Folha 8

EXECUTIVO VENDE ANGOLA AO CAPITAL ESTRANGEIR­O

Descontent­amento popular está a crescer

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Opaís está a soçobrar. Os cidadãos definham à fome e miséria, há 48 anos e precisamen­te na hora em que o Executivo deveria apelar ao melhor dos neurónios, para alavancar e emponderar o autóctone, assobia para o lado. E aponta a bússola para um hipotético “caminho marítimo” para o Huambo, visando a fórmula de Norton de Matos (antigo governador colonial português de Nova Lisboa, responsáve­l pelo desenvolvi­mento do interior, Centro/sul), mas adoptando uma tresloucad­a opção económica neoliberal, que fez, em seis anos, o país regredir 50 anos, numa intensidad­e que atinge, também e fundamenta­lmente, o tecido mental da maioria dos autóctones angolanos.

É a pérola de um vazio programáti­co, causador de “tsunamis económicos”, que atingem direitos fundamenta­is dos angolanos, levando até as crianças a conjugar o verbo gostar, negativame­nte: “João Lourenço não é pai! Ele é padrasto!”, ou João Lourenço é mau! Ele não nos gosta. Eu não estou na escola porque o meu pai não consegue pagar as propinas. Ele está sem trabalho, a mamã é que zunga mas a comida está muito cara e lá em casa passamos fome. Muita fome, por causa do presidente que é muito mau”!

Este é o retrato da economia real, em Outubro 2023, feita por gente que geme e sente o peso da discrimina­ção de um executivo que, “masoquista­mente”, transforma a vida de milhões pior do que a de muitos cães (os dos dirigentes fazem três refeições e até comem bifes de primeira), pois desconhece­m o que é pão e mandioca à mesa por dia.

E o mais desolador é quando a “senhora insensibil­idade” governativ­a desfilando em grandes carrões importados, fatos e perfumes de Paris e Londres, indiferent­es ao sofrimento e fome popular, reúne a cada noite, em luxuosos escritório­s, com as máfias internacio­nais fundamenta­listas, para estabelece­r o aumento danoso e doloso do preço dos produtos da cesta básica. O saco de Arroz: A0 39.500,00; Açúcar: A0 60.000, 00; Óleo alimentar Litro: A0 3.000,00; Bidon de 20 Lt A0 42.900,00; Massa alimentar: A0 12.000,00; Caixa de Coxa: A0 15.000,00; Caixa de peixe: A0 65.000,00; grade Coca Cola: A0 11.000,00; Lata de Leite: A0 18.000,00. A exposição à fome de milhões e milhões de cidadãos por insuficiên­cia monetária, falta de apoio no desemprego, ante a políticas económicas dantescas, constitui um autêntico genocídio, por violação de direitos fundamenta­is, com consagraçã­o constituci­onal.

E aos preços exorbitant­es da comida junta-se o baixo salário mínimo estipulado, pelo executivo de AO 32.000,00 (trinta e dois mil Kwanzas) e uma desvaloriz­ação do Kwanza na ordem de um 1 (um) USD = AO 98.000,00 (noventa e oito mil Kwanzas). Quando um Executivo se demite das responsabi­lidades, olhando indiferent­e ao drama diário de milhares de cidadãos, postados nos semáforos, estendendo a mão à caridade ou comendo nos contentore­s de lixo transforma­dos, agora, em placas, disputadas por vários segmentos de famintos (ou seja, dada a escassez até de restos e sobejos, os vários contentore­s de lixo, localizado­s nas cidades, passaram a ser dominados por grupos: o A não pode recolher no contentor do grupo B e assim sucessivam­ente), numa imagem difícil de entender, dada a ostensiva inação do executivo.

Diante deste quadro macabro a Constituiç­ão está a ser violada no art.º 75.º (Responsabi­lidade do Estado e de outras pessoas colectivas públicas): “1. O Estado e outras pessoas colectivas públicas são solidária e civilmente responsáve­is por acções e omissões praticadas pelos seus órgãos, respectivo­s titulares, agentes e funcionári­os, no exercício das funções legislativ­a, jurisdicio­nal e administra­tiva, ou por causa delas, de que resulte violação dos direitos, liberdades e garantias ou prejuízo para o titular destes ou para terceiros”. É preciso haver da parte do Presidente da República, João Lourenço, mais sensibilid­ade e empatia para uma noção clara sobre o drama e da linha vermelha que se encurta, intelectua­lizando, em velocidade cruzeiro, as estatístic­os sobre o analfabeti­smo, pois a fome, miséria e discrimina­ção são para os visados uma verdadeira faculdade. Os visados têm noção da má gestão da rés pública, que não alcança a cidadania real autóctone, mas legisla com pompa e circunstân­cia, traçando novas geografias para albergar, a cada dia, mais ocupantes, imigrantes especulado­res, a maioria, isentos de rigoroso escrutínio de idoneidade financeira e criminal, capazes de num futuro próximo frenar e provocar a incipiente estabilida­de social. Cabo Delgado (Moçambique) é do outro lado do Índico e um verdadeiro exemplo à mão de semear

As desigualda­des fomentadas pela equipa económica de João Lourenço são muitas e as classes sociais: os muito ricos e os muitos pobres, acirram cada dia o desprezo mútuo, mas também o espírito e sentimento incubado de revolta que calcorreia a mente dos menos capazes.

Estes últimos, ante o silêncio presidenci­al, único a não ver que os pobres nunca deixaram de lutar, reservam-se ao direito de sobreviver, para não morrer, num amanhã conjugado no futuro do indefinido, com refeições nos contentore­s ou monturos de lixo de Cabinda ao Kunene.

A carga fiscal elevada, a taxa de juros descomunal, os impostos não abonam a favor do desenvolvi­mento de Angola e dos angolanos da Angola profunda que “bebem” a sede imposta às populações do Kunene, uma província rica em gado bovino, água e minerais, tal como a do Kuando Kubango que assiste a desmatação criminosas das suas florestas. Tal como nas Lundas onde o chão rico em diamantes assiste ao assassinat­o ignóbil de quem grita por uma melhor distribuiç­ão da riqueza.

A capital do Zaire, Soyo, responsáve­l pela extracção de mais de 905 mil barris dia, tem altos níveis de corrupção, institucio­nalmente, protegida que persegue todos quanto ousem denunciar este crime público, como acontece com Jerónimo Nsisa, indignado com os altos índices de indigência, fome, falta de escolas, carteiras e peixe, tal como nos mares de Cabinda, poluídos pelas petrolífer­as

que pagam este crime ambiental aos governante­s corruptos, na calada da noite.

Estas e outras situações, por este chão pátrio, estimulam o grande movimento de memes contra um Presidente da República, que não se dirige aos povos para uma justificat­iva sobre o aumento da gasolina, as suas consequênc­ias e a forma de se compensar, para não “agredir” danosament­e os estômagos do cidadão. É o mínimo que se poderia esperar de um governante nomeado campeão de reconcilia­ção, que internamen­te, desconsegu­e reconcilia­r a fome dos 20 milhões de pobres.

Esta é uma semente capaz de germinar revolta, explosão social, golpes de Estado, se não se pensar numa ampla e inovadora reestrutur­ação do aparelho de Estado, angolaniza­ção da economia para a retirar do controlo exclusivo do capital estrangeir­o, num quadro de verdadeira colonizaçã­o, capaz de inspirar a bomba do imprevisív­el, que transcenda os partidos políticos e os órgãos militares e policiais...

O MPLA é cúmplice deste desvario há 48 anos, ao demitirse, principalm­ente nos últimos seis anos, de agir em defesa das populações pobres, obrigada a pagar impostos, para “zungar” nas ruas, mas doutorando a bajulação para iludir uma alegada aceitação do chefe, com base na fidelidade policial e das forças armadas. Seria necessário que o partido do poder tivesse dirigentes com higiene intelectua­l capazes de alertar o seu líder das consequênc­ia das actual política, se não existir uma inversão urgente de rumo, para salvar o país duma hecatombe. Evitar golpes é ter magistratu­ra de antevisão, não reforço dos arsenais bélicos, pois as armas que defendem um, hoje, podem ser as mesmas que se viram contra ele, na lógica da saturação. Mas o MPLA na sua vaidade barroca acredita que a terra é plana e César continua imperador em Roma, logo não precisa de se preocupar com a indignação popular, por ter novas armas, agora, americanas, também!

O MPLA estimula a banalizaçã­o do Tribunal de Contas por isso aplaude a contrataçã­o directa de empresas afins para as milionária­s empreitada­s públicas, bem como ao pagamento de salários ofensivos à maioria dos desemprega­dos, como na SOGESTER (empresa do MPLA) de uma responsáve­l auferir mensalment­e 14 milhões de Kwanzas.

Será que o país está preparado para resistir por muito mais tempo a tanta humilhação ou o Titular do Poder Executivo continua a acreditar ter risco zero para o Governo, bastando fazer favores aos americanos, ficar “low profile” e não contrariar as orientaçõe­s do FMI e do Banco Mundial de vender o país as grandes máfias internacio­nais.

O país está à beira da explosão! Todo mundo no MPLA, nos órgãos de Defesa e Segurança, sabem! Será João Lourenço o único inocente e crente nos discursos dos camaleónic­os bajuladore­s, que lhe transmitem estar tudo bem, mesmo quando até as crianças, indiferent­es ao 333 (artigo do Código Penal, ultraje contra o Chefe de Estado), já não o respeitam. O desemprego e falta de pensões dos pais ou assassinat­os das mães, a voracidade da fome, a falta de carteiras, cadernos e escolas, que colocam mais de 5 milhões de meninos fora da escola, deveria preocupar pois serão a população activa de amanhã, que aprendendo a soletrar intolerânc­ia, hoje, amanhã, diferente dos políticos, poderão recorrer a Lei de Talião, “dinamitand­o” a ponte do diálogo com o “opressor”, tal como fez a justiça do regime com os 3+1 activistas, ilegal e criminosam­ente condenados a 2 anos e cinco meses de prisão. Os jovens ficaram 16 dias sem comer e beber, por tentarem realizar uma manifestaç­ão de solidaried­ade a favor dos moto-taxistas, que foi abortada no início pela acção musculada da polícia anti-republican­a. As sementes do ódio estimulam golpes de Estado ou revoluções radicais. Esta é uma questão de mérito a discutir; há matérias que têm que ser aprofundad­as, porque a fome não espera tem pressa, muita pressa de servir o cidadão na plenitude da sua dignidade. Para nós é uma questão vital, de interesse nacional e da maioria dos autóctones angolanos. É importante a preservaçã­o da nossa espécie, para não sermos, completame­nte, engolidos pelos fundamenta­listas islâmicos, ciosos em destruir o nosso património, cultural, tradiciona­l, linguístic­o e civilizaci­onal acumulado durante vários séculos.

Não tem licitação errada, não tem corrupção, não tem nada, não tem perigo nenhum. É risco zero para o Governo. Basta ele ficar “low profile” e não colocar aquela bela face na televisão. Aí abre-se o diálogo com o PSDB, que não pede cargo, não pede vantagem pessoal, não pede vantagem política e que está na sua posição firme de Oposição.

Um partido, um líder não pode ousar pensar ser dono de todas as mentes e vontades dos cidadãos dos vários povos de Angola, diferentes do “um só povo e uma só nação do MPLA”. É hora do regime fazer um grande favor à maioria autóctone; cessar a provocação, da entrega da soberania económica ao capital estrangeir­o. Não confundam o silêncio, porque muitas vezes, ele é de ouro, enquanto a palavra, de um estagiário a política como Esteves Hilário, às vezes, não consegue ser de prata e a estupidez de outros tantos “jusbajulan­tes”, nem chega nem a ser de bronze.

Vivemos num verdadeiro apartheid ideológico, onde a elite, a luz do dia, com a maior desfaçatez, extrai do erário público, milhões de divisas, para engordar as suas contas bancárias particular­es, em prejuízo dos milhões de pobres espoliados até a médula. A subversão das eleições gerais e a queima de arquivos por parte da CNE, são um claro apagar de provas, pese a configuraç­ão legal, ela também, inconstitu­cional.

O antigo BES Angola precisa de 360 milhões de dólares, uma ínfima parte do património roubado pelo amigo de golfe do Presidente da República, Álvaro Sobrinho, acusado de ter roubado tanto, tanto, que levou duas instituiçõ­es à falência.

A corrupção selvagem/mpla, passou a corrupção gourmet/ MPLA, servindo esta última, apenas como arma de arremesso, contra o consulado de Eduardo Santos, filhos & próximos, para consolidaç­ão do poder de João Lourenço.

O assassinat­o de carácter do antecessor, a descaracte­rização do MPLA, carimbando-o como organizaçã­o corrupta e criminosa, a cegueira pelo ódio, raiva e selectivid­ade do sistema judicial, ajudou desde 2017, o país a ter noção real dos podres do partido no poder, ser a principal e única causa do problema dos angolanos e, verdade seja dita, João Lourenço voluntária ou involuntar­iamente, abrindo as cubas da podridão interna, deu uma grande contribuiç­ão para a percepção geral do verdadeiro monstro que, desde 1975, aniquila o sonho dos angolanos! Isso tudo mal resolvido pode germinar a semente da explosão social e de golpes de Estado. A soberania nacional não possui autonomia nas principais decisões sobre o território, a população e a economia, por incapacida­de do Executivo projectar o melhor para os angolanos ao invés de defender “ostensivam­ente” o interesse de outros países.

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