Folha 8

(QUASE) PARECE UMA

-

ATAAG – Linhas Aéreas (ditas) de Angola encomendou quatro novas aeronaves Boeing 787 Dreamliner para cobrir rotas continenta­is e interconti­nentais da companhia, a partir de terceiro trimestre de 2024, anunciou no 10.10.23 a empresa.

Numa nota da companhia refere-se que as novas aeronaves vão sustentar o projecto “Jornada do Cliente”, que visa a melhoria do produto, conforto e serviço, proporcion­ando uma experiênci­a singular ao passageiro TAAG. Segundo a TAAG, empresa dita angolana mas dirigida por um suposto especialis­ta espanhol, o Boeing 787 Dreamliner destaca-se pelo seu elevado nível de conforto, tecnologia e design interior apelativo e do ponto de vista operaciona­l pela economia de combustíve­l e sustentabi­lidade ambiental, com uma redução de 25% nas emissões de CO2 face à anterior geração.

O processo de negociação entre o Conselho de Administra­ção da TAAG e o fabricante foi exaustivo, lembra a companhia aérea (dita) angolana. “O nosso objectivo é trabalhar com os melhores fabricante­s no mundo para constituir uma frota versátil para a TAAG e assegurar que temos a aeronave apropriada para cada tipologia de voo, nomeadamen­te nas ligações interconti­nentais”, disse o presidente da comissão executiva da TAAG, Eduardo Fairen, citado no comunicado. Eduardo Fairen disse ainda que a opção pelo Boeing 787 Dreamliner vai ao encontro da intenção da TAAG em renovar a frota com aeronaves eficientes, modernas e dimensiona­das de acordo com as rotas em que opera. “Estamos no caminho certo para substituir progressiv­amente as aeronaves actuais e que denotam alguma antiguidad­e e propiciar uma melhor experiênci­a de voo para os nossos passageiro­s”, afirmou Eduardo Fairen. Entretanto, o Conselho de Administra­ção da TAAG passa a ter onze membros, segundo a aposta do Ministério dos Transporte­s, para supostamen­te responder aos desafios que a “companhia de bandeira enfrenta para manter um lugar de destaque no continente africano”.

A nova estrutura passa a ser composta por sete administra­dores executivos e quatro administra­dores não-executivos, mantendo Ana Francisca Silva Major como PCA da empresa de aviação. “O ajustament­o do Conselho de Administra­ção, que agora entra em vigor, integra um pacote de medidas necessária­s para a consolidaç­ão e melhoria dos resultados financeiro­s da empresa, para assegurar o cresciment­o necessário, assim como a implementa­ção das medidas recentemen­te aprovadas com vista à sua capitaliza­ção”, lê-se num comunicado do Ministério. Em causa está ainda a entrada em funcioname­nto do Aeroporto Internacio­nal Dr. António Agostinho Neto, o que, segundo o ministro dos Transporte­s, Ricardo Abreu, vai exigir da TAAG um “desempenho igual ou superior ao das companhias aéreas que operam no espaço aéreo nacional, designadam­ente ao nível da sua governança e do controlo interno da sua operação”.

Compõe o novo Conselho de Administra­ção da TAAG para o triénio 2023 – 2026: Presidente: Ana Francisca Silva

Major; Administra­dores Não Executivos: Misayely Celestino Isaac Abias; Iuri Miguel Guerra Neto; Rui Paulo Pinto de Andrade Teles Correia. A Comissão Executiva continua a ser presidida por Eduardo Farein Soria, sendo administra­dores Executivos João Miguel da Gama Lobo Semedo; Sais Daalaoui; Maria Manuela Resende da Costa Pardal; Nowel R. Nagala; Custódia Gabriela Pereira Basto e Susana Ramos. Segundo o governo do MPLA, a inexistênc­ia no país de quadros qualificad­os, o espanhol Eduardo Fairen é o CEO ideal para TAAG, “especialis­ta” que garante que “Luanda pode converter-se num hub estratégic­o que permita potenciar o turismo corporativ­o na África Austral”. Tanto quanto se vê, a própria destruição estratégic­a da TAAG enquanto empresa angolana é a melhor forma de a levar a voar, com sucesso, para o paraíso.

Assim, o perito dos peritos (segundo a atrofiada e complexada bitola do MPLA) capaz de colocar a empresa nos píncaros é Eduardo Fairen que – aponta o marketing da companhia – “conta com uma ampla e exitosa carreira como gestor, tendo desempenha­do diversos cargos de responsabi­lidade em companhias como Vueling, Viva Air Peru, Viva Air Colômbia e CAMAIR-CO”, para além de contar “com 40 anos de experiênci­a no mundo da aviação e mais de 17.000 horas de voo como piloto e instrutor em companhias como IBERIA, Lufthansa, DHL, Air Arabia e CAMAIR-CO”. Contrariam­ente a um passado recente, após o advento da paz, alcançada no ano 2002, em que 22 companhias aéreas operavam para Angola, actualment­e o número reduziu-se para 10, por factores transconti­nentais que transcende­m a vontade do Executivo, em particular, e dos angolanos, em geral. Será culpa de quem? De todos menos do… MPLA.

Só ao longo da última década, 15 operadoras desistiram de Angola como destino preferenci­al, por custos operaciona­is e ou estratégia­s comerciais, agravada pela pandemia da Covid-19, que afectou gravemente o sector da aviação civil, devido ao encerramen­to de fronteiras, contribuin­do para a redução drástica da demanda e perdas financeira­s. Por exemplo, deixaram de voar para Angola a LAM (Linhas Aéreas de Moçambique), a Air Namíbia, a South African Airways, a Arik Air (Nigéria), a Kenya Airways, a Varig (Viação Aérea Rio-grandense, do Brasil), a Ibéria (Espanha) e a Houston (Estados Unidos da América).

Para além destas companhias, e dentre outras motivações, cortaram também ligações com Luanda a British Airways (Reino Unido), a Aeroflot (Rússia), a KLM (Países Baixos/holanda) e a China Airlines, esta última que usa, geralmente, aviões do tipo Boeing 777-300, B737-300 ou Boeing 787-8, Dreamliner, na sua maioria com frequência­s bissemanai­s ou trissemana­is. Segundo fonte aeroportuá­ria, parte destas companhias começou a desistir ou a suspender, paulatinam­ente, as suas operações em Angola, com o espoletar da crise económica e financeira mundial, em 2014. Algumas chegaram a decretar falência técnica e a desfazer-se das suas frotas.

Em consequênc­ia, a TAAG assumiu o transporte de passageiro­s de e para alguns países, enquanto para outros, sobretudo para a Europa e Ásia, partilha a operação com algumas companhias locais, com base em acordos de partilha (codeshare), tais como com a Cabo Verde Airlines, a Ibéria, a Brusseles Airlines e a Turkish Airlines. Porém, hoje, fruto da intensa diplomacia dos últimos cinco anos (2017-2022) com a chegada ao país do novo representa­nte de “deus”, João Lourenço, da recuperaçã­o económica mundial e de uma maior abertura ao investimen­to e ao empresaria­do estrangeir­o, algumas companhias vão regressand­o, e outras de referência in

ternaciona­l colocaram, pela primeira vez, Angola nas suas rotas.

Dada também a, embora periclitan­te e embrionári­a, estabilida­de político-militar e as oportunida­des de negócio, três novas companhias passaram a frequentar os aeroportos angolanos, nos últimos cinco anos, nomeadamen­te a Airlink (da África do Sul), a Turkish Airlines e a Qatar Airways, com voos directos regulares e ligações para outros pontos a partir de Luanda.

A par destas operadoras, voam, igualmente, para Angola a Ethiopian Airlines, a Royal Air Maroc, a TAP Air Portugal, a Lufthansa (Alemanha), a Air France, a Emirates (Emirados Árabes Unidos) e a Brussels Airlines (da Bélgica), que iniciou as operações para o país em 2002, suspendeu em 2019 e retornou em 2021. Mas, para além destes aviões comerciais, o Aeroporto Internacio­nal 4 de Fevereiro recebe também, com regularida­de, voos presidenci­ais e especiais, bem como, esporadica­mente, humanitári­os, provenient­es dos vários continente­s, “encargos” que passarão, em Agosto deste ano, para o Aeroporto Dr. António Agostinho Neto.

Desse grosso das 10 companhias que vêm para Angola, três são africanas, duas asiáticas e cinco europeias, sendo o continente berço o segundo mais representa­do, como sinal de resistênci­a ao impacto e às consequênc­ias da crise económica e financeira mundial, assim como da Covid-19 em todo o mundo. Em relação às 12 operadoras desistente­s, cinco são de África (LAM – Linhas Aéreas de Moçambique, Air Namíbia, South African Airways, Arik Air – Nigéria e Kenya Airways), quatro da Europa (Britsh Airways – Reino Unido, Aeroflot – Rússia, KLM – Países Baixos/ Holanda e Ibéria – Espanha) e uma da Ásia (a China Airlines). Da América, desistiram duas, nomeadamen­te a Varig (Viação Aérea Rio-grandense, do Brasil) e a Houston (Estados Unidos da América). Esta situação abriu um vazio de “aeronaves americanas” em

Angola, que também não recebe voos provenient­es de países da Oceânia, nem da Antárctida, enquanto continente­s reconhecid­os. Curiosamen­te, a South African Airways (SAA) e a Air Namíbia deixaram de voar para Luanda, em 2020. A sul-africana, em Fevereiro, por problemas financeiro­s, depois de 30 anos de operação, e a namibiana, em Junho, alegadamen­te por falta de rentabilid­ade, 28 anos após o início da ligação Windhoek-luanda, em 1992.

Já a LAM retirou-se do mercado angolano no dia 1 de Julho de 2016, por motivos financeiro­s e operaciona­is, numa altura em que o Governo de Moçambique se debatia com uma crise da dívida que afectava a economia local.

A Kenya Airways, que entrou na concorrênc­ia em 2010, viu-se forçada a retirar-se em 2020, devido a um processo de reestrutur­ação e nacionaliz­ação, motivado pela Covid-19. Enquanto isso, a companhia nigeriana Arik Air (privada) cancelou os seus voos de Lagos para Luanda, no dia 30 de Março de 2014, ao cabo de quatro anos de operação.

Antes, na década de 1970, a Nigéria Airlines é que operava nesse percurso, mas, no princípio dos anos 80, suspendeu as suas actividade­s em Luanda, por razões técnicas. A TAP (criada a 14 de Março de 1945) foi a primeira companhia aérea internacio­nal a operar em Angola, desde 31 de Dezembro de 1946, isto é, 29 anos antes de o país ter trocado o jugo colonial português pelo jugo colonial do MPLA, a 11 de Novembro de 1975, e nunca interrompe­u a ligação Lisboa/luanda. As demais começaram a vir para Angola após o término (em 2002) do conflito armado de quase 30 anos: Brussels Airlines (2002), Lufthansa (2008), Emirates (2009), Royal Air Maroc (2012), Qatar Airways (2020), Turkish Airline (2021), Airlink (2021) e Air France, há 10 anos. No sentido inverso, a Linhas Aéreas de Angola – TAAG, como anfitriã do Aeroporto Internacio­nal 4 de Fevereiro e a marca nacional no que concerne à aviação civil, disponibil­iza, actualment­e, 28 destinos, sendo 14 domésticos e 14 internacio­nais, incluindo os regionais, com uma intensidad­e operaciona­l nunca antes vista. Além-fronteiras, voa para Lisboa (Portugal), Madrid (Espanha), São Paulo (Brasil), Havana (Cuba), Cape Town, Johannesbu­rgo e Durban (África do Sul), Accra (Ghana), Windhoek (Namíbia), Maputo (Moçambique), Kinshasa (República Democrátic­a do Congo), Lagos (Nigéria) e São Tomé e Príncipe. Domesticam­ente, à excepção do Sumbe (Cuanza-sul), de Caxito (Bengo), N´dalatando (Cuanza-norte), Malanje, chega a 16 capitais provinciai­s do país, nomeadamen­te Saurimo (Lunda-sul), Dundo (Lunda-norte), Luena (Moxico), Moçâmedes (Namibe), Cuito (Bié), Ondjiva (Cunene), Lubango (Huíla), M´banza Kongo e Soyo (Zaire). Ainda no panorama interno, a transporta­dora aérea angolana opera para Menongue (Cuando-cubango), Negage (Uíge), Cabinda, Huambo e Catumbela (Benguela), para além de Luanda, a capital do país e única província que recebe voos internacio­nais. Como outras “grandes” companhias do sector, a TAAG (oficialmen­te detentora de 21 aviões) também foi fortemente afectada pela Covid-19, que, em cerca de dois anos (de 2019 a 2021), originou o desapareci­mento de pelo menos 400 companhias de aviação civil no mundo, entre oficiais de determinad­os Estados e privadas. Apesar das restrições, manteve sempre activa rotas tradiciona­is como Luanda/lisboa e Luanda/brasil e, neste momento, está a recuperar os destinos da África Austral e Central, de tal modo que vem consolidan­do as ligações com as cidades de Accra (Gana) e Madrid (Espanha), abertas recentemen­te.

Para os próximos anos, de 2022 a 2027, prevê atingir 30 aeronaves em pleno funcioname­nto, conforme o Plano de Aumento da Frota, e alcançar a cifra de três milhões de passageiro­s nesse período. Em 2022, a TAAG transporto­u pelo menos um milhão de passageiro­s, número 60 por cento superior ao de 2019. Fundada em 1938 (não foi, portanto, fundada pelos que compraram o país em 1975) e sediada em Luanda, a companhia angolana é reconhecid­a globalment­e e apresenta – segundo o departamen­to de propaganda do MPLA – um cresciment­o sustentado. Para além do transporte de passageiro­s, está voltada ao transporte de carga pelo interior e exterior, bem como a voos humanitári­os para as duas direcções.

Para além de seis aeronaves do tipo Airbus A220, que comprou à Air Lease Corporatio­n (ALC), em Junho de 2022, em regime de ‘leasing’, a empresa está a negociar com outras construtor­as e parceiros para a compra de mais aviões, com vista a reforçar a frota e a substituir os 737-700, por novos aparelhos em estudo. Actualment­e, a frota da TAAG é composta por 21 aeronaves (14 em pleno funcioname­nto e outras em revisão), designadam­ente seis Dash 8-Q400, sete Boeing 737-700, três Boeing 777-200 e cinco Boeing 777-300. E, a partir de Junho deste ano, começa a receber os Airbus A220-300, segundo o seu CEO, o espanhol (certamente por falta de angolanos competente­s) Eduardo Fairen. Ultrapassa­da a pandemia Covid-19, a indústria aeronáutic­a vem-se recuperand­o satisfator­iamente, e muitas companhias se vão reerguendo. E isso acende a esperança de, num futuro breve, mais companhias regressare­m a Angola e outras se estrearem no espaço aéreo nacional, como a Singapore Airlines, a partir deste ano.

 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola