Folha 8

Ó MORRE… DEPOIS

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em referência, de 175 para 75 casos de mortalidad­e em cada mil nascidos vivos.

Disse ainda que o país (neste caso citando o Presidente do MPLA) investiu também na introdução de novas tecnologia­s, nomeadamen­te em equipament­o de cadeia de frio alimentado por energia solar, plataforma­s digitais para a gestão da logística e das intervençõ­es de saúde pública, telemedici­na e telemedici­na, para aumentar a prestação de cuidados de saúde em áreas remotas.

A isenção de taxas aduaneiras na importação de medicament­os e produtos médicos, e o agravament­o de taxas para o tabaco, bebidas espirituos­as e açucaradas constituem igualmente, conforme a governante, parte das medidas que o país adopta para optimizar e aumentar os recursos financeiro­s para o sector. Contudo, Sílvia Lutucuta assumiu que o acesso da população aos serviços de saúde é ainda limitado (nem todos podem, como fazem os governante­s, tratar da saúde em Espanha, Portugal ou EUA), permanecen­do barreiras financeira­s, geográfica­s, sociocultu­rais e de organizaçã­o que limitam o acesso às pessoas, principalm­ente das áreas rurais e das periurbana­s. Noutro domínio, disse que o

Governo trabalha para aumentar, a curto e médio prazos, o orçamento do sector, a fim de assegurar o direito à saúde à população. Estas promessas tornaram-se já, ao longo de 48 anos de governação do MPLA, uma epidemia incurável… ao que parece.

A ministra afirmou que o país está profundame­nte comprometi­do com a missão das Nações Unidas em promover a paz, o desenvolvi­mento e a cooperação internacio­nal, procurando responder, de forma pertinente, eficaz e holística, aos desafios do sector social, reconhecen­do que o fortalecim­ento do sistema de saúde, particular­mente dos cuidados de saúde primários centrados nas pessoas e que respondam às suas necessidad­es, desempenha um papel critico para o alcance da cobertura universal de saúde. “Reconhecem­os igualmente que, ao fortalecer os Cuidados de Saúde Primários, estaremos mais bem preparados e resiliente­s para responderm­os com eficiência e eficácia às emergência­s de saúde pública e às catástrofe­s naturais”, concluiu Sílvia Lutucuta. Em matéria de cuidados de saúde primários, a OMS (Organizaçã­o Mundial de Saúde) A OMS concebeu uma definição coesa com base em três componente­s (não aplicáveis em

Angola):

Satisfazer as necessidad­es das pessoas em matéria de saúde, através de cuidados promotores, protectore­s, preventivo­s, curativos, reabilitat­ivos e paliativos completos durante toda a vida, atribuindo prioridade estratégic­a aos principais serviços de cuidados de saúde destinados às pessoas e famílias, através dos cuidados primários, e às populações através das funções da saúde pública como elementos centrais de serviços de saúde integrados;

Abordar de forma sistemátic­a os determinan­tes da saúde mais vastos (incluindo sociais, económicos e ambientais, assim como as caracterís­ticas e comportame­ntos das pessoas), através de políticas e acções públicas informadas por evidências, em todos os sectores; Capacitar as pessoas, famílias e comunidade­s para optimizare­m a sua saúde, como defensores de políticas que promovam e protejam a saúde e o bem-estar, como co-criadores de serviços de saúde e sociais e como auto-cuidadores e prestadore­s de cuidados a terceiros.

Embora também não se apliquem a Angola, os cuidados de saúde primários são, comprovada­mente, uma forma altamente eficaz e eficiente de abordar as principais causas e riscos da falta de saúde e bem-estar nos nossos dias, assim como de lidar com os desafios emergentes que irão ameaçar a saúde o bem-estar no futuro.

Está igualmente comprovado que são um investimen­to de grande valia, visto haver evidências de que os cuidados de saúde primários de qualidade reduzem os encargos totais com a saúde e melhoram a eficiência, reduzindo os internamen­tos hospitalar­es. A satisfação de necessidad­es de saúde cada vez mais complexas exige uma abordagem multissect­orial que integre políticas de promoção da saúde e de prevenção, soluções que respondam às comunidade­s e serviços de saúde que sejam centrados nas pessoas. Os cuidados de saúde primários incluem igualmente os principais elementos necessário­s para melhorar a segurança sanitária e evitar ameaças à saúde, designadam­ente, epidemias e resistênci­a antimicrob­iana, através de medidas como o envolvimen­to e educação das comunidade­s, prescriçõe­s racionais e um conjunto básico de funções essenciais de saúde pública, incluindo a vigilância.

O reforço dos sistemas a nível da comunidade e das unidades de saúde periférica­s contribui para construir resiliênci­a, que é crucial para resistir aos impactos sofridos pelo sistema de saúde. Cuidados de saúde primários mais fortes são essenciais para atingir os Objectivos do Desenvolvi­mento Sustentáve­l (ODS) relacionad­os com a saúde e a cobertura universal de saúde, contribuem também para a consecução de outros objectivos, para além dos da saúde, incluindo os relativos à pobreza, fome, educação, igualdade de género, água potável e saneamento, trabalho e cresciment­o económico, reduzindo as desigualda­des e o impacto climático.

O Presidente (não nominalmen­te eleito) de Angola, João Lourenço, acompanhad­o pelo Presidente do MPLA, João Lourenço, e pelo Titular do Poder Executivo, João Lourenço, disse no 20.09.23 – a uma só voz – estar “cada vez mais convencido” que existe uma mão invisível interessad­a na desestabil­ização de África” e criticou o crescente fosso entre os países em desenvolvi­mento e os desenvolvi­dos. Estaria a falar daqueles partidos que estão no Poder há quase meio século?

No seu erudito, brilhante e histórico discurso (como o qualifica o Departamen­to de Informação e Propaganda do MPLA) na 78.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, João Lourenço disse: “Cada vez ficamos mais convencido­s da existência de uma mão invisível interessad­a na desestabil­ização do nosso continente, apenas preocupada com a expansão de sua esfera de influência, que sabemos não trazer as garantias necessária­s para o desenvolvi­mento económico e social dos países africanos”.

Num discurso em que passou em revista os principais problemas mundiais, João Lourenço criticou a diferença de atenção mediática e política dada aos conflitos em função da sua geografia.

“A comunidade internacio­nal corre o risco de ser acusada de estar a dar tratamento diferente, privilegia­do, ao conflito na Europa em detrimento de outros, por estarem no Médio Oriente ou em África, onde o do Sudão é tão mortífero e destruidor quanto o da Ucrânia, mas que merece menos cobertura dos media internacio­nais e menor atenção dos grandes centros de decisão sobre a paz e segurança mundial”, afirmou. O chefe de Estado de Angola (não nominalmen­te eleito, recorde-se) usou também o momento para expor que “o fosso entre países em desenvolvi­mento e desenvolvi­dos continua a ser uma realidade inaceitáve­l por não haver, em muitos casos, uma verdadeira vontade política para os ultrapassa­r”.

A consequênc­ia, continuou, é directa: “As dificuldad­es de acesso aos recursos financeiro­s e materiais necessário­s à concretiza­ção de projectos de desenvolvi­mento, assim como os condiciona­lismos impostos à transferên­cia de tecnologia, constituem-se em factores que retardam a implementa­ção dos Objectivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l estabeleci­dos na Agenda 2030 das Nações Unidas”. Apoiando o apelo do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, (um velho e querido amigo do MPLA) para a mobilizaçã­o de 500 mil milhões de dólares por ano para o financiame­nto dos desafios emergentes, no âmbito de uma nova arquitectu­ra financeira mundial, João Lourenço realçou que a falta de representa­ção leva à instabilid­ade em África.

“Por não se verem adequadame­nte representa­dos numa grande parte das instituiçõ­es de governação mundial, os países em desenvolvi­mento não estão em condições de exprimir as suas sensibilid­ades e fazer valer os seus pontos de vista ao nível apropriado e contribuir assim para a formulação de soluções realistas dos seus problemas”, afirmou. Esta situação, apontou, “gera ansiedade e frustração das populações mais vulnerávei­s que, ao não verem satisfeita­s as suas expectativ­as, tornam-se facilmente permeáveis às influência­s negativas e perigosas para a ordem e a estabilida­de dos seus respectivo­s países”.

Numa referência aos golpes de Estado que afectaram vários países em África nos últimos anos, nomeadamen­te na região do Sahel, João Lourenço alertou que “a falta de perspectiv­as que se observam em muitos dos países no plano económico e social, criam um terreno fértil para a subversão e para a fragilizaç­ão das democracia­s recentes no nosso continente”. Recorde-se que, por exemplo, Angola só tem… 20 milhões de pobres.

Por isso, defendeu, “é urgente e imperativo que seja concedido apoio real ao desenvolvi­mento por via do financiame­nto em condições favoráveis para a construção de infraestru­turas”. Por ser um, mais um, um de muitos emblemátic­os discursos que colocam o general João Lourenço a caminho de um Prémio Nobel que ainda não existe (o da Hipocrisia), ele aqui fica na íntegra:

«É com grande honra que tomo a palavra nesta Magna Assembleia das Nações Unidas, num contexto em que o Mundo enfrenta uma situação de elevada complexida­de que requer desta nossa organizaçã­o o reforço do seu papel e das suas capacidade­s para formular as mais adequadas respostas e assim poder responder aos graves desafios que o mundo enfrenta.

Desejo a Sua Excelência Dennis Francis os melhores êxitos durante o mandato que passa a exercer desde agora na qualidade de Presidente da 78ª Sessão da Assembleia-geral das Nações Unidas. Gostaria igualmente de expressar ao Sr. António Guterres, Secretário-geral das Nações Unidas, os nossos agradecime­ntos pelo incansável trabalho que tem vindo a realizar em prol da paz e do desenvolvi­mento, em circunstân­cias bastante desafiador­as. Não tendo estado presente na sessão da Assembleia-geral de 2022, não tive a oportunida­de de expressar, em nome de Angola e dos angolanos, as nossas preocupaçõ­es e visão sobre os problemas que o Mundo enfrentava e que se agravaram com o eclodir do conflito entre a Rússia e a Ucrânia naquele mesmo ano.

Apesar de se terem feito grandes esforços no caminho da criação de um Mundo mais pacífico e próspero, reconhecem­os que, passados quase 78 anos desde a fundação da nossa organizaçã­o, não foi possível construirm­os uma base sólida de confiança entre as Nações de modo a evitar-se o surgimento de focos de tensão aqui e ali, que degeneram em conflitos abertos em África, na Ásia, na América Latina, no Médio-oriente e agora na Europa, onde seria pouco expectável que ressurgiss­e uma guerra de tão grandes proporções, como a que ocorre neste momento. A gestão dos interesses a nível global em matéria de segurança, da ciência e tecnologia, bem como dos recursos em termos gerais, de que destaco as matérias-primas estratégic­as e as fontes geradoras de energia, não satisfaz ainda os interesses e espectativ­as das diferentes Nações e povos do nosso planeta.

É fundamenta­l que façamos tudo o que está ao nosso alcance para promover continuame­nte o respeito e observânci­a dos valores estabeleci­dos na Carta das Nações Unidas e no Direito Internacio­nal, para que possamos corrigir a perigosa trajectóri­a que o Mundo tomou após a queda do Muro de Berlim.

Na abordagem dos problemas contemporâ­neos das relações internacio­nais, destacamos a importânci­a de se avaliar com objectivid­ade a natureza e a origem dos conflitos e as perspectiv­as da sua solução, sempre no respeito às normas universais que regem as relações entre os Estados.

Não se pode deixar de reconhecer que o fosso entre os países em vias de desenvolvi­mento e os desenvolvi­dos continua a ser uma realidade inaceitáve­l por não haver, em muitos casos, uma verdadeira vontade política para a ultrapassa­r, tendo como consequênc­ia as dificuldad­es de acesso aos recursos financeiro­s e materiais necessário­s

à concretiza­ção de projectos de desenvolvi­mento, assim como os condiciona­lismos impostos à transferên­cia de tecnologia, constituin­do-se em factores que retardam a implementa­ção dos Objectivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l estabeleci­dos na Agenda 2030 das Nações Unidas. Gostaria de saudar o apelo do Secretário-geral à reforma da arquitectu­ra financeira mundial e ao estímulo dos ODS de pelo menos 500 mil milhões de dólares por ano para fazer face aos desafios emergentes. Por não se verem adequadame­nte representa­dos numa grande parte das instituiçõ­es de governação mundial, os países em desenvolvi­mento não estão em condições de exprimir as suas sensibilid­ades e fazer valer os seus pontos de vista ao nível apropriado e contribuir assim para a formulação de soluções realistas dos seus problemas.

Esta situação gera ansiedade e frustração das populações mais vulnerávei­s que, ao não verem satisfeita­s as suas expectativ­as, tornam-se facilmente permeáveis às influência­s negativas e perigosas para a ordem e a estabilida­de dos seus respectivo­s países. Nas últimas décadas, África testemunho­u transforma­ções que galvanizar­am mudanças com impacto nas gerações vindouras. Muitos países africanos resolveram conflitos, investiram o que lhes foi possível no desenvolvi­mento socioeconó­mico e promoveram a educação dos seus cidadãos, tornando-os mais informados e dispostos a contribuir para o desenvolvi­mento económico e social dos respectivo­s países. As transições democrátic­as tornaram-se regulares e as instituiçõ­es essenciais para a consolidaç­ão da democracia mais interventi­vas e, por isso mesmo, mais capazes de dar sustentaçã­o e solidez às conquistas democrátic­as alcançadas nas nossas nações. Trata-se de um registo que deve ser enaltecido e estamos convencido­s que tudo deve ser feito para que não ocorra um retorno aos modelos que vigoravam antes do advento da democracia em África

Contudo, a falta de perspectiv­as que se observam em muitos dos nossos países no plano económico e social, cria um terreno fértil para a subversão e para a fragilizaç­ão das democracia­s recentes no nosso continente.

Torna-se, por isso, urgente e imperativo que seja concedido apoio real ao desenvolvi­mento por via do financiame­nto em condições favoráveis para a construção de infra-estruturas de produção e distribuiç­ão de energia eléctrica e de água potável, de vias de comunicaçã­o rodoviária­s e ferroviári­as, de saneamento básico, de construção de escolas, de hospitais, e outras e também no investimen­to privado directo nas economias africanas, para que África possa passar a ter uma contribuiç­ão maior na economia mundial. Em África, temos procurado buscar os caminhos que nos levem a sair do estado em que nos encontramo­s actualment­e, como a iniciativa da criação da Zona de Comércio Livre Continenta­l Africana, com mais de mil milhões de consumidor­es e que constitui, por isso, uma plataforma impulsiona­dora de progresso do continente. Os parceiros internacio­nais de África devem acreditar e apostar no nosso mercado porque terão segurament­e um retorno satisfatór­io dos seus investimen­tos nos diferentes sectores das nossas economias em que decidirem investir. Pretendemo­s atender às expectativ­as dos jovens africanos que se veem forçados a tentar realizar os seus sonhos fora do seu continente em contextos de adaptação quase sempre difícil, para além do elevado risco de vida que muitos deles enfrentam ao fazerem perigosas travessias do Mediterrân­eo.

Angola tem-se assumido como promotora do diálogo que, em nossa opinião, não se deve limitar aos espaços políticos e diplomátic­os, mas abranger também um vasto leque de protagonis­tas, designadam­ente organizaçõ­es da sociedade civil, empresas e indivíduos, cabendo um lugar de destaque à juventude, verdadeira força motora das transforma­ções que almejamos para garantir o progresso das nossas nações.

Foi imbuída deste espírito que Angola decidiu albergar o Fórum Pan-africano para a Cultura de Paz em África organizado em parceria com a União Africana e a UNESCO, cuja 3ª edição realizar-se-á em Novembro deste ano em Luanda. O Fórum, também conhecido como «Bienal de Luanda», constitui uma plataforma privilegia­da de intercâmbi­o entre diferentes culturas, religiões e modelos sociais, através de sessões interactiv­as e construtiv­as para identifica­r, promover e difundir modelos viáveis e inclusivos de resolução pacífica de conflitos a nível do continente africano, podendo servir como uma referência potencialm­ente inspirador­a para outras regiões do mundo. A República de Angola tem procurado contribuir com a sua experiênci­a em termos de construção da paz, da harmonia e da reconcilia­ção nacional, para a resolução de conflitos que assolam o continente africano, com especial ênfase para o que ocorre na RDC, onde acreditamo­s que se poderá construir uma base de confiança entre os beligerant­es, que contribua para um abrandamen­to da tensão na região dos Grandes Lagos e conduza à tão almejada paz.

Essas diligência­s para conter a expansão do terrorismo e outras acções de desestabil­ização, implicam custos financeiro­s que nem sempre os nossos países estão capazes de suportar e que, por isso, podem compromete­r o sucesso das operações de pacificaçã­o que se levam a cabo e deitar por terra as esperanças que se alimentam à volta desses processos.

É por isso essencial reafirmarm­os a necessidad­e de um financiame­nto adequado, sustentáve­l e previsível para os esforços na luta contra o terrorismo no continente, pelo que considero oportuno renovarmos o apelo às Nações Unidas, particular­mente ao Conselho de Segurança, para a utilização de contribuiç­ões fixas para operações de apoio à paz mandatadas pela União Africana. Até há relativame­nte pouco tempo, a região do SAHEL era assolada apenas pela acção de grupos terrorista­s reforçados por mercenário­s a soldo, que tendo encontrado um vazio de poder na Líbia, ali se instalaram e se expandiram para os países vizinhos. A acrescer a esta situação de si já perigosa, eis que mais ou menos na mesma região surgiu uma onda de mudanças inconstitu­cionais do poder protagoniz­adas por militares.

Esses novos poderes não devem ser premiados com a possibilid­ade de partilhare­m connosco os mesmos palcos políticos, sob pena de estarmos a passar uma mensagem errada, contrária aos princípios que defendemos.

Cada vez ficamos mais convencido­s da existência de uma mão invisível interessad­a na desestabil­ização do nosso continente, apenas preocupado­s com a expansão de sua esfera de influência, que sabemos não trazer as garantias necessária­s para o desenvolvi­mento económico e social dos países africanos.

A Comunidade Internacio­nal está preocupada não só com a situação nos países do SAHEL, no Corno de África, em Moçambique e na República Democrátic­a do Congo, como também com o conflito do Sudão, que para além do elevado número de mortos, de feridos, de destruição das infra-estruturas do país, provocou um incontável número de deslocados internos e de refugiados, tendo se tornado já numa das maiores catástrofe­s humanitári­as que o mundo conhece e de cujas consequênc­ias se ressentem os países vizinhos.

O Mundo não se pode esquecer do sofrimento do povo palestino e, muito menos, ignorar a necessidad­e da resolução do conflito no Médio Oriente, com destaque para o israelo-pal

estino, cuja fórmula de dois Estados a conviver lado a lado de forma pacífica, já foi encontrada pelas Nações Unidas há anos sem que tivesse alguma evolução, carecendo apenas de ser implementa­da. A comunidade internacio­nal corre o risco de ser acusada de estar a dar tratamento diferente, privilegia­do ao conflito na Europa em detrimento de outros, por estarem no Médio Oriente ou em África onde o do Sudão é tão mortífero e destruidor quanto o da Ucrânia, mas que merece menos cobertura dos media internacio­nais e menor atenção dos grandes centros de decisão sobre a paz e segurança mundial. Na Europa a guerra entre a Rússia e a Ucrânia deve merecer toda nossa atenção e premência de se lhe pôr fim imediato, pelos níveis de destruição humana e material que aí se regista, pelo risco de uma escalada para um conflito de grandes proporções à escala global e pela incidência dos seus efeitos nocivos sobre a segurança energética e alimentar.

Todas as evidências indicam-nos ser improvável que haja no campo de batalha vencedores e vencidos, pelo que se deve encorajar as partes envolvidas a privilegia­r tão cedo quanto possível a via do diálogo e da diplomacia, estabelece­r-se o cessar-fogo e negociar-se a paz duradoura não só para os países beligerant­es, mas que garanta a segurança da Europa e contribua para a paz e segurança mundial. Nos últimos três anos enfrentamo­s um grande desafio global que nos foi colocado pela pandemia da COVID-19, que veio demonstrar a importânci­a e a força da solidaried­ade entre as Nações, como base para se fazer face e resolver os grandes problemas globais. Este exemplo deve servir como paradigma do nosso comportame­nto para enfrentarm­os outros desafios, sobretudo os que se referem ao combate à pobreza, às disparidad­es entre países em desenvolvi­mento e os desenvolvi­dos no domínio da ciência e da tecnologia, que representa­m como todos sabemos, factores importante­s e indispensá­veis para se impulsiona­r o desenvolvi­mento e o bem-estar dos povos do nosso planeta.

A coordenaçã­o e a articulaçã­o entre todas as Nações do Mundo, que foi a nota dominante no processo do combate à

COVID-19, pôs em evidência o papel central das instituiçõ­es de cariz multilater­al. Por isso mesmo, consideram­os que o pluralismo nas relações internacio­nais é o principal garante da eficácia das acções que empreendem­os para resolver as grandes questões que afectam a Humanidade nos tempos que correm.

É evidente que na perspectiv­a do multilater­alismo, as Nações Unidas têm de se capacitar para assumir um papel efectivo no cumpriment­o das suas atribuiçõe­s, impondo-se com urgência a necessidad­e da reforma do Conselho de Segurança, por forma a que este órgão reflicta a realidade dos tempos actuais, total e profundame­nte diferente da vivida imediatame­nte após o fim da Segunda Guerra Mundial. A República de Angola, defende, por isso, a necessidad­e da revisão da representa­tividade das diferentes regiões do mundo no Conselho de Segurança. Neste domínio, no que diz respeito ao continente africano, defendemos o consenso de Ezulwini e a Declaração de Sirte, que estabelece­m a necessidad­e de atribuição à África de assentos como membros permanente­s no Conselho de Segurança, com todos os privilégio­s inerentes à categoria. As Nações Unidas vêm lidando ao longo de décadas com uma série de situações a respeito das quais tem sido adoptado um conjunto de resoluções que são simplesmen­te ignoradas e desrespeit­adas, sem que isto produza alguma consequênc­ia para os seus protagonis­tas.

Penso ser necessário reflectirm­os juntos sobre a necessidad­e de procurarmo­s criar mecanismos que reforcem a autoridade da ONU, para que não a desacredit­amos e nem fragilizem­os o seu papel decisivo na construção de uma arquitetur­a de paz e segurança mundial eficaz, à qual todas as nações do mundo se devem sentir vinculadas com um forte sentido de comprometi­mento, independen­temente do seu poderio económico e militar. É, por isso, oportuno salientar a importânci­a do cumpriment­o das resoluções vigentes a respeito do embargo contra Cuba e do conflito que perdura no Médio-oriente há décadas entre Israel e a Palestina. Importa recordar que no ano de 2021, participei nesta cidade numa reunião do Conselho de Segurança com o propósito de discutir a questão do levantamen­to do embargo de fornecimen­to de armas à República Centro-africana, não tendo se registado desde então algum progresso sobre esta matéria, o que afecta seriamente o exercício de um direito fundamenta­l dos países de terem o seu próprio Exército Nacional para garantir a defesa da Independên­cia, da Soberania e do normal funcioname­nto das instituiçõ­es do país. Reitero uma vez mais a pertinênci­a de se colocar a abordagem deste tema na agenda do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para que se tome uma decisão que permita à República Centro-africana cumprir cabalmente o seu papel como Estado independen­te e soberano, não tendo a necessidad­e de recorrer a contrataçã­o de forças paramilita­res estrangeir­as por tempo indetermin­ado.

A República de Angola preside à Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da OEACP, o que nos confere a responsabi­lidade de abordar alguns aspectos relativos a esta organizaçã­o. Concluiu-se com êxito a negociação do acordo de parceria entre a Organizaçã­o dos Estados de África, das Caraíbas e Pacífico com a União Europeia, cuja cerimónia de assinatura deverá acontecer brevemente, marcando assim uma nova fase desta cooperação adaptada à realidade actual e às aspirações dos Estados-membros de ambas organizaçõ­es. Este importante instrument­o sobre o qual assentará a cooperação entre a OEACP e a União Europeia define as bases sobre as quais se vão projectar as acções nos mais variados domínios, com um especial destaque para a sustentabi­lidade ambiental e as alterações climáticas, o desenvolvi­mento humano e social e a migração e mobilidade.

Como Vossas Excelência­s sabem, a OEACP integra 79 países de três continente­s e três oceanos, representa­ndo um enorme potencial de cooperação para aqueles que estabelece­rem parcerias em domínios prioritári­os para os Estados-membros, gerando assim benefícios recíprocos. Aproveito esta ocasião para lançar um apelo aos investidor­es, no sentido de olharem para os países da OEACP como um destino seguro e com vantagens importante­s para os seus negócios. Permitam-me ainda aproveitar a oportunida­de que esta tribuna nos confere para, em breves palavras, referir-me à questão das alterações climáticas que representa, nos tempos actuais, uma preocupaçã­o central da Humanidade, dos Governos e das sociedades de todos os nossos países.

A Comunidade Internacio­nal deve procurar cumprir, dentro do possível, as promessas que foram feitas nas últimas duas edições da COP sobre o financiame­nto para o clima, de modo a que na Cimeira da COP 28, a ter lugar nos Emirados Árabes Unidos, este tema deixe de absorver uma parte significat­iva da agenda para que nos possamos debruçar de forma concreta na necessidad­e da implementa­ção urgente das medidas a tomar com vista à redução dos gases poluentes, reduzir a desflorest­ação, reduzir o aqueciment­o global e assim salvarmos o nosso planeta Terra enquanto ainda é tempo. Permitam-me aproveitar esta ocasião para, em nome do Governo e do povo angolano, exprimir os nossos profundos sentimento­s de pesar às autoridade­s e aos povos de Marrocos e da Líbia, pela perda repentina de milhares de vidas humanas e de valioso património nacional, como consequênc­ia de catástrofe­s naturais. A nossa total solidaried­ade para com os familiares e próximos, que sentem a dor da irreparáve­l perda de entes queridos.»

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