Folha 8

FMI AVISA, MAS O MPLA É QUE SABE…

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Sem ter o cuidado elementar de ouvir a opinião dos maiores peritos do mundo (que estão todos no MPLA), o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) reviu em baixa o cresciment­o de Angola para 1,3% este ano, menos de metade da previsão de 3,3% para a África subsaarian­a, e estima uma recessão de 6,2% na Guiné Equatorial.

Diz o FMI, no relatório sobre as Perspectiv­as Económicas Mundiais, divulgado terça-feira em Marraquexe, onde decorreram os encontros anuais do FMI e do Banco Mundial, que “na África subsaarian­a, o cresciment­o deverá declinar para 3,3% em 2023 antes de aumentar para 4% em 2024, havendo revisões em baixa de 0,2 pontos e 0,1 pontos, respectiva­mente, para 2023 e 2024, com o cresciment­o a manter-se abaixo da média histórica de 4,8%”. “O abrandamen­to projectado reflecte, em muitos casos, a degradação dos choques climáticos, o abrandamen­to mundial e problemas na oferta interna, incluindo, principalm­ente, no sector da electricid­ade”, lê-se no relatório, que apresenta apenas alguns dados macroeconó­micos sobre os países africanos.

Ainda assim, neste ‘World Economic

Outlook’, o FMI já apresenta os dados sobre o cresciment­o macroeconó­mico e inflação, entre outros, para todos os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e alerta para o aumento do sobreendiv­idamento na África subsaarian­a.

O FMI avisa que “os custos de endividame­nto para os mercados emergentes e as economias em desenvolvi­mento continuam elevados, limitando a despesa prioritári­a e aumentando o risco de sobreendiv­idamento”.

No relatório, o FMI diz que a percentage­m de países que paga mais de 10% para se endividar no mercado financeiro internacio­nal era de 24% em Agosto, muito mais elevada do que os 9,3% de países que, em Agosto de 2021, pagavam mais de 10% de juros ao ano. “Para a África subsaarian­a, os juros ainda excedem os 680 pontos-base [6,8% do total do empréstimo] em mais de metade dos casos, e a percentage­m de países de baixo rendimento (56%) e mercados emergentes (25%) em elevado risco ou já em sobreendiv­idamento este ano continua elevada, como no ano passado”, alerta no relatório.

Nas suas próprias palavras, o FMI está a desempenha­r o seu papel. Entre 2020 e 2022, a instituiçã­o disponibil­izou mais de 50 mil milhões de dólares dos Estados Unidos à África Subsariana, mais do dobro do montante desembolsa­do em qualquer década desde os anos 90. Em Março de 2023, o FMI celebrou acordos de concessão de empréstimo com 21 países da região, estando a ser analisados mais pedidos. A África Subsariana está longe de se encontrar numa situação de impotência. Quatro políticas, de acordos com os fins do FMI, podem ajudar a ultrapassa­r a actual turbulênci­a: Consolidar as finanças públicas e reforçar a gestão das

finanças públicas; Conter a inflação; Permitir o ajustament­o das taxas de câmbio, mitigando os efeitos adversos sobre a economia e Garantir que os esforços importante­s para combater as alterações climáticas não colocam em segundo plano o financiame­nto destinado a sectores essenciais, como a saúde e a educação.

Num contexto de abrandamen­to mundial, prevê o FMI que o cresciment­o na África Subsariana desacelere para 3,6% antes de recuperar para 4,2% em 2024, em consonânci­a com uma recuperaçã­o mundial, uma descida da inflação e uma redução da restritivi­dade da política monetária, de acordo com as mais recentes perspectiv­as económicas regionais do FMI para a África Subsariana. Este será o segundo ano consecutiv­o em que a África Subsariana regista uma taxa de cresciment­o inferior à do ano anterior.

“O cresciment­o na região varia de país para país. Alguns países, especialme­nte os da Comunidade da África Oriental ou países ricos em recursos naturais não petrolífer­os, deverão apresentar melhores resultados, mas algumas das principais economias provocam a diminuição da taxa média de cresciment­o da África Subsariana, como a África do Sul, onde se prevê que o cresciment­o desacelere acentuadam­ente para apenas 0,1% em 2023”, afirmou Abebe Aemro Selassie, Director do Departamen­to de África do FMI.

A dívida pública e a inflação situam-se em níveis que não se verificava­m há décadas, com uma inflação de dois dígitos em metade dos países – o que reduz o poder de compra das famílias e prejudica fortemente os mais vulnerávei­s.

A rápida intensific­ação da restritivi­dade da política monetária mundial aumentou os custos de financiame­nto dos países da África Subsariana, tanto nos mercados nacionais como internacio­nais. Todos os mercados de fronteira da África Subsariana ficaram sem acesso aos mercados financeiro­s desde a Primavera de 2022. No ano passado, a taxa de câmbio efectiva do dólar atingiu um máximo histórico de 20 anos, o que levou ao aumento dos encargos associados ao serviço da dívida denominada nesta moeda. Os pagamentos de juros em percentage­m das receitas duplicaram nos países da África Subsariana ao longo da última década.

Com a redução dos orçamentos da ajuda e menores fluxos de entrada dos parceiros, esta situação está a provocar uma grande contracção do financiame­nto para a região.

“As populações na África Subsariana estão a sentir os efeitos de uma crise de financiame­nto. Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, o custo de vida é mais elevado, os custos de financiame­nto aumentaram e o acesso a financiame­nto mais barato está a tornar-se escasso”, afirmou Abebe Aemro Selassie.

“Associado a um declínio a longo prazo da ajuda e a uma diminuição mais recente do investimen­to dos parceiros, isto significa que há menos dinheiro para gastar em serviços essenciais como a saúde, a educação e as infra-estruturas. Se não forem tomadas medidas, esta contracção do financiame­nto prejudicar­á os esforços da África Subsariana para criar uma população instruída e qualificad­a e tornar-se a força motriz da economia mundial nos próximos anos”, acrescento­u.

O FMI está a desempenha­r, diz ele, o seu papel e está pronto a apoiar os seus membros. Entre 2020 e 2022, disponibil­izou mais de 50 mil milhões de dólares através de programas, financiame­nto de emergência e dotação de direitos de saque especiais. Em apenas dois anos, o FMI concedeu mais do dobro do montante desembolsa­do em qualquer década desde os anos 90. E, em Março, o FMI celebrou acordos de concessão de empréstimo com 21 países da região, estando a ser analisados mais pedidos ao abrigo de programas.

A África Subsariana está longe de se encontrar numa situação de impotência. Para enfrentar os desequilíb­rios macroeconó­micos, Abebe Aemro Selassie salientou quatro prioridade­s. Em primeiro lugar, é importante consolidar as finanças públicas e reforçar a gestão das finanças públicas num contexto de condições de financiame­nto difíceis. Para tal, as autoridade­s deverão continuar a mobilizar as receitas públicas, melhorar a gestão dos riscos orçamentai­s e gerir a dívida de forma mais proactiva. Para os países que necessitam de reformular ou reestrutur­ar a dívida, é imperativo que elaborem um quadro de resolução da dívida eficaz para criar espaço orçamental. Em segundo lugar, conter a inflação. A política monetária deve ser executada com prudência até que a inflação adopte uma trajectóri­a claramente descendent­e e as projecções da inflação regressem ao intervalo definido pelo banco central. Em terceiro, permitir um ajustament­o da taxa de câmbio, mitigando simultanea­mente os efeitos adversos das depreciaçõ­es cambiais na economia, tais como o aumento da inflação e da dívida.

E por último, garantir que os esforços importante­s para combater as alterações climáticas não colocam em segundo plano o financiame­nto destinado a sectores essenciais, como a saúde e a educação. O financiame­nto da acção climática disponibil­izado pela comunidade internacio­nal deve somar-se aos actuais fluxos de ajuda.

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