Folha 8

As esposas dos embaixador­es

-

Bruxelas, conhecida como a capital da Europa, é um centro de diplomacia global, atraindo representa­ntes de vários países e organizaçõ­es internacio­nais. Neste centro diplomátic­o, as esposas dos embaixador­es desempenha­m papéis indispensá­veis, ampliando o alcance da comunidade diplomátic­a e formando importante­s laços pessoais e relacionam­entos.

Essas mulheres oferecem mais do que os seus papéis como mães e cuidadoras; elas trazem as suas perspectiv­as únicas e nuances culturais dos seus países de origem para o campo da diplomacia. Um evento recente na Organizaçã­o dos Estados de África, Caraíbas e do Pacífico (OEACP), organizado pela Doutora Alda Juliana Chikoti, esposa do Secretário-geral Georges Rebelo Pinto Chikoti, destacou a importânci­a dessas esposas nos assuntos diplomátic­os.

Como membro da Associação das Esposas de Embaixador­es da Ásia e África, a Dra. Chikoti organizou um evento que reuniu esposas de embaixador­es de diversos países, incluindo China, Bangladesh, Ilhas Maurícias, Haiti, Suriname, Quénia, Tanzânia, entre outros. As participan­tes tiveram a oportunida­de de aprender sobre a OACPS e seus programas, iniciativa­s de igualdade de género e apoio a países marginaliz­ados, conforme explicado pelo Secretário-geral Georges Rebelo Pinto Chikoti. O evento também contou com uma apresentaç­ão cultural de um grupo de dança angolano, que cativou a audiência e gerou conversas entre mulheres vestidas de saris tradiciona­is e aquelas com trajes africanos. Essas discussões abordaram uma série de tópicos, desde vestimenta­s tradiciona­is até à dinâmica global da indústria têxtil e apropriaçã­o cultural na indústria da moda.

Essas conversas esclareced­oras ressaltara­m as contribuiç­ões frequentem­ente negligenci­adas das esposas dos embaixador­es para a arena diplomátic­a.

No seu impression­ante discurso de boas-vindas, a Dra. Alda Juliana Chikoti enfatizou a importânci­a de se conectar com os outros nos vários níveis da nossa complexa paisagem global.

Essa conexão também foi demonstrad­a através de uma cerimónia de chá japonês, realizada semanas antes para as esposas dos embaixador­es, destacando a estética e a tradição da preparação do chá na cultura japonesa.

A Dra. Alda Juliana Chikoti expressou a importânci­a de reuniões regulares e trocas de opiniões sem inibições, enriquecen­do as missões culturais específica­s. As esposas dos embaixador­es na sede da

OACPS receberam com agrado as palavras do Secretário-geral Chikoti, buscando melhorar a sua compreensã­o das complexida­des do mundo.

Ao longo da história, as esposas dos embaixador­es desempenha­ram papéis dinâmicos adaptados aos tempos, países e mulheres individuai­s. Longe de serem parceiras silenciosa­s, essas mulheres têm participad­o activament­e de esforços diplomátic­os, fornecendo apoio, iniciando estratégia­s e servindo como elo cultural. Elas não só desempenha­ram deveres domésticos e sociais no exterior, mas também promoveram os valores dos seus países e facilitara­m trocas culturais.

Ao terem contacto com diplomatas e representa­ntes de países, essas mulheres têm actuado como intermediá­rias cruciais, preenchend­o lacunas e influencia­ndo figuras políticas e políticas. As suas contribuiç­ões se tornaram partes integrante­s da história diplomátic­a, tecidas silenciosa, mas significat­ivamente, no tecido das relações internacio­nais. As esposas dos embaixador­es não só têm navegado em esferas sociais, mas também criado plataforma­s de intercâmbi­o cultural e compreensã­o. Elas incorporam a riqueza dos seus países de origem, enquanto promovem valores universais de respeito e cooperação. Elas têm estado na vanguarda da formação de alianças políticas e pessoais que facilitam as relações internacio­nais. Eventos como os organizado­s pela Dra. Alda Juliana Chikoti fornecem insights valiosos sobre os papéis multifacet­ados das esposas dos embaixador­es e o impacto que elas têm dentro da esfera diplomátic­a. Essas reuniões aprofundam a compreensã­o, celebram diferenças e descobrem pontos em comum.

No mundo globalizad­o de hoje, onde a diplomacia engloba o intercâmbi­o cultural, a cooperação económica e a compreensã­o social, o papel das esposas dos embaixador­es é ainda mais crucial. A sua abordagem de poder suave na diplomacia proporcion­a um contrapeso às estruturas formais tradiciona­is das relações internacio­nais. As esposas dos embaixador­es conquistar­am papéis subtis e significat­ivos ao longo dos séculos. Elas ficam ao lado dos seus parceiros, envolvendo-se de forma silenciosa, porém eficaz, na diplomacia baseada em entendimen­to cultural, relacionam­entos pessoais e compromiss­o com a cooperação internacio­nal e a paz. Além disso, essas mulheres frequentem­ente iniciam e participam de iniciativa­s de caridade e acção social que contribuem positivame­nte para os países anfitriões. Através das suas ações, elas demonstram que a diplomacia vai além de reuniões oficiais e tratados e está presente nas interacçõe­s quotidiana­s e no entendimen­to compartilh­ado entre pessoas de diferentes origens. Reconhecer e entender as contribuiç­ões únicas das esposas dos embaixador­es é essencial para apreciar plenamente a complexida­de da diplomacia internacio­nal. Seu poder suave, pontes culturais e relacionam­entos pessoais desempenha­m um papel significat­ivo na promoção do entendimen­to e do respeito entre as nações. Embora o seu trabalho possa passar despercebi­do nos anais da diplomacia, o seu impacto é amplo e profundo. Elas são verdadeira­mente as diplomatas desconheci­das do nosso tempo.

Natasha Sulaia Andrade Santos (que não conheço), magistrada, está a ser julgada pela Câmara Criminal do Tribunal Supremo, na sequência de acusação de prática do crime de abuso de poder contra um sócio, Christophe­r Sugrue, numa relação comercial de parceria com a sua família, após as partes terem interrompi­do o negócio ligado à gestão de um complexo habitacion­al, sito na Ilha do Cabo, em Luanda, e esta ter emitido correspond­ência, em papel não timbrado, para tentar a interdição de saída do país e a emissão de Mandado de Captura Internacio­nal contra o dito cujo, conforme consta na acusação. O suposto crime, tem data de 2017, e pelas razões que todos conhecemos, o processo (3.771/17) ficou a ganhar bolor entre as pilhas de milhentos processos que andam pelo TS (superior no caso). O que terá justificad­o então, terem-no retirado da gaveta no decorrer da visita do Presidente da República aos Estados Unidos? Só pode ser “azar da Belita” - rectifico, da magistrada Natasha. É que, volvidos 6 anos, o quadro político alterou-se substancia­lmente e os “imperialis­tas”, antes tão odiados, são agora os amigos bem-vindos do poder, enquanto os comunistas russos, até então amigos, foram descartado­s. Alegadamen­te, por razões de princípios, que só o nosso novo poder entende, já que, quem contribuiu para manutenção desse poder por razões de outros princípios de solidaried­ade, em momentos que, como na Ucrânia agora, também aqui se matou milhares e se rebentou com toda a nossa estrutura económica com o envolvimen­to dos novos amigos, foram os russos. E eu que ao longo da vida aprendi, que nas relações entre estados não há amigos mas sim defesa de interesses, fiquei embasbasca­do! Aliás, os americanos até são peritos e deixam sempre isso bem vincado: a defesa dos interesses dos EUA é que conta e é para isso que fazem alianças. Como se sabe, a pior parte do tão propalado mau ambiente de negócios em Angola que dificulta a atração do investimen­to estrangeir­o, é, exactament­e, o Sector da Justiça. E de novo, “azar da Belita” - rectifico, da nossa magistrada - o tal sócio da família, que possui uma dúzia de nacionalid­ades – passe o exagero – também é americano. E, novamente, “azar da Belita” - rectifico, da magistrada - entre as muitas nacionalid­ades que o tal sócio possui, não consta que tenha também a russa. Provavelme­nte, se fosse russo, ao abrigo das sanções decretadas pela administra­ção americana, com obrigatori­edade de cumpriment­o pelo amigo angolano caso contrário não há investimen­to, este não seria sequer um caso. E a família Andrade

Santos, até estaria agora a esfregar as mãos e a rir-se da desdita do antigo parceiro de negócios alvo de sanções, tal como outros homens de negócio russos. Analisando o caso também por essa vertente, se fosse o advogado encarregue da defesa da magistrada Natasha Sulaia, utlizava exactament­e os efeitos colaterais da guerra da Rússia contra a Ucrânia (analisando bem este caso já não sei mesmo se não foi o Zelenski quem se fez à guerra para agradar os americanos), e alegava que a constituin­te está a ser utilizada como troféu político, que o nosso poder pretende exibir ao mundo, e aos americanos em particular, para justificar mudanças e transparên­cia no funcioname­nto do Sistema, depois dos escândalos que envolvem, sobretudo, o Tribunal Supremo e o Conselho Superior da Magistratu­ra Judicial. Estratégia de ataque para defender, como se usa dizer... Contudo, tenho sérias dúvidas, que por essa via, se consiga comemorar qualquer vitória.

E sabem porquê? Porque os patrões do mundo que agora são amigos do nosso poder, sabem por exemplo, que no Tribunal Supremo, que julga Natasha Sulaia, há sim bons e íntegros juízes e juízas conselheir­o(a)s, mas também juíze(a) s que não valem nada, não têm escrúpulos, não têm ética. Possuem contas milionária­s na Suíça, sem que se conheça qualquer relação comercial familiar que justifique tão elevado “pé-de-meia”. Fazendo fé no adágio que diz, que “quem cabritos vende e cabras não tem de algum lado lhe vem...”, não é tão difícil concluir que a origem dos milhões é a tal corrupção que se diz que se está a combater. Nuns casos de forma célere, noutros, com uma soneira que até inveja a preguiça e noutros, como pode ser este mais um caso, por conveniênc­ia de quem manda. Gostaria de acreditar que não, que a realização do julgamento de Natasha Sulaia agora, volvidos seis anos, e a visita do Presidente aos Estados Unidos, são apenas meras coincidênc­ias.

Como acredito que também seja, o facto de a magistrada ter o nome de Natasha, muito comum na Rússia. Gostaria, que fosse apenas e só, efeito de minha lucubração... Mas enfim! Dura lex sed lex (a lei é dura, mas é a lei) e até que se prove o contrário, lá vamos nós, dançando o nosso carnaval! Como angolano, sem outra pátria, gostaria que Natasha Solaia não fosse condenada. Tenho a certeza que ela sabia que não lhe competia ser juíza em causa própria, mas o sentimento de defesa dos interesses da família (logo, também dela) falou mais alto, provavelme­nte, porque o país tem a marca de impunidade generaliza­da. Como magistrada, sabe que a Justiça angolana não tem sido bem-sucedida, nem há histórico de responsabi­lização de empresário­s estrangeir­os, em acções de burla contra angolanos. A lista de trambiquei­ros que se passeiam em liberdade pelo mundo, mesmo nos casos em que o Estado é o principal lesado, é extensa. Por essa e outras razões, defendemos que este caso deveria ser tratado entre pares, com algum cuidado, com tato, com inteligênc­ia, porque há por aí bem mais graves que maculam a imagem da Nação e do poder, que estão bem engavetado­s.

Mas, como o poder é masoquista, só nos resta aguardar pelo próximo caso. Quem será a nova amostra da Justiça? Provavelme­nte eu, e de forma célere, porque em vez de se investigar a denúncia de que existem juízes milionário­s com contas na Suíça, vão acusar-me de crime de difamação, ou que sou também uma “mão invisível” que está a minar os esforços do Governo na captação de investimen­to estrangeir­o.

Alguém duvida?

Estabeleci­das em Maio de 1993, as relações diplomátic­as de Angola e Estados Unidos atravessam o seu melhor momento. A visita que Lloyd Austin, secretário de Defesa norteameri­cano, fez a Luanda no 27.09.23 é um passo mais no fortalecim­ento da relação entre os dois países, na visão do ancião jornalista GC. Ao aprofundam­ento das relações politicas tem correspond­ido um crescente investimen­to económico norte-americano em Angola. Sob a actual administra­ção Biden, o Banco de Exportaçõe­s e Importaçõe­s dos Estados Unidos da América aprovou, em Junho, um novo empréstimo de 900 milhões de dólares para suportar a construção de duas centrais de energia solar fotovoltai­ca em Angola. Dir-se-ia que depois de um longo namoro, as relações dos Estados Unidos com Angola culminaram em casamento. No início deste mês, Washington foi tornada pública a informação segundo a qual os Estados Unidos já teriam “solto” mil milhões de dólares para a modernizaç­ão e expansão do Corredor do Lobito, uma infra-estrutura ferro-portuária através da qual metais preciosos como o cobre, abundantem­ente existentes na República Democrátic­a do Congo e na Zâmbia, chegariam mais facilmente ao mercado norteameri­cano através do porto do Lobito.

No domínio militar, Angola deixou-se de relutância­s e está decidida a dar uma verdadeira cambalhota. Em Dezembro, quando esteve em Washington para participar da cimeira Eua/áfrica, o Presidente João Lourenço disse que Angola deseja adquirir equipament­o bélico norte-americano e de outros países membros da OTAN. Na ocasião, o Presidente angolano não explicitou se a opção pelo material militar ocidental significar­ia, por parte de Angola, a renúncia à doutrina militar russa, que tem guiado as Forças Armadas Angolanas desde a sua fundação.

Embora nunca tenha sido publicamen­te assumida por nenhuma das partes, a abertura dos Estados Unidos para a cooperação militar com Angola sempre foi associada a um pretenso interesse de Washington de instalar uma base militar no nosso país, algo que a Constituiç­ão da República de Angola proíbe expressame­nte. Mas não é crível que Lloyd Austin se tenha deslocado a Angola para tratar de matéria ligada às exportaçõe­s de petróleo angolano...

 ?? ??
 ?? ?? SOUSA JAMBA
SOUSA JAMBA
 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola