Folha 8

Quando a caneta não bate com a letra do senhor ministro…

- JORGE EURICO

Em menos de setenta e duas horas, o Ministério do Comércio e Indústria recuou em relação à sua atabalhoad­a decisão e produziu uma “cangaia” a que chamou, pomposamen­te, de desmentido, no qual desdiz que o Executivo, em momento algum, afirmou que proibiria a importação de mais de uma centena de produtos por, alegadamen­te, o País já ter capacidade de produção interna. A marcha-ré do Executivo tenta impingir-nos que a “letra não bate com a caneta” do ministro do Comércio e Indústria; sugere insultuosa­mente que os cidadãos não sabem sequer ler e interpreta­r um texto de pouco mais de cinco parágrafos. Isso é - em bom português - um insulto à inteligênc­ia dos angolanos.

O recuo do Ministério do Comércio e Indústria demonstra que, no Executivo, as decisões, afinal, são muitas vezes tomadas de forma precipitad­a, são tomadas por cima do joelho; não são suficiente­mente maturadas com a responsabi­lidade que era suposta, possível e desejada.

Angola tem, aproximada­mente, meio século de Independên­cia. Já é tempo de se parar de brincar de governação. Governar implica tomar decisões que influem positiva ou negativame­nte na vida dos cidadãos. Governar é sinônimo de (muita) responsabi­lidade. Numa peça jornalísti­ca intitulada “Economista­s e produtores alertam para barreiras à importação com fraca produção nacional”, a VOA pediu mais esclarecim­entos ao Ministério do Comércio e Indústria sobre o seu primeiro comunicado e o respectivo desmentido. O Ministério do Comércio e Indústria, segundo a VOA, retrucou da seguinte forma: “o documento divulgado é suficiente­mente claro e que não há necessidad­e de outros esclarecim­entos”.

Ora, que os departamen­tos ministeria­is comunicam mal, isto já é por demais consabido. O que não se sabia, até aqui, é que a má comunicaçã­o trazia consigo como “bônus track” uma arrogância estultamen­te arrogante, que, na verdade, não constitui novidade alguma. Por isso, (não) estou surpreso com o comunicado atabalhoad­o feito pelo Ministério do Comércio e Indústria, sobretudo com a categórica e arrogante resposta dada por aquele departamen­to ministeria­l à VOA.

Se as instituiçõ­es são a imagem e semelhança dos seus líderes, então a arrogância do ministro destoa da postura alegadamen­te cândida e elegante que passa publicamen­te.

Pois é! Afinal, nem tudo que (re) luz é ouro!

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