E SE A CULTURA FOSSE O PAÍS!
Os idealistas defendem a intenção, os materialistas, por sua vez, a materialização. Entendo que a materialização antecedida pela idealização se configura num processo/modelo eficaz no diálogo cultural em acto.
Em sentido contrário, revogo categoricamente a idealização que à partida se consubstancia na elitização cultural. Daí, a razão da presente retórica sugestiva, ao invés de se partir de um plano singular que visa apoiar e inserir as diferentes iniciativas no roteiro cultural da capital angolana, entendo que tanto os apoios como os incentivos institucionais, em momento algum, não devem criar segregações culturais. Neste sentido, é fundamental que o Ministério da Cultura adopte um discurso prático e inclusivo, assim como as suas acções sejam extensivas ao país. Assim sendo, que o recente discurso ministerial, embora flutuante, implique necessariamente um maior desdobramento de resoluções, leituras pragmáticas, suas inserções práticas e objectivas no roteiro nacional das culturas. Ora bem, que a Ministra não visite simplesmente os segmentos culturais urbanos. Que crie modelos de trabalho interactivos e solucionáveis para os diferentes segmentos de manifestações culturais. Sublinhamos de que não se tratam de modelos-estanques e sim de modelos-flexíveis, desprovidos de complexidades e de graus de hierarquizações. Espero sinceramente que o discurso da Ministra seja um acto diferente e melhor, porque há anos que os discursos e as auscultações têm servido de solidificação das incoerências. Por outra, se a cultura não é só música, certamente que também não é só teatro. Uma instituição que só trabalha às cotoveladas sociais está propensa a equívocos e a leituras descontextualizadas, em que se visa privilegiar um determinado grupo em detrimento de outros. Num país como Angola, as manifestações culturais devem ser entendidas como partes integrantes no processo de reintegração social. Infelizmente, parece-me, o que se entende por cultura na esteira institucional angolana são ainda fragmentos assimétricos que tendem a desestruturar, cada vez mais, as manifestações culturais e sua inerência activa na moralização e conscientização dos diferentes eixos que perfazem o tecido sociocultural angolano. Se partimos de uma série de proposições que, ao nosso entender, enfermam a construção de uma instituição multicultural. Notar-se-á o acentuado liberalismo de aculturação; a propagação do anormal como valor cultural; a extinção gradual dos valores morais. Hoje, percebe-se que a cultura enquanto ideal prático e expressivo de um povo não tem encontrado suporte institucional por parte do Ministério da Cultura. Portanto, a isenção é fundamental para que não haja favorecimentos nas manifestações culturais. O panorama institucional actual de como se propaga o que se entende ou que se julga de culturas angolanas solicita, de todos os sujeitos, maior intervenção crítica para que se evite o descalabro da anormalidade cultural a fim de ganhar prestígio e razão institucional. Por ora, por exemplo, é notável que após a guerra civil que imperou em Angola, por razões que não chamadas neste fórum, a ideia que se construiu em volta da proposição “Cultura na perspectiva institucional” desagregou aos poucos os poucos valores e estancou durante muito tempo a oportunidade de repensarmos sobre as nossas manifestações culturais corrompidos por uma vaidade institucional. Em forma de subsídio, e não de resposta, que se impere a máxima de Lenine A prática é superior ao conhecimento [Teórico]. Acções práticas, abertas e francas sobre as manifestações culturais que sustentam e integram os variados sectores socioculturais.