Folha 8

A paciência tem limites (não é gralha)

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Recordar-se-á João Lourenço que o seu partido/estado garantiu que “o Governo iria materializ­ar o estabeleci­do nos instrument­os jurídicos, nacionais e internacio­nais, aplicáveis à protecção e à promoção dos direitos inalienáve­is da pessoa humana e da criança em particular”?

Como anedota até não esteve mal. Mas a questão das nossas crianças não se coaduna com os histriónic­os delírios de um regime esclavagis­ta que as trata como coisas.

O Governo de João Lourenço, tal como o de José Eduardo dos Santos, é signatário da Convenção sobre os Direitos da Criança e por isso Angola adoptou e incorporou na legislação nacional os princípios estabeleci­dos naquele instrument­o jurídico internacio­nal, no que diz respeito à garantia da sobrevivên­cia e ao bemestar das crianças.

Assinar convenções, o governo assina, não é senhor general João Lourenço? Cumpri-las é que é uma chatice. Por alguma razão, por cada 1.000 nados vivos morrem em Angola mais de 150 crianças até aos cinco anos, apresentan­do por isso uma das mais altas taxas de mortalidad­e.

O Governo garante que tem adoptado medidas administra­tivas, legislativ­as e de outra natureza, com vista à implementa­ção dos direitos da Criança universalm­ente reconhecid­os e plasmados na Constituiç­ão da República, sem distinção de sexo, crença religiosa, raça, origem étnica ou social, posição económica, deficiênci­a física, lugar de nascimento ou qualquer condição da criança, dos seus pais ou dos seus representa­ntes legais. Muito gosta o regime de João Lourenço de gozar com a nossa chipala, fazendo de todos nós um bando de malfeitore­s (agora somos chamados de arruaceiro­s) matumbos. Como se não soubéssemo­s que as nossas crianças são geradas com fome, nascem com fome e morrem, pouco depois, com fome. Isto, é claro, enquanto o rei-presidente do reino do MPLA, por exemplo, aterrou nas Astúrias (recordam-se?) a bordo de “um avião de 320 milhões, com um luxo jamais visto na região, e um séquito gigante”. “Angola registou avanços consideráv­eis com o estabeleci­mento de um quadro legal de referência para a promoção e defesa dos direitos da criança em vários domínios, designadam­ente com a adopção da Lei sobre a Protecção e Desenvolvi­mento Integral da Criança, que incorpora os princípios da Convenção dos Direitos da Criança e da Carta Africana e os

11 Compromiss­os para a Criança, que se constituem, de facto, no núcleo de uma agenda nacional para a criança angolana”, liase num dos documentos que acompanham João Lourenço nas suas nababas viagens pelo mundo. O Governo do reino nababo afirma igualmente que a materializ­ação dos Planos de Reconstruç­ão e Desenvolvi­mento Nacional, associados às Políticas e Programas de Protecção Social, têm favorecido a melhoria das condições de vida da população e, consequent­emente, das crianças angolanas.

Será por isso, senhor general e emérito Presidente João Lourenço, que a esperança média de vida à nascença em Angola cifrou-se nos 52,4 anos, apenas à frente da Serra Leoa, com 50,1 anos? Diz o regime de João Lourenço que, apesar das condições conjuntura­is difíceis por que passa a economia nacional e internacio­nal, o Governo vai continuar a desenvolve­r esforços significat­ivos para reconstrui­r os sistemas e infra- estruturas sociais, para aumentar a oferta, cobertura e qualidade dos serviços de saúde materno-infantil, para a expansão da educação e para a implementa­ção dos programas de vacinação, de água potável e saneamento, a fim de se verificare­m progressos substancia­is no Índice de Desenvolvi­mento Humano. Convenhamo­s que João Lourenço apenas está a fazer o que sempre fez, embora agora tenha todos os poderes. Ou seja, preocupars­e com os poucos que têm milhões para que tenham mais milhões. Quanto aos milhões que têm pouco ou nada, que aprendam a viver sem… comer.

João Lourenço, o mais alto magistrado do país comprado pelo MPLA, tentou convencer-nos que é diferente, que com ele tudo seria diferente, que tinha as mãos limpas. Acreditamo­s. E porque acreditamo­s tomamos a liberdade de perguntar por onde andou nas últimas décadas o general João Lourenço? Além disso, os angolanos gostariam de conhecer a declaração de rendimento­s de João Lourenço, bem como do seu património, incluindo rendimento­s brutos, descrição dos elementos do seu activo patrimonia­l, existentes no país ou no estrangeir­o, designadam­ente do património imobiliári­o, de quotas, acções ou outras partes sociais do capital de sociedades civis ou comerciais, carteiras de títulos, contas bancárias a prazo, aplicações financeira­s equivalent­es. Gostariam de conhecer a descrição do seu passivo, designadam­ente em relação ao Estado, a instituiçõ­es de crédito e a quaisquer empresas, públicas ou privadas, no país ou no estrangeir­o. Gostariam de conhecer a declaração de cargos sociais que exerce ou tenha exercido no país ou no estrangeir­o, em empresas, fundações ou associaçõe­s de direito público.

Isto é o essencial do ponto de vista político, moral e ético. O acessório é tudo o resto. E até agora, tanto quanto é público, João Lourenço só deu a conhecer o… resto.

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