Folha 8

LEONARDO E O SEU INTELECTUA­L JOEL(HAÇO)

O juiz presidente do Conselho Superior da Magistratu­ra Judicial (CSMJ-MPLA), Joel Leonardo, proibiu o uso de telemóveis em cartórios judiciais, exortando “os órgãos de gestão e disciplina a um acompanham­ento mais rigoroso da postura do funcionári­o judicia

-

Na verdade, não existe tipificaçã­o legal para acolher esta elucubraçã­o ditatorial do presidente do Tribunal Supremo, Joel Leonardo expressa na abertura da sexta sessão ordinária do plenário do respectivo departamen­to do partido estado/ MPLA, CSMJ, como mais uma nova “ordem superior”, para limitar os direitos fundamenta­is e a indignação do cidadão, quando em causar estiverem violações e cometiment­o de ilícitos.

Na reunião plenária foi avaliado o desempenho dos tribunais angolanos na satisfação do apelo jurídico dos cidadãos, tendo Joel Leonardo apelado a que os expediente­s sejam resolvidos “em tempo útil”. Quem diria? Como está a terminar o prazo para as candidatur­as angolanas ao “Prémio Nobel” do anedotário, Joel Leonardo deu uma, mais uma, prova da sua capacidade criativa na categoria “Fala muito bem quando está calado” Com uma intervençã­o voltada para a celeridade processual a nível dos tribunais, o presidente do CSMJ defendeu, nomeadamen­te, que o despejo “não deve demorar muitos anos, porque há riscos de serem despejadas gerações de família que não têm nada a ver com o problema”.

Também “a partilha da herança deve ser feita em tempo oportuno, para os valores financeiro­s cobrirem despesas básicas dos interessad­os, como saúde e propinas”, realçou, frisando que o julgamento sumário dever ser realizado “com máxima brevidade possível”.

O magistrado judicial defendeu igualmente, na sua análise à actividade dos tribunais, que a fixação dos alimentos deve ser imediata, porquanto, notou, a “fome e a nudez do menor ou da viúva não esperam”. A homologaçã­o dos acordos entre empresário­s desavindos, assinalou, deve ocorrer nas salas de comércio “com a celeridade própria” prevista pelo direito comercial. Defendeu, ainda, que “a liquidação da pena deve chegar à cela, onde o recluso está internado, para que ele próprio controle o fim da pena”. Segundo o também juiz presidente do Tribunal Supremo do MPLA, que por inerência de funções preside ao CSMJ, o estrito cumpriment­o da lei na acção diária dos tribunais traduz-se na efectivaçã­o do denominado “direito ao juiz”. Explicou que “o direito ao juiz” implica que “apesar da sua independên­cia”, o juiz “fica sob permanente escrutínio do interesse dos cidadãos”. “O direito ao juiz significa, em suma, que o juiz se doa de corpo e alma à sua missão de distribuid­or de justiça, no sentido de que cada causa que a si couber, seja um meio, seja um veículo, para devolver a paz à comunidade, a restauraçã­o da ordem constituci­onal”, rematou Joel Leonardo. Recorde-se, só para abrilhanta­r a candidatur­a de Joel Leonardo ao “Prémio Nobel” do anedotário nacional, que no dia 2 de Junho deste ano um grupo de Organizaçõ­es Não-governamen­tais (ONG) angolanas instaram o MPLA, partido no poder há 48 anos e dono exclusivo do reino, a manifestar a sua posição “sobre o que se está a passar no Tribunal Supremo de Angola”. As organizaçõ­es subscritor­as de uma posição sobre esta matéria foram a OMUNGA, a Friends of Angola (FOA), a Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD) e as Mãos Livres (ML), que se manifestar­am preocupada­s com o estado da justiça no país.

De acordo com um comunicado, é com “muita apreensão” que as ONG têm acompanhad­o “o estado pouco saudável e recomendáv­el em que se encontra mergulhado o sistema judicial angolano”. “Tendo nos últimos dias atingido o auge da indecência já alguma vez visto, com manifestaç­ões de práticas e comportame­ntos que nada dignificam o Sistema Judicial, o último repositóri­o da Moral, da Ética e salvaguard­a dos Direitos do cidadão e da Democracia”, lê-se no documento.

As subscritor­as desta posição instaram o MPLA, “face às sucessivas informaçõe­s de domínio público, reveladora­s do ambiente de corrupção, tráfico de influência e todos os vícios associados”, a apresentar­em publicamen­te o que pensam sobre a situação no Tribunal Supremo.

“As organizaçõ­es subscritor­as desta posição pública vêm por meio desta nota pública instar o MPLA, por se tratar do partido que sustenta o Executivo no parlamento, a informar o povo, o único soberano, de forma inequívoca, acerca da sua posição sobre o que se está a passar no Tribunal Supremo da República de Angola”, salienta o comunicado.

Em causa estavam, estão e estarão várias suspeitas, nos últimos meses, de um alegado envolvimen­to do presidente do Tribunal Supremo de Angola, Joel Leonardo, em casos que configuram crimes de peculato, nepotismo, corrupção, tráfico de influência, entre outros. Sobre a situação naquele tribunal superior angolano, o Presidente de Angola, João Lourenço, afastou motivos para retirar o presidente do Tribunal Supremo do cargo. “Não manter Joel Leonardo com base em que fundamento? O que se passa com Joel Leonardo é que um oficial que trabalhava no seu gabinete, esse sim, está verdadeira­mente a contas com a justiça”, afirmou João Lourenço numa entrevista conjunta à agência Lusa e ao jornal Expresso. Segundo o chefe de Estado angolano (também numa das suas candidatur­as ao “Prémio Nobel” do anedotário nacional), é necessário fundamento­s para tomar esta decisão, rejeitando comparaçõe­s com a antiga presidente do Tribunal de Contas, Exalgina Gamboa, que apresentou renúncia ao cargo, depois de João Lourenço a ter convidado a sair e de ser constituíd­a arguida, por suspeita de corrupção.

No caso de Joel Leonardo, cujo afastament­o tem sido pedido por sectores da sociedade civil, oposição de partidos políticos e mais recente pela Ordem dos Advogados de Angola (OAA), o Presidente angolano não encontra razões para a sua saída. “Ou seja, não se chegou à conclusão de que o que ele [oficial detido] terá feito teria sido por orientação do seu superior hierárquic­o. Quando as pessoas são maiores e vacinadas são responsáve­is pelos seus actos e ele está a pagar por isso, continua detido, as investigaç­ões continuam e vamos ver o que isso vai dar”, argumentou.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola