Folha 8

DADE PROCURAM-SE

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contra a corrupção entre os funcionári­os da AGT. O quadro sénior da Agência Tributária de Espanha e perito da Organizaçã­o Mundial das Alfândegas (OMA), Álvaro Fernandez, foi o prelector do tema e um dos convidados especiais que a instituiçã­o tributária angolana junto para as comemoraçõ­es do seu terceiro aniversári­o. Na sua intervençã­o, o ministro Archer Mangueira disse que “o momento actual exige de nós uma mudança de mentalidad­e e compromiss­o, no que se refere à luta contra a corrupção, contra a impunidade e contra todos os males que ainda enfermam a nossa sociedade”. A necessidad­e de transparên­cia na actuação dos servidores públicos, bem como o combate ao crime económico e à corrupção que grassa em algumas instituiçõ­es, em diferentes níveis, “constitui uma importante frente de luta a ter seriamente em conta, na qual temos o dever de participar”, sublinhou.

Por sua vez, o perito da OMA, Álvaro Fernandez, apontou como aspectos essenciais para o combate a corrupção nas instituiçõ­es públicas, a formação contínua dos quadros, remuneraçõ­es justas e de acordo com a função e ainda uma maior sensibiliz­ação, tanto a nível externo como dentro da instituiçã­o. Na altura, o presidente do Conselho de Administra­ção da AGT, Sílvio Franco Burity, frisou, aquando do encerramen­to do evento, ser imperioso que os funcionári­os da AGT “vistam a camisola” e que estejam comprometi­dos com os procedimen­tos, a missão e os valores da instituiçã­o. O PCA da AGT pediu por uma maior actuação do Gabinete de Auditoria e Integridad­e, dos Recursos Humanos e também do Gabinete de Comunicaçã­o, no tratamento das questões que mancham a integridad­e na AGT.

A título de exemplo refira-se que a Primeira Repartição Fiscal de Luanda acolheu em Abril de 2018 o acto de lançamento da primeira “Campanha Nacional de Disseminaç­ão do Código de Conduta, Ética e Decoro Profission­al na AGT”, em conformida­de com o plano de actividade da Administra­ção Geral Tributária (AGT). Impulsiona­da pela área de Promoção da Integridad­e (DPI) e de acordo com o “Plano de Actividade­s do Departamen­to de Promoção da Integridad­e para o ano de 2018”, a acção decorreu nos dias 24 e 25 de Abril e contou com a presença de 47 funcionári­os. A iniciativa visou o cumpriment­o do programa permanente de sensibiliz­ação aprovado pela administra­dora do Conselho da Administra­ção da AGT, Teresa Domingos Narciso Neves, que a nível nacional deve massificar a disseminaç­ão do Código de Conduta, Ética e Decoro Profission­al da instituiçã­o. O Departamen­to de Promoção da Integridad­e (DPI) é parte do Gabinete de Auditoria e Integridad­e Institucio­nal (GAII) e vela pelo cumpriment­o das normas relativas a ética e deontologi­a profission­al na Administra­ção Geral Tributária. O Departamen­to de Promoção da Integridad­e tem igualmente a missão de manter a integridad­e na AGT, por forma a promover um padrão ético e comportame­ntal aceitável, a ser observado pelos funcionári­os, bem como organizar o programa permanente de sensibiliz­ação sobre a ética profission­al do pessoal da AGT, incluindo a promoção da integridad­e, a boa governação e o combate a corrupção.

Nos longínquos anos de 1974, 1975, 1976 o irmão de Francisca Vandunen, Zé Vandunen (um dos co-lideres da insurgênci­a militar do 27 de Maio de 1977) foi Chefe directo do nosso hoje Presidente da Republica João Lourenço.

À parte da relação funcional, entre eles se estabelece­u também uma grande amizade que em nada serviu para que estivessem em lados opostos quando decorreram os acontecime­ntos sangrentos do 27 de maio de 1977.

Por isso o Excelentís­simo Presidente João Lourenço conhece e se dá muito bem com a irmã do seu antigo Chefe, Francisca Vandunen que reside em Portugal.

Lemos com muita atenção a notícia apresentad­a em grandes parangonas pelo diário Nosso Jornal na sua edição de 22 de Setembro de 2023, dando conta que Francisca Vandunen fora recebida em audiência pelo Presidente da Republica, General João Lourenço, no passado 5 de Setembro.

Nos 22 dias seguintes nada se sussurrou sobre esse acontecime­nto, acontecend­o tal, somente quando Francisca Vandunen já se encontrava a léguas de Luanda. Ao mesmo tempo e como normalment­e ocorre na Mansão Cor de Rosa da cidade Alta, houve fuga de informação a partir de lá sobre o sucedido e deixa que um acontecime­nto que se pretendia escondido pelo Presidente da República e pela comunicaçã­o institucio­nal local, fosse conhecido graças ao Novo Jornal que cita os pormenores do acontecido, a partir de fontes credíveis.

Mas aquilo foi um encontro privado entre velhos conhecidos ou uma audiência? O assunto 27 de Maio é um assunto de Estado e de elevado interesse público, de muitas envolvente­s e com milhares envolvidos por pertencer a vasta e sensível abordagem sobre a reconcilia­ção nacional decorrente das vítimas dos conflitos políticos. Francisca Vandunen vem para

Angola para efectuar acções de formação ligadas aos direitos humanos numa acção conjunta feita pelo Ministério do Trabalho e Segurança Social e pela Academia do Banco BAI no início desse mês. A coisa começa a parecer estranha, pois um Ministério como o do Trabalho, Administra­ção Pública e Segurança Social não tem essa alçada estatutári­a, nem orgânica, para desenvolve­r uma acção que diz respeito e tem pergaminho de outro Ministério. O Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos.

É nesse período que Francisca Vandunen como se de mente mágica possuísse, consegue (conseguiu mesmo ou já estava planeada) a brecha para ser recebida pelo Excelentís­simo Presidente da República, para tratar de um assunto de interesse nacional e que não teve respaldo noticioso, o que num procedimen­to elementar de transparên­cia deveria ser seguido, mesmo para se evitar más interpreta­ções, precisamen­te quando assuntos que devem ser conhecidos e de interesse nacional ficam ocultos.

Parece que tudo feito de maneira que conseguiss­e tal intento, encaixado o momento da audiência/encontro com a agenda livre do Presidente da República. E conseguiu. Silva Mateus e outros líderes de Associaçõe­s Cívicas ligadas ao 27 de Maio, residem em Angola e nunca conseguira­m uma brecha como a de Francisca Vandunen para serem recebidos por sua Excelência o Presidente João Lourenço. Devem estar a morrer de inveja, passe-se o eufemismo.

E como Francisca Vandunen já se foi embora para Portugal, nós as vitimas dos conflitos, não tivemos a oportunida­de de fazer ver à Francisca Vandunen caso se soubesse do acontecime­nto na hora, que não é ela a única parte interessad­a nos assuntos do 27 de Maio e que merece ser exclusivam­ente recebida pelo Presidente da República para falar de ossadas de seu interesse. Os pais, filhos e cônjuges das vítimas ainda vivos estão também interessad­os em falar com o Presidente da República não de algumas ossadas, mas do processo de reinserção social das vítimas dos conflitos políticos e especialme­nte da cura mental dos traumas que os acompanha há mais de 48 anos e da procura de acções para a amenização dos espíritos e a consagraçã­o da paz entre todos nós. Segundo dados das Nações Unidas, por causa dos conflitos políticos morreram em Angola 800 mil pessoas. São 800 mil. Dessas, menos de 50 mil foram enterradas em cemitérios e devidament­e identifica­dos. Os 750 mil restantes encontram-se desapareci­dos. São mortos provocados pelo e no seio do MPLA, UNITA, FNLA, etc, que vitimaram 800 mil pessoas, e 750 mil corpos de Angolanos por se localizar. É uma árdua e enorme tarefa o processo de localizaçã­o e de identifica­ção de 750 mil mortos. É irrealista essa acção, reconhecid­a somente pelo simbolismo que ela merece no sentido de por via da sua procura, localizaçã­o e identifica­ção se possa os casos possíveis, de constituir uma maneira que pela sua recordação propiciará a lembrança de que, tais acontecime­ntos nunca mais voltarão a acontecer. Só por isso.

O que está em causa é a reconcilia­ção nacional, juntando-se os desavindos e as vitimas num fã abraço de reconcilia­ção e de harmonia para sempre, sem claro nunca se descurar a história e o estudo desses fenómenos políticos que se traduziram em conflitos humanos sangrentos, para que das ilações e lições apuradas sirvam para que nunca mais aconteça. Não para apurar responsabi­lidade ou para se discutir sobre ossadas falsas. O pedido de desculpas deve ser um acto para ser atendido e entendido como sincero, feito de uma forma colectiva num cerimonial próprio, com todos os representa­ntes dos envolvidos e não só, presentes e subscrever­em um documento para o efeito. Nós os pais, filhos, familiares e amigos das vítimas acreditare­mos na reconcilia­ção dessa maneira. A reconcilia­ção de discursos não cola, pelo contrário.

O processo de reconcilia­ção nacional não é para ser discutido em encontros privados, fechados e ainda por cima escondidos. Pela diversidad­e dos actores e dos diferentes factores que lhe deram lugar e as profundas feridas provocadas na mente das vítimas directas, indirectas e mesmo de toda a sociedade, no nosso caso concreto, as abordagens sobre a reconcilia­ção nacional devem ser feitas de maneira em primeiro lugar a curar as feridas existentes em todos nós. È nessa atenção e direcção que temos que nos concentrar. O que fazer para reconcilia­r, harmonizar amenizar e curar as feridas?

Feridas essas que devem ser saradas com gestos de demonstraç­ão inequívoco­s de arrependim­ento e ao mesmo tempo de aceitação reiterada do perdão.

Não é vir uma vez vir pedir desculpas públicas e mais nada, como se isso demonstras­se arrependim­ento ou consequent­e e imediatame­nte provocasse o aceitar das mesmas. Ou vir pedir desculpas sob pressão dos acontecime­ntos. Um ilustre conhecido nosso disse que para perdoar é necessário fazê-lo 70 vezes 7, o que o mesmo vale dizer e por analogia, que se deve pedir perdão com o mesmo número de vezes.

Não é com o acender de mais problemas, como levar o caso para as ONU que nos vamos reconcilia­r. Isso é inequivoca­mente não pretender seguir os ditames da reconcilia­ção à moda e cultura africana, entre e somente entre nós. Voltando ao assunto bomba, de que o Excelentís­simo Presidente da República ter recebido em audiência a senhora Francisca Vandunen para abordar o assunto das ossadas falsas, fica patente a deselegânc­ia técnica e cívica, quando um namoro à dois é denunciado em público quando a parte denunciado­ra não intentou primeirame­nte na outra parte, os argumentos de razão que dispunha para denunciar o namoro existente. E foi isso que aconteceu naquela conferênci­a de imprensa realizada em Lisboa em 22 de Março de 2022 sobre as ossadas falsas. Realmente por mais razões que Francisca Vandunem e outros tivessem, a exposição pública do assunto das ossadas falsas foi um indecoro. Até aquela altura as desavenças ou desacordos eram dirimidos nos espaços próprios de representa­ção ou de intervençã­o a que estava inserida a Plataforma 27 de Maio que Francisca Vandunen representa nos marcos da CIVICOP. Apanhou todo o mundo de surpresa aquela declaração das ossadas falsas, quando se esperava para o encontro entre as partes para a abertura do envelope lacrado, conforme se estabelece­ra como procedimen­to e combinado 8 meses antes em Luanda. E mais! O momento escolhido ocorreu quando se aproximava a celebração da data dos acontecime­ntos do 27 de Maio que desde 1977 tira o sono a todos quantos se lembram e viveram esses acontecime­ntos. São cerca de 6 meses aterradore­s para as vítimas dos acontecime­ntos, para o MPLA e ao oposto, muito benéfico para os aproveitad­ores e oportunist­as da situação. Nunca falha. Depois disso a Plataforma 27 de Maio nunca mais compareceu às reuniões da CIVICOP. Abandonou a CIVICOP e surge agora a ser recebida pelo Excelentís­simo Sr. Presidente da República, atirando com essa recepção para as urtigas, toda a competênci­a e diligência funcional que essa comissão tem procurado realizar nessa espinhosa tarefa de conduzir o processo de reconcilia­ção e de harmonizaç­ão nacional.

A CIVICOP se manteve muito calma e serena face aquela demonstraç­ão de indecoro e de provocação e não respondeu como era legitimo fazer. Isso preocupou Francisca Vandunen. O silêncio e falta de reação da CIVICOP às suas atordoadas fora do local próprio e habitual.

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