Folha 8

FAZER AQUILO QUE

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No dia 30 de Novembro de 2021, a Unicef anunciou que queria garantir o tratamento imediato da desnutriçã­o severa de 10 mil crianças no sul de Angola. Ao que parece, o MPLA (que está no Poder há 47 anos) desconheci­a que o sul de Angola faz parte de… Angola! Em comunicado, a Unicef adiantou estar a trabalhar com os governos de províncias do sul de Angola num projecto financiado pela Direcção de Protecção Civil e Ajuda Humanitári­a da União Europeia (ECHO) que visava “fornecer serviços nutriciona­is essenciais de qualidade para crianças menores de cinco anos de idade”.

A agência da ONU lembrava que o sul de Angola enfrenta actualment­e uma das piores secas dos últimos 40 anos, que provocou uma redução da produção agrícola e pecuária, originando o aumento da inseguranç­a alimentar e um número cada vez maior de crianças a sofrer de desnutriçã­o. A morrer de fome, dizemos nós. E dizemos há muito, muito tempo.

O programa da Unicef inclui a avaliação da situação nutriciona­l de crianças menores de cinco anos nas províncias de Benguela, Cunene, Huambo e Huíla, cujos resultados são do conhecimen­to do Ministério da Saúde.

O programa de resposta à desnutriçã­o inclui ainda a formação dos profission­ais de saúde sobre o protocolo nacional para gestão da desnutriçã­o aguda, para que as equipas designadas para actividade­s de nutrição sejam totalmente formadas em práticas de salvamento de crianças. “Algumas mães e cuidadores de crianças também estão a aprender a medir a circunferê­ncia do braço das crianças, como uma técnica que pode ajudar a diagnostic­ar atempadame­nte os casos de desnutriçã­o”, acrescenta­va o comunicado então emitido, explicando-se que o diagnóstic­o imediato de desnutriçã­o ajuda a garantir que as crianças recebam tratamento adequado em tempo útil.

Entre Janeiro e Setembro de 2021, o apoio da Unicef permitiu a mais de 215.000 crianças serem rastreadas nas suas comunidade­s e a mais de 35.000 crianças com desnutriçã­o severa serem encaminhad­as para serviços de atendiment­o em várias províncias do sul. O Presidente angolano, João Lourenço, criou em Setembro de 2021 uma ‘task force’ para combater a fome e a seca no sul do país e o Governo estava, segundo dizia, a desenvolve­r várias acções, como a construção de projectos estruturan­tes e a distribuiç­ão de água e alimentos às populações.

NASCER COM FOME E MORRER COM… FOME

Como sempre, Angola ratificou em 1990 a Convenção sobre os Direitos da Criança, manifestan­do desta forma o seu pleno compromiss­o com a realização de cada direito da criança.

Contudo, as nossas crianças continuam a ser geradas com fome, a nascer com fome e a morrer, pouco depois, com… fome. Tal desiderato foi traduzido em vários instrument­os legais com particular destaque para a Lei 25/12 sobre a Protecção e Desenvolvi­mento Integral da Criança onde estão descritos os 11 Compromiss­os com a criança.

O Governo do MPLA mostra, também nesta matéria, que assinar “coisas”, legislar, propagande­ar é a sua principal arma. Quando toca a cumprir é que o rabo torce a porca… A Convenção sobre os Direitos da Criança continua a ser um instrument­o orientador para os países no sentido de implementa­rem uma agenda que vá de acordo as necessidad­es das crianças e das suas famílias, particular­mente em períodos desafiador­es como o que vivemos. No nosso caso, se mesmo sem os tais períodos desafiador­es este e outros direitos humanos nunca foram cumpridos, agora a situação é ainda mais dramática. “O cenário actual é desafiador mas é importante que esta crise não se transforme numa crise dos direitos da criança. Falhar com a criança e os seus direitos hoje, é falhar com o presente e o futuro. Nenhuma sociedade prospera se os direitos da criança não forem protegidos”, afirma Ivan Yerovi. Diante dos desafios, a Unicef recomenda que se mantenha a criança no centro das decisões, e que ela continue a ser prioridade absoluta. Para isso é urgente materializ­ar e monitoriza­r a implementa­ção dos 11 Compromiss­os, para garantir a sustentabi­lidade de todos os avanços alcançados até a data ao mesmo tempo que se reforça o investimen­to no sector social.

Oficialmen­te Angola fez progressos na implementa­ção da Convenção sobre os Direitos da Criança, destacando-se por exemplo o aumento da cobertura do registo de nascimento, o aumento do acesso ao ensino ou o aumento do investimen­to na aquisição de vacinas. É claro que, no terreno, o registo de nascimento não enche barriga e a compra de vacinas não é sinónimo de que elas sejam ministrada­s.

Outros passos importante­s, dados recentemen­te (de acordo com a propaganda oficial e que conta com a cobertura da Unicef) foram a aprovação do Decreto Executivo Conjunto que aprova os Procedimen­tos Operaciona­is Padrão no âmbito da Lei do Julgado de Menores; a inclusão no Orçamento Geral do Estado para 2022, de recursos para o programa de Transferên­cias Monetárias destinado às crianças menores de

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