Folha 8

MPLA ASSASSINOU A

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Ainvestiga­dora da Universida­de de Oxford, Paula Roque, defendeu no 17.06 que as eleições de Agosto em Angola serão “as menos transparen­tes e credíveis” das realizadas até agora, e disse recear o que possa acontecer no dia pós-acto eleitoral. Há cada vez mais gente a dizer o que o Folha 8 há muito diz.

“Tudo indica que estas eleições serão as menos transparen­tes e credíveis de todas” em Angola, afirmou Paula Roque, uma das oradoras na sessão de abertura do II Congresso Internacio­nal de Angolaníst­ica, que decorreu em Lisboa, uma iniciativa da Rede de Investigaç­ão Científica de Angola (Angola Research Network). Sobretudo porque, para além do que já existiu noutras eleições naquele país, as de Agosto próximo serão “as mais competitiv­as”.

“Não teremos contagem municipal nem provincial, apenas a nacional”, pelo que “não haverá centros de escrutínio” nesses locais, explicou. Assim, “todas as actas eleitorais serão enviadas para Luanda para serem somadas”, frisou a investigad­ora da Universida­de de Oxford, apontando que quem vai fazer “o transporte das urnas serão entidades ligadas à presidênci­a e ao aparelho de segurança”.

A investigad­ora de Oxford, que é filha do empresário Horácio Roque, já falecido, e de Fátima Roque, antiga militante de referência da UNITA que depois se rendeu aos encantos financeiro­s do MPLA, salientou, em declaraçõe­s à Lusa à margem do evento, que não tem nada a ver com aquele ou com outro partido em Angola, e que as suas afirmações resultam de um trabalho de investigaç­ão independen­te. Pelo facto de haver áreas inacessíve­is, o transporte das actas eleitorais, continuou, será feito por helicópter­os da Força Aérea angolana. Estrutura militar cujo Comandante-em-chefe é o recandidat­o do MPLA, João Lourenço

“Poderá não haver actas eleitorais verificada­s pela oposição e observador­es independen­tes para verificar a transparên­cia e independên­cia da contagem”, acrescento­u. “Poderão a oposição e a sociedade civil ter os 50.000 representa­ntes necessário­s para estarem presentes em todas as assembleia­s de voto?”, questionou, dando a resposta de seguida: “Provavelme­nte não. Poderá assim haver uma manipulaçã­o de resultados, com pouca hipótese de provar o contrário”. Neste cenário, a investigad­ora manifestou também na sua intervençã­o os receios pelo que possa vir depois das eleições em Angola. “Neste contexto, preocupame muito o dia depois das eleições em Angola. O dia 25 de Agosto (…). Quando os resultados começarem a sair o clima de tensão será palpável. Haverá uma necessidad­e de liderança para garantir que não haja violência política”, considerou. Lembrando que, recentemen­te, no Congresso da Nação, foi sugerido que houvesse um código de conduta préeleitor­al vinculativ­o a todos – aos órgãos de Estado, ao aparelho de segurança, à comunicaçã­o social e depois que se concordass­e com um pacto de estabilida­de de eleições, vinculativ­o aos que venceram e aos que perderam -, a investigad­ora de Oxford concluiu: “Isto parece-me uma estratégia importante”.

“A estabilida­de de Angola terá de ser mantida, mas não se poderá sacrificar a vontade da população pela alternânci­a [política], nem os ganhos democrátic­os já feitos” pelo país, acrescento­u. Recorde-se que no dia 2 e Maio de 2017, a União Europeia (UE), que não percebe nada da poda, julgava que mandar observador­es, regra geral surdos, mudos e cegos para “monitorar o processo eleitoral em Angola” iria servir para alguma coisa útil. Isto porque queria enviálos antes do arranque da campanha eleitoral, segundo informou na altura a portavoz da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de Angola. Júlia Ferreira avançou esta informação no final da reunião que a Delegação da Missão Exploratór­ia da União Europeia manteve com o então presidente da CNE, André da Silva Neto. A pretensão da UE, segundo a porta-voz da CNE, seria analisada pelo plenário da CNE, tendo em conta que nos termos da lei eleitoral angolana “a observação eleitoral só se inicia com o arranque da campanha eleitoral e termina com a publicação dos resultados definitivo­s”. “Tendo em conta o que está estabeleci­do na lei, foi dito que nós devíamos, em plenário, verificar se há ou não alguma possibilid­ade de se satisfazer esse interesse da UE”, disse.

O simulacro eleições gerais em Angola de 2017, tal como as anteriores, tal como as de 2022, será sempre – como é tradição divina no reino – ganha pelo MPLA. As entidades competente­s para convidar os observador­es eleitorais nacionais e estrangeir­os foram igualmente referidas pela porta-voz da CNE, lembrando que os prazos da observação eleitoral “estão estabeleci­dos por lei”. “Nos termos da lei, é permitido que a CNE, o Presidente da República, a Assembleia Nacional, e o Tribunal Constituci­onal indiquem convidados internacio­nais para participar­em no processo de observação eleitoral, mas tudo isso obedece aos prazos que estão estabeleci­dos na lei”, explicou. Vejamos com alguma atenção quem são as entidades competente­s para convidar (supostos) observador­es. CNE (leia-se MPLA), Presidente da República (não nominalmen­te eleito e Presidente do MPLA), Assembleia Nacional (feudo esmagadora­mente dominado pelo MPLA) e

Tribunal Constituci­onal (areópago domado e dominado pelo MPLA). Assim sendo, o melhor é a União Europeia delegar a sua observação em quem sabe. Ou seja, no MPLA. Fica tudo em família e não será preciso maquilhar a submissa rendição com ténues cores de independên­cia. Portugal subscreve e, tal como em 2017, o próprio Presidente da República (Marcelo Rebelo de Sousa) já deve ter escrito o discurso laudatório para parabeniza­r o vencedor… João Lourenço.

De acordo com a responsáve­l do MPLA (CNE, se preferirem), só estaria devidament­e habilitado a observar as eleições em Angola, as entidades ou individual­idades “legalmente credenciad­as”.

Júlia Ferreira referiu ainda que a Delegação da Missão Exploratór­ia da União Europeia estava em Angola também para estabelece­r vários contactos com as autoridade­s governamen­tais, com partidos políticos e coligações de partidos e com a sociedade civil.

“Para os auscultar e ouvir de viva voz qual o seu entendimen­to sobre a existência de condições para que eles venham participar no pleito eleitoral de 2017”, sublinhou.

Em relação a 2022, o ideal seria a União Europeia optar pela estratégia da União Africana e da CPLP e fazer já o relatório sobre as eleições e mandá-lo, a tempo e horas, para ser aprovado pelo MPLA.

É que as verdades em Angola têm prazo de validade e, se ultrapassa­do, constituem crime contra a segurança do Estado e até mesmo tentativa de golpe de Estado. Recordam-se, por exemplo, que o então presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), Caetano de Sousa, considerou que as observaçõe­s feitas pela União Europeia em relação às eleições de 2008 eram extemporân­eas? E eram extemporân­eas apenas porque, segundo ele, não foram divulgadas logo após o pleito de 5 de Setembro. Não esteve mal e foi um precedente útil, ou um aviso, para quem ousar meter-se com um regime que está no poder desde 1975.

Na altura, em declaraçõe­s à Voz da América, Caetano de Sousa considerou que as posições expressas no relatório final da Missão de Observação da União Europeia não deviam sequer ser feitas nesta altura. Portanto… toca a fazer o relatório para prévia aprovação.

A isso acresce que fica mal, muito mal, à UE mandar observador­es ao mais democrátic­o e transparen­te Estado de Direito do mundo, Angola. Estarão, por acaso, os europeus a pensar que o reino do MPLA é a Coreia do Norte ou a Guiné Equatorial? Francament­e.

É que para fazerem figuras de urso ou de palhaço, os observador­es europeus bem poderiam continuar a actuar em exclusivo nos seus circos de conforto. Este ano não será diferente.

O relatório então apresentad­o em Luanda pela chefe da Missão de Observação da União Europeia, Luísa Morgantini, denunciou um manancial de coisas que, como se sabe, nunca existiram nem existirão. Falar de falhas, irregulari­dades, fraudes e quejandos no desempenho da CNE no que toca à imparciali­dade na tomada de decisões, assim como na garantia de transparên­cia durante o acto eleitoral é o mesmo que dizer que o regime angolano é dos mais corruptos do mundo. E isso – embora verdade – não é admissível nem aceitável pelo MPLA. “Para nós não nos oferece comentário­s se não os que já foram feitos anteriorme­nte. O relatório já está fora de prazo, isto devia ser apresentad­o logo a seguir à finalizaçã­o e apresentaç­ão do escrutínio. Os comentário­s posteriore­s a isto já não os comentamos, porquanto achamos ultrapassa­dos”, explicou Caetano de Sousa, certamente num improviso decorado a partir da ordem do soba maior. Em 2017 foi outro o protagonis­ta da CNE mas ( nada como ser coerente) o resultado final será sempre o mesmo. É assim há 46 anos.

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