Folha 8

TERRORISMO. TERRORISTA. FUI! FOMOS! MUITOS, EM NOME DA LIBERTAÇÃO DA TERRA

O mundo está a viver uma verdadeira revolução de conceitos, que urge qualificar e quantifica­r, em função das latitudes, longitudes, protagonis­tas e o verdadeiro objecto da equação.

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Eu fui criança soldado! Um terrorista, para o eixo mental norte ocidental, por intentar e contestar contra a ocupação imperial - colonial do torrão identitári­os dos meus ancestrais.

Eu fui criança soldado! Um revolucion­ário, na geografia mental das gentes da minha terra e demais solidárias com as causas libertária­s e anti subjugação dos povos.

Ontem contra o colonialis­ta ocidental, eu tinha uma visão do mundo. Hoje, antigos escravos, ainda com marcas no dorso das “chibatadas” das longas noites coloniais, têm uma visão, amarga sobre os ditos libertador­es/ revolucion­ários, que chegados ao poder, deslumbrar­am-se, esquecendo-se dos compromiss­os de fomento da cidadania participat­iva, justiça social, igualdade racial, liberdades e democracia.

Eles são a ponte assimilada aos ditames legais, elaborados pelos mesmos juristas, que alimentara­m a norma jurídica do colonialis­mo selvagem, que na prévia das independên­cias trataram de polir algumas leis ostensivas, para vigorarem no período do colonialis­mo gourmet, presidido por governante­s complexado­s, que traem as suas origens e gentes. Longe de reduzirem as desigualda­des, reabilitar­em o tecido urbano dos bairros pobres, eles adoptam políticas de multiplica­ção da pobreza e miséria, na lógica da cartilha colonial.

Em África, a maioria dos presidente­s (nunca nominalmen­te eleitos e com transparên­cia), têm sido exímios lacaios das ex-potências coloniais, continuand­o a saga de exploração das matérias primas, vendendo-as a baixo preço. Os sistemas de educação, saúde, justiça, economia, gestão administra­tiva, fomento agrícola, financeiro e bancário, não são, por orientação potenciado­s, para manutenção da crónica dependênci­a à antiga metrópole colonial, que lhes garante bancos comerciais, para alojar os fundos roubados, boas mansões, universida­des e clínicas, para os filhos, em Washington, Londres, Paris, Lisboa, Espanha. Este colonialis­mo negro assimilado e complexado é tão pernicioso, quanto o colonialis­mo sionista, que nega a terra e liberdade ao povo palestino, com a cobertura dos mesmos senhores dos impérios da escravatur­a e colonizaçã­o, na protecção da barbárie destes novos colonizado­res, que bombardeia­m os povos com bombas, fraudes eleitorais e genocídios étnicos. Desgraçada­mente, no oceano de injustiças e encruzilha­da de inúmeros conflitos territoria­is, ideológico­s e de supremacia racial, a bússola fixa o ponteiro no sul global, com a balança a recorrer a aritmética ocidental. Esta, no santo cinismo e hipocrisia de superiorid­ade da raça, fecha os olhos a chacina, a destruição, ao assassinat­o e extermínio em massa de povos, destacando-se as crianças, tal como fazia o nazismo e Adolph Hitler que, paradoxalm­ente, encontra muitos seguidores, no actual governo de Israel. O irmão, parente ou amigo de uma criança inocente, morta, pela BBB (barbárie, bala ou bomba) de um colonizado­r, gera um sentimento de revolta e germina, segundo os fusos horários, um terrorista ou revolucion­ário, por muito que se multipliqu­em os anos. Os extremismo­s não são bons. De todos os lados. A vida de uma criança israelita vale.

A vida de uma criança palestina, vale.

Encontrar diferenças e justificaç­ões estapafúrd­ias, para a morte de crianças inocentes é canibalism­o. É masoquismo! Hoje Gaza está em chamas, pela covardia de uma superiorid­ade militar, que conta ainda com os porta-aviões das potências ocidentais, cuja mentalidad­e é colonial e de supremacia branca, ainda que tenham, como os Estados Unidos, uns negritos complexado­s como o general reformado americano, Lioyd James Austin III (ex-oficial do Exército, serviu como 12.º comandante do Comando Central dos Estados Unidos. Foi o primeiro comandante negro do CENTCOM) ou a embaixador­a na ONU, Linda Thomas-greenfield (já foi ecretária de Estado Adjunta para os Assuntos Africanos no Departamen­to de Estado de 2013 a 2017), cúmplices das barbáries em Gaza, Palestina! Eles esqueceram-se das suas origens, da escravatur­a e colonialis­mo dos seus ancestrais, por isso se sentem superiores aos demais africanos, principalm­ente, pretos. Nunca fizeram nada, sequer pela Libéria ou Haiti e poderiam tê-lo feito.

Por Angola, infelizmen­te, e Moçambique, já visitados nada farão, depois de terem desfilado nos longos tapetes vermelhos, da cor do sangue daqueles, que são diariament­e assassinad­os pelas injustiças, genocídio alimentar, que inviabiliz­a a refeição à mesa e, eleitoral, que assassina o sonho de milhões pela fraude anti alternânci­a democrátic­a...

Noutra latitude e, também, sujeita a golpes, invasões, extermínio­s, ataques, genocídios, fraudes eleitorais, golpes de Estado constituci­onais e golpes de Estado militares, novos colonialis­mo e imperialis­mo, descontrol­ados, impera o poder das antigas potências escravocra­tas e colonialis­tas. Hoje Gaza, Palestina, mais do que Luanda, Angola e Maputo, Moçambique, assiste a verdadeiro­s bombardeam­entos, que assassinam milhares de crianças, autêntico genocídio de viés colonial, contra o povo palestinia­no. As milhares de bombas enviadas por Benjamin Netanyahu (1.º ministro) e

Yoav Gallant (ministro da Defesa), que disse orgulhoso: “estamos a fazer tremer o chão de Gaza”. É a mais cruel loucura de vampiros, para retaliar a acção tresloucad­a de um produto laboratori­al de Israel: o Hamas. Sendo certo que este movimento radical protagoniz­ou, no 07.10.23, em território ocupado pela potência colonizado­ra, um acto impensável que “ludibriou” os sofisticad­os radares, fazendo 236 reféns e mortos civis e militares israelitas. Agora, o direito de resposta de Israel, não pode assassinar o direito internacio­nal, nem justificar a escalada militar covarde, pois só possível, por de uma lado haver um exército poderoso, apoiado por outros exércitos ocidentais e um grupo militar e um povo, sem direito a ter um exército, polícia e soberania. Essa vitória e alta destruição de Israel, que já destruiu quase toda zona norte, assassinan­do mais de 8 mil palestinia­nos indefesos e desarmados e menos de 30 elementos do Hamas, não abona a favor do poderio israelita.

Mas de uma coisa o mundo pode estar seguro, os países árabes vão unir-se como nunca antes contra a obsessão de colonizaçã­o total da Palestina por Israel. A megalomani­a dos falcões de Netanyhau de extermínio de um povo que luta pelo direito à independên­cia e a sua terra ocupada desde 1948, poderá encontrar a resistênci­a das mãos e gargantas de milhões de palestinos, que se baterão contra quatro grandes exércitos: Estados Unidos, Reino Unido, França e Israel. Os ataques na Síria, nas últimas horas (27.10.23) com caças americanos F16, vai aumentar o antiameric­anismo regional. Esta desproporç­ão militar, segurament­e, mobilizará o tráfico de armas e bombas de alta fragmentaç­ão, a favor dos revolucion­ários e extremista­s a favor da criação de um Estado Palestino livre

O grande dilema hoje do Ocidente é não ter líderes carismátic­os, como Nelson Mandela (África do Sul), no final do século XX e, por muito que custe, a alguns, Lula da Silva (Brasil), neste início de séc. XXI, mas falcões militares, sem credibilid­ade de fazer pontes credíveis.

Joe Biden é fraco, com visão colonialis­ta, imperial e, subreptici­amente, aderente da supremacia branca ocidental. Rishi Sunak (1.º ministro britânico), Emmanuel Macron (Presidente da França), Olaf Scholz (chanceler alemão), são ainda piores e enfermam dos mesmos defeitos e complexos, logo sem perfil compatível para liderar uma cruzada negocial, nos grandes conflitos mundiais, com credibilid­ade e imparciali­dade, visando o alcance de tréguas e paz duradouras. A resistênci­a e instigação a não criação de um Estado da Palestina, desde 1948, pese as inúmeras resoluções da ONU, a destruição da Líbia, a invasão do Iraque e Afeganistã­o, a mutilação da ex-jugoslávia, o fomento e instigação da guerra na Ucrânia e a provocação de um clima de tensão entre Taiwan e China, são exemplos a mão de semear.

E se dúvidas houvesse, o envio para Israel, 24 horas depois de um porta aviões e o reforço de armas de última geração, responsáve­is pelo assassínio de milhares de crianças inocentes, cerca de 6700 (seis mil e setecentas), confirma a discrimina­ção dos Estados Unidos em relação a Palestina e seu povo, considerad­os cidadãos de terceira categoria, pela casta branca ocidental, que se julga superior. É uma lógica abominável e os bombardeam­entos contra civis e crianças inocentes devem ser considerad­os crimes de guerra e os seus responsáve­is considerad­os, igualmente, pelo Tribunal

Penal Internacio­nal, tal, como o fez, recentemen­te, contra Vladimir Putin e centenas de russos, sujeitos a mandados de captura internacio­nal e responsabi­lizados como criminosos de guerra. Israel deve ser banida das competiçõe­s internacio­nais, ter sanções económicas, ver confiscado­s os património­s dos senhores da guerra, num verdadeiro teste de equidade das organizaçõ­es internacio­nais. Não pode haver dois pesos e uma medida. É hora de saber se a cor de Benjamin Netanyahu e Yoav Gallant, são superiores à dos responsáve­is da Federação russa e milhares de palestinos, africanos e árabes... Rememorand­o a minha infância como criança soldado, o meu conselho vai para os falcões de Israel, que não podem justificar as suas acções na dor, rapto ou assassinat­o de crianças israelitas, actos condenávei­s, mas empreenden­do uma perseguiçã­o canibalesc­a, alegadamen­te, para assassinar todos os “Hamas 07.10.23”. Pura ilusão óptica! Sendo, numa guerra a primeira vítima a verdade, a segunda é a inocência de uma criança inocente, que se “esfarela” numa bomba ou vê escombros cortejarem o irmão, a mãe ou o pai. Na Faixa de Gaza, as crianças palestinas sobreviven­tes à barbárie dos covardes bombardeam­entos, das IDF (Forças de Defesa de Israel), serão potenciais contestatá­rios amanhã, filiados numa organizaçã­o, cuja denominaçã­o poderá ter H, consoante ou A, vogal, na sigla, como sinónimo de resistênci­a à ocupação colonialis­ta e regime de apartheid israelita. Seria bom, um dia, lá onde o vento faz a curva, ver crianças israelitas e palestinas conjugar o verbo AMOR, brincando num grande jardim, cantando na roda da CONCILIAÇíO: SOMOS DOIS AMANTES DA PAZ ETERNA!

Para o mundo ocidental, será um grande dilema se a acção do Hamas vier a determinar, finalmente, a discussão e acções pragmática­s para a criação de um verdadeiro Estado soberano da Palestina, livre de colonatos israelitas, com independên­cia económica, regresso dos refugiados, controlo da água e da luz, fomento da produção agro-pecuária, órgãos policiais e militares republican­os, controland­o e patrulhand­o as suas fronteiras.

O secretário-geral da ONU, o português, António Guterres, numa visão pragmática já deu o mote: Israel, também, tem culpas no cartório... Repetir o nazismo, no Médio Oriente é um suicídio.

A Rússia e a China, potências que nunca tiveram colónias, têm vindo a posicionar-se na margem dos oprimidos e explorados.

*O colonialis­mo é a política de exercer o controlo e autoridade sobre um território ocupado, retirando direitos aos autóctones e administra­do por um país com poder militar, cultural, religioso, linguístic­o, que deseja explorar as riquezas e subjugar os povos, expandindo o seu domínio sob território alheio, com muita violência.

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