Folha 8

ANEDOTAS ANTIGAS COM NOVA MAQUILHAGE­M

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João Lourenço, Presidente ango lano , acompanhad­o pelo Presidente do MPLA e pelo Titular do Poder Executivo, afirmou no 09.06.22 que o poder político não condiciona a liberdade de actuação dos tribunais em Angola, que deixaram de estar “amordaçado­s” e perseguir apenas “ladrões de galinhas”. Dito assim, até parece que uma anedota dita por Gilmário Vemba.

João Lourenço, que deu uma entrevista colectiva a 12 órgãos de comunicaçã­o social angolanos, disse que não pretende desistir da luta contra a corrupção e que há ainda “muita coisa para recuperar”. Hum! O texto não é mesmo da autoria do Gilmário Vemba? João Lourenço afirmou que existe hoje um quadro “completame­nte diferente” da justiça que durante muitos anos “andou atrás apenas dos ladrões de galinhas”, o que mudou de um dia para o outro, desde que foi eleito em 2017. Gabate cesto, apetece dizer. No entanto, reconhecem­os, se não for João Lourenço a dizer que é o maior, o único, o pastor, o messias, o querido e infalível líder, quem diria?

“Se formos analisar sobretudo os casos que passaram pelo Tribunal Supremo, é uma nova realidade que antes era impensável. Era impensável que determinad­as figuras se pudessem sentar na barra dos tribunais”, sublinhou

João Lourenço que, como se sabe, nada tem a ver com o passado do MPLA já que só chegou ao partido e ao país pouco antes das eleições de 2017. Na verdade, fosse Angola um Estado de Direito, José Eduardo dos Santos e todos os que foram seus acólitos bajuladore­s, incluindo João Lourenço, estariam presos e os seus bens confiscado­s a favor do país, a favor dos angolanos.

A divulgação das leis e medidas existentes ou necessária­s para, de modo pedagógico, prevenir crimes atentatóri­os à probidade pública, cujo combate se encontra na agenda das sociedades modernas, impõe- se para fazer face a este fenómeno, segundo a hilariante tese do MPLA.

De acordo com o MPLA, o fenómeno da corrupção é antigo e permaneceu ao longo dos tempos, exigindo na sua abordagem um certo enquadrame­nto histórico, social e político. Claro. A culpa é dos colonizado­res em geral e, no nosso caso, dos portuguese­s. E é mesmo. Não fosse Diogo Cão ser “militante” do MPLA e, talvez, as coisas fossem diferentes… Em Novembro de 2018, já como Presidente da República, João Lourenço, afirmou que os compromiss­os assumidos durante a campanha eleitoral, desde logo o combate à corrupção, são para concretiza­r, reconhecen­do a existência de “inúmeros obstáculos no caminho”.

Onde andou nos últimos anos o general João Lourenço? Só chegou agora? Não. Sempre foi um homem do sistema, do regime, da corrupção, da cleptocrac­ia. Queira ou não.

1984 – 1987: 1 º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial do Moxico; 1987 – 1990: 1 º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial de Benguela; 1984 – 1992: Deputado na Assembleia do Povo; 1990 – 1992: Chefe da Direcção Politica Nacional das FAPLA; 1992 – 1997: Secretário da Informação do MPLA; 1993 – 1998: Presidente do Grupo Parlamenta­r do MPLA; 1998 – 2003: Secretário­geral do MPLA; 1998 – 2003: Presidente da Comissão Constituci­onal;

Membro da Comissão Permanente; Presidente da Bancada Parlamenta­r; 2003 – 2014: 1 º Vicepresid­ente da Assembleia Nacional.

“Precisamos ao mesmo tempo de neutraliza­r ou reduzir a influência nefasta dos que apenas se preocupam em servir a si mesmos, descurando a necessidad­e da defesa do bem comum”, disse Gilmário Vemba, perdão, João Lourenço, por ocasião do 42 º aniversári­o da independên­cia de Angola. Tudo leva a crer que terá acrescenta­do, como o fez durante 38 anos José Eduardo dos Santos, “olhai para o que eu digo e não para o que faço”… Hoje, para o Presidente da Republica, “isso só demonstra que os tribunais têm muito mais independên­cia e liberdade de acção, senão continuari­am amordaçado­s pelo poder político que diria ‘não mexe aqui, não mexe ali’ ou ‘não mexe neste ou naquele’”. Faltou acrescenta­r, de forma mais específica, “não mexe em João Lourenço”.

“O poder político não está a agir assim, a nossa justiça tem toda a liberdade de actuar”, sublinhou, apontando o caso Lussati, que envolveu figuras ligadas à sua Casa Militar ( então designada por Casa da Segurança), como exemplific­ativo da não interferên­cia.

“No caso do saque que envolveu figuras da própria Casa Militar, nunca ninguém pensou que o poder político deixasse que a justiça avançasse com esse caso e esse caso não está esquecido, não está congelado, vai vir a público muito em breve e depois, seja o que Deus quiser”, disse o chefe do executivo angolano, garantindo a intenção firme de combater a corrupção, sem interessar quem sejam os visados. “A justiça não está a ser selectiva está a bater à porta daqueles em relação aos quais têm a presunção de que há crime até prova em contrário”, reforçou. Recorde- se que José Eduardo dos Santos, exlíder do MPLA, partido no poder em Angola desde 1975 e ex- Presidente da República durante 38 anos, também dizia querer o seu partido a defender, tal como quer o actual Presidente da República, João Lourenço, a luta contra aquilo que existe há 46 anos e que ambos incentivar­am e de que beneficiar­am: a corrupção. Dito isto, embora longe da originalid­ade humorístic­a de Gilmário Vemba, já se ouvem os potentes decibéis das gargalhada­s dos angolanos, mau grado serem as principais vítimas da corrupção, essa instituiçã­o nacional do MPLA. Vítimas que na sua esmagadora maioria o MPLA colocou na miséria ( existem 20 milhões de pobres) e a quem é passado um atestado de menoridade intelectua­l e de matumbez crónica. Gozando à brava com a nossa chipala, José Eduardo dos Santos primeiro e agora João Lourenço, defendem que o MPLA deve liderar o combate à corrupção e ao nepotismo no país, males susceptíve­is de – dizem – manchar a imagem do Estado e do Governo angolano. Legitimida­de para falar de corrupção não falta ao MPLA e muitos menos aos seus principais dirigentes, sobretudo a João Lourenço. Os principais corruptos e ladrões estão todos no MPLA.

Num seminário subordinad­o ao tema “MPLA e os desafios à corrupção”, promovido pelo grupo parlamenta­r daquela força política que está no poder, recorde- se, há 46 anos, Dos Santos disse que o MPLA devia posicionar- se na linha da frente para construir uma sociedade “mais justa, solidária e inclusiva”. José Eduardo dos Santos, que foi Presidente de Angola de 1979 até 2017, substituíd­o depois pelo seu fiel ministro da Defesa e que foi a sua escolha pessoal ( João Lourenço), sublinhou que a corrupção já tem sido definida como o segundo principal mal que afectava a sociedade angolana, depois da guerra, terminada em 2002.

Estão na base desse mal, disse o então patrão, patrono e mentor de João Lourenço, os “excessos” praticados por agentes públicos e privados, “que detinham de forma ilícita vantagens patrimonia­is para si ou terceiros, em prejuízo do bem comum, transgredi­ndo a lei e a norma de comportame­nto social”. Por outras palavras, todos membros do MPLA. Para o ex- líder do MPLA, como para o actual, o combate a estes males passa pela prevenção e medidas educativas, judiciais e policiais, com vista a desincenti­var este tipo de crime e ultrapassa­r ou minimizar os efeitos nefastos no quotidiano dos cidadãos e no desenvolvi­mento da sociedade.

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JOÃO LOURENÇO, PRESIDENTE DE ANGOLA
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