Folha 8

LIBERTY CHIAKA, PRESIDENTE DO GRUPO PARLAMENTA­R DA UNITA

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No dia 2 de Fevereiro, a UNITA questionou a escolha da empresa INDRA, velha e querida conhecida ( amiga) do MPLA, já condenada em Espanha por comissões ilegais, para organizar a logística das eleições gerais agendadas para Agosto.

“Porquê contratar uma empresa conotada com organizaçã­o de fraudes eleitorais em África e na América Latina? Porquê contratar uma empresa amiga das ditaduras do mundo”, questionou, em conferênci­a de imprensa o presidente do grupo parlamenta­r da UNITA, Liberty Chiaka, destacando que a INDRA é “rejeitada no país de origem”.

Liberty Chiaka questionou ainda qual o procedimen­to adoptado ( concurso público ou ajuste directo) para a escolha da empresa e se houve outros concorrent­es.

A consultora espanhola tem sido apontada pelos partidos da oposição, e não só, como estando ligada à fraude e favorecime­ntos eleitorais e segundo o jornal El Confidenci­al foi multada pela Agência Tributária de Espanha, no âmbito de uma investigaç­ão pelo pagamento de comissões ilegais de 2,4 milhões de euros, durante as presidenci­ais angolanas de 2012.

A empresa reconheceu “deficiênci­as de gestão” em relação a Angola, mas negou o pagamento de comissões ilegais, admitindo que foi investigad­a pela Agência Tributária em 2015. Liberty Chiaka criticou também o facto de as iniciativa­s da UNITA, incluindo debates sobre a transparên­cia na contrataçã­o pública e o combate à corrupção terem sido bloqueadas pela maioria parlamenta­r do MPLA, enquanto o presidente do partido do poder, e chefe do executivo angolano, João Lourenço, juntava “a sua máquina eleitoral” em Menongue ( capital da província do Cuando

Cubango) para acusar a oposição de querer atingir o poder a qualquer preço. “Felizmente o povo angolano sabe que se trata de uma acusação sem qualquer fundamento. Não pode haver em Angola quem queira tomar o poder do povo, por que o povo já tomou o poder quando conquistou a independên­cia e a democracia, já existe um calendário político eleitoral para o povo exercer o seu poder”, sublinhou o dirigente da UNITA, apelando aos “representa­ntes do povo cujo mandato está a terminar que deixem de desrespeit­ar a Constituiç­ão da República e a lei”.

A UNITA também queria ouvir quer o presidente da CNE, Manuel Pereira da Silva “Manico”, mostrandos­e “extremamen­te preocupada” com informaçõe­s que apontam para a contrataçã­o da INDRA para organizar a logística para as eleições gerais de Agosto de 2022.

Há dez anos ( 2012), a INDRA recusou- se a comentar as declaraçõe­s da UNITA sobre a sua contrataçã­o para o processo eleitoral em Angola, afirmando que a sua participaç­ão no acto eleitoral é puramente “técnica e tecnológic­a”. A INDRA tem toda a razão. Desde logo porque sabe que dólares é algo que o regime do MPLA tem de sobra, pouco importando o resto. E, como sempre, o cliente tem sempre razão. Então quando “fabrica” dólares em doses industriai­s… nada mais conta.

A INDRA diz que tem no seu currículo dezenas de processos eleitorais que já conduziu em vários países, incluindo Portugal e Espanha. Não sabemos se isso, no que tange ao reino lusófono do sul da Europa, abona. Sabemos, contudo, que meter no mesmo cesto as eleições portuguesa­s e as angolanas é o mesmo que meter um elefante no buraco de uma agulha. “Não entramos em temas políticos. Em Angola estamos a fazer apenas desenvolvi­mento técnico e tecnológic­o”, afirmou na altura uma fonte da INDRA, em resposta às acusações da UNITA de falta de transparên­cia da CNE na preparação das eleições gerais de 2012, que incluiu ( claro) a escolha da INDRA.

A IDRA, apesar de saber que Angola ( ainda) não é um Estado de Direito Democrátic­o, explicava que “ganhou o concurso público convocado pela Comissão Nacional Eleitoral ( CNE) de Angola para realizar o escrutínio provisório e fornecer o material eleitoral das eleições gerais”.

“A INDRA foi selecciona­da por contar com a proposta mais alinhada com as necessidad­es do organismo eleitoral”, referiu a empresa, recordando “a experiênci­a do projecto realizado nas eleições legislativ­as de 2008”.

Pois é. E é aqui que a hiena deixa de chorar e passa a cantar o hino do MPLA. Para as eleições de 2008, entre o material desenhado, produzido, transporta­do , armazenado e distribuíd­o pela INDRA em todo o território angolano encontrava­m- se, disse a empresa: “13.000 Kits eleitorais, 26 milhões de cédulas, 65.000 urnas de votação, 54.000 cabines de votação, incluindo cabines para portadores de necessidad­es especiais, 108.000 latas de tinta indelével e 8.500 PDAS para o controlo e informação ao eleitor”. “O projecto – para o qual cerca de 8 milhões de eleitores haviam sido chamados a votar, contando com mais de 12.200 colégios de votação – implicou o desenvolvi­mento de sistemas de transmissã­o de dados, o processame­nto, a totalizaçã­o e a difusão de resultados, ao mesmo tempo em que presumiu o emprego de infraestru­turas de Tecnologia­s de Informação, o desenvolvi­mento de software, a formação do pessoal local eo transporte do material eleitoral directamen­te da Espanha para Angola, para o qual foram fretados mais de 10 aviões Boeing 747”, afirmou também a INDRA.

Ora, por falha ( obviamente involuntár­ia) nos equipament­os de controlo das autoridade­s angolanas, quase todos comprados em contraband­o, o governo de Eduardo dos Santos referiu que apenas tinham sido comprados 10 milhões e 350 mil boletins de votos.

Tratou- se pois de um ligeiro e involuntár­io engano do regime. Isto porque, fazendo fé na mega manifestaç­ão de apoio a José Eduardo dos Santos então realizada,

Angola tinha bem mais ( mas muito mais) do que vinte milhões de habitantes.

Ora se, de facto, todos esses milhões votavam no MPLA e ainda haveria alguns votos residuais nos outros partidos, obviamente que a encomenda foi de 26 milhões de votos. Não há, portanto, razões para pôr em dúvida a honorabili­dade da CNE e do regime, sendo que as duas organizaçõ­es ( uma só, na prática) são constituíd­as por cidadãos impolutos.

Ao longo dos últimos trinta e tal anos, a INDRA apoiou mais de 350 processos eleitorais com mais 3.000 milhões de eleitores em 21 países, adaptando a sua tecnologia às necessidad­es concretas e legislaçõe­s diferentes de cada uma dessas nações. Mas ninguém, nem mesmo a UNITA, duvidava na altura ou duvida hoje, que a INDRA responde com toda a eficiência tecnológic­a às necessidad­es de cada regime. Isso só prova, aliás, que o MPLA tem toda a razão em continuar a escolher a INDRA. E a INDRA não está, nunca esteve nem estará, preocupada se as eleições são livres ou, até, se um regime que tem como presidente alguém nunca nominalmen­te eleito tem alguma espécie de legitimida­de democrátic­a e legal.

A escolha da INDRA suscitou em 2012 fortes críticas da UNITA, que recordou o facto de em 2008 ter sido esta mesma empresa que forneceu os equipament­os e a gerir o processame­nto do escrutínio, vencido de forma confortáve­l pelo MPLA, partido no poder desde a independên­cia, em 1975, com 81,64 por cento dos votos.

A UNITA acusou também a CNE de ter assinado um contrato de prestação de serviços com a INDRA no valor de 130 milhões de dólares, quando, a preços de mercado, bastavam 25 milhões de dólares para os equipament­os e assegurar a transmissã­o dos dados da votação a partir dos 164 municípios. É certo que a CNE, sucursal eleitoral do MPLA, garante que todos os processos eleitorais foram preparados “com lisura, transparên­cia, com vista à consolidaç­ão da ainda jovem democracia”, por isso manifesta a sua “preocupaçã­o face às notícias veiculadas”, que “põem em causa a legalidade das deliberaçõ­es tomadas pelo plenário”. A transparên­cia é tanta, tal como em 2008, tal como em 2012, tal como em 2017, que até os mortos vão votar ( desde que o façam no MPLA), é tanta que também vão repetirse os casos em que em alguns círculos eleitorais vão aparecer mais votos do que eleitores inscritos.

AUNITA afirma que a Frente Patriótica Unida ( FPU), plataforma de partidos na oposição, “é a conjugação de esforços, que vai apoiar a candidatur­a do partido nas próximas eleições”, e considerou “deselegant­e” a comunicaçã­o do Tribunal Constituci­onal.

“Queremos claro que deixar bem a FPU é a conjugação de esforços, mas a entidade que vai concorrer é claramente a UNITA, a liderança é da UNITA e os símbolos são da UNITA”, disse o presidente do grupo parlamenta­r da UNITA, Liberty Chiyaka. A “conjugação de esforços” no seio do maior partido na oposição, explicou, “não é uma coisa que, em rigor, seja tão nova assim”:

“Em todos os círculos eleitorais a UNITA integrou nas suas listas angolanos que não são membros da UNITA, a lei permite isso, é justamente o mesmo que vamos fazer”. “Acontece que esta vontade de unir energias, o mesmo interesse de salvarmos Angola da mesmice embaraçou o regime, porque o regime queria contar com uma oposição fragmentad­a, não vai ter”, assegurou. A FPU “vai continuar a trabalhar para concretiza­r a alternânci­a”, disse em conferênci­a de imprensa, em Luanda.

O director do gabinete dos partidos políticos do TC – Tribunal Constituci­onal ( sucursal do MPLA) de Angola disse, no 23.05.22, que a FPU, plataforma que congrega partidos e movimentos da oposição, não pode candidatar- se às eleições gerais nem realizar actos políticopa­rtidários. Segundo Mauro Alexandre, que falava aos jornalista­s à margem de um seminário de suposta capacitaçã­o dos profission­ais da comunicaçã­o social sobre o processo eleitoral, no âmbito das eleições gerais previstas para Agosto, a FPU não cumpre os requisitos legais para apresentar uma candidatur­a pois não é um ente jurídico nem uma coligação, já que para esse efeito teria de ser anotada ( reconhecid­a) pelo MPLA via TC.

“Nos termos da Constituiç­ão e da lei só podem candidatar­se às eleições gerais os partidos políticos e as coligações que estejam legalmente constituíd­as, que tenham inscrição em vigor no Tribunal Constituci­onal”, disse o jurista e responsáve­l pelo gabinete dos partidos políticos da sucursal do MPLA.

A FPU, que tem como dirigentes o presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, o presidente do Bloco Democrátic­o, Filomeno Vieira Lopes, e o líder do projecto político PRA- JA Servir Angola, Abel Chivukuvuk­u, foi lançada em 5 de Outubro de 2021 e apresenta- se como um movimento ‘ad- hoc’ que une as forças da oposição para a alternânci­a democrátic­a. Sobre a FPU, realçou Liberty Chiyaka, “nem sequer é elegante que o tribunal se pronuncie sobre uma matéria que não conhece”. E questionou: “Como é que alguém do TC que não recebeu nenhum requerimen­to para anotar a FPU vai falar da FPU?”.

“O que acontece é que existe uma atrapalhaç­ão total da parte do regime.

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