Árabes e outros
Na altura, a 21ª cimeira árabe, que decorreu em Doha, rejeitou o mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional ( TPI) contra o presidente sudanês, Omar el-bashir, segundo a Declaração final lida pelo secretário- geral da Liga Árabe, Amr Moussa. É assim mesmo. Crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Darfur? Mais de 300 mil mortos? Nada disso. É tudo, como disse Muammar Kadhafi, na altura presidente em exercício da União Africana, obra de “uma nova forma de terrorismo mundial” que dá pelo nome de TPI.
“Sublinhamos a nossa solidariedade com o Sudão e a nossa rejeição das decisões do TPI contra o presidente Omar el-bashir e apoiamos a unidade do Sudão”, afirmava o texto da Liga Árabe. Dirigindo-se aos seus pares, Omar el-bashir saudou “o apoio ao Sudão e a recusa das decisões injustas” do TPI. “Prometo-vos tudo fazer para conseguir a estabilidade e a paz em todo o território sudanês”, acrescentou o presidente, certamente convicto que em Darfur ainda havia mais uns milhares à espera de serem mortos.
A União Africana pediu nessa época aos países que a integravam e às Nações Unidas que desbloqueassem fundos necessários à nova fase do plano de paz para o Darfur, que previa o envio de 3.000 homens para o território sudanês.
Mas o que é que isso importa. São pretos e, por isso, a comunidade internacional (EUA, Europa, ONU) pode dormir descansada. Dormir e ter, pelo menos, três refeições por dia nos melhores hotéis do mundo civilizado. O então alto- comissário das Nações Unidas para os Refugiados (hoje seu secretário- geral), António Guterres, afirmou que em Darfur existe uma “catástrofe” humanitária. “Centenas de pessoas
continuam a morrer vítimas da violência incessante e milhares estão a ser forçadas a abandonar as suas casas. Se as coisas não melhorarem caminhamos para uma catástrofe de grandes proporções”, escreveu o chefe do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Mas o que é que isso importa. São pretos e, por isso, a comunidade internacional (EUA, Europa, ONU) pode dormir descansada. Dormir e ter, pelo menos, três refeições por dia nos melhores hotéis. “É necessária uma acção internacional urgente para pressionar as partes em conflito e todas as pessoas envolvidas no terreno a deixarem as agências humanitárias trabalharem
em segurança. Milhares de vidas dependem disso”, alertava o alto- comissário. Mas o que é que isso importa. São pretos e, por isso, a comunidade internacional (EUA, Europa, ONU) pode dormir descansada. Dormir e ter, pelo menos, três refeições por dia nos melhores hotéis…
De uma forma geral e desde sempre os africanos foram (em alguns casos continuam a ser) instrumentos descartáveis nas mãos dos colonizadores. Ontem uns, hoje outros. Entre escravos, carne para canhão e voluntários devidamente amarrados, foram um pouco de tudo. Muitas vezes foram tudo ao mesmo tempo. Na I Guerra Mundial deram (pudera!) o corpo às balas, a alma ao Diabo e a dignidade às valas comuns.