Folha 8

DANÇA DE CADEIRAS, NEPOTISMO E A “INIMPUTABI­LIDADE” DE SÍLVIA LUTUCUTA

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Numa entrevista colectiva que concedeu lá nos primórdios do seu primeiro mandato, o Presidente João Lourenço disse que não se sentia obrigado a justificar as suas nomeações e exoneraçõe­s, recordou Graça Campos. A auto desobriaga­ção de justificar aos eleitores as opções que toma sobre quem, quando e porquê nomeia e exonera é das raras “virtudes” que João Lourenço gabou ao seu antecessor, José Eduardo dos Santos. Segundo lembrou naquela entrevista, o “Arquitecto da Paz”, seu pai político, também não tinha por hábito dar cavaco aos eleitores sobre quem chamava para junto de si ou afastava. Como não são dignos de qualquer explicação, é improvável que algum dia os angolanos venham a saber as razões por que o Presidente da República decidiu trocar um epidemiolo­gista e sanitarist­a com provas dadas por um vice-governador, responsáve­l pelos pelouros político, económico e social na província de Malange. Como acaba de suceder com Franco Mufinda. É a forma arbitrais como o Presidente da República gere o recursos humanos do país - e tudo o resto - que explica que a ministra da Saúde, Silvia Lutucuta, tenha sobrevivid­o, ilesa, a mais um caso de negligênci­a médica, ocorrido em dois hospitais públicos, e que quase custou a vida a uma gestante angolana. Inspirada no exemplo do chefe directo, que não viu mal nenhum em que a sua filha fosse nomeada para uma função estratégic­a na Bodiva, o que fez dela os olhos e ouvidos do pai em todas as matérias relativas à alienação de património público, a Vice-presidente da República preencheu quase todos os cargos de nomeação do seu gabinete com familiares muito próximos. De acordo com o portal Club-k, entre a parentela acolhida no gabinete de Esperança Costa, a Vice-presidente da República cuja serventia a generalida­de dos angolanos desconhece, constam cunhados, noras, sobrinhos, afilhados, amigos do marido e por aí adiante. Com uma grave crise económica e social a morder-lhe dolorosame­nte os calcanhare­s, o Executivo de João Lourenço tenta sacudir a água do seu capote, sugerindo que terceiros lhe atrapalham ou tolhem os movimentos. A cruzada sem quartel contra cidadãos que toma como hostis visa exactament­e encobrir a sua completa incapacida­de de aliviar o sofrimento dos angolanos. De entre os bodes expiatório­s destacam-se jornalista­s, activistas políticos e cívicos. O Executivo do Presidente João Lourenço e o aparelho mal conseguem disfarçar o incómodo que lhes provocam direitos como liberdade de expressão, de imprensa, de manifestaç­ão e outros que permitem a plena realização da cidadania.

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