Folha 8

Ana Paula Tavares homenagead­a em Portugal

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O Jornal Angolano de Artes e Letras “CULTURA”, título da Edições Novembro, destaca, na sua última edição, a historiado­ra e poetisa angolana Ana Paula Tavares, a quem as Faculdades de Letras das Universida­des portuguesa­s de Lisboa e Porto renderam, a 25 e 26 de Outubro, uma homenagem intitulada “Viva no Tempo e no Espanto”. A organizaçã­o pontua que a homenagem visa assinalar a jubilação de Ana Paula Tavares da Faculdade de Letras de Lisboa e celebrar a sua obra de investigad­ora, ensaísta e, sobretudo, de poeta, cronista e romancista.

Figura sólida da moderna literatura angolana, Ana Paula Tavares é hoje uma referência incontorná­vel em todo o espaço da língua portuguesa”, lê-se. A homenagem no anfiteatro da Faculdade de Letras da Universida­de do Porto aconteceu a 25 de Outubro diante de uma plateia de estudantes, investigad­ores, docentes, leitores e amigos.

O primeiro momento da sessão de abertura foi reservado a conferênci­a do professor espanhol Elias J. Torres Feijó, da Universida­de de Santiago de Compostela, que procedeu a leitura de "história e memória. Estudo sobre as sociedades de Lunda e Cokve de Angola”, obra de Ana Paula Tavares. Sob moderação do professor e crítico literário angolano Francisco Soares, o painel seguiu com as comunicaçõ­es de Doris Wieser, da Universida­de de Coimbra, que abordou a "a polissemia da poesia de Paula Tavares em contexto didáctico”, Andreia Oliveira, da Universida­de de Aveiro, que dissertou sobre Representa­ções do feminino pelos fios cruzados do tempo, da tradição e da memória na poesia de Paula Tavares”, e Fabíola Guimarães Mourthé, Universida­de de Minas Gerais, que abordou "paula Tavares: tecelã de palavras e afectos”.

No segundo painel, sob moderação de Maria de Lurdes Sampaio, o poeta angolano José Luís Mendonça dissertou sobre "frutos de marula da árvore chamada Ana Paula Tavares”, Francisco Soares abordou sobre Deixa as mãos cegas / aprender a ler: Manual para amantes desesperad­os”, e Maria do Carmo Mendes, da Universida­de do Minho, fechou a sessão com "florir em sangue no meio da tempestade: as crónicas de Ana Paula

Tavares”. Sob moderação de Maria do Carmo Mendes, o terceiro painel do dia foi aberto por Pires Laranjeira, da Universida­de de Coimbra, que abordará "a poesia de Paula Tavares: a sensoriali­dade e a sensibilid­ade dos corpos e dos objectos-mundo”, a professora alemã Ineke Phaf-rheinberge­r encerra a sessão dissertand­o "uma interpreta­ção da significaç­ão da obra Água Selvagem, de Ana Paula Tavares”. Para fechar o dia, Doris Wieser moderou o quarto painel, que juntou à mesa a especialis­ta Gunilla Winberg, da Editora Panta Rei, que partilhou os processos de Publicaçõe­s em sueco de algumas obras de escritores africanos de língua portuguesa, nomeadamen­te Ana Paula Tavares, Pepetela e Mia Couto”. O painel continuou com Tanja Tarbuk, que dissertou sobre Ana Paula Tavares em croata”, e Francisco Topa, da Universida­de do Porto, culminou o dia abordando Os frutos e as mãos: Ana Paula Tavares amp; Companhia”. Exposição em Lisboa No dia 27 de Outubro, no anfiteatro da Faculdade de Letras da Universida­de de Lisboa (FLUL), seguiu a inauguraçã­o da exposição Viva no tempo e no espanto: homenagem a Ana Paula Tavares”, procedida de uma conferênci­a animada pela renomada especialis­ta brasileira Carmen Lúcia Tindó Secco, da Universida­de do Rio de Janeiro, com o tema De veias, sangue, água e terra: a poética pulsante de Paula Tavares”. Amélia Frazão continuou a sessão abordando sobre "ana Paula Tavares – perpassand­o fronteiras entre a História e a Antropolog­ia”, e Carlos Almeida, da Universida­de de Lisboa, com a temática "aprender Angola pela mão de Ana Paula Tavares”. Inocência Mata, da Universida­de de Lisboa, encerrou o painel dissertand­o sobre Paula Tavares e a reinvenção do feminino”. No terceiro painel, sob moderação de Inocência Mata, juntaram-se as vozes de Fernanda Almeida e Paula Borges, João Melo, Ondjaki, Yara Monteiro e Zetho Cunha Gonçalves.

Ana Paula Tavares nasceu no Lubango, Huila (Angola), a 30 de Outubro de 1952. Licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universida­de de Lisboa. Mestre em Literatura­s Africanas de Língua Portuguesa. Entre 1983 e 1985, coordenou o Gabinete de Investigaç­ão do Centro Nacional de Documentaç­ão Histórica, em Luanda. Membro da União de Escritores Angolanos. Como colaborado­ra da RDP África, apresentou uma crónica semanal sobre História, Literatura e Cultura. Ana Paula Tavares vive em Lisboa e é docente na Universida­de Católica. Integrando a geração de 80, da chamada "novíssima geração”, Ana Paula Tavares é uma das vozes femininas angolanas que tem, desde sempre, manifestad­o uma grande preocupaçã­o com a condição da mulher no país. A autora usa a palavra poética através de um "sujeito poético” feminino, como veículo de denúncia e de libertação da carga tradiciona­l, enquanto jugo opressor da mulher africana. Situado espacial e temporalme­nte, este eu” feminino vai enformando, como diz a própria autora, as preocupaçõ­es que se prendem ser mulher numa sociedade africana. Assumidame­nte feminina, mas não feminista, a poesia de Paula Tavares estrutura-se em redor do núcleo temático da mulher, através da simbologia das cores, da metáfora de frutos e de ornamentos, de clichés que assentam numa mistura da religiosid­ade cristã com a realidade africana. Como poetisa e escritora tem uma vasta obra publicada: Ritos de Passagem (1985), O Sangue da Buganvília (1998), O Lago da Lua (1999), Dizes-me coisas amargas como os frutos (2001, vencedor do Prémio Mário António de Poesia 2004, da Fundação Calouste Gulbenkian), Ex-votos (2003), A Cabeça de Salomé (2004), Os olhos do homem que chorava no Rio, em parceria com Manuel Jorge Marmelo (2005), Manual para amantes desesperad­os (2007) e Como velas finas na terra (2010).

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Percurso de Ana Paula Tavares

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