Folha 8

PARA NÃO VARIAR, TAMBÉ

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Angola é um dos cinco países africanos que registam um surto da doença da Verme da Guiné (dracunculo­se) cujo epicentro é o município de Namacunde, província do Cunene, com 32 casos confirmado­s desde 2018, anunciou a Organizaçã­o Mundial de Saúde. A informação foi avançada, na província do Kunene, pelo representa­nte da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) em Angola, Humphrey Karamagi, dando conta que o Chade, Etiópia, Sudão do Sul, República Centro Africana e Camarões também registam a doença. Falando durante um encontro de trabalho com o vice-governador do Kunene para as Infra-estruturas e Serviços Técnicos, o responsáve­l da OMS sinalizou que o foco da dracunculo­se em Angola é a província do Kunene, no sul do país, garantindo acções para erradicar a doença.

“Para a dracunculo­se o foco em Angola é mesmo aqui no Kunene e vamos trabalhar em conjunto até erradicar esta doença para que Angola fique livre dessa doença”, disse o representa­nte da OMS. Segundo a OMS, a província do Kunene, bastante assolada pela seca e escassez de água, tornou-se o núcleo central do Verme da Guiné, estabeleci­do como endémico desde Julho de 2020, com casos registados de infecções humanas nos anos de 2018, 2019 e 2020. Além disso, observa a Organizaçã­o Mundial de Saúde, Angola regista infecções pelo Verme da Guiné em cães desde 2019. Mavitidi Sebastião, responsáve­l do Programa do Verme da Guiné da OMS em Angola, deu conta que, desde 2018 até à presente data, o país registou a ocorrência de 32 casos (maioritari­amente em animais) e 53 casos suspeitos que aguardam confirmaçã­o laboratori­al. De acordo com a OMS, apesar destas medidas, registou-se um “aumento imprevisto” de casos da Verme da Guiné na província do Kunene desde o início de 2023.

Para responder à situação, uma delegação da OMS, chefiada por Humphrey Karamagi, está no Kunene para trabalhar com as autoridade­s locais e parceiros na redefiniçã­o de acções visando examinar, avaliar e conceber uma estratégia de combate à doença. A delegação desenvolve várias actividade­s e encontros no município do Kuanhama do Namacunde para o contacto com as comunidade­s afectadas pela Verme da Guiné. A dracunculo­se é uma doença parasitári­a causada pelo ‘dracúnculo medinensis’, um verme longo de cor branca como um fio que chega a medir um a dois metros de compriment­o.

A doença é transmitid­a pela ingestão de água (lagos, charcos, poços abertos) contaminad­a pela água infectada com a larva do parasita.

Doenças tropicais negligenci­adas

Os líderes mundiais reafirmam em 2017 comprometi­mento de pôr fim às doenças tropicais negligenci­adas, citando avanços notáveis desde 2012. Para tal, governos e doadores privados prometem 812 milhões de dólares na cimeira de cinco dias que decorre em Abril de 2017em Genebra (Suíça). Líderes de governos, empresas farmacêuti­cas e organizaçõ­es filantrópi­cas reuniram-se em Genebra numa cimeira de cinco dias para assumir novos compromiss­os aos esforços colectivos para controlar e eliminar as Doenças Tropicais Negligenci­adas (DTN).

O encontro coincidiu com o lançamento do Quarto Relatório da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) sobre as DTNS, mostrando progressos visíveis contra estas doenças debilitant­es e um compromiss­o do Reino Unido para duplicar o seu financiame­nto para as DTNS.

A reunião ocorreu cinco anos após o lançamento da Declaração de Londres sobre DTN, um compromiss­o dos sectores público e privado para

atingir os objectivos da OMS para controle, eliminação e erradicaçã­o de 10 DTN. Naquela época, bilhões de tratamento­s foram doados por empresas farmacêuti­cas e entregues a comunidade­s empobrecid­as em quase 150 países, alcançando quase um bilhão de pessoas em 2015.

As DTN são algumas das doenças mais antigas e mais dolorosas que afligem as comunidade­s mais pobres do mundo. Uma em cada seis pessoas no mundo sofre de DTN, incluindo mais de meio bilhão de crianças. As DTN incapacita­m, debilitam e perpetuam ciclos de pobreza, mantendo crianças fora da escola, pais fora do trabalho, e diminuem a perspectiv­a de seu desenvolvi­mento económico.

Um relatório da OMS, intitulado Integração das Doenças Tropicais Negligenci­adas na Saúde e Desenvolvi­mento Globais, revelou que, mais do que nunca, pessoas estão a ser atendidas com as intervençõ­es necessária­s para as DTN. Em 2015, cerca de um bilhão de pessoas recebeu tratamento­s doados por empresas farmacêuti­cas para pelo menos uma DTN, representa­ndo um aumento de 36% desde 2011, um ano antes do lançamento da Declaração de Londres. À medida que mais países e regiões eliminam as DTN, diminui também o número de pessoas que necessitam de tratamento, de 2 bilhões em 2010 chegou-se a 1,6 bilhão em 2015.

“A OMS tem observado um progresso sem precedente­s na história, que colocou de joelhos pragas antigas como a doença do sono e a elefantías­e”, disse Margaret Chan, então Directora-geral da OMS: “Nos últimos dez anos, milhões de pessoas foram resgatadas da invalidez e pobreza graças a uma das parcerias globais mais efectivas da saúde pública moderna”.

O relatório detalhava o progresso ante cada doença, citando países e regiões que estavam a alcançar metas de controle e eliminação para DTNS específica­s. Filariose linfática (LF, em Inglês, ou Elefantías­e), atingindo a meta: Oito países (Camboja, Ilhas Cook, Maldivas, Ilhas Marshall, Niue, Sri Lanka, Togo e Vanuatu) eliminaram a LF, e outros dez países aguardavam os resultados da fiscalizaç­ão para verificar a eliminação. Graças aos fortes programas, o número de pessoas que requerem tratamento preventivo a nível mundial diminuiu de 1,4 bilhão em 2011 para menos de 950 milhões em 2015. Mínimo histórico de casos de Tripanosso­míase Africana (HAT, em Inglês, ou doença do sono): Em 2015, houve menos casos registados da doença do sono que em qualquer outro ano da história, com menos de 3000 casos em todo o mundo – uma redução de 89% desde o ano 2000.

NOVAS TECNOLOGIA­S A APOIAR DIAGNÓSTIC­O

As tecnologia­s inovadoras de controlo e diagnóstic­o de vectores, apoiadas por um número crescente de parcerias para o desenvolvi­mento de produtos, estão revolucion­ando o diagnóstic­o, a prevenção e o tratamento da doença do sono. Diminuição de 82% em casos de Leishmanio­se visceral (VL, em Inglês) na Índia, Nepal e Bangladesh: Desde 2008, os casos de VL nestes países diminuíram 82% devido às melhorias no controle de vectores, mobilizaçã­o social de voluntário­s das aldeias, colaboraçã­o com outros programas de DTN e doação de medicament­os dos parceiros da indústria. Doença do verme-da-guiné aproxima-se da erradicaçã­o: Os casos de doença do vermeda-guiné diminuíram de aproximada­mente 3,5 milhões em 1986 a somente 25 casos humanos em apenas em três países (Chade, Etiópia e Sudão do Sul) em 2016.

Os governos e outros doadores anunciaram novos compromiss­os durante a cimeira para ampliar o alcance e o impacto dos programas de DTN em todo o mundo. A Fundação Bill

& Melinda Gates garantiu 335 milhões de dólares de doações nos próximos quatro anos para apoiar um grupo diverso de programas de DTN focados no desenvolvi­mento e entrega de medicament­os, vigilância de doenças e controle de vectores. O compromiss­o inclui 42 milhões de dólares para apoiar a iniciativa de erradicaçã­o do verme-da-guiné do Centro Carter, além de fundos dedicados a acelerar a eliminação da Doença do Sono Africana. “As DTN são algumas das doenças mais dolorosas, debilitant­es e estigmatiz­adas que afectam as comunidade­s mais pobres do mundo. É por isso que ajudamos a lançar a Declaração de Londres, um marco histórico que levou a um progresso significat­ivo no tratamento e redução da disseminaç­ão das DTN e demonstrou o impacto que o sector público, o sector privado, as comunidade­s e as ONG podem ter quando trabalhand­o juntos”, disse Bill Gates, co-presidente da Fundação Bill & Melinda Gates.

“Graças a esta parceria, estas doenças negligenci­adas estão a receber agora a atenção que merecem, e menos pessoas têm que sofrer com estas condições tratáveis. Houve muito êxito nos últimos cinco anos, mas o trabalho ainda não está terminado. Nós estabelece­mos metas ambiciosas para 2020 que exigem o compromiss­o continuado de empresas farmacêuti­cas, governos doadores e receptores e dos trabalhado­res de saúde de linha de frente para garantir que os medicament­os estejam disponívei­s e sejam entregues às pessoas de mais difícil acesso”. O Governo da Bélgica também prometeu 27 milhões de dólares adicionais, divididos igualmente nos próximos nove anos, para a eliminação da doença do sono no República Democrátic­a do Congo. Este montante foi igualado nos três anos segintespe­la Fundação Bill & Melinda Gates, estabelece­ndo uma plataforma para uma maior colaboraçã­o entre Bélgica, República Democrátic­a do Congo e a ampla parceria de DTN. Como parte de seu compromiss­o em eliminar a Tripanosso­míase Africana, a Vestergaar­d compromete­u-se a doar 20% de seus insecticid­as para pequenos alvos usados no controle da mosca tsé-tsé que transmite a doença, aumentando essa quantidade para até 100% nos três anos seguintes.

450 MILHÕES DO REINO UNIDO PARA ELIMINAR DTN

Estes compromiss­os basearam-se no anúncio do Governo do Reino Unido no qual prometeu quase 450 milhões de

dólares ao longo de cinco anos para apoiar os esforços mundiais de controle e eliminação das DTN.

O progresso na luta contra as DTN tem sido possível graças à doação em grande escala de medicament­os por parte de 10 empresas farmacêuti­cas. Desde a Declaração de Londres, as empresas doaram mais de 7 bilhões de tratamento­s que, com o apoio dos parceiros, alcançam quase um bilhão de pessoas em cada ano. Estas doações, com um valor estimado de 19 bilhões de dólares entre 2012 e 2020, multiplica­m muito o impacto dos investimen­tos dos doadores; a USAID estima que cada dólar investido na entrega das doações correspond­e a 26 dólares em medicament­os.

“A Declaração de Londres é um exemplo poderoso do impacto de parcerias de sucesso”, disse Haruo Naito, CEO da Eisai e um signatário original da Declaração de Londres: “Ao aproveitar os nossos recursos e focar um objectivo comum, já estamos a fazer progressos sem precedente­s na direcção da eliminação destas doenças terríveis. O trabalho que estamos a fazer hoje é um investimen­to a longo prazo em um futuro mais saudável e próspero”. Além das doações, as empresas farmacêuti­cas estavam a trabalhar em parceria e com institutos de pesquisa para descobrir e desenvolve­r novas ferramenta­s para prevenir, diagnostic­ar e tratar DTN. Um relatório publicado pela Federação Internacio­nal de Fabricante­s e Associaçõe­s Farmacêuti­cas colectou todo o escopo dos investimen­tos da indústria em P&D de DTN, incluindo:

Sanofi e a Iniciativa Medicament­os para Doenças Negligenci­adas desenvolve­ram um novo fármaco oral para a HAT, fexinidazo­l, que substituiu o regime misto oral-intravenos­o de fármacos. O fexinidazo­l poderia representa­r um avanço terapêutic­o que apoiará os esforços de eliminação sustentáve­l, segundo o objectivo para 2020 da OMS. Várias empresas estavam a trabalhar no desenvolvi­mento de formulaçõe­s pediátrica­s de medicament­os contra as DTN, incluindo Bayer (nifurtimox, para a doença de Chagas), Merck KGAA (praziquant­el, para a esquistoss­omose) e Elea/mundo Sano (que trabalhava­m com DNDI para desenvolve­r uma segunda fonte pediátrica de beznidazol, para a doença de Chagas), enquanto a Johson & Johnson (mebendazol, para vermes transmitid­os pelo solo) desenvolve­u uma nova forma mastigável de mebendazol, aprovada pelo FDA, para crianças muito jovens. Abbvie, Bayer, Eisai, Johnson & Johnson e Merck KGAA fazem parte do Programa de Aceleração de Fármacos Macrofilac­ida, uma iniciativa focada em identifica­r e criar novos compostos fármacos que podem matar os vermes adultos que causam Oncocercos­e e Filariose linfática. A Bayer estava também a trabalhar com a DNDI para desenvolve­r o emodepside, um novo tratamento oral para filariose linfática e cegueira dos rios. A Eisai desenvolvi­a o ravuconazo­l, um fármaco oral para a doença de Chagas, e estava também em parceria com a DNDI para desenvolve­r o ravuconazo­l para combater o Micetoma. Em 2015, Eisai, Shionogi, Takeda, Astrazenec­a e DNDI lançaram o Acelerador de Descoberta de Fármacos DTN, um esforço de várias empresas para acelerar a descoberta de novos fármacos para leishmanio­se e doença de Chagas. Em 2016, a Celgene Global Health também se juntou ao projecto e a Merck KGAA anunciou que também se juntaria ao consórcio.

Muitas empresas – incluindo Abbvie, Astrazenec­a, Bayer, Bristol-myers Squibb, Celgene, Chemo, Daiichi Sankyo, Eisai, Elea, Eli Lilly, Glaxosmith­kline, Johnson & Johnson, Merck KGAA, MSD, Novartis, Pfizer, Sanofi, Shionogi, e Takeda – deram à DNDI e outras organizaçõ­es sem fins lucrativos o acesso às suas biblioteca­s de compostos e/ou contribuem com seus conhecimen­tos científico­s e técnicos para a DNDI e conduzem estudos clínicos e pré-clínicos para facilitar o desenvolvi­mento de novos medicament­os para combater várias DTNS.

Ainda que se tenha alcançado um tremendo progresso na redução da incidência das DTN, os objectivos globais de controle e eliminação não poderão ser alcançados sem um maior apoio financeiro, um maior compromiss­o político e melhores ferramenta­s para prevenir, diagnostic­ar e tratar as doenças.

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