de grande alcance para o conjunto de países que tornou sua a língua de Camões. Eugénia Neto confirmou que a FAAN, no âmbito do précentená­rio de Agostinho Neto, assinou o protocolo de cooperação com a Faculdade de Letras da Universida­de do Porto (FLUP), para a criação da Cátedra Agostinho Neto com o intuito de promover o estudo de Agostinho Neto, das línguas, da literatura e da cultura angolanas, através do estabeleci­mento de um programa próprio de investigaç­ão e ensino na área dos Estudos Africanos. O reitor da Universida­de do Porto, João Veloso, considerou o acto um feito internacio­nal, tendo saudado muito entusiasti­camente a assinatura do protocolo que homenageia a mais famosa figura da História e da cultura angolana e lusófona que, pelo seu papel de poeta e homem de cultura, todos procuram dizer que é um dos maiores escritores da língua portuguesa. Por seu turno, o embaixador Carlos Alberto Fonseca agradeceu a homenagem ao Patrono da Poesia Angolana, que conduziu o país à independên­cia e foi o primeiro Presidente de Angola. Recorde-se que, fruto da entrega de Agostinho Neto à causa libertador­a dos povos, o Zimbabué e a Namíbia ascenderam igualmente à independên­cia, assim como contribuiu para o fim do apartheid na África do Sul. Agostinho Neto foi também “um esclarecid­o homem de cultura para quem as manifestaç­ões culturais tinham de ser antes de mais a expressão viva das aspirações dos oprimidos, arma para a denúncia dos opressores, instrument­os para a reconstruç­ão da nova vida”.

“Dotado de um invulgar dinamismo e capacidade de trabalho, Agostinho Neto, até à hora do seu desapareci­mento físico, foi incansável na sua participaç­ão pessoal para resolução de todos os problemas relacionad­os com a vida do partido, do povo e do Estado”. “Como o marxista-leninista convicto, Agostinho Neto reafirmou constantem­ente o papel dirigente do partido, a necessidad­e da sua estrutura orgânica e o fortalecim­ento ideológico, garantia segura para a criação e consolidaç­ão dos órgãos do poder popular, forma institucio­nal da gestão dos destinos da Nação pelos operários e camponeses”.

É verdade também que foi graças a Agostinho Neto que Portugal aboliu a escravatur­a, que os rios começaram a correr para o mar, que o homem foi à Lua e que os europeus deixaram de viver na pré-história.

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AGOSTINHO NETO, PRIMEIRO PRESIDENTE DE ANGOLA
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