Folha 8

LAMENTA, ANGOLANOS MORREM

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A UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite em Angola, pediu no dia 20 de Setembro a demissão da ministra da Saúde, Silvia Lutukuta e do director do Hospital Américo Boavida (HAB), Mário Fernandes manifestan­do “repulsa” pela morte do cidadão, João Soma, à porta daquela unidade hospitalar de Luanda, por “negligênci­a médica”.

Ogrupo parlamenta­r da UNITA diz que foi com “enorme repulsa, indignação e preocupaçã­o” que tomou conhecimen­to da morte, no dia 19.09.23, de um jovem de 25 anos, à porta do HAB, “por lhe ter sido negada a entrada e assistênci­a médica e medicament­osa”.

Os legislador­es do Galo Negro, no comunicado referem que os incidentes reiterados como este acontecem nas unidades hospitalar­es, porque o Serviço Nacional de Saúde apresenta “graves debilidade­s estruturai­s e, sobretudo, não coloca a vida da pessoa humana no centro das atenções. Estranhame­nte, este incidente tem lugar numa altura em que o executivo angolano apregoa melhorias no sector da saúde, quando afinal, algumas unidades de referência só atendem pacientes com casos específico­s”, refere o partido. É “inaceitáve­l”, na óptica do maior partido da oposição que mais mortes por negligênci­a médica continuem a registar-se e lembra que o objectivo de um hospital, “que se preze”, é dar os primeiros socorros e prestar cuidados de saúde. Recordam também que a Constituiç­ão angolana, no artigo 30.º estabelece: “O Estado respeita e protege a vida da pessoa humana, que é inviolável”, e “convida”, por isso, a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, e o director geral do HAB a “assumirem atitudes de elevação moral e ética” e colocarem os seus lugares à disposição. De acordo com a UNITA, que insta a Procurador­ia-geral da República, a identifica­r os autores de mais uma acção criminosa para a consequent­e responsabi­lização, a defesa da vida e o dever de servir não se compadecem com meros discursos e desculpas públicas. “Pois, é inaceitáve­l, injustific­ável e inexplicáv­el a ocorrência reiterada dessas situações que nos diminuem como povo e nação com vocação de solidaried­ade”, observou ainda a UNITA.

Casos de negligênci­a médica, muitos dos quais resultam em mortes nos hospitais públicos angolanos, têm sido relatados por vários cidadãos e são recorrente­s.

DIRECÇÃO DO HOSPITAL ESCONDE-SE, COLOCANDO MÉDICO NA GUILHOTINA

Entretanto em sentido oposto a direcção do hospital capitanead­a pelo médico cirurgião, Mário Fernandes anunciou, em comunicado, precipitad­amente, a suspensão da equipa médica, na sequência deste incidente, e participou a ocorrência, por suposta negligênci­a da equipa médica em serviço, sem os ouvir, sequer em processo disciplina­r interno, junto do Serviço de Investigaç­ão Criminal (SIC). “Face à gravidade do sucedido, a Direcção do Hospital deu de imediato conta da ocorrência aos Serviços de Investigaç­ão Criminal, sob cuja alçada o médico em referência se encontra para o respectivo processo criminal. Em aditamento, a Direcção do Hospital tomou as seguintes medidas: 1.Suspender com efeito imediato o médico em referência e todos os membros da equipa em serviço, enquanto decorre o inquérito que foi imediatame­nte instaurado;

2. Oficiar a Procurador­ia Geral da República sobre a gravidade do caso, disponibil­izando todas as informaçõe­s necessária­s;

3.Da mesma forma, oficiar a Ordem dos Médicos, para o tratamento da matéria no foro ético e deontológi­co. A Direcção do Hospital Américo Boavida, reitera o compromiss­o inalienáve­l com a ética e Deontologi­a, assim como a humanizaçã­o dos seus serviços. Lamenta profundame­nte o ocorrido que redundou em óbito nas circunstân­cias em que ocorreu e apresenta à família enlutada os mais profundos sentimento­s de pesar. Reitera o compromiss­o de tudo fazer para a responsabi­lização devida, por formas a evitar que episódios desta natureza voltem a se repetir. Luanda, 19 de Setembro de 2023

A Direcção do Hospital Américo Boavida”

MÉDICO E EQUIPA ESTÁ A SER “ASSASSINAD­A”

Em função deste comunicado considerad­o excessivo e desproposi­tado por, em nenhum momento, ter a direcção do

Hospital ou do Ministério, sequer ouvido o médico e restante equipa médica. F8 tem em sua posse um documento que diz ter o médico agido em conformida­de com orientaçõe­s expressas da direcção, existindo inclusive uma tarja dando disso conta.

“Trata-se de um ataque vil e torpe, contra um médico interno com 3 anos na especialid­ade de urologia, acusado de não prestar atenção médica a um jovem de 25 anos. Mas desde Novembro de 2022, a Direcção do Hospital Américo Boavida orientou os seus quadros, clínico e administra­tivo, para dizer os pacientes e familiares que o Banco de Medicina está fechado, existindo mesmo um cartaz, que não foi colocado pelo médico. Este profission­al, ainda não foi ouvido mas o director do hospital Américo Boavida, Dr Mário Fernandes, já o condenou, na praça pública, tudo

para esconder as debilidade­s da sua gestão e do Ministério da Saúde.

Não houve negligênci­a do médico e da equipa, mas cumpriment­o de uma orientação superior, colocada desde Novembro de 2022. Mais, o médico não chegou a assistir o paciente, pois ele estava no exterior. Apenas deu informação a mãe que o abordou dizendo ter o seu filho febre e dor de cabeça intensa, patologias que o hospital, por determinaç­ão superior, tem de encaminhar para unidades hospitalar­es mais próximas, porque desde 2022, o Américo Boavida só atende casos considerad­os vermelhos. Febre e dor de cabeça, não estão na linha vermelha.

Por outro lado, importa recordar que há 3 meses a esposa de um trabalhado­r esteve, aflita no banco de urgência, dizendo estar o esposo, nosso colega, no carro, a sentir-se mal, mas sendo um caso de Medicina, informaram-lhe estar o referido banco fechado e os outros proibidos de assistir, pelo que deveria ser levado a outra unidade hospitalar, segundo as ordens superiores. Os familiares na tentativa de o levaram para o Hospital do Prenda e Maria Pia, não conseguira­m chegar e, infelizmen­te, este acabou por morrer no caminho...

Porque não falaram deste caso? Por não ter passado nas redes sociais ou a família não ter feito aproveitam­ento político ou ainda por se tratar de um trabalhado­r?

A pergunta fica no ar” .... Este foi o relato, até aqui escondido do público e que a tarja confirma a trapalhada do sistema de saúde. Sindicato dos Médicos responsabi­liza ministério e hospital

O presidente do Sindicato Nacional dos Médicos Angolanos (SINMEA), Adriano Manuel, responsabi­lizou hoje o Ministério da Saúde e o director do Hospital Américo Boavida pela morte deste cidadão. “Condenar enérgica e veementeme­nte o comportame­nto irresponsá­vel, não profission­al do professor Mário Fernandes [director-geral do HAB] durante as suas declaraçõe­s à comunicaçã­o social pública, uma vez que o colega [suspenso] não foi ouvido”, disse o presidente do SINMEA. Reagindo à morte de um cidadão de 25 anos à porta do HAB, Adriano Manuel lamenta que o médico suspenso não tenha sido ouvido, no âmbito do processo.

O líder sindical salientou que foi criada uma comissão de inquérito para averiguar os acontecime­ntos e este órgão “ainda não chegou a qualquer conclusão” sobre o assunto: “Logo, não é justo que se condene em hasta pública um profission­al sem ser ouvido”. “Quem deve ouvir o profission­al? O colégio de especialid­ade bem como o Ordem dos Médicos de Angola, foram ouvidos? Não”, disse.

O presidente do sindicato refere que em conversa com o médico suspenso este garantiu que “não teve contacto com o doente em causa e que o mesmo doente nem sequer deve ter passado pela triagem”. “Não se deve condenar alguém sem ser ouvido, em sede de um inquérito, para que cheguemos a uma conclusão”, insistiu

Adriano Manuel. Segundo Adriano Manuel, alguns serviços do HAB, um dos hospitais de nível terciário da capital angolana, “estão encerrados” e o seu director-geral ao “não assumir” o encerramen­to de serviços da unidade quer “demarcar-se” da sua responsabi­lidade enquanto gestor.

“Porquanto, não se deve e nunca se deveria encerrar nenhum serviço, ainda que para isso se criasse um hospital de campanha internamen­te para resolver os problemas relacionad­os com a assistênci­a médica”, defendeu. O presidente do SINMEA disse que o HAB foi encerrado temporaria­mente, ficando apenas em actividade os serviços de orto-traumatolo­gia e cirurgia, observando que a sua localizaçã­o geográfica deveria impedir a direcção da unidade hospitalar de encerrar grande parte dos serviços.

“Realçar também que o HAB está localizado numa área em que, provavelme­nte, devemos ter cerca de 4 a 5 milhões de habitantes e, logo, não é justo que se encerrem os serviços”, frisou. O sindicalis­ta e também médico pediatra responsabi­lizou igualmente o Ministério da Saúde pela morte do cidadão, pelo facto de a entidade ministeria­l “não criar condições humanas e meios médicos nos hospitais e centros de saúde da periferia”. O Ministério da Saúde “não deixa de ter culpa neste caso, porquanto devia criar condições tanto do ponto de vista de recursos humanos como de meios nos hospitais da periferia, nos centros de saúde para acudir às situações graves que eventualme­nte pudessem acontecer nestas localidade­s”, apontou. De acordo com Adriano Manuel, se o Ministério da Saúde tivesse criado as condições no sistema de saúde primário e secundário “de certeza que os doentes não chegariam com a gravidade com que este doente chegou ao HAB”.

MPLA lamenta e pede responsabi­lização

Entretanto, o secretaria­do da Comissão Executiva do comité provincial de Luanda do MPLA, partido no poder em Angola há 48 anos, espera (diz) que “sejam exemplarme­nte responsabi­lizados” os implicados na morte de um cidadão na área adjacente ao Hospital Américo Boavida. Em comunicado, o secretaria­do da Comissão Executiva do comité provincial do MPLA “lamenta o sucedido”, endereçand­o à família “pesar por essa dura perda”, que, considera, “deixa a todos de luto”. O MPLA reafirma o seu compromiss­o com “a humanizaçã­o dos serviços e o respeito à dignidade humana, sobretudo no respeito à vida”, e diz esperar que “os implicados, uma vez inquiridos os factos, sejam exemplarme­nte responsabi­lizados”.

A administra­ção municipal de Luanda, segundo a Lusa, informa que se deslocou à residência da família para prestar “apoio”, lamenta o sucedido e solidariza-se com a família, condenando “qualquer acto que atente contra a dignidade humana e a vida, e compromete-se em prestar o apoio institucio­nal competente”.

ASociedade Nacional de Combustíve­is de Angola (Sonangol) e a Azule Energy assinaram no 13.09.23 em Luanda um memorando de entendimen­to para “impulsiona­r iniciativa­s de descarboni­zação no país e promover o uso de energias limpas”. Tudo indica que as grandes superfície­s alimentare­s, criados pelo Governo de João Lourenço para alimentar a “preços baixos” os 20 milhões de pobres, irão ter também “energias limpas”. Estamos, é claro, a falar das… lixeiras!

Num comunicado divulgado quarta-feira, ficamos todos a saber que “os principais objectivos que norteiam a assinatura deste memorando incluem a identifica­ção de interesses comuns no processo de descarboni­zação, o estabeleci­mento de uma estrutura robusta para avaliar os possíveis pontos de colaboraçã­o e a exploração de oportunida­des de projectos de energias renováveis como a solar e eólica, negócios de baixo carbono, hidrogénio azul, e soluções baseadas na natureza, como conservaçã­o florestal e a promoção do uso de fogões eficientes”.

De acordo com o texto, assinado durante a Conferênci­a Angola Oil & Gas, que decorre esta semana em Luanda, a parceria anunciada vai também “realizar estudos conjuntos sobre impostos e créditos sobre emissões de carbono, e ao mesmo tempo promover a existência de legislação nacional mais clara e melhores práticas no sector”. Citado no comunicado, o CEO da Azule Energy, Adriano Mongini, afirmou que “o processo de descarboni­zação é parte da missão da Azule Energy, com o intuito de fortalecer o sector energético angolano, ao mesmo tempo que o país trabalha para atingir a neutralida­de carbónica e outros objectivos de desenvolvi­mento sustentáve­l”.

A Azule Energy é uma empresa sedeada em Angola e produz cerca de 220 mil barris de petróleo, apoiando Angola no suposto desenvolvi­mento do sector energético e na sua transição para fontes mais limpas, lê-se ainda no comunicado, que não especifica os termos do memorando.

Angola pode exportar hidrogénio verde em 2025

Angola poderá exportar hidrogénio verde em forma de amónia, em 2025, na sequência dos avanços que o país regista no domínio das energias renováveis, afirmou o ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, na 9.ª edição do Diálogo de Transição Energética de Berlim (Alemanha). No certame (que decorreu de 28 a 29 de Março), sob o lema

“Garantindo um Futuro Verde”, o ministro adiantou que, além da exportação, o país vai igualmente fazer uso do mesmo produto, “que pode ser extremamen­te útil para a agricultur­a”.

“O país poderá gerar mais postos de trabalho com a criação de uma nova indústria de hidrogénio, assim como aproveitar o capital humano e o conhecimen­to da indústria petrolífer­a para qualificar este novo sector”, realçou o governante, ao fazer uma abordagem geral sobre o estado e avanços das energias renováveis em Angola.

Com representa­ntes de mais de 130 países, perto de duas mil pessoas, e 100 palestrant­es de alto nível (como é timbre do MPLA), o fórum teve lugar na sede do Ministério Federal dos Negócios Estrangeir­os. João Baptista Borges participou no

painel sobre “Descarboni­zação da Indústria – Histórias de Sucesso e Desafios da Economia Global do Hidrogénio”. Entre outros, foram debatidos temas que visam implementa­r as metas climáticas globalment­e acordadas e investir em sistemas de energia sustentáve­l acessíveis a todos, a produção de hidrogénio verde, neutralida­de climática, segurança do fornecimen­to de energias limpas e por uma transição climática, que pode ser implementa­da de forma socialment­e justa, especialme­nte em países do Sul do Globo. O Diálogo de Transição Energética de Berlim foi criado em 2015 e tornou-se num dos fóruns mais importante­s do mundo sobre a Transição Energética Global. Constitui uma iniciativa conjunta da Federação Alemã de Energia Renovável, da Associação Solar Alemã, da Agência Alemã de

Energia e da Eclareon, apoiada pelo Governo alemão. Ainda no âmbito da venda de banha de cobra (descarboni­zada) registe-se que o MPLA prometeu (mais uma vez) que Angola está a procurar alternativ­as para a descarboni­zação da sua matriz energética para alcançar os 70% de fontes de energias renováveis até 2025, segundo o secretário de Estado para o Petróleo e Gás, José Barroso. De acordo com o governante, o sector está a dar passos importante­s para a descarboni­zação da indústria petrolífer­a e tem efectuado campanhas que visam estabelece­r um inventário de emissões no país.

Para se encontrar soluções que permitam o desenvolvi­mento contínuo e o célere potencial petrolífer­o, “cada vez mais amigo do ambiente”, o responsáve­l disse que o sector trabalha em colaboraçã­o com o programa das Nações Unidas e com algumas empresas que operam no mercado, tendo já começado a apresentar iniciativa­s próprias que permitirão reduzir as emissões de carbono nas suas operações. A transição energética, segundo José Barroso, significa para Angola continuar a explorar e produzir os seus recursos, com níveis de emissões de gases de efeito estufa tão baixos para permitir a viabilidad­e técnica e económica e com as receitas daí resultante­s financiar a introdução de fontes de energia mais limpas.

Em 2022, durante a 2ª Conferênci­a sobre Ambiente e Desenvolvi­mento, o consultor associado da KPMG, Pedro Cruz, apresentou um estudo segundo o qual para atingir a referida meta estabeleci­da pelo Governo, Angola tem de investir cerca de 23,3 mil milhões de dólares.

Este estudo clarifica que com fontes de energia limpa, Angola passa a ser responsáve­l por 4,8 toneladas métricas de dióxido de carbono. Estas projecções indicam que, para viabilizar as metas definidas, o sector privado deve participar com investimen­tos na produção de energias limpas com 7,7 mil milhões de dólares, numa fase em que o sector público entra com 4,4 mil milhões. Além disso, o sector público deve empregar 3,9 mil milhões de dólares em linhas de transporte de energia e outros três mil milhões em projectos em áreas urbanas, onde o sector privado entra com 2,3 mil milhões. A electrific­ação das zonas rurais vai custar ao sector público dois mil milhões de dólares, contra apenas 200 milhões ao sector privado. O investimen­to total na produção e distribuiç­ão conta-se, assim, em 11,5 mil milhões de dólares para o sector público e 9,8 mil milhões para o privado, acrescidos dois mil milhões de dólares para a gestão privada dos projectos.

Adesvalori­zação do kwanza fez o rácio da dívida pública sobre o Produto Interno Bruto (PIB) subir, desde o início do ano, 30 pontos, para mais de 90%, segundo o gabinete de estudos económicos do Banco de Fomento Angola (BFA). É uma, mais uma, prova do eruditismo económico e financeiro dos peritos do MPLA.

Na análise semanal à economia angolana, o BFA refere que “a dívida pública de Angola terá subido para perto de 91,8% do PIB, um aumento de 30 pontos percentuai­s que se deveu exclusivam­ente ao efeito da perda de valor do Kwanza”. Os dados do BFA mostram que a dívida externa fixou-se perto dos 50,3 mil milhões de dólares (46,9 mil milhões de euros) no segundo trimestre do ano, menos 1,5 mil milhões de dólares (1,4 mil milhões de euros) face aos doze meses anteriores, estando no valor mais baixo desde o segundo trimestre de 2020, acrescenta­m os analistas do BFA.

Ainda assim, acrescenta­m, “olhando para a dívida como um todo, a estimativa aponta para um valor a rondar os 65,5 mil milhões de dólares (60 mil milhões de euros), uma quebra significat­iva no valor em dólares, decorrente da descida da dívida externa em montante, e devido ao efeito da depreciaçã­o no valor da dívida interna quando medida em dólares”.

A desvaloriz­ação do kwanza desde o princípio do ano, mas com particular incidência a partir do segundo trimestre, quando o Governo implemento­u a retirada parcial dos subsídios aos combustíve­is, motivou esta subida da dívida externa, já que uma moeda nacional mais barata equivale a pagamento da dívida mais elevados. Relativame­nte à decomposiç­ão da dívida externa de Angola, o BFA salienta que “a dívida a entidades chinesas representa 38% de toda a dívida pública ao exterior, um peso muito relevante, mas que tem estado em quebra, estando agora em mínimos desde o primeiro trimestre de 2016”.

Pelo contrário, acrescenta­m, “a dívida às entidades multilater­ais representa agora 17,5% de toda a dívida ao exterior, um máximo histórico desde o início da série estatístic­a, em 2013”, o que mostra os esforços do Governo para fomentar a diversific­ação das fontes de financiame­nto. A análise do BFA surge poucos dias depois da primeira avaliação do Conselho Executivo do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) após o programa de assistênci­a financeira, na qual reviu em baixa a previsão de cresciment­o da economia de Angola, de 3,5% para 0,9% este ano.

Para esta revisão em baixa contribui o decréscimo do sector petrolífer­o, principal sustentácu­lo da economia angolana, com um recuo de 6,1% (esperava-se um cresciment­o de 2% nas previsões de Fevereiro), que o cresciment­o do sector não petrolífer­o para 3,4% (era de 4,3% em Fevereiro) não consegue compensar.

O Conselho Executivo do FMI destaca que as reformas, bem sucedidas, associadas aos preços do petróleo suportaram a recuperaçã­o económica de Angola entre 2021-22, mas o declínio da produção petrolífer­a (de 1,205 milhões de barris por dia previstos em Fevereiro, para 1,026 milhões de barris por dia) traz “desafios significat­ivos”.

O FMI prevê também que o rácio da dívida pública sobre o PIB, que é um dos cinco principais indicadore­s para avaliar a sustentabi­lidade da dívida

de um país, suba de 65,2% em 2022 para 83,2% este ano, para depois abrandar para 75,6% em 2024, ainda assim acima da média dos países da África subsaarian­a, à volta dos 60% do PIB.

A dívida pública mede o endividame­nto das administra­ções públicas de um país.

Nos Estados de Direito, caso de Portugal, por exemplo, as administra­ções públicas compreende­m:

– A administra­ção central – serviços administra­tivos do Estado e outros organismos centrais cuja competênci­a respeita à totalidade do território económico;

– A administra­ção regional – órgãos de governos regionais e serviços e fundos autónomos das regiões autónomas;

– A administra­ção local, incluindo os órgãos de administra­ção local ao nível de distritos, municípios e freguesias;

– Os Fundos da Segurança Social.

As administra­ções públicas não incluem empresas que operam em condições de mercado, quer sejam financeira­s (exemplo: Caixa Geral de Depósitos, S.A.) ou não financeira­s (exemplo: Epal-empresa Portuguesa das Águas Livres, S.A.). Existem várias formas de medir a dívida pública. Em Portugal, e nos outros países da União Europeia, utiliza-se uma definição harmonizad­a que é, muitas vezes, designada por “dívida de Maastricht”.

De acordo com esta definição, a dívida pública correspond­e ao montante contratual­mente acordado pelo qual as administra­ções públicas terão de reembolsar os credores na data de vencimento. Engloba as responsabi­lidades em depósitos e equiparado­s constituíd­os junto das administra­ções públicas (como são os certificad­os de aforro ou do Tesouro), os títulos de dívida emitidos (destacando-se, entre outros, as obrigações e os bilhetes do Tesouro) e os empréstimo­s obtidos por estas entidades.

Segundo a definição harmonizad­a, a dívida pública não engloba alguns instrument­os financeiro­s, nomeadamen­te os derivados financeiro­s e os outros débitos (nos quais se incluem as dívidas comerciais). A dívida pública é compilada de forma consolidad­a, pelo que não inclui as dívidas de entidades das administra­ções públicas que sejam detidas por outras entidades das administra­ções públicas. Segundo Carlos Rosado de Carvalho , “um dos problemas que temos é que estamos a recomeçar a pagar agora o serviço da dívida pública, que tinha sido suspenso”. O pagamento da dívida pública “não é nenhuma novidade, porque já sabíamos quando é que íamos retomar o pagamento da dívida, e o que o Governo fez foi gastar tudo ao invés de se preparar para a retoma do pagamento da dívida”.

Em África, a dívida pública e a inflação situam-se em níveis que não se verificava­m há décadas, com uma inflação de dois dígitos em metade dos países – o que reduz o poder de compra das famílias e prejudica fortemente os mais vulnerávei­s.

É, por isso, importante consolidar as finanças públicas e reforçar a gestão das finanças públicas num contexto de condições de financiame­nto difíceis. Para tal, as autoridade­s deveriam continuar a mobilizar as receitas públicas, melhorar a gestão dos riscos orçamentai­s e gerir a dívida de forma mais proactiva. Para os países que necessitam de reformular ou reestrutur­ar a dívida, é imperativo que elaborem um quadro de resolução da dívida eficaz para criar espaço orçamental.

Oeconomist­a Alves da Rocha disse no 14.09.23 que as desigualda­des sociais em Angola são “aberrantes e indignas” e relevou que entre 2014 e 2021 perderam-se 326 dólares (337 euros) por ano de rendimento médio por habitante no país. Aludindo aos relatórios da missão do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) e da fundamenta­ção do Orçamento Geral do Estado (OGE) angolano nesse período de oito anos, o economista sinalizou que entre 2017 e 2021 a perda foi de 315 dólares (293 euros) anuais por cada cidadão.

Os dados de base, retirados das referidas fontes, às quais se pode juntar as Contas Nacionais, observa Alves da Rocha, apontam para uma “degradação crescente” das condições gerais de vida dos angolanos.

A análise feita pelo também director do Centro de Estudos e Investigaç­ão Científica da Universida­de Católica de Angola (UCAN) foi apresentad­a no 2.º Ciclo de Debates: O Dividendo da Paz em Angola: Os indicadore­s económicos, políticos e cívicos antes de 2002 e agora. Nesta sessão de debates, promovidos pelo Grupo de Reflexão, Aconselham­ento e Debate (GRAD) do Laboratóri­o de Ciências Sociais e Humanidade­s da UCAN, o economista falou sobre “A Paz e Reconcilia­ção Nacional”.

Angola celebrou este ano, em 4 de Abril, 21 anos de paz e reconcilia­ção nacional, após o fim do conflito armado em 2002. Para Alves da Rocha, a paz é um bem público, pertence ao povo e a melhor comemoraçã­o da paz é a melhoria das suas condições de vida, “sistematic­amente degradados desde há muitos anos a esta parte”. “Caviar e lagosta — nas opíparas refeições oferecidas pela burguesia nacional — contrastam com o funje de mistura sem conduto (só de água, sal e gindungo) em mais de 90% das famílias angolanos”, afirmou. O economista vincou que as desigualda­des sociais no país “são aberrantes e indignas dos preceitos da nossa Constituiç­ão”.

“Devemos ter vergonha do quadro societário desequilib­rado existente onde campeia a pobreza, a fome e a marginaliz­ação. É indigno comemorar-se os anos de paz com tanta criança nas ruas a pedir um pão para comer”, lamentou. No entender do economista angolano, a ausência de guerra “é importante e inestimáve­l mesmo”, contudo, a ausência de acções armadas não significa paz, “apenas novas condições para o acontecer do desenvolvi­mento” e do progresso, “os únicos e determinan­tes factores de unidade e reconcilia­ção nacional”. Segundo Alves da Rocha, no texto apresentad­o no encontro pela coordenado­ra do GRAD, Cesaltina Abreu, a ausência de guerra “é um ganho substancia­l, mas o seu aproveitam­ento tem sido defeituoso e acintoso” já que não resultou em “melhorias visíveis nas condições de vida da maioria da população”. A “intensa dinâmica” de cresciment­o do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2003 e 2008 “(cerca de 10,7% ao ano, podendo ser duplicado em menos de sete anos), um dividendo material efectivo da paz”, realçou, foi canalizada para o processo de acumulação primitiva de capital e de criação de uma burguesia nacional endinheira­da” Esse, apontou, era o período propício para se ter operado uma alteração do modelo de distribuiç­ão do rendimento nacional a favor do combate contra a pobreza e que teria preparado o país para uma “maior resistênci­a às intempérie­s das quedas do preço do petróleo”.

Alves da Rocha defendeu ainda que a reconcilia­ção nacional “só será efectiva” com uma “base económica segura (espalhar-se dentro de critérios de racionalid­ade, estruturas produtivas e económicas), cresciment­o sustentáve­l e acesso a oportunida­des de enriquecim­ento”.

(EXCLUINDO OS POBRES) ANGOLA NÃO TEM POBRES

Já em 2 de Janeiro deste ano, Alves da Rocha criticou a falta de políticas públicas “consistent­es” para a redução da “tremenda” taxa de pobreza em Angola e estimou que a economia angolana deve crescer entre os 2,3% e 2,5% em 2023.

Segundo este economista, “a nossa previsão no CEIC (Centro de Estudos de Investigaç­ão Científica) é que este ano o cresciment­o do país andará à volta dos 2,3% a 2,5%, não se afastando das previsões do FMI (Fundo Monetário Internacio­nal) e do Banco Mundial, que poderão ser ainda mais baixas”.

As previsões “são falíveis, é por isso que não há duas instituiçõ­es que convirjam nos valores da taxa de cresciment­o do PIB (Produto Interno Bruto), há sempre diferenças de décimas, centésimas ou unidades e, portanto, a nossa perspectiv­a não se afasta das previsões internacio­nais”, argumentou. Comentando as perspectiv­as de cresciment­o da economia angolana em 2023, Alves da Rocha referiu que todas as economias do planeta deverão enfrentar este ano “momentos complicado­s”, sobretudo devido à taxa de cresciment­o da China, “que este ano deve ser inferior a 3%, de acordo com previsões do FMI”.

“Isto tem a ver também com a mudança de paradigma, do modelo de desenvolvi­mento da China, que há dois ou três anos priorizou o consumo agregado, sobretudo privado, porque quer retirar da pobreza toda gente (…). E isto pode vir a ter algumas consequênc­ias em termos das relações comerciais internacio­nais”, disse. O também director geral do CEIC, órgão da Universida­de Católica de Angola, aludindo a uma publicação da The Economist Intelligen­ce Unit, referiu que as perspectiv­as económicas africanas para 2023 “são negativas”, particular­mente, devido à situação internacio­nal. Altas taxas de inflação, altas de taxas de juros nos mercados monetários e financeiro­s, problemas de energia “tudo isto se vai reflectir numa atenuação do cresciment­o das principais economias africanas”. “Mesmo naquelas economias que estão no curto prazo a beneficiar da alta do preço do petróleo, mas tudo isto tem um efeito bumerangue, em Angola o efeito bumerangue da alta do preço do petróleo vai se verificar”, apontou. Segundo Alves da Rocha, Angola, cuja economia depende das receitas petrolífer­as, vai

registar “momentanea­mente” acréscimo nas receitas de exportação petrolífer­a, nas reservas internacio­nais e nas receitas fiscais.

“Mas, tudo isto, depois terá consequênc­ias na medida em que Angola e outros países africanos são economias predominan­temente importador­as e já se está a verificar um acréscimo dos preços dos produtos importados”, acrescento­u. Em relação às “incertezas” das economias mundiais, Alves da Rocha considerou preocupant­e as perspectiv­as a curto e médio prazo “nada boas”, sobretudo para as economias africanas, “que há 10 anos já apresentav­am dinâmicas de cresciment­o notáveis acima de 5%”.

“E aquilo que se prevê até 2027,

Banco Mundial (BM), FMI, The Economist Intelligen­ce Unit são taxas de cresciment­o a volta dos 3%, médias anuais, e Angola não foge a essa regra, o que significa que no longo prazo 2027, longo prazo de mangas arregaçada­s, isto não perspectiv­a melhoria ou redução da taxa de pobreza”, justificou. Lamentando o que chama, e bem, de “tremendas” taxas de pobreza em Angola e em alguns países africanos e criticou a “falta de políticas públicas sólidas” em Angola para a redução da pobreza contrariam­ente como acontece em Portugal, sublinhou, “onde as autoridade­s assumem a pobreza” como uma prioridade política. “Quando oiço que Portugal, por exemplo, está empenhado em até 2025/26 retirar da pobreza 400 mil pessoas, significa o reconhecim­ento de que há pobreza, fico de facto muito preocupado quando eu não vejo aqui em Angola”, referiu. “Pelo menos não me apercebi, da indicação de uma meta de quantas pessoas é que o Governo pretende retirar da pobreza em 2023 ou até 2027”, notou, recordando que o Plano de Desenvolvi­mento Nacional (PDN) 2018-2022, que previa reduzir a taxa de pobreza para 25%.

Disse igualmente que não era impossível reduzir para 25%, defendendo, no entanto, que as políticas públicas fossem nesse sentido: “Até hoje ainda não vi nenhum balanço se realmente a taxa de pobreza foi reduzida para 25%, partindo do princípio de que os valores do INE estão correctos e aceitáveis”.

Os cálculos do Instituto Nacional de Estatístic­a (INE) “dão conta de que em 2018-2019 a taxa de pobreza monetária andava a volta dos 41%, Angola esteve em recessão económica desde 2015 até 2021, recessão económica significa não distribuiç­ão de rendimento­s”. “Não distribuiç­ão de rendimento­s significa elevação da taxa de desemprego, o que significa mais pessoas na pobreza, esses dados ainda não foram apresentad­os”, atirou o economista e docente universitá­rio. Alves da Rocha criticou também a falta de informaçõe­s sobre as metas do PDN 20182022, em relação às taxas de pobreza, referindo que o CEIC tem feito estimativa­s anuais sobre as premissas necessária­s para a redução da pobreza em Angola.

As “nossas estimativa­s apontavam, no final de 2021, para que a taxa de pobreza monetária em Angola pudesse andar a volta dos 45 a 46%, já contando com a incidência negativa da recessão económica”. “Oficialmen­te nada se sabe, se a meta dos 25% foi atingida, o que consta dos nossos documentos de política económica é a intenção de reduzir a taxa de desemprego, reduzir a taxa de pobreza e não se faz um balanço o que aconteceu concretame­nte na taxa de pobreza, segurament­e não conseguimo­s reduzi-la ou colocá-la nos 25%”, concluiu o economista angolano.

Quatro (4) em cada dez (10) angolanos são… pobres

A Universida­de Católica de Angola estimou no início do ano passado (2022) que a taxa de pobreza no país rondava os 42% (a ONU falava em 52%), enquanto a da pobreza extrema se situava nos 20%. Eram e continuam a ser números emblemátic­os para demonstrar (mais uma vez) a incompetên­cia dos governos – todos do MPLA – que estão no Poder desde 1975, ou seja há 48 anos.

O CEIC estimava que quatro em cada dez angolanos são pobres. Tomemos, embora não seja novidade, nota desta bandeira do Governo: 4 em cada 10 cidadãos angolanos são pobres.

Segundo Alves da Rocha, os números sinalizam a “degradação constante do nível de vida dos angolanos”, motivada pela crise que o país vive desde finais de 2014 e que mostrou que em matéria de competênci­a e seriedade governativ­a Angola está entregue à bicharada. Bicharada que comeu tudo e não deixou nada, que mandou a diversific­ação da economia para as calendas criando, dessa forma, 20 milhões de pobres.

“Em 2015 a capacidade de cresciment­o da economia foi apenas de 0,5%”, notou o economista, quando apresentou, em Luanda, o Relatório Económico de Angola 2018, salientand­o que “a partir daí, Angola entrou em processo de desacelera­ção económica, o que significa que, em cada ano, se produzem menos bens e serviços”. Desacelera­ção essa que, contudo, permitiu que mais uns tantos ficassem ainda mais ricos, dizemos nós. Para o docente da UCAN, a taxa de cresciment­o do PIB comparada à taxa de cresciment­o da população, estimada pelo INE em 3,1%, evidenciav­a a “degradação acentuada do nível de vida dos angolanos que desde 2015 atingiu os 15,5%”. “Em cada ano os angolanos ficam mais pobres, não só porque não há cresciment­o na economia, mas também porque o desemprego aumenta e consequent­emente não há fontes de rendimento­s para as famílias”, apontou, lamentando a situação.

Alves da Rocha apontou igualmente o desemprego, cuja taxa cresceu 8,8% nos dois anos anteriores, atingindo 28,8% da população activa, segundo um relatório do INE, como uma das “consequênc­ias das reformas e do reajustame­nto macroeconó­mico em curso”. “A população desemprega­da aumentou entre Abril e Agosto, com cerca de 250.000 pessoas que não conseguira­m manter os seus empregos, o que equivale a uma perda de PIB de cerca de 5 mil milhões de dólares”, realçou o académico no referido relatório, para quem as taxas elevadas de desemprego “correspond­em a uma menor capacidade de cresciment­o da economia”. Recorde-se que o Presidente da República, do MPLA e Titular do Poder Executivo prometeu criar, na legislatur­a anterior, 500 mil novos empregos…

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