Quando a caneta não bate com a letra do senhor ministro…
Em menos de setenta e duas horas, o Ministério do Comércio e Indústria recuou em relação à sua atabalhoada decisão e produziu uma “cangaia” a que chamou, pomposamente, de desmentido, no qual desdiz que o Executivo, em momento algum, afirmou que proibiria a importação de mais de uma centena de produtos por, alegadamente, o País já ter capacidade de produção interna. A marcha-ré do Executivo tenta impingir-nos que a “letra não bate com a caneta” do ministro do Comércio e Indústria; sugere insultuosamente que os cidadãos não sabem sequer ler e interpretar um texto de pouco mais de cinco parágrafos. Isso é - em bom português - um insulto à inteligência dos angolanos.
O recuo do Ministério do Comércio e Indústria demonstra que, no Executivo, as decisões, afinal, são muitas vezes tomadas de forma precipitada, são tomadas por cima do joelho; não são suficientemente maturadas com a responsabilidade que era suposta, possível e desejada.
Angola tem, aproximadamente, meio século de Independência. Já é tempo de se parar de brincar de governação. Governar implica tomar decisões que influem positiva ou negativamente na vida dos cidadãos. Governar é sinônimo de (muita) responsabilidade. Numa peça jornalística intitulada “Economistas e produtores alertam para barreiras à importação com fraca produção nacional”, a VOA pediu mais esclarecimentos ao Ministério do Comércio e Indústria sobre o seu primeiro comunicado e o respectivo desmentido. O Ministério do Comércio e Indústria, segundo a VOA, retrucou da seguinte forma: “o documento divulgado é suficientemente claro e que não há necessidade de outros esclarecimentos”.
Ora, que os departamentos ministeriais comunicam mal, isto já é por demais consabido. O que não se sabia, até aqui, é que a má comunicação trazia consigo como “bônus track” uma arrogância estultamente arrogante, que, na verdade, não constitui novidade alguma. Por isso, (não) estou surpreso com o comunicado atabalhoado feito pelo Ministério do Comércio e Indústria, sobretudo com a categórica e arrogante resposta dada por aquele departamento ministerial à VOA.
Se as instituições são a imagem e semelhança dos seus líderes, então a arrogância do ministro destoa da postura alegadamente cândida e elegante que passa publicamente.
Pois é! Afinal, nem tudo que (re) luz é ouro!