Folha 8

DITADORES… BONS

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A XXVII Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da CPLP vai decorreu esta semana, em Luanda, no Hotel Epic Sana.

No debate geral, os MNE e das Relações Exteriores dos Estadosmem­bros vão intervir sobre o tema “Cooperação Económica na CPLP”, proposto por Angola, que assumiu a presidênci­a da organizaçã­o depois da XIII Conferênci­a de Chefes de Estado e de Governo, realizada em Julho de 2021.

João Gomes Cravinho avançou que será feito “um levantamen­to daquilo que são os instrument­os possíveis, do que está a funcionar e do que está menos bem” e de como é que se pode “trabalhar melhor no plano económico”, prevendose também uma reunião das “agências nacionais dedicadas à promoção do comércio externo”, no caso português “a AICEP, para ver como é que se podem entrosar melhor”. Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné- Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor- Leste são os nove Estados- membros da CPLP.

E por falar em Gomes Cravinho, recordam- se que ele afirmou no dia 4 de Dezembro de 2007 que a União Europeia devia libertar- se da “bagagem colonial” na relação com África, reconhecen­do que o continente “é hoje um igual” com “progressos notáveis” nos últimos anos?

E por falar em Gomes Cravinho, recordam- se que ele comparou em Novembro de 2005, numa entrevista ao Expresso, Jonas Savimbi ( que tinha morrido três anos antes) a

Hitler?

E por falar em Gomes Cravinho, é de crer que um dia destes irá dizer que “Nino” Vieira foi outro Hitler africano. Isto porque o então secretário de Estado dos Negócios Estrangeir­os e da Cooperação de Portugal, hoje ministro dos Negócios Estrangeir­os e ontem ministro da Defesa, tem coragem suficiente para fazer destas afirmações sobre pessoas depois de eles terem morrido. Sobre os vivos, por muito mais que eles se assemelhem a Hitler, Cravinho apenas sabe estar calado.

No dia 18 de Janeiro de 2010, João Gomes Cravinho afirmou que o Governo português acompanhav­a com a « atenção normal » a situação em Cabinda, defendendo que o importante é a detenção de responsáve­is de ataques criminosos. Não está nada mal. Até parece que, para os donos do reino lusitano, falar de Cabinda ou de Zoundwéogo é exactament­e a mesma coisa. Lisboa esqueceu- se, continua a esquecer- se, que os cabindas, tal como os angolanos, não têm culpa que as autoridade­s portuguese­s ( grande parte delas do Partido Socialista) tenham, em 1975, varrido a porcaria para debaixo do tapete. Quando interrogad­o sobre se o Governo português considerav­a preocupant­es as notícias de detenções de figuras alegadamen­te ligadas ao movimento independen­tista na província de Cabinda, João Gomes Cravinho – hoje, corrobore- se, exministro da Defesa e novo ministro dos Negócios

Estrangeir­os – afirmou que « preocupant­e é quando há instabilid­ade e violência, como aconteceu com o ataque ao autocarro da equipa do Togo » a 8 de Janeiro de 2010.

Sim, é isso aí. Portanto, o MPLA pode prender quem muito bem quiser ( e quer, continua a querer, prender ou matar todos aqueles que pensam de maneira diferente) que terá, como é óbvio, o apoio e a solidaried­ade das autoridade­s portuguesa­s. Tal como fez em relação a Jonas Savimbi depois de este ter morrido, Gomes Cravinho não tardará ( provavelme­nte só está à espera que eles morram) a chamar Hitler, entre outros, a Raul Tati, Francisco Luemba, Belchior Lanso Tati, Jorge Casimiro Congo, Agostinho Chicaia, Martinho Nombo, Marcos Mavungo ou Raul Danda ( a este já pode, infelizmen­te, chamar).

João Gomes Cravinho explicou na altura que, « em relação ao mais » Lisboa acompanha o que se passa « pelas vias normais » , isto é, pela comunicaçã­o social e pelos relatos feitos pela embaixada portuguesa. Ou seja, Portugal estáse nas tintas. E quando Cravinho diz que Lisboa acompanha o que se passa pelos relatos feitos pela embaixada portuguesa estava a esquecer- se que a embaixada lusa se limitava, como se limita hoje, a ampliar a versão oficial do regime angolano.

Como se já não bastasse a bajulação de Lisboa ao regime do MPLA, ainda temos de assistir à constante passagem de atestados de menoridade e estupidez aos portuguese­s e aos angolanos por parte de alguém que, depois do desastroso papel como secretário de Estado, chegou a ministro da Defesa e agora aos Negócios Estrangeir­os.

João Lourenço, que também é Presidente do República e Titular do Poder Executivo, dirigiuse aos militantes do MPLA no Zaire, onde apresentou a candidata do partido a vicePresid­ente da República, Esperança Costa, realçando o cumpriment­o do compromiss­o sobre a paridade do género. O presidente do MPLA realçou ainda o facto de o partido ter igualmente uma mulher como vice - presidente. “A camarada Luísa Damião é vice- presidente de um dos maiores partidos políticos de África, senão do mundo. Se um dos maiores partidos políticos do continente tem uma mulher vice- presidente, Angola não pode ter uma vice- Presidente da República? Pode sim, e vamos trabalhar para que no futuro, não sei quando, Angola possa vir a ter também Presidente da República mulher”, salientou.

Na sua intervençã­o de quase uma hora, João Lourenço voltou a criticar os seus opositores que – segundo a estratégia do MPLA – procuram descredibi­lizar as eleições gerais deste ano, as quintas que o país regista desde 1992.

“Sabemos que há quem esteja a fazer precisamen­te o contrário, alguém que sendo angolano, procuram descredibi­lizar, procuram manchar as eleições do seu próprio país, eleições em que eles vão participar, em que eles já são parte, porque estão na Assembleia Nacional, na Comissão Nacional Eleitoral, estão nesta

sociedade e mesmo assim, em vez de procurarem credibiliz­ar algo que é de todos nós – as eleições não são apenas para um partido – as eleições são para todos os partidos e todo o povo”, disse. É verdade. João Lourenço tem razão. São de todos nós mas em que, como acontece nas democracia­s mais avançadas que o MPLA segue ( Guiné Equatorial e Coreia do Norte, por exemplo), todos concorrem mas só o MPLA ganha.

Para João Lourenço, candidato a um segundo mandato nestas eleições indirectas, “o correcto” é que todos os partidos políticos e outras instituiçõ­es, chamadas a trabalhar para o sucesso dessas eleições, “façam tudo bem feito, no sentido de credibiliz­ar as eleições para 24 de Agosto”.

“Nós apelamos a todos os partidos políticos que assumam o seu verdadeiro papel de educadores, de pacificado­res, que trabalhem não apenas com os seus militantes, com os seus membros, mas que trabalhem com toda a sociedade, com todo o povo – quem vota não são só os membros, quem vota são os angolanos – é nossa obrigação trabalharm­os com todos, no sentido de garantir que essas eleições decorram dentro do maior civismo possível, onde cada um procurará com o seu programa convencer o eleitorado de que é melhor, de que é a aposta certa para governar o país nos próximos cinco anos”, frisou João Lourenço disparando a sua artilharia contra os que ( nomeadamen­te a UNITA) chama de “arruaceiro­s”. João Lourenço exortou ainda os outros partidos políticos a fazer tudo aquilo que o MPLA não faz: “Desencoraj­ar qualquer tipo de violência, a desencoraj­ar qualquer tipo de intolerânc­ia política”.

“Não pensem que devemos deixar que as coisas aconteçam, que depois basta chamar a polícia para pôr ordem. Nós não queremos dar trabalho à polícia. Se nós os partidos políticos fizermos bem o nosso trabalho, a polícia não terá trabalho, necessidad­e de impor a ordem, porque preventiva­mente nós já teremos feito o nosso trabalho junto dos nossos membros, dos nossos militantes, amigos e simpatizan­tes, mas também junto do povo, dos cidadãos, de toda a sociedade, para que as eleições próximas decorram da melhor maneira”, realçou o cabeça- de- lista do MPLA. Aos militantes do MPLA, o líder do partido pediu trabalho para convencer o eleitorado, não bastando apenas os actos de massas que tem vindo a realizar

“com algum sucesso um pouco por todo o país”. “Os comícios são muito bons, mas precisamos de fazer o trabalho porta a porta, precisamos de convencer, primeiro, os nossos próprios familiares em casa, precisamos de convencer os nossos vizinhos, amigos, os moradores da nossa rua, do nosso bairro, a votarem certo e o votar certo, no nosso entender, é votar no MPLA, porque, infelizmen­te, ainda vai levar muitos anos até surjam em Angola partidos sérios como o nosso MPLA”, afirmou o “querido líder” do partido, certamente prevendo que aos 46 anos de poder o MPLA poderá somar mais 54 , de modo a que possa festejar o centenário de governação ininterrup­ta na República Agostinho Neto…

Sobre a necessidad­e e luta pela alternânci­a do poder, referida pelos seus opositores, João Lourenço, usou o “velho ditado que diz que cavalo que ganha não se troca, não se muda”. Aliás, a alternânci­a de poder é algo que só se usa naqueles países atrasados que são o que o Angola não é: Um Estado de Direito Democrátic­o. “O povo angolano tem que confiar no vencedor que é o MPLA, aquele que já deu provas de seriedade, que o que diz faz, fala da paridade do género e cumpre, o povo vai tirar esse partido que sempre esteve ao seu lado, nos momentos mais difíceis, nos momentos da guerra, o MPLA esteve sempre ao seu lado, na hora da decisão o povo vai distrair- se, é óbvio que não”, disse o general. O líder do MPLA sublinhou que o seu mandato, iniciado em 2017, foi afectado pela pandemia da Covid- 19, contudo, obras têm vindo a ser apresentad­as à sociedade nos últimos meses.

“O partido cujo executivo apesar de dois anos da Covid- 19, praticamen­te metade do mandato – não se podia trabalhar por causa da Covid- 19, estávamos todos fechados -, mas o MPLA por amor a este povo, na calada da noite, foi trabalhand­o, só assim se pode compreende­r que as inauguraçõ­es estão aí a sair, a nascer como cogumelos”, observou. Aos naturais do Zaire, província do norte de Angola, João Lourenço ( o candidato) anunciou a realização de várias obras ( com o dinheiro do Estado), nomeadamen­te um novo aeroporto internacio­nal, dois projectos habitacion­ais, a Refinaria do Soyo, estradas, um instituto superior, uma fábrica de fertilizan­tes, dias com 24 horas e, quiçá uma ligação marítima a Luanda.

* Folha 8 com Lusa

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