SÓ OLHA PARA O (SEU) UMBIGO
OPresidente angolano, J o ã o Lourenço, conversou no 14.06.22 ao telefone com o secretário- geral das Nações Unidas, António Guterres, expressando preocupação com as tensões entre a República Democrática do Congo ( Rdcongo) e o Ruanda, que justificam a realização urgente de uma cimeira em Luanda. Quando será que Angola conseguirá ver nas costas dos outros as suas?
João Lourenço manifestou ao secretário- geral da ONU preocupação com a situação na relação entre a Rdcongo e o Ruanda, “o que justifica a realização, com urgência, da Cimeira de Luanda, entre o mediador Angola” e os chefes de Estado da Rdcongo e do Ruanda, refere nota dos serviços de imprensa da presidência angolana.
O Presidente da República da Angola vai enviar, na quarta- feira, o ministro das Relações Exteriores a Dacar, para apresentar ao seu homólogo senegalês, Macky Sall, na qualidade de presidente em exercício da União Africana ( UA), uma nota verbal sobre os passos dados por Angola em cumprimento do mandato da Cimeira de Malabo, acrescenta a mesma nota.
João Lourenço vai mediar as tensões entre a Rdcongo e o Ruanda e recebeu no início de Junho a visita do Presidente congolês, Félix Tshisekedi, num encontro em que foram debatidas várias questões no âmbito de uma resolução pacífica do diferendo entre os dois países.
Félix Tshisekedi acedeu entretanto ao pedido do seu homólogo angolano para libertar dois soldados ruandeses capturados recentemente, tendo ficado também acordada a realização de um encontro, em Luanda, entre os três chefes de Estado.
As tensões entre o Ruanda e a Rdcongo agravaramse após o reinício, em Março, de combates entre o exército e o movimento rebelde 23 de Março ( M23), que, de acordo com Kinshasa, é apoiado pelos vizinhos ruandeses.
Em 18 de Maio de 2017, o MPLA lamentou que alguns sucessos alcançados na conquista da paz para a República Democrática do Congo estivessem a ser “sacrificados”, com o actual conflito armado naquele país. A preocupação foi realçada pelo então secretário- geral do MPLA, António Paulo Cassoma, no discurso de abertura do encontro que juntou na capital angolana os seus homólogos dos antigos movimentos de libertação nacional da África austral, de Moçambique, África do Sul, Namíbia, Zimbabué e Tanzânia.
António Paulo Cassoma referiu que a reunião aconteceu num contexto regional marcado por alguns focos de tensão, augurando que os sinais de entendimento e de paz em Moçambique “sejam consolidados”, igualmente desejando “o resgate da estabilidade política na África do Sul”. Relativamente à RD Congo, o dirigente do MPLA disse que Angola assistia com “grande preocupação ao recrudescimento de um conflito militar, que ao longo dos anos já provocou a perda de milhares de vidas humanas e obrigou que alguns dos seus cidadãos se colocassem na condição de refugiados que abandonam as suas zonas de origem para os países vizinhos em defesa das suas vidas”.
“A paz para a nossa sub- região continuará a estar no centro das nossas agendas e é neste sentido que se dirigem os esforços do Presidente José Eduardo dos Santos, na sua qualidade de presidente da Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos”, referiu na altura. Lamentou também que “alguns sucessos alcançados neste âmbito no passado, estão a ser sacrificados por força desses conflitos que assentam numa base étnica e tribal”.
“O nosso Presidente, o presidente do MPLA e da República, está determinado em prosseguir com os esforços colectivos, em coordenação com os demais chefes de Estado da sub- região, para que se alcance a paz duradoura que o povo congolês e de outros povos da sub- região que dela necessitam e merecem”, disse António Paulo Cassoma. Participaram nesse encontro os secretáriosgerais da FRELIMO ( Moçambique), do ANC ( África do Sul), da SWAPO ( Namíbia), da ZANUPF ( Zimbabué) e da Cha Mapinduzi ( Tanzânia).
Recorde- se que, em Novembro de 2016, o ministro das Relações Exteriores de Angola reiterara o claro, inequívoco e musculado empenho do Governo angolano no apoio à República Democrática do Congo ( RD Congo) para resolver o conflito político que se prolonga há vários meses.
“Pensamos que tem que haver o fim da crise na RD Congo, que passa pelo respeito da Constituição tanto pelos diferentes partidos da oposição como pelo Governo”, disse Georges Chikoti à margem de um encontro que manteve com a missão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que se deslocou a Angola, proveniente de Kinshasa, onde permaneceu durante dois dias para ouvir as partes envolvidas no conflito.
Foi fácil dizer aos outros para olharem para o que diziam e não para o que faziam. Em Angola o MPLA, o Governo e o Presidente da República ( José Eduardo dos Santos, nunca nominalmente eleito, esteve 38 anos no poder) não cumprem a Constituição, mas exigem que o vizinho – sobretudo a oposição – a cumpra. É preciso muito descaramento.
De acordo com Georges Chikoti, os membros do Conselho de Segurança da ONU visitaram Angola como sinal de reconhecimento do papel que o país representava na região, sendo um dos vizinhos mais próximos e mais importantes da RD Congo, com uma fronteira comum de cerca de 2.000 quilómetros.
O chefe da diplomacia angolana frisou que Angola, como membro da comunidade internacional ( quem diria!), pensa que é necessário que o Conselho de Segurança da ONU assuma o papel de trabalhar em coordenação com a região, com a RD Congo, para que possa ajudar este país amigo e servil ao regime de Luanda.
“Um papel em que o Conselho de Segurança de facto jogue o seu papel, assuma as suas responsabilidades com a região, com a comunidade internacional para ajudarmos a RD Congo na base daquilo que são os entendimentos que a oposição e o Governo estão a tentar propor”, disse Georges Chikoti. Angola no âmbito da presidência da CIRGL ( Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos) tem- se engajado para encontrar soluções pacíficas para resolução de conflitos políticos na RD Congo e que, é claro, mantendo na altura no poder o seu servil amigo Joseph Kabila.
julgamento do caso Lussati, que envolve militares ligados à Casa de Segurança ( hoje designada Casa Militar) do Presidente angolano, general João Lourenço, um megaprocesso com 49 réus e 200 testemunhas inicia- se no dia 28 de Junho, revelou o advogado do principal arguido.
O julgamento vai decorrer no Centro de Convenções de Talatona, em função do número de intervenientes envolvidos no processo, entre arguidos, declarantes, peritos e testemunhas.
“O Tribunal Provincial de Luanda entendeu que o local que mais confere dignidade a um julgamento como este, tinha de ser um espaço com capacidade para poder albergar mais de 300 pessoas”, afirmou Francisco Muteka, que representa o major Pedro Lussati e o seu sobrinho, Fernando Dumbo, ambos detidos no hospitalprisão de São Paulo. Entre os arguidos, encontram- se oficiais das Forças Armadas Angolanas ( FAA) e civis, acusados de peculato, associação criminosa, recebimento indevido de vantagem, participação económica em negócio, abuso de poder, fraude no transporte ou transferência de moeda para o exterior, introdução ilícita de moeda estrangeira no país, comércio ilegal de moeda, proibição de pagamentos em numerário, retenção de moeda, falsificação de documentos, branqueamento de capitais e assunção de falsa identidade.
O major Pedro Lussati, tido como o cabecilha do grupo, foi detido em Junho do ano passado, depois de ter sido encontrado na posse de milhões de dólares, euros e kwanzas guardados em malas e caixotes, sendo igualmente proprietário de mais de uma dezena de viaturas topo de gama. Segundo o seu advogado, o se bem”, militar encontra“psicologicamente mas debilitado em termos físicos já que se encontra a recuperar das fracturas sofridas na altura da detenção. “Está a fazer fisioterapia e preso preventivamente no hospital- prisão de São Paulo”, disse Francisco Muteka.
Da longa lista de testemunhas, que serão ouvidas nos meses de Julho e Agosto, constam os nomes dos generais Manuel Vieira Dias “Kopelipa” e Higino Carneiro, entre outros generais de topo das Forças Armadas Angolanas.
Na sequência destas detenções foram exonerados vários oficiais ligados à então designada Casa de Segurança do Presidente, incluindo o general Pedro Sebastião, então ministro de Estado e chefe de Casa de Segurança de João Lourenço, que foi substituído no cargo pelo general Francisco Pereira Furtado.
Do despacho de acusação inicial, datado de 9 de Dezembro de 2021, constavam 51 arguidos, mas dois acabaram por ser retirados na fase de instrução contraditória do processo que ficou conhecido como “Operação Caranguejo” por não haver indícios suficientes para os levar a julgamento.
O cidadão Pedro Lussati foi exposto, na comunicação social pública, como tendo engendrado de “motu proprio” um desvio monstruoso e bilionário. Mentira! A cadeia de comando militar é rigorosa e vertical no mando e, tratando- se da
Casa Militar ( ex- Casa de Segurança do Presidência da República), onde existe
a dualidade funcional: Presidente da República e Comandante- em- Chefe das FAA, nada pode passar despercebido, durante tanto tempo, sem que as assinaturas decisórias tenham sido apostas nas devidas e competentes autorizações de levantamento dos montantes no Banco Nacional de Angola, visando alimentar a selectiva e corrupta distribuição, entre as estrelas bélicas.
A não ser que estejamos diante de uma completa baderna institucional na “manu militar” da Presidência da República, só comparada a um covil de larápios onde imperava a lei da ladroagem. Acreditar que o major Pedro Lussati chegue, por engenharia mental própria, a ludibriar mais de 10 generais, incluindo o Comandante- em- Chefe das Forças Armadas, só pode ser uma das mais inverosímeis mentiras e ofensa à maioria dos angolanos de bem. Pedro Lussati é mais um embuste, construído para ludibriar a não realização, em 2021, das eleições autárquicas, o fracasso do programa económico, o falhado e selectivo combate à corrupção que gastou mais dinheiro do que recuperou, em cinco anos, com novos milionários, reforçados na classe das magistraturas. Pedro Lussati é laranja dos generais, que se fartaram de comer e, como era demais a exposição ao facilitismo, foram completamente incompetentes , porquanto algumas trincheiras indignaramse e denunciaram o feito, sendo descobertos “infantilmente”, ao ponto de irritarem tanto o chefe máximo, que não teve outra alternativa senão exonerar toda a corte, incluindo o chefe da Casa de Segurança, Pedro Sebastião, excluindo o seu adjunto, o “generalirmão” do Presidente da República que, alegadamente, “assistiu aos roubos, beneficiou com os roubos, mas não é ladrão”, como os demais que foram copiosamente “enxotados” e tratados como tal em hasta pública.
Acreditar ser este acto, uma demonstração da eficácia de João Lourenço no combate aos crimes de corrupção, sai da linha do razoável e torna o ridículo uma pérola propulsora da máquina mental dos membros do Bureau Político do MPLA, que ante o óbvio – ADN da ladroagem do regime -, preferem considerar não que João Lourenço pode ser “Deus”, mas que é o próprio “Deus”, pois é isento de errar e tem uma inocência e bondade transcendental.
A PGR anunciara que foi aberto um processo que envolve oficiais das Forças Armadas Angolanas afectos à Casa de Segurança do Presidente da República, por suspeita dos crimes de peculato, retenção de moeda, associação criminosa e outros.
A nota da PGR frisava que, no âmbito do processo, foram apreendidos valores monetários “em dinheiro sonante, guardados em caixas e malas, na ordem de milhões, em dólares norte- americanos, em euros e em kwanzas, bem como residências e viaturas”.
O Banco Nacional de Angola ( BNA) abriu também um inquérito para apurar as circunstâncias em que o dinheiro levantado por um banco comercial foi encontrado na posse dos oficiais ligados à Casa de Segurança, cujas conclusões não foram reveladas.
O regime já não tem voltas a dar. Corroeu, gangrenou e a sobrevivência só é possível com o recurso ao bico das baionetas, das balas assassinas e das bombas dos canhões, que também tem os dias contados, pois os “disparadores”, tratados como carne para canhão e muitos pós desmobilização, têm como reforma, vegetar nos contentores de lixo, para sobreviver, começam a ganhar consciência de serem usados como meros assassinos, para defender um regime e casta, que não lhes tem respeito e consideração, pois usam- nos apenas em proveito umbilical, para continuarem refastelados na pirâmide de um poder déspota. O MPLA implantou uma verdadeira desestruturação política do Estado operacionalizada por um regime governamental absolutista que transforma o défice democrático, o “modus operandi” de uma governança acéfala que faz da “violência policial” um mecanismo de contenção das massas sociais, adestrando- as conforme a lógica do medo e da precariedade existencial, tornando- as dóceis e submissas, com o apoio estratégico de um programa ultraliberal, que escancara a economia ao capital estrangeiro, que branqueia a corrupção e a evasão de capitais, numa óptica, completamente avessa ao crivo democrático. É preciso uma verdadeira reforma mental da elite dirigente do MPLA sob pena de sucumbirem, na esquina da nova aurora, pois não podem continuar a demonstrar amar mais o dinheiro do que o cidadão. Como interpretar
ofundamento do Mandado de Buscas e Apreensões da Procuradoria da Região Militar de Luanda que, publicamente, veio demonstrar não conhecer sequer o nome dos seus generais, ao ponto do agente, sobre quem impende o mandado ser identificado com a sua alcunha: Tenente General “Maneco”? Insólito! É a justiça que temos… A insanidade da classe dirigente pode levar à instabilidade de um país, principalmente, quando políticos e intelectuais, hipotecam o saber para idolatrar o poder absoluto de um homem que esvazia os órgãos de soberania. A intelectualidade deve indignar- se e dizer que nenhum presidente, por mais competência que tenha, não pode querer monopolizar tudo e todos, mesmo quando a fome e a miséria avançam para o interior dos cidadãos, que morrem face à brutalidade mental dos dirigentes. Na maioria das vezes servem de carne de canhão, depois são tratados pior do que leprosos. Os soldados pobres garantem a sobrevivência de poderes e regimes déspotas que se servem deles e depois, como sempre, tratamnos como cães mendigos, sem ter, sequer uma reforma digna para sobreviver. Este soldado que não é desconhecido para continuar a viver tem como despensa os contentores espalhados por esta Luanda e Angola fora. Deveriam ter vergonha, senhores governantes, pois não vivem para servir, mas para se servir.