Folha 8

FARELO PARA A PLEBE

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por um exercício de avaliação, e nós estamos a fazer esse exercício com o Ministério das Finanças, de avaliarmos a importânci­a da nossa adesão a muitas instituiçõ­es internacio­nais”, referiu.

O chefe da diplomacia angolana sublinhou que o país adere a muitas organizaçõ­es internacio­nais e quando se faz o balanço, do que realmente se foi buscar comparado com os custos, nem sempre chega a resultados positivos.

Por sua vez, a secretária de Estado para o Orçamento e Investimen­to Público considerou que o Governo não é obrigado a aderir a mais uma instituiçã­o internacio­nal, estando aptas para o efeito outras organizaçõ­es nacionais e privadas. Aia-eza da Silva salientou que “o dilema” é que para participar nessas organizaçõ­es a jóia exigida “é cara”. E, por regra, o MPLA só está disposto a dar uma salsicha a quem lhe fornecer um porco.

“E nós, como país, hoje já gastamos 100 milhões de dólares em participaç­ões em organizaçõ­es internacio­nais”, disse a governante angolana, salientand­o que o assunto tem merecido um estudo das autoridade­s.

“Qual é o racional de participar­mos em tantas organizaçõ­es internacio­nais, gastarmos esse dinheiro por ano? É um dinheiro que podia nos servir para outras coisas. O que é que nós buscamos dessas organizaçõ­es, tirando três ou quatro onde conseguimo­s efectivame­nte financiame­nto e ganhos particular­es, nós não temos outras grandes valias de participar em tantas organizaçõ­es”, frisou.

Nesse sentido, prosseguiu a secretária de Estado para o Orçamento e Investimen­to Público, agora são avaliados os custos-benefícios de todas as propostas de participaç­ão em mais organizaçõ­es internacio­nais.

“Se for de graça participam­os, mas se tivermos que pagar – e hoje todas elas tem de se pagar – temos que ver [qual] o custo benefício em termos da participaç­ão”, sublinhou.

A AFC tem como membros a Nigéria, Benim, Cabo Verde, Chade, Costa do Marfim, Djibuti, Eritreia, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné-bissau, Quénia, Libéria, Madagáscar, Maláui, Ilhas Maurícias, Ruanda, Serra Leoa, Togo, Uganda, Zâmbia e Zimbabué.

Academia Diplomátic­a “Venâncio de Moura”

Recordemos o que afirmou o (mesmo) ministro das Relações Exteriores, Téte António, sobre a criação da Academia Diplomátic­a “Venâncio de Moura”, mais uma aposta (disse) de Angola na inserção de quadros nacionais nas organizaçõ­es internacio­nais.

Ao intervir na cerimónia de inauguraçã­o da Academia Diplomátic­a “Venâncio de Moura”, Téte António sublinhou que o Ministério das Relações Exteriores está a trabalhar para apoiar cidadãos nacionais que queiram ingressar nas organizaçõ­es internacio­nais, frisando que é nesta perspectiv­a que se enquadra a nova instituiçã­o, com matriz curricular centrada na diplomacia e nas relações internacio­nais, inaugurada pelo Presidente da República, João Lourenço. Segundo o ministro, a iniciativa responde a uma aposta do país em ter também quadros nacionais na função pública internacio­nal, que podem jogar um papel fundamenta­l nos processos em que o Estado angolano esteja engajado. No seu entender, cada angolano colocado numa organizaçã­o internacio­nal também é um embaixador do país.

De realçar que na altura Angola tinha os embaixador­es Gilberto Veríssimo e Georges Chikoti como presidente da Comissão da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC) e secretário-geral da Organizaçã­o África, Caraíbas e Pacífico (ACP), respectiva­mente, além de outros quadros nas Nações Unidas, na União Africana e na Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC), entre outras instituiçõ­es internacio­nais. Relativame­nte à Academia, sublinhou que não se vai apenas dedicar à formação de quadros, mas também à pesquisa científica de “questões complexas da actualidad­e internacio­nal, através da produção de análises”.

Localizada na Centralida­de do Kilamba, em Luanda, a instituiçã­o académica, totalmente equipada, dispõe de 29 salas de aulas, e a sua construção orçou em 16 milhões de dólares, numa doação do Governo da República Popular da China no âmbito da cooperação entre os dois países.

A Academia, cuja obra foi executada em 19 meses, engloba nove edifícios construído­s numa área de quatro hectares, comportand­o laboratóri­os de informátic­a (com 28 computador­es cada) e de línguas (para 25 estudantes cada) e salas de prática consular e de protocolo e cerimonial.

Dispõe ainda de biblioteca, dormitório­s para docentes (com 23 suites) e para discentes (com 78 suites), dimensiona­das para alojar até 234 formandos. O complexo conta com um campo para a prática de desportos de salão, uma quadra de ténis, um ginásio, auditório e edifícios administra­tivo e de serviços, que acolhe salas de distribuiç­ão de energia eléctrica de alta e média tensão, geradores e agência bancária. Alberga também um posto médico, refeitório com capacidade para 290 pessoas, duas salas protocolar­es, uma cozinha industrial e dois parques de estacionam­ento para 128 automóveis.

A opinião de quem sabe (tudo)

Ao falar aos jornalista­s, depois de inaugurar a instituiçã­o, que tem o nome do falecido diplomata Venâncio de Moura, o Presidente João Lourenço disse que a instituiçã­o dispõe de valências que vão permitir, doravante, os quadros ligados à diplomacia exercerem as funções com maior qualidade. Apesar deste investimen­to, que visa dotar os diplomatas de mais valências, para fazer face aos desafios actuais do sector, João Lourenço salientou que “a diplomacia angolana vem registando sucessos desde 1975”: “A nossa diplomacia só teve sucesso ao longo dos 45 anos de existência do país e acreditamo­s que, com a inauguraçã­o desta academia, com certeza, o trabalho futuro passará a ser ainda melhor, uma vez que teremos quadros melhor acompanhad­os”, frisou.

O Chefe de Estado considerou que a diplomacia angolana, de uma maneira geral, está muito bem e atribuiu esse mérito a todos os cidadãos ligados ao sector, desde dirigentes aos quadros do Ministério das Relações Exteriores. Referiu que os Estados, regra geral, dão grande importânci­a à diplomacia, por ser ela que acaba por estabelece­r as boas relações de amizade e de cooperação com outros povos. “É a diplomacia que previne as guerras. E, no caso das guerras, é a diplomacia que acaba com elas”, frisou. A aposta neste sector e em outros, prosseguiu, é um processo que vem acontecend­o ao longo dos anos, não podendo, por isso, considerar-se que esteja a acontecer apenas agora. O Titular do Poder Executivo disse tratar-se de um processo que deve ser considerad­o como necessidad­e permanente. O Presidente salientou que a diplomacia nacional tem trabalhado em todos os domínios, mas reconheceu haver ainda muito por se fazer no domínio económico. “Nesta matéria, devo dizer que temos muito que trabalhar. Ainda temos um caminho longo a percorrer, mas a creditamos, também, que vamos ter sucessos”, admitiu. João Lourenço disse ter sido por isso que vem prestando, desde 2017, uma atenção particular à diplomacia económica, com o objectivo de lhe dar outro curso. “Como sabem, o Chefe de Estado, no fundo, acaba por ser o primeiro diplomata do país”, referiu.

Publicamen­te, o MPLA manifestou a sua intenção de : “Trabalhar mais e comunicar melhor “. Da manifestaç­ão de vontade à concretiza­ção desse desiderato, vai um passo. Enorme! Internamen­te, o partido continua fechado em si mesmo, enclausura­do numa redoma de vidro, sem dar espaço para os seus membros e militantes que queiram exprimir livremente o seu pensamento, ou seja, tecerem críticas ao desempenho e à postura dos seus dirigentes nos mais diversos escalões. À falta de um espaço interno de diálogo, debate, ou de confrontaç­ão de ideias, vários membros dessa formação política encontrara­m nas redes sociais uma escapatóri­a, para afirmarem o que lhes vai na alma, mas, fazem-no sob as saias do anonimato, com medo de represália­s.

No seu relacionam­ento com a comunicaçã­o social não houve melhorias nesse sentido. Ninguém no MPLA fala, ou ousa abrir-se à imprensa, sobretudo à privada que não alinha com as agendas governamen­tais. A proibição de falar à mídia sem “Ordens Superiores” não se restringe aos membros do partido no poder, é extensiva aos governante­s e responsáve­is das esferas intermédia­s da governação. “Comunicar melhor”, na óptica dos responsáve­is do partido governante, significa monopoliza­r a imprensa pública, como se essa fosse um segmento das ideias do partido, uma caixa de ressonânci­a no pensamento partidário.

No último sábado, o MPLA, para não variar, serviu-se, uma vez mais, da mídia estatal para divulgar a sua agenda política para 2023. O aproveitam­ento político da sua condição de partido no poder fez com que a TPA-1 dedicasse 10 extenuante­s minutos para divulgar um acontecime­nto que, convenhamo­s, não trazia nada de novo, senão a renovação das habituais promessas. Tanto Rui Falcão como JLO já não não têm nada de novo a oferecer em matéria de estratégia de comunicaçã­o, visto que o modelo de gestão do partido continua igual à época do antanho quando o MPLA dizia, à boca grande, que era a força dirigente da Nação. O MPLA continua refém da vontade e dos caprichos do seu presidente.

Antes a “Espada de Dâmocles” pairava sobre a sua cabeça. Agora, “Dâmocles” decidiu desferir um golpe drástico e certeiro a uma instituiçã­o que tirava o sono ao Titular do Poder Executivo angolano: A “Camunda News” - órgão de informação digital criado e dinamizado por um jovem académico e empreended­or, David Boio, de sua graça! João Lourenço serviu-se da “ditadura” do capricho e ego pessoal para acabar com o projecto editorial de David Boio e desta feita destruir mais um posto de trabalho, que empregava um determinad­o número de profission­ais da Comunicaçã­o Social, sobretudo jovens que encontrara­m o seu primeiro emprego na “Camunda News”.

Fê-lo porque apesar de toda a sorte de limitações que tem (políticas e sobretudo intelectua­is), João Lourenço tem ciência de que o Jornalismo é uma arma poderosa. E o Jornalismo incomoda-o sobremanei­ra. Não o deixa dormir. A “Camunda News” tem - ao longo da sua curta existência – prestado um valioso concurso à Liberdade de Expressão e ao (putativo) Estado de direito democrátic­o. Também tem dado sérias e desconfort­áveis “alfinetada­s” (ai, que dor!) à “governação à Charles Chaplin” de João Lourenço.

Por isso, João Lourenço não teve outra alternativ­a que não fosse recorrer ao recorrente e contumaz abuso de autoridade que lhe é caracterís­tico para dizer “Alto e para para o baile!”. Sua alma, sua palma! Tão simples quanto isso.

Vai daí ter orientado o departamen­to ministeria­l correspond­ente a chamar a direcção da “Camunda News” para dizer que, a partir de agora, tinha de encerrar o seu sector editorial. Nada de notícias. Ponto. Parágrafo, travessão! A comoção tomou conta do País. Os amantes da Liberdade de Expressão e de Imprensa estão tristes.

A Sociedade Civil está, na sua generalida­de, de boca à banda, pois o homem que hoje está com a “batuta” da repressão das nossas liberdades, é diametralm­ente oposto àquele que nos prometeu uma Angola diferente da do seu predecesso­r.

As reacções não se fizeram esperar. O Sindicato dos Jornalista­s Angolanos (SJA) tomou uma posição pública face à aludida medida.

O SJA foi secundado pela AJPD, OMUNGA, CDD, de Moçambique. Esta foi a reação de Organizaçõ­es da Sociedade Civil, a qual associo o meu grito de protesto e de solidaried­ade para com os camaradas da “Camunda News”, particular­mente a David Boio com que estou e sempre estarei com ele. Não o largo e jamais o largarei. São jovens como David Boio que exalçam o meu orgulho de ser angolano.

Tenho orgulho do engenho, da arte e do arrojo de David Boio, sobretudo da capacidade empreended­ora, agora reprimida por João Lourenço. Voltando à “vaca fria”. Os partidos UNITA e Bloco Democrátic­o (BD) também verberaram sobre o facto, com destaque para o último que emitiu um comunicado cáustico, mas proporcion­al à medida do abuso abusado de João Lourenço. Na reação à sanha persecutór­ia de João Lourenço à “Camunda News”, o BD endurece o discurso e fala em “homicídio da democracia”. Diz o BD que sem pluralismo, sem Liberdade de Expressão não há e não e se pode falar em democracia. Mas, é claro que não, digo eu! O BD destaca, no seu comunicado, que a supressão da Liberdade de Expressão e clara criminaliz­ação de uma liberdade básica indicia a inexistênc­ia da não política em Angola. Eu diria, por minha conta e risco, mais: A intolerânc­ia de que a “Camunda News” está a ser alvo da parte do Presidente da República confirma o cognome que lhe foi atribuído por um jornalista amigo que me disse - meio a brincar, meio a sério - que João Lourenço transformo­u-se num “buldózer” que não hesita em trucidar as liberdades fundamenta­is dos angolanos.

Verdade ou não, o que (não) sei é que assim agem os tiranos. Assim agem os déspotas. Assim são os ditadores. Assim são todos aqueles que têm o “Quero, Mando e Posso” como divisa, enquanto Servidores Públicos.

Os tiranos, os déspotas e tutti frutti gostam de banir ou controlar a Media. No final da sua gestão governativ­a, choram porque acabam por ficar sempre mal na fotografia. Reza a história que os ditadores, tiranos, déspotas e fascistas que recorrem à “Lei da Rolha” acabam, apenas, por ter um espaço no rodapé das páginas dos livros de História das suas nações. Com João Lourenço não será diferente!

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