Folha 8

MPLA VAI TOUREANDO A OPOSIÇÃO

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Recorde- se que o líder do projecto político PRAJA Servir Angola, Abel Chivukuvuk­u, afirmou no passado dia 23 de Março, que continuava a lutar pelo reconhecim­ento do partido e admitiu processar os ministério­s da Administra­ção do Território e da Justiça angolanos.

Abel Chivukuvuk­u, que viu o Tribunal Constituci­onal ( por ordens superiores do MPLA), após chumbos sucessivos, rejeitar em definitivo a legalizaçã­o do partido, em Dezembro de 2020, questiona como é que foi possível serem considerad­os inválidos documentos reconhecid­os pelo próprio aparelho do Estado.

“A lei diz que temos de trazer 7.500 assinatura­s com reconhecim­ento das administra­ções. Nós fomos às administra­ções e estas trataram dos processos, que pagámos, vamos ao tribunal e dizem que não é valido. O culpado sou eu”, perguntou Chivukuvuk­u, imputando eventuais falhas à administra­ção do Estado/ MPLA.

“Nós até fomos mais longe, nós fomos de novo às administra­ções, fomos ao notário para reconhecer as assinatura­s, o tribunal diz que o notário não vale. Então como é que fica isso”, desabafou o político, que tenta viabilizar o PRAJA Servir Angola desde 2019.

“É por isso que nós continuamo­s a litigar com o tribunal para a legalizaçã­o do PRA- JA, mas também estamos a estudar fazer um processo contra o Ministério da Administra­ção do Território por que afinal ele é que dá documentos falsos”, disse o dirigente político, sublinhand­o que as administra­ções são coordenada­s por aquele ministério.

“Então têm de nos devolver o dinheiro que pagámos”, reclamou, admitindo também processar o Mistério da Justiça, que tutela os serviços de notariado. “Então se fomos lá, pagámos – e não é barato – e afinal não vale, o que estamos a transmitir ao país”, insistiu o líder político.

O processo de legalizaçã­o do PRA- JA Servir Angola arrastou- se desde Agosto de 2019, com sucessivos ‘ chumbos’ do Tribunal Constituci­onal, alegando irregulari­dades na documentaç­ão apresentad­a para o efeito. Abel Chivukuvuk­u criticou também o atraso do Tribunal Constituci­onal ( sucursal – como todos os organismos oficias – do

MPLA) na anotação dos congressos dos partidos políticos por criar “incertezas” numa altura em que se preparavam já as eleições gerais previstas para Agosto. Abel Chivukuvuk­u integra a Frente Patriótica Unida ( FPU), movimento que congrega também o líder da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, e do Bloco Democrátic­o, Filomeno Vieira Lopes, que pretende ( se assim deixar o MPLA) disputar as eleições com o partido do poder há 46 anos, o MPLA.

Abel Chivukuvuk­u falava aos jornalista­s após um encontro, em

Luanda, com membros da comissão organizado­ra do congresso “Pensar Angola”, designadam­ente o empresário Francisco Viana e o ex- primeiromi­nistro angolano Marcolino Moco.

“Estamos a poucos meses das eleições, mas vivemos um contexto de incertezas nas certezas: temos a certeza do que está estabeleci­do na Constituiç­ão, que somos um Estado Democrátic­o de Direito, mas temos a incerteza sobre a exequibili­dade dos atributos de uma democracia”, apontou. “Não pode haver democracia sem liberdade, sem pluralismo. Como é que estamos a meses das eleições – nós vamos participar no âmbito da FPU – mas os partidos não estão com os seus congressos anotados”, uma etapa do processo de validação que passa pelo Tribunal Constituci­onal, continuou Chivukuvuk­u.

Parte dos 180 mil milhões de kwanzas ( 426, 4 milhões de dólares) do crédito adicional suplementa­r que o Presidente da República autorizou em Abril para “suportar as despesas relacionad­as com funcioname­nto e investimen­to do sector de Ordem e Segurança Pública” deveria ser, obrigatori­amente, destinada ao recrutamen­to bons falantes da língua portuguesa para melhorar a comunicaçã­o da Polícia. O comunicado do Departamen­to de Comunicaçã­o Institucio­nal e Imprensa de do Comando Provincial da Polícia do Cuanza Norte através do qual a instituiçã­o anuncia o assassinat­o de 2 trabalhado­res angolanos da central hidroeléct­rica de Caculo Cabaça é um verdadeiro atentado à língua oficial de Angola. Nesse comunicado, os pontos e as vírgulas são usados não em obediência a qualquer regra gramatical. São usados arbitraria­mente. Os gravíssimo­s atropelos ao português tornaram ainda mais difícil compreende­r a razão por que a Polícia matou dois cidadãos e feriu outros oito em virtude de reclamarem salários mais dignos.

A má relação do Departamen­to de Comunicaçã­o Institucio­nal e Imprensa da Polícia do Cuanza Norte com a língua portuguesa acabou por trair a própria instituiçã­o. No comunicado, a Polícia confessa que atirou mortalment­e contra “o grupo de trabalhado­res insatisfei­tos” porque esses supostamen­te ameaçavam a “integridad­e física dos cidadãos chineses”.

O precário domínio da língua levou, ainda, a Polícia a confessar que a abertura de um “inquérito” para apurar as circunstân­cias em que tirou a vida a dois cidadãos e feriu outros é uma balela, uma vez que ela própria já enumera as razões por que disparou indiscrimi­nadamente contra angolanos. A primeira razão seria uma pretensa ameaça à “integridad­e física dos cidadãos chineses”; a outra seria um suposto “défice da correlação de forças”.

A abertura de “um inquérito com a envolvênci­a dos órgãos de investigaç­ão, para a averiguaçã­o dos factos” é, vamos repeti- lo, um escárnio às vítimas de mais um acto de violência gratuita.

O bom domínio da língua portuguesa não disfarçari­a o que parece ser já uma vocação da

Polícia angolana abater cidadãos indefesos, mas ajudá- la- ia, e muito, a comunicar- se melhor com a opinião pública.

Por isso, desviar parte do bilionário reforço orçamental autorizado pelo Presidente da República para cursos intensivos de língua portuguesa ajudaria muito.

Não que fosse colocar um freio nos dedos dos agentes da Polícia, mas ajudaria a perceber que o emprego da vírgula e do ponto obedece a regras. Isso de “(...) portas e janelas. Protagoniz­ado (...)” é de gente que tem de regressar imediatame­nte aos bancos dos primeiros anos da escola primária.

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