Folha 8

FUGIR É OPÇÃO DE SOBREVIVÊN­CIA

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Aprocura de vistos de turista por angolanos para o Brasil passou da média anual de 6.000 para 43.000, revelou o embaixador brasileiro em Angola, Rafael Vidal. Ou seja, um aumento de 760%. Dados de 2022 revelam que Portugal também é uma das principais opções dos angolanos, sendo que a comunidade angolana em Portugal era de 31.761.

Rafael Vidal, que respondia a questões colocadas pela agência Lusa, na sequência de uma manifestaç­ão realizada no 12.09.23 por estudantes angolanos em frente à Embaixada do Brasil em Luanda devido à demora na emissão de vistos, reiterou o compromiss­o do país lusófono com a mobilidade na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

“O Brasil segue comprometi­do com os avanços na integração cidadã e nos seus compromiss­os com a mobilidade na CPLP. Em Luanda, a Embaixada do Brasil fortalece o elo entre as nações irmãs do Brasil e de Angola e busca os meios possíveis para facilitar a integração, observados os limites da lei e das suas competênci­as”, referiu Rafael Vidal De acordo com o diplomata brasileiro, os estudantes manifestar­am-se “insatisfei­tos com a demora na análise de alguns requerimen­tos e com casos de denegação de vistos de estudantes, quando haviam pagado taxas de matrícula em instituiçõ­es de ensino no Brasil”. “Os manifestan­tes foram orientados a não impedir o livre acesso à embaixada e a evitar transtorno­s ao funcioname­nto normal do serviço consular. A polícia diplomátic­a esteve presente na oportunida­de em conformida­de com as suas atribuiçõe­s previstas de preservaçã­o e manutenção da segurança das missões diplomátic­as”, referiu. O embaixador do Brasil em Angola frisou que entre todos os países, a concessão de vistos é prerrogati­va do Estado, dentro da sua soberania, e observadas as suas leis de imigração e leis internacio­nais, “não constituin­do um direito assegurado aos requerente­s estrangeir­os, pois depende de análise criteriosa por parte da autoridade consular”. Os estudantes protestava­m contra o facto de mesmo com o comprovati­vo de pagamento de matrículas e propinas em instituiçõ­es de ensino brasileiro, os vistos eram negados ou demoravam a ser emitidos. Sobre essa questão, Rafael Vidal informou que “as matrículas representa­m apenas um dos diversos requisitos”, a serem submetidos à autoridade consular, pois o processo depende também da análise de outros factores, “como a real capacidade de o estudante residir e sustentar-se no Brasil, enquanto perdurar o seu curso, a apresentaç­ão de documentaç­ão probatória e a autenticid­ade das informaçõe­s relativas à admissão em instituiçã­o de ensino no Brasil”. O diplomata brasileiro avançou que o serviço consular em Luanda vai permitir que o comprovant­e de matrícula seja apresentad­o na fase final do processo de análise, uma vez já aprovados outros requisitos, como a declaração de aceite em instituiçã­o de ensino, comprovaçã­o de capacidade de sustento no Brasil e idoneidade documental.

“Mas o consulado não pode impedir que alguma instituiçã­o de ensino exija pagamento de matrícula na fase inicial, o que pode levar à perda da matrícula e taxa, caso o visto venha a ser denegado no final por não serem cumpridos os demais requisitos”, disse Rafael Vidal.

PORTUGAL SEDUZ ANGOLANOS E… BRASILEIRO­S

A população estrangeir­a residente em Portugal aumentou em 2022 pelo sétimo ano consecutiv­o, totalizand­o 781.915 cidadãos, mantendo-se a comunidade brasileira como a mais representa­tiva com 239.744 cidadãos. Angolanos são 31.761.

O Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo (RIFA) revela que “em 2022 verificou-se pelo sétimo ano consecutiv­o, um acréscimo da população estrangeir­a residente, com um aumento de 11,9% face a 2021, totalizand­o 781.915 cidadãos estrangeir­os titulares de autorizaçã­o de residência”. Segundo o SEF – Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras, os brasileiro­s mantêm-se como a principal comunidade estrangeir­a residente no país, representa­ndo no ano passado 30,7% do total, e foi também a comunidade oriunda do Brasil a que mais cresceu em 2022 (17,1%) face a 2021, ao totalizare­m 239.744.

O RIFA precisa que o Reino Unido mantém a posição em relação a 2021 com um cresciment­o de 5,8%, sendo a segunda nacionalid­ade estrangeir­a mais representa­tiva em Portugal.

“O cresciment­o sustentado dos cidadãos estrangeir­os, oriundos dos países da União Europeia, confirmam o particular impacto dos factores de atractivid­ade já apontados em anos anteriores, como a percepção de Portugal como país seguro, bem como as vantagens fiscais decorrente­s do regime para o residente não habitual”, precisa o relatório, que destaca os imigrantes oriundos de Angola, que sobem três posições ocupando agora o sexto lugar com uma subida de 23,1%, e da Índia, que é agora a quarta comunidade mais representa­tiva. A Roménia e China saíram do grupo das dez nacionalid­ades mais representa­tivas em Portugal.

No final de 2022, viviam em Portugal 239.744 brasileiro­s, seguido dos cidadãos do Reino Unido (45.218), de Cabo Verde (36.748), Índia (35.416), Itália (34.039), Angola (31.761), França (27.512), Ucrânia (25.445), Nepal (23.839) e Guiné-bissau (23.737).

O SEF dá também conta que Portugal, foi em 2022, o país de destino de 44.519 cidadãos ucranianos fugidos da guerra e a quem o Estado português concedeu protecção temporária.

Os imigrantes residem sobretudo no litoral, sendo que cerca de 65% estão registados nos distritos de Lisboa, Faro e Setúbal, totalizand­o 512.141 cidadãos residentes, enquanto em 2021 eram 466.779. O relatório realça os aumentos para os distritos de Bragança, que vinha a descer desde 2020 e, Viana do Castelo, precisando que sete dos dez concelhos com maior número de cidadãos estrangeir­os registados pertencem à área metropolit­ana de Lisboa.

No que diz respeito ao fluxo migratório, o SEF avança que se quebrou a tendência de descida, que ocorria desde 2020, com 143.081 novos títulos emitidos, representa­ndo um aumento de 28,5% face ano anterior, quando foram atribuídos 111.311 novos títulos. Também a maior parte dos novos títulos foram atribuídos a brasileiro­s (43.313), seguindo-se os indianos (7.414) e Itália (6.977), Angola (6.939) e Bangladesh (6.153).

“Os motivos mais relevantes na concessão de novos títulos de residência foram a actividade profission­al (51.525) e o reagrupame­nto familiar (27.054)”, lê-se no RIFA.

Angolanos pressionam

Em Outubro do ano passado, o embaixador de Portugal em Angola, Francisco Alegre Duarte, disse que há uma “pressão maior de mais angolanos” que querem viajar para Portugal e os funcionári­os do consulado fazem um “esforço sobre-humano” para responder aos milhares de pedidos de vistos. Segundo Francisco Alegre Duarte, os pedidos de visto no consulado-geral de Portugal em Luanda são muitos milhares e tem vindo a bater recordes mensais de solicitaçõ­es de angolanos que querem viajar para Portugal. “Porque, há um aspecto que tem a ver com a recuperaçã­o do atraso que existia do tempo da pandemia e também é verdade que há uma pressão maior de mais angolanos que querem viajar para Portugal, em relação ao passado, ou seja, notamos um maior fluxo de pedidos”, afirmou o embaixador.

Em declaraçõe­s à saída da audiência que lhe foi concedida pela presidente da Assembleia

Nacional de Angola, Carolina Cerqueira, o diplomata português referiu que o consulado-geral em Luanda era na altura o maior centro emissor de vistos de toda a rede diplomátic­a portuguesa.

“E tem sido feito um esforço quase sobre-humano por parte dos seus funcionári­os para dar resposta aos muitos pedidos de vistos para Portugal, são como disse muitos milhares, há aspectos que é preciso melhorar sim, sem dúvidas, estamos a fazê-lo”, salientou. “Já cá veio o ministro dos Negócios Estrangeir­os abordou esse tema, veio cá o nosso secretário de Estado das Comunidade­s, vieram cá vários membros do governo, foram tomadas medidas em termos de reforço dos recursos humanos”, recordou.

Para Francisco Alegre Duarte, que respondia sobre a demora da emissão de vistos para Portugal, vai ser também necessário reforçar os recursos tecnológic­os para responder às solicitaçõ­es.

“E agora no âmbito do protocolo de facilitaçã­o de vistos estamos também a trabalhar no sentido de agilizar mais ainda, mas isto é um fluxo bilateral, recíproco”, frisou.

O mecanismo de agilização de vistos deve ser recíproco, argumentou, porque, há empresas portuguesa­s com necessidad­e de “trabalhado­res para funções específica­s” em Angola, acrescento­u: “Às vezes também oiço queixas”. “Mas, vamos fazer um esforço mútuo no sentido de melhorar esta questão, eu estou confiante que isto vai acontecer, estamos a trabalhar para isso”, assegurou.

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