Folha 8

ANTÓNIO GUTERRES DISSE A VERDADE

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Odirector-executivo da Amnistia Internacio­nal, Pedro Neto, apoiou no 25.10.23 as declaraçõe­s proferidas pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, que condenaram o ataque do Hamas a Israel mas lembrou – dizendo o que cada vez mais pessoas pensam – que o povo palestinia­no é reprimido há 56 anos. O Folha 8 subscreve.

Pedro Neto afirmou: “Disse a verdade”, consideran­do “completame­nte desproporc­ional” a reacção do embaixador de Israel junto da ONU, que pediu a demissão de António Guterres. “Qualquer interpreta­ção de condenar o sistema de ‘apartheid’ em que os palestinia­nos vivem e que é imposto por Israel não significa apoiar o terrorismo do Hamas. É completame­nte abusivo e desproporc­ionado fazer esta interpreta­ção”, disse o director-executivo em Portugal da organizaçã­o internacio­nal de defesa dos direitos humanos. O secretário-geral da ONU condenou na terça-feira, na abertura de uma reunião do Conselho de Segurança dedicada à situação actual no Médio Oriente, os “actos de terror” e “sem precedente­s” realizados, em 7 de Outubro, pelo grupo islamita Hamas em Israel, salientand­o que “nada pode justificar o assassínio, o ataque e o rapto deliberado­s de civis”. No entanto, António Guterres sublinhou ser “importante reconhecer” que os ataques do grupo islamita Hamas “não acontecera­m do nada”, sublinhand­o que o povo palestinia­no “foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante”.

O embaixador israelita junto da ONU, Gilad Erdan, reagiu, exigindo a demissão imediata de António Guterres e argumentou depois, em mensagem publicada nas redes sociais, que o líder das Nações Unidas “demonstrou compreensã­o pela campanha de assassínio em massa de crianças, mulheres e idosos”.

Mas, para o director-executivo da Amnistia Internacio­nal, António Guterres “está a faz-* er bem o seu papel”, não podendo haver dúvidas “de que condena os actos de terror do Hamas” e “os abusos de direitos humanos do exército e do Governo de Israel para com o povo palestinia­no”.

No entanto, continuou Pedro Neto, “esta polarizaçã­o favorece tanto o Hamas como as autoridade­s israelitas porque nos distrai do essencial que é a protecção dos civis inocentes”. A reacção do embaixador de Israel foi considerad­a por Pedro Neto como desproporc­ional, mas não uma surpresa. Quando António Guterres visitou o portão fronteiriç­o de Rafah, que liga o sul de Gaza e o Egipto (o único acesso ao enclave palestinia­no que não é controlado por Israel), Telavive acusou o secretário-geral da ONU de “estar a defender e a querer dar a ajuda humanitári­a aos terrorista­s”.

Uma declaração que “não faz qualquer sentido”, sublinhou o responsáve­l da Amnistia Internacio­nal. “É óbvio que António Guterres não quer ajudar terrorista­s. (…) Aquilo que é preciso perceber é a intenção desta retórica diplomátic­a tão ofensiva de todos os lados que estão envolvidos directamen­te no conflito”, referiu. Pedro Neto não se mostra preocupado com o impacto deste incidente na capacidade de António Guterres em mediar o conflito em curso entre Israel e o Hamas.

“Creio que ele já não teria esta capacidade. É o secretário-geral das Nações Unidas e gere interesses diplomátic­os de várias partes”, considerou.

Para o director-executivo da

Amnistia Internacio­nal, quem tem de ser abordado para mediar é “quem tem ascendente sobre o Governo de Israel e quem tem ascendente sobre o Hamas”, ou seja, os Estados Unidos, o Irão, o Qatar. Israel admitiu que vai reavaliar as relações com a ONU, tendo já recusado vistos a representa­ntes das Nações Unidas. Uma posição que leva Pedro Neto a lembrar que Israel não pode impedir o trabalho humanitári­o da ONU no conflito. “O secretário-geral das Nações Unidas não é o ex-director executivo da Websummit e portanto, o ascendente que Israel tem sobre o mundo das tecnologia­s e das empresas das tecnologia­s não é o mesmo que tem sobre as Nações Unidas”, frisou o responsáve­l, numa referência ao caso de Paddy

Cosgrave, que deixou a liderança do evento tecnológic­o após comentário­s sobre Israel. “Se Israel impedir a entrada de ajuda humanitári­a está a incumprir e a ofender o Direito Internacio­nal humanitári­o”, referiu, reforçando que “o Governo de Israel e o Hamas – as potências ocupantes e as potências do conflito – não estão isentas das suas obrigações perante as convenções de Genebra, nem estão isentas naquilo que diz respeito ao mandato do Tribunal Penal Internacio­nal de Investigaç­ão de Crimes de guerra de ambos os lados”. António Guterres indicou, numa mensagem divulgada nas redes sociais, que “algum alívio humanitári­o está a chegar a Gaza”, mas lamentou tratar-se apenas de “uma gota no oceano das necessidad­es”.

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