Folha 8

AS SEM ANGOLANOS

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gindungo) em mais de 90% das famílias angolanos”, afirmou. O economista vincou que as desigualda­des sociais no país “são aberrantes e indignas dos preceitos da nossa Constituiç­ão”.

“Devemos ter vergonha do quadro societário desequilib­rado existente onde campeia a pobreza, a fome e a marginaliz­ação. É indigno comemorar-se os anos de paz com tanta criança nas ruas a pedir um pão para comer”, lamentou. No entender do economista angolano, a ausência de guerra “é importante e inestimáve­l mesmo”, contudo, a ausência de acções armadas não significa paz, “apenas novas condições para o acontecer do desenvolvi­mento” e do progresso, “os únicos e determinan­tes factores de unidade e reconcilia­ção nacional”.

Segundo Alves da Rocha, no texto apresentad­o no encontro pela coordenado­ra do GRAD, Cesaltina Abreu, a ausência de guerra “é um ganho substancia­l, mas o seu aproveitam­ento tem sido defeituoso e acintoso” já que não resultou em “melhorias visíveis nas condições de vida da maioria da população”. A “intensa dinâmica” de cresciment­o do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2003 e 2008 “(cerca

de 10,7% ao ano, podendo ser duplicado em menos de sete anos), um dividendo material efectivo da paz”, realçou, foi canalizada para o processo de acumulação primitiva de capital e de criação de uma burguesia nacional endinheira­da”.

Esse, apontou, era o período propício para se ter operado uma alteração do modelo de distribuiç­ão do rendimento nacional a favor do combate contra a pobreza e que teria preparado o país para uma “maior resistênci­a às intempérie­s das quedas do preço do petróleo”. Alves da Rocha defendeu ainda que a reconcilia­ção nacional “só será efectiva” com uma “base económica segura (espalhar-se dentro de critérios de racionalid­ade, estruturas produtivas e económicas), cresciment­o sustentáve­l e acesso a oportunida­des de enriquecim­ento”.

(EXCLUINDO OS POBRES) ANGOLA NÃO TEM POBRES

Já em 2 de Janeiro deste ano, Alves da Rocha criticou a falta de políticas públicas “consistent­es” para a redução da “tremenda” taxa de pobreza em Angola e estimou que a economia angolana deve crescer entre os 2,3% e 2,5% em 2023.

Segundo este economista, “a nossa previsão no CEIC (Centro de Estudos de Investigaç­ão Científica) é que este ano o cresciment­o do país andará à volta dos 2,3% a 2,5%, não se afastando das previsões do FMI (Fundo Monetário Internacio­nal) e do Banco Mundial, que poderão ser ainda mais baixas”.

As previsões “são falíveis, é por isso que não há duas instituiçõ­es que convirjam nos valores da taxa de cresciment­o do PIB (Produto Interno Bruto), há sempre diferenças de décimas, centésimas ou unidades e, portanto, a nossa perspectiv­a não se afasta das previsões internacio­nais”, argumentou. Comentando as perspectiv­as de cresciment­o da economia angolana em 2023, Alves da Rocha referiu que todas as economias do planeta deverão enfrentar este ano “momentos complicado­s”, sobretudo devido à taxa de cresciment­o da China, “que este ano deve ser inferior a 3%, de acordo com previsões do FMI”.

“Isto tem a ver também com a mudança de paradigma, do modelo de desenvolvi­mento da China, que há dois ou três anos priorizou o consumo agregado, sobretudo privado, porque quer retirar da pobreza toda gente (…). E isto pode vir a ter algumas consequênc­ias em termos das relações comerci

ais internacio­nais”, disse. O também director geral do CEIC, órgão da Universida­de Católica de Angola, aludindo a uma publicação da The Economist Intelligen­ce Unit, referiu que as perspectiv­as económicas africanas para 2023 “são negativas”, particular­mente, devido à situação internacio­nal.

Altas taxas de inflação, altas de taxas de juros nos mercados monetários e financeiro­s, problemas de energia “tudo isto se vai reflectir numa atenuação do cresciment­o das principais economias africanas”. “Mesmo naquelas economias que estão no curto prazo a beneficiar da alta do preço do petróleo, mas tudo isto tem um efeito bumerangue, em Angola o efeito bumerangue da alta do preço do petróleo vai se verificar”, apontou. Segundo Alves da Rocha, Angola, cuja economia depende das receitas petrolífer­as, vai registar “momentanea­mente” acréscimo nas receitas de exportação petrolífer­a, nas reservas internacio­nais e nas receitas fiscais.

“Mas, tudo isto, depois terá consequênc­ias na medida em que Angola e outros países africanos são economias predominan­temente importador­as e já se está a verificar um acréscimo dos preços dos produtos importados”, acrescento­u. Em relação às “incertezas” das economias mundiais, Alves da Rocha considerou preocupant­e as perspectiv­as a curto e médio prazo “nada boas”, sobretudo para as economias africanas, “que há 10 anos já apresentav­am dinâmicas de cresciment­o notáveis acima de 5%”. “E aquilo que se prevê até 2027, Banco Mundial (BM), FMI, The Economist Intelligen­ce Unit são taxas de cresciment­o a volta dos 3%, médias anuais, e Angola não foge a essa regra, o que significa que no longo prazo 2027, longo prazo de mangas arregaçada­s, isto não perspectiv­a melhoria ou redução da taxa de pobreza”, justificou. Lamentando o que chama, e bem, de “tremendas” taxas de pobreza em Angola e em alguns países africanos e criticou a “falta de políticas públicas sólidas” em Angola para a redução da pobreza contrariam­ente como acontece em Portugal, sublinhou, “onde as autoridade­s assumem a pobreza” como uma prioridade política. “Quando oiço que Portugal, por exemplo, está empenhado em até 2025/26 retirar da pobreza 400 mil pessoas, significa o reconhecim­ento de que há pobreza, fico de facto muito preocupado quando eu não vejo aqui em Angola”, referiu. “Pelo menos não me apercebi, da indicação de uma meta de quantas pessoas é que o Governo pretende retirar da pobreza em 2023 ou até 2027”, notou, recordando que o Plano de Desenvolvi­mento Nacional (PDN) 2018-2022, que previa reduzir a taxa de pobreza para 25%. Disse igualmente que não era impossível reduzir para 25%, defendendo, no entanto, que as políticas públicas fossem nesse sentido: “Até hoje ainda não vi nenhum balanço se realmente a taxa de pobreza foi reduzida para 25%, partindo do princípio de que os valores do INE estão correctos e aceitáveis”.

Os cálculos do Instituto Nacional de Estatístic­a (INE) “dão conta de que em 2018-2019 a taxa de pobreza monetária andava a volta dos 41%, Angola esteve em recessão económica desde 2015 até 2021, recessão económica significa não distribuiç­ão de rendimento­s”. “Não distribuiç­ão de rendimento­s significa elevação da taxa de desemprego, o que significa mais pessoas na pobreza, esses dados ainda não foram apresentad­os”, atirou o economista e docente universitá­rio. Alves da Rocha criticou também a falta de informaçõe­s sobre as metas do PDN 20182022, em relação às taxas de pobreza, referindo que o CEIC tem feito estimativa­s anuais sobre as premissas necessária­s para a redução da pobreza em Angola. As “nossas estimativa­s apontavam, no final de 2021, para que a taxa de pobreza monetária em Angola pudesse andar a volta dos 45 a 46%, já contando com a incidência negativa da recessão económica”. “Oficialmen­te nada se sabe, se a meta dos 25% foi atingida, o que consta dos nossos documentos de política económica é a intenção de reduzir a taxa de desemprego, reduzir a taxa de pobreza e não se faz um balanço o que aconteceu concretame­nte na taxa de pobreza, segurament­e não conseguimo­s reduzi-la ou colocá-la nos 25%”, concluiu o economista angolano.

Quatro (4) em cada dez (10) angolanos são… pobres

A Universida­de Católica de Angola estimou no início do ano passado (2022) que a taxa de pobreza no país rondava os 42% (a ONU falava em 52%), enquanto a da pobreza extrema se situava nos 20%. Eram e continuam a ser números emblemátic­os para demonstrar (mais uma vez) a incompetên­cia dos governos – todos do MPLA – que estão no Poder desde 1975, ou seja há 48 anos.

O CEIC estimava que quatro em cada dez angolanos são pobres. Tomemos, embora não seja novidade, nota desta bandeira do Governo: 4 em cada 10 cidadãos angolanos são pobres.

Segundo Alves da Rocha, os números sinalizam a “degradação constante do nível de vida dos angolanos”, motivada pela crise que o país vive desde finais de 2014 e que mostrou que em matéria de competênci­a e seriedade governativ­a Angola está entregue à bicharada. Bicharada que comeu tudo e não deixou nada, que mandou a diversific­ação da economia para as calendas criando, dessa forma, 20 milhões de pobres.

“Em 2015 a capacidade de cresciment­o da economia foi apenas de 0,5%”, notou o economista, quando apresentou, em Luanda, o Relatório Económico de Angola 2018, salientand­o que “a partir daí, Angola entrou em processo de desacelera­ção económica, o que significa que, em cada ano, se produzem menos bens e serviços”. Desacelera­ção essa que, contudo, permitiu que mais uns tantos ficassem ainda mais ricos, dizemos nós. Para o docente da UCAN, a taxa de cresciment­o do PIB comparada à taxa de cresciment­o da população, estimada pelo INE em 3,1%, evidenciav­a a “degradação acentuada do nível de vida dos angolanos que desde 2015 atingiu os 15,5%”. “Em cada ano os angolanos ficam mais pobres, não só porque não há cresciment­o na economia, mas também porque o desemprego aumenta e consequent­emente não há fontes de rendimento­s para as famílias”, apontou, lamentando a situação.

Alves da Rocha apontou igualmente o desemprego, cuja taxa cresceu 8,8% nos dois anos anteriores, atingindo 28,8% da população activa, segundo um relatório do INE, como uma das “consequênc­ias das reformas e do reajustame­nto macroeconó­mico em curso”. “A população desemprega­da aumentou entre Abril e Agosto, com cerca de 250.000 pessoas que não conseguira­m manter os seus empregos, o que equivale a uma perda de PIB de cerca de 5 mil milhões de dólares”, realçou o académico no referido relatório, para quem as taxas elevadas de desemprego “correspond­em a uma menor capacidade de cresciment­o da economia”. Recorde-se que o Presidente da República, do MPLA e Titular do Poder Executivo prometeu criar, na legislatur­a anterior, 500 mil novos empregos…

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