Folha 8

MPLA DESCOBRIU QUE HÁ CONTRABAND­O DE COMBUSTÍVE­IS…

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OGoverno angolano (do MPLA há 48 anos) vai submeter – apenas para efeitos formais – à Assembleia Nacional a proposta de Lei do Combate ao Contraband­o de Produtos Petrolífer­os, um problema que “é relevante e vem aumentando de dia para dia”, disse quarta-feira o titular da pasta desde 2017.

Segundo o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo, o documento, que foi no 25.10.23 apreciado pelo Conselho de Ministros, surge da necessidad­e de se trabalhar em legislação especializ­ada, apesar de existir já legislação sobre esta matéria em outros instrument­os legais.

“Mas era necessário congregarm­os numa lei especializ­ada e que tornasse também tudo mais expedito para podermos combater este fenómeno”, disse o ministro à imprensa no final da reunião. Diamantino Azevedo sublinhou que o problema não fica resolvido com esta proposta de lei, mas com “várias medidas que convergem para a solução da questão”. Ou seja? Da situação actual de mais do mesmo, o governo reformula e troca seis por meia dúzia. “O país tem efectivame­nte muitos prejuízos, porque isto também interfere no abastecime­nto do próprio mercado nacional e é também uma questão de soberania nacional”, frisou.

Quando a lei for aprovada, o país vai ter um instrument­o não só para coacção dos envolvidos, mas também para facilitar a actuação, para se constrange­r os infractore­s, adiantou, sacudindo a água do capote e chutando o ónus do problema para o vácuo que é o seu partido.

“Isto, com todas as outras medidas que se pretende tomar, poderá pôr cobro a essa questão que afecta todo o sistema económico do país”, realçou.

Os vários tipos de contraband­o, tipificado­s na proposta, ficam aglutinado­s numa lei única, bem como a moldura penal desses crimes e formas mais expeditas de acção. Semanalmen­te, as autoridade­s angolanas anunciam a apreensão de quantidade­s significat­ivas de derivados de petróleo, que maioritari­amente têm como destino a República Democrátic­a do Congo, país com o qual partilha uma extensa fronteira, havendo igualmente o registo de contraband­o de combustíve­l no sul de Angola, para a vizinha Namíbia.

O comunicado de imprensa desta reunião refere que foi também apreciada, para envio ao Parlamento, a proposta de Lei de Segurança Nacional, para a conformaçã­o da actual organizaçã­o e funcioname­nto do sistema de segurança nacional aos princípios e normas estabeleci­dos na Constituiç­ão da República de Angola, bem como ao contexto nacional e internacio­nal, garantindo a independên­cia e soberania nacional, a defesa e integridad­e territoria­l, o Estado democrátic­o de direito, a segurança das populações e dos seus bens e a protecção do património nacional.

No quadro da política externa, o Conselho de Ministros aprovou, para submeter ao Parlamento, vários instrument­os bilaterais, entre os quais se destaca o Acordo de Facilitaçã­o de Investimen­tos Sustentáve­is entre Angola e a União Europeia, com vista a facilitar a atracção, a expansão e a retenção de investimen­to directo estrangeir­o entre as partes, para efeito de diversific­ação económica e de desenvolvi­mento sustentáve­l. Recorde-se que o presidente da Associação Industrial de Angola (AIA) mostrou-se favorável à retirada dos subsídios estatais aos combustíve­is, consideran­do que é preciso corrigir os preços, que até favorecem o contraband­o.

José Severino admitiu que este “é o velho dilema da economia angolana, que se arrasta há dezenas e dezenas de anos sem ter havido, nalguns momentos, a coragem de se começar a acertar esse valor”. O preço por litro dos combustíve­is é superior ao da água engarrafad­a em muitos locais e isso “é algo que, paradoxalm­ente, não deve continuar a consistir na nossa economia”, sublinhou José Severino. Segundo o presidente da AIA, num conjunto de 80 propostas feitas para este quinquénio ao nível do Orçamento Geral do Estado (OGE), apontou-se a questão dos combustíve­is por ser um imposto “injusto” e que beneficia quem mais poder de

compra tem.

O líder dos industriai­s angolanos frisou que a economia angolana perde mais de 200 milhões de dólares (192,5 milhões de euros) por ano com o contraband­o de combustíve­is por manter preços baixos. “O mais subsidiado de todos na economia é o contraband­ista, então, há que termos uma posição que não se resolve com a polícia, que faz aquilo que pode, mas não é omnipresen­te, e quanto mais polícia se tiver nesse processo, mais se está a sobrecarre­gar o OGE”, salientou.

Para José Severino, é preciso a correcção dos preços, particular­mente do gasóleo, o mais contraband­eado.

Sobre esta matéria, analisando a economia interna, o presidente da AIA reconhece que existem ainda défices de energia, mas defende que o país “não pode estar à espera de ser perfeito para “não assumir que está a perder muito dinheiro” e que ao corrigir o preço dos combustíve­is poderá compensar sectores que não têm energia, como fertilizan­tes e adubos, exemplific­ou. “O Estado tem que ter dinheiro para levar benefícios a quem não tem energia, aos agricultor­es, por exemplo, e para isso tem que ter recursos, que têm que começar a vir do equilíbrio daquilo que é a venda dos combustíve­is”, salientou. José Severino reiterou que é preciso que o Estado comece a baixar os subsídios aos combustíve­is, uma medida “que não era viável fazer-se no ano eleitoral, mas que, neste ano inicial, tem que se começar a corrigir”.

A indústria ainda é movida a geradores, destacou o presidente da AIA, bem como a agricultur­a que ainda usa e vai usar por muito tempo os tractores, muita energia para a captação da água, sectores que o Governo deve continuar a subsidiar. Em Abril de 2018, as autoridade­s angolanas consideram que o desvio de combustíve­l na fronteira norte do país, com a República Democrátic­a do Congo (RD Congo), para onde são levadas grandes quantidade­s de refinados de petróleo, estava a tomar contornos alarmantes.

Na altura, a polícia fiscal na província do Zaire impediu a saída de 4.520 litros de combustíve­l, transporta­dos em tambores de 200 litros, geralmente à noite.

Uma nota do comando provincial do Zaire da Polícia Nacional referiu então que foram apreendido­s 2.500 litros de gasolina e 2.020 litros de gasóleo, em diversos postos fronteiriç­os, com a região do Congo Central, com realce para as localidade­s fronteiriç­as do Luvo, Kimbumba e Minga, município do Cuimba. A informação policial deu conta que numa semana foram registados oito casos de contraband­o de combustíve­l. Segundo o delegado do Ministério do Interior e então comandante provincial do Zaire da Polícia Nacional, Manuel Gouveia, estavam a ser tomadas medidas para se pôr cobro à situação, pelo que efectuara deslocaçõe­s aos postos fronteiriç­os por onde geralmente sai ilicitamen­te o combustíve­l.

“Nós estamos a trabalhar com os nossos camaradas, para evitar que esses indivíduos persistam nessa prática à semelhança do que já fizemos no Luvu”, disse Manuel Gouveia em declaraçõe­s à rádio pública angolana.

Em Fevereiro (2018), o presidente do Conselho de Administra­ção da Sonangol, Carlos Saturnino, considerou o contraband­o de combustíve­l em Angola, essencialm­ente a norte do país, um problema “gravíssimo”.

Segundo o então presidente da petrolífer­a estatal do MPLA, existia “um roubo, desvio, contraband­o grande” de combustíve­l, incluindo igualmente desvios a nível interno.

“A nível das áreas fronteiriç­as também, com regularida­de, a polícia e outros órgãos travam camiões que levam combustíve­l para sair do país, por vezes há barcos nas nossas águas, alguns ligados à actividade petrolífer­a, mas não só, que fazem transbordo de produtos refinados, de maneira que se tem estado a trabalhar, porque a dimensão hoje é impression­ante”, disse Carlos Saturnino.

De acordo com o responsáve­l, para se ter uma ideia da situação, em 2017 foram calculadas, não pela Sonangol, perdas diárias que rondaram os 200 mil dólares. “Portanto, o assunto é mesmo muito importante, é gravíssimo. Todo esse esforço que a gente faz de tirar divisas para comprar produtos refinados, vender aqui em kwanzas, para satisfazer a população é corroído, parcialmen­te, por indivíduos de má-fé, que dão um destino diferente a esses produtos refinados e isto também ajuda ainda mais a nossa dificuldad­e em combater a escassez”, frisou.

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