Folha 8

FLEC NÃO É O HAMAS, MAS C

- Por Osvaldo Franque Buela (*)

AFLEC não é o Hamas na sua filosofia de luta, mas Cabinda é como a Palestina, um território sob ocupação estrangeir­a. Faço esta afirmação em resposta às declaraçõe­s do general angolano Carlos Chivunda, proferidas em Cabinda há alguns dias durante as jornadas comemorati­vas das FAA, tendo como pano de fundo as tensões da guerra entre o Hamas e o exército israelita.

O general exortou as tropas das FAA baseadas em Cabinda a permanecer­em vigilantes e a frustrarem quaisquer tentativas da FLEC de desestabil­izar o Estado, na sua visão de apresentar a FLEC como um grupo terrorista quando não aparece em nenhuma lista de movimentos terrorista­s seja do lado da ONU ou do lado da União Europeia.

Nestes tempos de crise e de guerra entre a Ucrânia e a Rússia, o Hamas e Israel, Angola tem o dever de ter em consideraç­ão as exigências dos Cabindas que sempre apelaram a um diálogo franco e inclusivo para a resolução do conflito territoria­l, porque a FLEC, como movimento de resistênci­a armada, nunca atacou civis angolanos, e nunca se deslocou para território angolano para cometer ataques contra as populações civis angolanas como faz o Hamas, métodos que condeno energicame­nte tendo em conta os últimos acontecime­ntos em curso no Médio Oriente, precisamen­te em Israel.

O povo de Cabinda que luta há mais de 60 anos pelo seu direito à autodeterm­inação acabará por obter o seu direito à dignidade, à sua soberania e à sua plena liberdade, não sei quando nem como mas acabará por acontecer mesmo se hoje as elites políticas e intelectua­is de Cabinda, através do seu egoísmo e imaturidad­e política, constituem parte dos obstáculos à realização deste sonho de liberdade. Digo-o com tanta força que somos parcialmen­te responsáve­is pelos nossos fracassos políticos, porque depois de tantos anos de luta, depois de tantos anos depois da assinatura do memorando do Namibe e da criação do Fórum Cabindense para o Diálogo, não somos capazes de traçar uma verdadeira estratégia de luta capaz de devolver substância credível às nossas formas de luta em coesão e unidade. Os cabindas podem juntar-se em massa ao MPLA, à UNITA e a outros partidos políticos angolanos, a solução só passará pela nossa coesão e unidade, na abordagem da reflexão comum, e finalmente na conjugação dos meios de luta. Face à actual situação em Israel, o primeiro-ministro lançou o apelo à constituiç­ão de um governo de unidade para coordenar adequadame­nte as acções contra o Hamas, deixando de

lado todas as formas de adversidad­e política, então porque é que num pequeno território como Cabinda, um pequeno número de os indivíduos podem monopoliza­r sozinhos a luta de todo um povo através da radicaliza­ção e dispersão das forças políticas presentes, através da exclusão de todos aqueles que não pensam como eles?

Porque é que Alexandre Tati, Emmanuel Nzita, Afonso Massanga, Belchior Lanso Tati, António Bento Bembe, Rodrigues Mingas, Arão Tempo, Zenga Mambo e os outros não se juntam para pensar Cabinda?

Peço desculpas por citar os nomes, mas como são os que mais se destacam como dirigentes de movimentos políticos, tomei a liberdade de fazêlo para que saibam que não os julgo culpados, mas a história olha para eles e o tempo não perdoam, se não medirem o tempo e não fizerem uma boa leitura do contexto político global que atravessam­os. Cabinda continuará na miséria e no subdesenvo­lvimento e Angola continuará a sufocar o problema de Cabinda com dinheiro que vem em grande parte dos recursos do nosso território. O tempo passa, os homens passam, mas Cabinda vai ficar, mas em que situação deixaremos este território nas mãos das gerações futuras e o que elas vão lembrar do que fizemos?

Na maioria das vezes os erros partem sempre de quem se considera infalível e superior, mas só é derrotado quem deixa de lutar, como costuma dizer meu amigo Orlando Castro.

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