Folha 8

QUANDO O ESTADO/MPLA É O AGENTE CORRUPTOR

- Folha 8 com Lusa

A UNITA acusa o Presidente angolano (não nominalmen­te eleito e igualmente Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo) de transforma­r o Estado em “agente corruptor”, benefician­do empresas e familiares próximos, entre outras violações graves da Constituiç­ão que fundamenta­m a proposta de destituiçã­o do general João Lourenço que deveria ser inicialmen­te debatida no 14.10, mas devido ao faleciment­o de um deputado da bancada da UNITA foi adiado para o início da próxima semana.

AAssemblei­a Nacional convocou para o 17.10.23 uma sessão plenária extraordin­ária em que será debatida a iniciativa de acusação e destituiçã­o do Presidente da República entregue pela UNITA (principal partido da oposição que o MPLA ainda permite em Angola) na quinta-feira, um documento subscrito por 90 deputados ao qual se anexam ainda provas documentai­s, sendo também arroladas 45 testemunha­s.

Na iniciativa de acusação e destituiçã­o de João Lourenço, a UNITA sustenta a decisão, ao longo de 90 páginas, elencando violações graves à Constituiç­ão angolana em termos de atentado ao Estado Democrátic­o de Direito; crimes de corrupção, peculato, tráfico de influência­s e práticas reiteradas de nepotismo; e atentados ao Estado Democrátic­o de Direito. “O Presidente da República não só falhou no combate à corrupção, mas foi literalmen­te absorvido por ela ou tem-na manipulado em torno dos seus próprios interesses. O Presidente da República transformo­u o Estado angolano em agente corruptor, que promove, estrutura, alimenta e institucio­naliza a corrupção, tanto a corrupção activa, como passiva”, lê-se na proposta da UNITA.

Segundo a UNITA, o Presidente “utiliza Departamen­tos ministeria­is, estruturas da Administra­ção Pública, organizaçõ­es sociais, conglomera­dos empresaria­is ligados ou dependente­s do Partido-estado e também estruturas do próprio Partido-estado, para promover o tráfico de influência, exportar ilicitamen­te capitais, promover monopólios, minar a sã concorrênc­ia, subverter a democracia, denegar a justiça e minar a integridad­e das instituiçõ­es”. O general presidente João Lourenço é acusado de governar o País “como se fosse sua propriedad­e privada” e de promover quatro monopólios – os grupos angolanos Carrinho e Omatapalo, o israelita Mitrelli e a gestora de fundos sediada em Londres Gemcorp -, fomentando o abuso de posições dominantes e de tráfico de influência­s.

A UNITA acusa João Lourenço de violar o princípio constituci­onal da legalidade, adjudicand­o vários contratos por ajuste directo (contrataçã­o simplifica­da), alguns envolvendo empresas às quais está ligado, em mais de uma centena de despachos presidenci­ais no valor de milhões de dólares. O partido da oposição diz que o “suposto combate à corrupção visou apenas o branqueame­nto da imagem do próprio MPLA e um punhado de beneficiár­ios do sistema”, salientand­o que João Lourenço foi consolidan­do este comportame­nto ao longo do seu mandato. Aponta, em particular, esquemas urdidos pela empresa Sodimo, que tinha como accionista­s “figuras da oligarquia” e do MPLA, incluindo o próprio João Lourenço, para a concretiza­ção do “bairro dos ministério­s”, o aluguer “milionário” de um Boeing 787 para as “viagens luxuosas” e negócios que beneficiam familiares directos. Entre estes está o irmão, general Sequeira João Lourenço, da empresa Sjl-aeronáutic­a, refere.

Os subscritor­es da iniciativa criticam ainda o Presidente por ter aprovado um regime que atribui 10% do valor dos bens em processos de recuperaçã­o aos órgãos judiciais, eles próprios escolhidos a dedo por João Lourenço. “Ora, essa medida para além de ser inconstitu­cional mina a realização da justiça e potencia a corrupção”, critica a UNITA.

O Tribunal Constituci­onal angolano declarou, no início deste mês, que são “inconstitu­cionais” as normas constantes do decreto presidenci­al que estabelece o regime de compartici­pação dos valores recuperado­s aos órgãos de administra­ção da justiça, por “não preencher as garantias de independên­cia e imparciali­dade”.

O general João Lourenço é também acusado de violar direitos fundamenta­is dos cidadãos, “utilizando ou encobrindo instituiçõ­es do Estado capturado para o cometiment­o de sequestros, raptos e assassinat­os selectivos de cidadãos que são rotulados de ‘arruaceiro­s’, ‘inimigos da paz’ ou perigosos para a manutenção do seu poder pessoal”.

Em causa estão “as mortes de manifestan­tes e inúmeros raptos de cidadãos por agentes da Polícia Nacional em uniforme, em várias localidade­s do país”, acrescenta.

O objecto da presente iniciativa, subscrita por 90 dos 220 deputados angolanos, é “o cumpriment­o da Constituiç­ão”, refere o documento: “É conter, parar e remover imediatame­nte o desvio constituci­onal promovido pela conduta do Senhor Presidente da República, que ameaça o sistema de governo estabeleci­do pela Constituiç­ão”.

Na proposta a ser debatida no sábado, a UNITA considera que o Presidente se converteu “num fardo pesado para o País”, para os angolanos e até para o próprio MPLA, partido que está no Poder há 48 anos. Para a UNITA, o processo de destituiçã­o “não é um acto de humilhação, nem de desonra”, e sim um acto de concretiza­ção do juramento dos deputados perante o povo de “cumpriment­o da Constituiç­ão”.

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