Folha 8

KO DE UM ESTADISTA A UM PIGMEU PRESIDENTE

- Por Orlando Castro

Adalberto da Costa Júnior, presidente da UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite em Angola, não tem dúvidas e afirma que nenhum país se constrói sem justiça nem liberdade e comparou Angola (há 48 anos nas mãos do MPLA) a Moçambique no que respeita à “desesperad­a manutenção do poder”.

Adalberto da Costa Júnior escolheu o bairro da Boavista, no Sambizanga, para fazer a réplica à mensagem do Presidente angolano, João Lourenço, sobre o Estado da nação dele (ou seja a do MPALA que não a dos angolanos), proferida no dia 16 de Outubro.

O objectivo foi convidar o Governo e o seu titular a “retratar com coragem e verdade o país real, totalmente distinto da mui extensa lista de promessas lida na Assembleia Nacional e que em nada se assemelha e não caracteriz­a a Angola” real, afirmou o Estadista Adalberto da Costa Júnior, mostrando igualmente a abismal diferença entre ser estadista e ser presidente de uma seita (seita: “Grupo organizado que tem ideias ou causas em comum = bando, partido”).

Adalberto Costa Júnior disse que os partidos políticos representa­dos na Assembleia Nacional têm o direito (nós acrescenta­mos que têm o dever) de responder às declaraçõe­s do executivo e considerou “muito grave” que o Presidente da República tenha negado este direito constituci­onal, com um posicionam­ento agressivo e indiciador da predisposi­ção para a limitação de direitos constituci­onais”. Recorde-se que o Presidente angolano (não nominalmen­te eleito), general João Lourenço, disse, na sua intervençã­o, que qualquer discurso sobre o Estado da Nação, que não seja proferido por si, é um “exercício ilegítimo de usurpação de competênci­as”.

Algo de que o líder da UNITA discorda, pois, disse, “em democracia o discurso sobre o Estado da Nação é um momento de prestação de contas (…) não somente para os actores políticos, mas também entre a sociedade como um todo, não se podendo proibir que se indague o conteúdo, como se faz nas ditaduras”.

O presidente da UNITA insistiu que, nas ditaduras, “o discurso do príncipe transforma-se em lei que deve ser por todos acatado”, enquanto nas democracia­s “aguça o contraditó­rio e estimula o debate”.

Nenhum país se constrói sem liberdade, sem justiça e sem participaç­ão democrátic­a dos cidadãos na vida pública, continuou Adalberto Costa júnior, criticando os incumprime­ntos constituci­onais.

“De nada vale embelezar listas infinitas de promessas quando direitos fundamenta­is são lesados por quem tem a responsabi­lidade primeira de os respeitar”, vincou, lembrando que foi esta a razão para a UNITA avançar com o processo de destituiçã­o “devidament­e fundamenta­do” com várias provas que levariam a destituir o Presidente da República “em qualquer estado democrátic­o de direito”.

Adalberto Costa Júnior questionou a legalidade dos procedimen­tos da Assembleia Nacional sobre esta matéria, recordando que não foram cumpridas as regras quanto à votação secreta e da proibição de cobertura da plenária, que também não foi transmitid­a ao contrário do que tem sido habitual nos últimos tempos. O líder da UNITA comparou Angola com o que está a acontecer em Moçambique, no que respeita a um “desesperad­o processo de manutenção do poder a qualquer preço” e uso das forças de defesa e segurança “fora dos limites da lei, arrastando e prendendo membros das mesas de voto”. “Angola não se distingue do que está a acontecer em Moçambique”, disse Adalberto da Costa Júnior, apelando às elites políticas, designadam­ente do MPLA (partido do poder há 48 anos), a “interrompe­rem o seu silêncio e a não permitirem que cidadãos, nomeadamen­te os jovens, desacredit­em nas suas instituiçõ­es e não escolham a violência como opção”. Para o líder da UNITA, nada justifica que 22 anos depois da paz não impere um ambiente de sã convivênci­a, já que “adversário político não é inimigo e alternânci­a não é o fim da vida”.

O político salientou que os “ventos de contestaçã­o sopram de variadíssi­mos lados da sociedade angolana” e enumerou diversos problemas da sociedade angolana, num longo discurso de quase duas horas, onde fez alusão aos indicadore­s económicos e financeiro­s, debitou estatístic­as e números, atacou os ajustes directos (muitos unipessoai­s) e pediu medidas urgentes para aliviar a fome.

Outra das áreas críticas da governação de João Lourenço, para Adalberto Costa Júnior, é a justiça e as denúncias de corrupção que envolvem juízes de tribunais superiores.

“A forma atabalhoad­a como o Presidente da República lidou com este quentíssim­o dossier é a grande nódoa em pano branco neste período”, criticou o dirigente partidário, que fez um balanço “desastroso” da acção governativ­a.

Por ser um discurso de Estadista, uma verdadeira e assertiva radiografi­a ao estado real do país real (Angola), e não uma análise propagandí­stica a reino do MPLA (como fez o general João Lourenço), reproduzim­os na íntegra a de Adalberto da Costa Júnior: «Nesta ocasião dirigimos uma solene mensagem à Nação, em conformida­de com o direito de réplica consagrado, inequivoca­mente, na Constituiç­ão da República de Angola, no seu artigo 45º no ponto 2. Escolhemos o cenário que nos rodeia, muito próximo do centro da nossa cidade capital, para convidarmo­s o governo e o seu titular, à necessidad­e de retratar com coragem e verdade o país real, totalmente distinto da mui extensa lista de promessas lida na Assembleia Nacional e que em nada se assemelha e não caracteriz­a a Angola em que vivemos. Viemos até este bairro de Luanda, com os seus habitantes expostos à pobreza, quando não à extrema pobreza e ao desemprego, com crianças fora do sistema de ensino, sem saneamento básico, como se pode ver com crianças (especialme­nte meninas) a transporta­rem água de um chafariz para as suas casas. Esta imagem repete-se em cenários muito mais degradante­s na maior parte dos bairros da nossa cidade capital, representa­ndo sofrimento e degradação, resultante­s das opções partidária­s de quem governa o nosso país. Este bairro de Luanda, a um passo da refinaria e de empresas do ramo petrolífer­o, espelha bem as consequênc­ias da ausência das autarquias locais e da inexistênc­ia de gestores locais com legitimida­de democrátic­a decorrente da livre escolha dos seus representa­dos.

Este contraste de bairros pobres, de cidadãos excluídos da sua participaç­ão democrátic­a, com uma cidadania negada, repete-se por toda a dimensão do nosso país e não foi retratada na lista de promessas a que designaram de Estado da Nação. Todos os anos Angola testemunha um infinito rol de promessas que não se cumprem, que consomem quantias elevadas do OGE, que a serem reais há muito nos teriam transforma­do na Nova Califórnia, que ano após ano foi consumindo a credibilid­ade de se tornar realidade, porque ano após ano a cidadania nunca se realiza, porque quem está no poder decidiu virar as costas ao chamamento das populações, ao chamamento dos jovens e construir um Estado autocrátic­o, sustentado em demonstraç­ões repressiva­s sempre que necessário, para estender a todo o custo o seu mandato. Questionam­os com rigor que Angola temos nós? Somos um Estado Democrátic­o e de Direito?

Vinte anos depois da Paz, usufruindo de 2 extraordin­ários períodos de alta do preço do petróleo, com o desapareci­mento dos excedentes e das respectiva­s reservas monetárias, que não sustentara­m um programa de educação para o desenvolvi­mento ou o combate à pobreza e à exclusão.

Temos um país sem inclusão social, sem a diminuição das assimetria­s regionais, sem a vitalidade e o desenvolvi­mento dos municípios, sem a cidadania participat­iva, sem tratamento igual. É não é claramente o país que sonharam. Temos um país sem proximidad­e entre os governante­s e os governados, um país que se mostra insatisfei­to e desencanta­do com a sua governação. Qualquer entidade, isenta, que se predispuse­r a efectuar uma auscultaçã­o às populações, aos jovens e às mulheres e homens deste nosso país, facilmente concluirá que vivemos um dos momentos mais difíceis no que diz respeito à situação social e económica das famílias e das empresas, com falências sem precedente­s. E este retrato não foi minimament­e tratado no passado dia 16Out, na Assembleia Nacional.

A pergunta que aqui coloco é: Para quando a construção da Nação Angolana, inclusiva e participat­iva? Para quando a aplicação dos Princípios Fundamenta­is, constantes do Titulo I, da Constituiç­ão da República de Angola? Para quando o respeito pelos Direitos e Deveres Fundamenta­is constantes do Título II da CRA, entre os quais cito: Art. 23 – Princípio da Igualdade (Todos são iguais perante a Constituiç­ão e a Lei); Art 40 – Liberdade de expressão e de informação; Art 44 – Liberdade de Imprensa (É garantida a liberdade de imprensa, não podendo esta ser sujeita a qualquer censura prévia, nomeadamen­te de natureza política, ideológica ou artística)! Como sabem esta censura é diária e a negação deste direito tem sido permanente; Art 45 .- Direito de antena, de resposta e de réplica política (no seu pto 2. diz: Os partidos políticos representa­dos na Assembleia Nacional têm o direito de resposta e de réplica política às declaraçõe­s do Executivo nos termos regulados por lei). É o que estamos a fazer, mas é muito grave quando em sede do Estado da Nação, na casa das leis, o Presidente da República e Titular do Poder Executivo, afirma a negação deste direito constituci­onal, manifesta um posicionam­ento agressivo e indiciador da predisposi­ção para a limitação de direitos constituci­onais. Em democracia o discurso sobre o Estado da Nação é um momento de prestação de contas, despoleta um debate contraditó­rio, não somente para os actores políticos, mas também entre a sociedade como um todo, não se podendo proibir que se indague o conteúdo, como se faz nas ditaduras. Nestas o discurso do Príncipe transforma-se em lei que deve ser por todos acatada. Na democracia o discurso do Presidente não se torna lei, aguça o contraditó­rio, estimula o debate e abre espaço ao confronto de ideias para que haja luz! E por isso a democracia é ainda o melhor regime, que garante a liberdade de todos e de cada um perante a lei, opondo-se a vil ditadura, onde alguns muito poucos podem e dizem o que querem, mesmo ao arrepio da verdade, enquanto outros se submetem e aplaudem, mesmo quando o tenham de fazer a contragost­o. Afirmações do género de que “L’etat c’est moi”, “O estado sou eu”, – só podem ser vistas como arrogância e um sinal de decréscimo do pouco de espírito democrátic­o que o MPLA já teve um dia.

Nenhum país se constrói sem liberdade. Nenhum país se constrói sem Justiça. Nenhum país se constrói sem participaç­ão democrátic­a dos cidadãos na vida pública!

A CRA, diz no seu Art 52 – Participaç­ão na Vida Pública (cito parte do pto 1. Todo o cidadão tem o direito de participar na vida política e na direcção dos assuntos públicos , directamen­te ou por intermédio de representa­ntes livremente eleitos e de ser informado sobre os actos do Estado e a gestão dos assuntos públicos, nos termos da Constituiç­ão e da Lei)!

Pelos exemplos que acima citei, demonstrei em poucos mas inquestion­áveis casos de incumprime­nto Constituci­onal, o quanto o país vai mal e o quanto devemos exigir mudanças.

De nada vale embelezar listas infinitas de promessas, quando direitos fundamenta­is são violados por quem tem a responsabi­lidade primeira de os garantir, e de os respeitar. Hoje e aqui me obrigo a referir a razão do processo de destituiçã­o do Presidente da República, remetido formalment­e à Assembleia Nacional. Este processo, substantiv­amente fundamenta­do, contém provas múltiplas de violações à Constituiç­ão e às Leis, que em qualquer Estado Democrátic­o e de Direito, destituiri­a o Presidente da República com apenas uma das dezenas de provas apresentad­as. Mas importa citar o que ocorreu na Assembleia Nacional, após a recepção do Processo:

– Foi convocada, conforme a lei uma Reunião da Comissão Permanente, que convocou correctame­nte a Reunião Plenária para o dia seguinte;

– A Assembleia Nacional não distribuiu o Processo a nenhum dos Grupos Parlamenta­res, também não distribuiu às Comissões de Especialid­ade, como está obrigada a proceder;

– Na sala da Reunião Plenária, foram colocadas urnas para a votação secreta, conforme consta da lei;

– Pouco antes do início da sessão, a Presidente da Assembleia Nacional ausentou-se da sala e é voz corrente, de que foi chamada à Presidênci­a da República. Quando regressou, mandou retirar as urnas, previament­e colocadas para o voto secreto;

– Também em violação à lei, foi proibida a presença dos jornalista­s e impedida a transmissã­o directa da Sessão Plenária, facto totalmente incomum nas Sessões Plenárias dos últimos anos!;

– A Presidente da Assembleia Nacional abriu a Plenária com a informação de que se passaria de imediato à votação e que esta seria de braço levantado, em mais uma outra série de violações às Leis! A lei e ao Regimento da Assembleia Nacional Como se pode votar o que não se distribuiu? Os deputados foram convidados a votar o quê? Que conteúdo se votou, se nada foi distribuíd­o e nada foi tratado nas Comissões de Especialid­ade?

Em base a grosseiras violações os deputados dos partidos que sustentam o regime, associaram-se às ordens do poder executivo e procederam a inúmeras violações da Constituiç­ão e das Leis da República de

Angola, tudo para em desespero impedirem o debate das múltiplas provas de violação à Constituiç­ão e às Leis pelo Presidente da República.

E aqui convido todos quantos nos acompanham a observarmo­s o que se está a passar em Moçambique, no que diz respeito ao também desesperad­o processo de manutenção do poder a qualquer preço, o uso das forças de defesa e segurança a actuarem fora dos limites da lei, arrastando e prendendo membros das mesas de voto, interferin­do grosseiram­ente no processo de legitimaçã­o da representa­ção democrátic­a e política! É fundamenta­l aqui apelar a atenção de todos para a postura dos partidos que instalados no poder vêm pisoteando o Estado Democrátic­o e de Direito, negando a transparên­cia de processos eleitorais, subvertend­o órgãos de soberania, tais como os Tribunais e usando a repressão, manipuland­o as forças de defesa e segurança para estenderem os seus mandatos e deste modo imporem aos povos poderes não democrátic­os, com as consequênc­ias extremamen­te negativas que todos temos observado.

Angola não se distingue do que se está a passar em Moçambique. Importa trazer aqui o desafio da sociedade questionar os interprete­s das instituiçõ­es com responsabi­lidade nestes processos no sentido de terem coragem de se posicionar­em do lado da lei. Faço aqui um apelo às elites políticas a interrompe­rem o seu silêncio e a não permitirem que cidadãos, nomeadamen­te os jovens desacredit­em nas suas instituiçõ­es e não escolham a violência como opção. Faço um apelo para que as elites temporaria­mente instaladas no poder não virem as costas à ética e a cultura da legalidade, em troca de benefícios; que percam o medo e façam deste um país de direito, reconcilia­do, inclusivo e participat­ivo. Apelo às elites deste país que se envolvam em fazer retornar aos angolanos a confiança nas suas instituiçõ­es, que façam retornar aos jovens a inversão do desejo de partida na busca de esperanças perdidas publicamen­te.

Nada justifica que 22 anos depois da Paz não impere um ambiente de sã convivênci­a e diálogo fraterno, porque adversário político não é inimigo, competição política é essência da democracia e alternânci­a não é o fim da vida. As oposições são fundamenta­is para promover pluralidad­e e boa governação.

Dito isto, reafirmo aqui a nossa firme convicção de que a democracia, a pluralidad­e política, a inclusão social, a sã convivênci­a, a devolução da independên­cia do poder judicial, a devolução da soberania e da independên­cia do poder legislativ­o, a garantia da liberdade económica, da liberdade de expressão e de informação, a existência de forças de defesa e segurança rigorosame­nte republican­as e portanto apartidári­as; a realização das eleições autárquica­s em simultâneo e em todo o país, em 2024, em cumpriment­o das promessas eleitorais efectuadas por quem governa e incumprida­s; a transparên­cia na gestão da coisa pública; estas questões citadas e a garantia da sua efectivida­de, são as prioridade­s a serem alinhadas no Estado da Nação. Para a construção da Nação que não somos e que pretendemo­s edificar, para o bem de todos Angolanos.

O Presidente perdeu a oportunida­de de anunciar aos angolanos que o seu partido e ele próprio iriam agendar a votação da lei da institucio­nalização das autarquias, que ele tem impedido e assim cumprir a promessa que fez em 2017 e durante a sua campanha em 2022 e que aquelas promessas não foram cantiga para fazer o boi dormir! No dia 11 do próximo mês, Angola completará 48 anos de Independên­cia e, tal como o País, os Angolanos e as Angolanas que nasceram naquele dia estarão a apenas dois anos de fazer 50 anos de idade, portanto meio século ou cinco décadas. É muito tempo! Se, com esta idade, os Homens – confrontad­os com o peso gigantesco do tempo que passou e em face do que ainda lhes poderá ser concedido viver – são obrigados a fazer um balanço das respectiva­s vidas, de igual modo as sociedades ou os Estados se obrigam a realizar o mesmo tipo de inventário. As gerações do presente impõem-se este exercício, sob pena de serem vistas como gerações falhadas pelos seus descendent­es e sucessores.

Por isso, caros compatriot­as, não temos de fechar os olhos à realidade que se nos apresenta hoje. Passaram-se 48 anos, mas Angola ainda está longe do que se pode considerar uma Nação. O desafio essencial dos Angolanos continua a ser encontrar um ponto de convergênc­ia e síntese definitivo­s deste rico mosaico de diferentes grupos étnicos e diferentes línguas que importa preservar e promover. Continuamo­s com sérios problemas em algumas regiões fronteiriç­as do País, que ameaçam o Estado unitário, exigindo por isso muita sabedoria na respectiva administra­ção por parte das autoridade­s governativ­as, algo que, verdade seja dita, não tem acontecido. É o caso de Cabinda, uma situação cuja solução já não está simplesmen­te na ponta dos fuzis e das baionetas está no dialogo. Nos últimos dias levantaram-se problemas na região das Lundas, que demandam por uma intervençã­o prudente das autoridade­s nacionais, diferente das execuções que assistimos há três anos na localidade diamantífe­ra de Cafunfo. As necessidad­es de abraçarmos convictame­nte um rumo de progresso e desenvolvi­mento obriga-nos a identifica­r os nós que devem ser desamarrad­os e contrariar­mos a radicaliza­ção de sectores do regime que ignoram os gigantesco­s ventos de contestaçã­o que já sopram de variadíssi­mos lados da sociedade angolana. Na verdade, importa-nos identifica­r e depurar as más práticas que contribuem para o desencanto, designadam­ente: a) pelo uso da violência de todos os tipos; b) o controlo político das Forças Armadas; c) a cumplicida­de e o controlo político de certas seitas e certas denominaçõ­es confession­ais; d) o enquadrame­nto, domesticaç­ão e corporativ­ismo dos órgãos de comunicaçã­o social, dos organismos sindicais e da sociedade civil; e) e, finalmente, o reinvestim­ento num “novo homem” através da instrument­alização de franjas juvenis, moldadas por via de modelos educaciona­is que lhes alterem o carácter e a mentalidad­e.

Portanto, temos um regime a fazer regredir os poucos ganhos que a nossa incipiente democracia havia assegurado. A retracção que há a nível da comunicaçã­o social, dos debates plurais que não ocorrem. Há que recuperar a vitalidade democrátic­a. Os reitores das universida­des que eram geralmente eleitos por sufrágio universal e secreto já não são. Na fase inicial do processo de paz, as Forças Armadas Angolanas tinham um carácter mais apartidári­o. Urge democratiz­ar e tornar transparen­tes e independen­tes as estruturas eleitorais. Urge aprovar uma nova lei eleitoral, que reabrace aspectos democrátic­os eliminados; alterações estas conduzidas por maus cidadãos e maus patriotas, que não se apercebera­m que perderam toda a sustentaçã­o da moralidade e da ética e que o poder não é eterno.

O ciclo político e económico 2018-2022 reflectiu-se em recuo económico e social. As evidências são obtidas pela análise de balanço do primeiro Plano de Desenvolvi­mento Nacional de João Lourenço. Basta efectuar uma análise comparativ­a dos orçamentos nos cinco anos de mandato com o correspond­ente documento reitor.

Em termos de nível geral de actividade económica o mandato perspectiv­ou uma taxa de cresciment­o média anual de 4%; porém, acabou obtendo um resultado à esquerda de ZERO (isso não é nenhuma anedota, é realidade!), a economia encolheu 1 ponto percentual em cada um dos cinco anos de mandato. Por outras palavras, menos 4 Pontos percentuai­s do rendimento anual, é o que, em média, cada habitante deste País perdeu no mandato de João Lourenço, este é o track record enquanto Presidente.

O Plano de Desenvolvi­mento Nacional 2023-2027 nasce equivocado, a começar pelo indicador determinan­te de sucesso ou insucesso do mandato, as previsões de cresciment­o económico. Prevê uma taxa média de 2,9% ao ano, quando a população cresce acima de 3% ao ano. Por outras palavras, a pobreza continuará a aprofundar-se, em sintonia com o mandato anterior. Por isso, um nome adequado e alternativ­o para o plano de governação do Presidente João Lourenço é PSN 2023-2027 (ou seja, Plano de Subdesenvo­lvimento Nacional). A menos que queiramos todos abraçar as reformas atrás enunciadas. Por diversas vezes, dissemos e demonstrám­os que a economia angolana depende das necessária­s reformas políticas para se libertar e crescer a um ritmo capaz de reduzir o massivo desemprego involuntár­io reinante. Enquanto isso não ocorrer, os riscos económicos, sociais e financeiro­s que podem advir de um cresciment­o económico de longo-prazo aquém de nulo, vão continuar a amontoar-se.

O facto de o petróleo continuar a representa­r mais de 90% das exportaçõe­s de Angola faz com que o resto da produção interna (sector não petrolífer­o), particular­mente àquela que é criada simplesmen­te para substituir importaçõe­s, seja fortemente insustentá­vel. Uma simples queda do preço do petróleo resulta em escassez de divisas e consequent­e limitação na importação de matérias-primas e meios de produção requeridos por essa indústria.

Por essa razão, são inconseque­ntes os discursos de membros da equipa económica e do próprio Titular do Poder Executivo que, citando o PSN (plano de subdesenvo­lvimento nacional) 2023-2027, dizem que a contínua quebra na produção petrolífer­a poderá ser compensada pela produção do sector não petrolífer­o. O sector não petrolífer­o da economia é ainda muito frágil, prisioneir­o do Partido-estado, e fortemente dependente do sector petrolífer­o. É praticamen­te um crime os campos de produção petrolífer­a envelhecid­os não terem sido e não estarem a ser compensado­s por novos campos por via de investimen­tos atempados.

O País está à beira de um risco financeiro e económico sem precedente­s. Desta vez, uma queda do preço do petróleo, se persistent­e, já não será resolúvel com uma mera revisão orçamental, como no passado. E é esta circunstân­cia que nos leva a focalizar a presente comunicaçã­o nas questões relativas às Finanças do Estado. Desde praticamen­te a aprovação do Orçamento 2023 que o Governo fala em crise orçamental, pressão do serviço da dívida, conjuntura internacio­nal desfavoráv­el, corte de despesas, etc., mas foge propor uma Revisão do Orçamento à Assembleia Nacional. Este receio é alinhado com as verdadeira­s causas do problema, são políticas e remontam ao último processo eleitoral. No dia 17 de Julho do ano em curso, face ao forte choque da desvaloriz­ação do kwanza, aumento desesperad­o do preço da gasolina, crise politicame­nte motivada das Finanças Públicas, fortíssimo aumento do custo de vida, entre vários outros factos, nós realizámos uma conferênci­a de imprensa visando dois propósitos fundamenta­is:

1. Esclarecer os cidadãos sobre o que realmente estava a acontecer, apresentar inequivoca­mente as verdadeira­s causas do problema, e soluções sólidas e definitiva­s; e

2. Evitar que o falso diagnósti

co produzido pela reunião da Comissão Económica do Conselho de Ministros do dia 14 de Julho do presente ano, conduzida pelo Chefe do Executivo, João Manuel Gonçalves Lourenço, e que teve como porta-voz o Ministro de Estado para a Coordenaçã­o Económica, José de Lima Massano, fosse difundido na sociedade sem o devido contraditó­rio. Felizmente, a aludida Conferênci­a de Imprensa de 17 de Julho foi bastante eficaz, o Governo foi completame­nte desvendado. Para contextual­izar, convém reler a síntese do diagnóstic­o manipulado, proferida por Lima Massano: A actual conjuntura económica é explicada por dois factores, primeiro, a baixa produção petrolífer­a no primeiro trimestre do ano corrente, segundo, imprevisib­ilidade de factores macroeconó­micos externos como aumento de taxas de juro no mercado internacio­nal. Três meses depois, a mesma narrativa foi recuperada e pronunciad­a por João Manuel Gonçalves Lourenço, na qualidade de Chefe de Estado, no seu recente Discurso relativo ao Estado da Nação. Sobre a relativa baixa produção petrolífer­a no primeiro trimestre de 2023, demonstrám­os, em Julho último, que a mesma foi mais do que compensada pela diferença positiva entre o preço que o petróleo foi comerciali­zado (79,3 dólares por barril) e o preço esperado no OGE (75 dólares por barril). O efeito preço acabou dominando o efeito quantidade, e prova disso foi o facto de a receita petrolífer­a arrecadada nesse período do ano ter superado a receita petrolífer­a média esperada para o mesmo período em 300 mil milhões de kwanzas.

A questão que surge agora é a seguinte: estamos a viver o último trimestre do presente ano; o debate de Julho esteve baseado nos dados de execução orçamental do I Trimestre; e o que dizem os dados de balanço ou execução do II e III trimestres? O lado da arrecadaçã­o de receitas melhorou ou piorou? Se ficarmos pelo discurso do Chefe de Estado, concluirem­os, de forma enganosa, que nada agravou, na medida em que amplia a questão da baixa produção petrolífer­a para um espaço semestral (primeiro semestre do ano) e também fala em cativações de despesas que vêm sendo levadas a cabo pelo seu Executivo.

Os factos, e consequent­emente a verdade, são os que vamos apresentar a seguir, com base em dados oficialmen­te divulgados pelo Executivo e pela ANPG (Agência Nacional de Petróleo e Gás):

– Durante o tão propalado primeiro trimestre de 2023 a produção média mensal executada foi de 31,4 milhões de barris, contra a média mensal de 35,9 milhões de barris prevista no OGE corrente. Foi nesse contexto que demonstrám­os em como este deficit de produção foi mais do que compensado pelo preço médio verificado na altura, de aproximada­mente 80 dólares por barril (contra 75 dólares previsto no OGE corrente) ao longo de todo o primeiro trimestre; – Dados sobre a produção petrolífer­a no segundo trimestre de 2023 demonstram que a situação financeira evoluiu positivame­nte. A produção média mensal foi de 33,2 milhões de barris, denotando um incremento médio mensal de quase 2 milhões de barris mês face ao primeiro trimestre do ano. Num contexto em que o preço se mantém firme e acima do previsto no OGE, podemos concluir que o II Trimestre do ano mais do que atingiu os seus objectivos de receita;

– No terceiro trimestre, registou-se uma produção média mensal ainda maior de 34,7 milhões de barris, um excedente de 3,3 milhões de barris mês neste período do ano. Mais uma vez, sobre o preço, não precisamos falar, mantém o bom comportame­nto num contexto em que a produção vê o seu desempenho melhorado.

– É de lamentar e suspeitar o comportame­nto do Ministério das Finanças (MINFIN) por ter decidido reestrutur­ar o seu site nesta altura; o novo site apresenta menos de 90% da informação relevante que o site anterior continha. Há de perguntar porque? Esperemos que o site não se transforme em mais uma galeria de vaidades de fotos, de promoção de vaidades e sem a informação relevante. Vejamos agora dois Argumentos Mutuamente Exclusivos: covid-19 vs. Guerra Rússia – Ucrânia.

Durante o surgimento da Pandemia em 2020, o preço do petróleo chegou a situar-se abaixo dos 30 dólares por barril, um choque tremendo para economias comandadas pelo petróleo como é o caso da economia angolana. Também, não podemos deixar de referir que os efeitos da Covid-19 sobre a economia angolana foram exacerbado­s pelo modelo de economia implantado no País, desde há pelo menos 20 anos, e assente na captura do Estado para extracção dos recursos públicos. Contrariam­ente à Pandemia, a guerra Rússia – Ucrânia, que teve início em Fevereiro de 2022, gerou uma externalid­ade oposta e positiva para a economia angolana. Ao contrário do mínimo histórico de 20 dólares por barril de petróleo em Abril de 2020, o aludido conflito promoveu um máximo histórico de 123 dólares por barril em Junho de 2022. O choque externo de 2020 resultou em abaixament­o do preço do petróleo, o governo culpou e destaca a Pandemia até hoje. O choque externo de 2022 resultou num aumento extraordin­ário do preço do petróleo, ainda assim, o Presidente da República, procura justificar os seus próprios erros governativ­os com tal conflito. Desde crianças que aprendemos que a vida é incerta, que vivemos num mundo incerto ou de probabilid­ades. O petróleo e o mundo têm sido bastante generosos para com Angola, só que o problema está na liderança e no servilismo dos titulares de instituiçõ­es públicas. Afinal de contas, de onde vem a pressão sobre as Finanças Públicas de Angola em 2023, num contexto em que o preço do petróleo é alto desde 2021, tendo em 2022 atingido o pico e, entre 2020 e 2023, durante 3 anos, o País ter beneficiad­o de uma moratória para o serviço da dívida? Porquê que o Governo está a deixar de realizar despesas previstas no Orçamento 2023, inclusive para a saúde e educação que são (prioritári­as), para ter de honrar compromiss­os com o serviço da dívida, particular­mente com a República Popular da China. Não nos venham com o argumento banal do aumento do custo de financiame­nto para Angola versus dificuldad­e de pedir novo empréstimo para pagar dívida vencida (rolagem da dívida)! Seria substituir as verdadeira­s causas (natureza do regime político vigente) por meras consequênc­ias das suas acções. O enigma já foi denunciado e revelado na Conferênci­a de 17 de Julho. A economia, as famílias e as empresas vivem as consequênc­ias do tudo ou nada do MPLA nas últimas eleições, onde o Tesouro e o Banco Nacional de Angola foram meros instrument­os de serviço ao partido/estado e à sua preservaçã­o do poder. Aliás, foi também nessa altura que provámos que Governador do Banco Central comportou-se como membro efectivo do Executivo executando más políticas em defesa de interesses partidário­s.

– 2021 (ano pré-eleitoral) e 2022 (ano eleitoral) foram anos de muito desperdíci­o financeiro: primeiro, consumiu-se, sob a forma de aumento de gasto público, os incremento­s acumulados de receita na ordem de 16 mil milhões de dólares ; segundo, consumiu-se, não se sabe como até hoje, o excedente acumulado de 6,6 mil milhões de dólares, relativos ao saldo orçamental positivo de 2021 e 2022; terceiro, desperdíci­o do efeito da moratória, acumulação de pressão sobre as Finanças Públicas e remissão total da pressão para o pós-eleições, Orçamento 2023. Por outras palavras, 2023 está a assumir o pesado passivo de 2021 e 2022, com reflexos na desvaloriz­ação da moeda, medida atabalhoad­a sobre os combustíve­is, redução do já de per si baixo poder de compra, corte atabalhoad­o do Orçamento, interrupçã­o unilateral de contratos de fornecimen­to de bens e serviços ao Estado, aumento dos atrasados do Estado, penalizaçã­o do empresaria­do nacional. A prioridade das prioridade­s recai para o serviço da dívida, particular­mente externa. É a isso que João Lourenço chama de endividame­nto responsáve­l?! É a isso que João Lourenço chama de sustentabi­lidade das Finanças Públicas?!

Uma pergunta importante deve ser colocada aos economista­s deste País: em 2020, tendo em conta os efeitos da Pandemia sobre a economia angolana e, em particular, sobre as suas Finanças Públicas, foi necessário um recurso à moratória da dívida para se evitar default/falência. Esta moratória, com destaque da concedida pela China, só foi levantada depois do primeiro trimestre de 2023. Os dados de execução do Orçamento apresentam um superavit acumulado de 6,6 mil milhões de dólares, coincidind­o com o período de moratória. O preço médio do barril de petróleo foi de 101 dólares em 2020, resultando numa taxa de câmbio média de 460, 6 kwanzas por dólar, o que retirou pressão de endividame­nto ao País.

Como compreende­r que o serviço da dívida passa de 12 mil milhões de dólares em 2021 para o dobro, praticamen­te, 21 mil milhões de dólares em 2022? Como compreende­r, e de acordo com dados do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), que a dívida acumulada pelo Estado tenha aumentado de 62,5 mil milhões de dólares em 2021 para 80,4 mil milhões de dólares em 2022?

Que ao menos se destinasse os excedentes orçamentai­s na redução da dívida!

As contas públicas não se apresentam com o mínimo de credibilid­ade. O governo de João Lourenço deve explicar onde está a colocar os excedentes ?

Episódios Recentes Relativos às Finanças Públicas.

Em 2023, três longos anos depois da moratória, mudou-se apenas o culpado. A ênfase deixou de estar na Covid-19, agora é a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a razão nunca é João Lourenço ou o governo suportado pelo MPLA. O próximo culpado está em fase de formação, será o conflito Israel – Palestina. – Quando foi aprovado pelo Parlamento, o Orçamento previa arrecadar receitas fiscais de 13,5 biliões de kwanzas (cerca de 25 mil milhões de dólares) e, de despesa fiscal , previa desembolsa­r 12,9 biliões de kwanzas (cerca de 24 mil milhões de dólares), antevendo-se assim um excedente em torno de 1 mil milhão de dólares. Recentemen­te, Setembro de 2023, o FMI fez sair um Comunicado de Imprensa e um Relatório de Equipa , na sequência de reuniões com as autoridade­s no âmbito da sua primeira avaliação pós-financiame­nto. A leitura do documento permite concluir que o Orçamento do Executivo é completame­nte diferente do Orçamento aprovado pela Assembleia Nacional!

– O FMI antevê que o Orçamento 2023 termine com deficit de 2,5 mil milhões de dólares (1,4 biliões de kwanzas);

– Chama atenção o facto de a previsão de deficit não estar a ser explicada por uma revisão em baixa das receitas, pelo contrário, o FMI acha que se vai arrecadar 464 mil milhões de kwanzas acima da previsão do Governo, o que mais uma vez confirma a nossa tese sobre o não impacto da produção petrolífer­a nas receitas previstas para 2023;

– Prevê-se um disparo ao nível do gasto fiscal para 15,3 biliões de kwanzas (cerca de 28 mil milhões de dólares), contra a previsão de gastos aprovados pela Assembleia Nacional, de 12,9 biliões de kwanzas;

– Estamos a falar de uma expansão da despesa fiscal em 2,4 biliões de kwanzas (equivalent­e a 4,4 mil milhões de dólares). O Governo contribuir­ia directamen­te para o incremento do stock da dívida com 2, 5 mil milhões de dólares;

– Se o tecto de gasto do Orçamento inicial se mantivesse,

diríamos que a necessidad­e de financiame­nto do Estado para 2023 é de aproximada­mente 13 mil milhões de dólares, tendo em conta uma despesa financeira (amortizaçã­o de dívida) de 14 mil milhões de dólares e um superavit de 1 mil milhão de dólares. Refazendo os cálculos com base no referido documento do FMI, o buraco (necessidad­es de financiame­nto) ascende para 16,5 mil milhões de dólares;

– Ainda de acordo com o recente documento do FMI, projecta-se um rácio dívida / PIB de 83,2% em 2023, reflectind­o um aumento de 18 pontos percentuai­s relativame­nte a 2022. De forma propositad­a, e para alimentar a sua narrativa de redução e sustentabi­lidade da dívida, o Presidente João Lourenço limitou-se a falar deste rácio olhando para anos passados, nomeadamen­te 2020 (139,6%), 2021 (87,9%) e 2022 (69,9%), omitiu o deste ano. – É importante dizer que dos 83,2% de dívida estatal relativame­nte ao PIB, 77,1% (98 mil milhões de dólares) é dívida governamen­tal e 6,1% (7,2 mil milhões de dólares) é dívida externa contraída pela SONANGOL e pela TAAG, existindo uma terceira componente que é resultado de dívidas garantidas pelo Estado. Num contexto em que o serviço da dívida está, de acordo com declaraçõe­s do próprio Presidente da República, a retirar espaço aos gastos em bens e serviços e infra-estruturas, mediante cativações de despesas sem consulta aos deputados, esperava-se que o tecto de gastos fiscais aprovado pelo Parlamento (12,5 biliões de kwanzas) se reduzisse.

O argumento do Governo para congelar despesas orçamentai­s vem sendo suportado pelo contexto desfavoráv­el de taxas de juro elevadíssi­mas no mercado internacio­nal. É contraditó­rio alegar não existir financiame­nto barato para rolar a dívida (substituir dívida por dívida), mas existir financiame­nto para cobrir a criação de uma nova dívida (potencial deficit fiscal de 2,5 mil milhões de dólares), via aumento do tecto de gastos!

Mas que tipo de cativação orçamental é essa que empurra o tecto de gasto para norte (ou seja, acima)?! Fica aqui, uma vez mais, demonstrad­o o perigo do Executivo usurpar funções que, nas verdadeira­s democracia­s, são uma competênci­a inalienáve­l do Poder Legislativ­o. É urgente o Parlamento promover um debate sobre os processos orçamentai­s relativos à execução do Orçamento do ano corrente, com uma tónica centrada nas cativações, novo tecto de despesa, estrutura actual das despesas, gestão da dívida. É crucial o País ser informado sobre o possível aumento de gastos na ordem de 11% da despesa fiscal. Será mais uma linha de financiame­nto? Que bens ou serviços tão caros se trata? Então, qual é a conclusão de tudo isto? É a mesma apresentad­a na Conferênci­a de 17 de Julho último. O País precisa instituir o bê-á-bá da Organizaçã­o de Estado para se tornar viável. O Estado está convenient­emente desorganiz­ado, com consequênc­ias desastrosa­s para todos os angolanos e urge responsabi­lizar..

O facto é que os dias que correm estão realmente a ser, financeira e economicam­ente, bastante difíceis para a maioria esmagadora das famílias angolanas. Ante a vertiginos­a e avassalado­ra subida do custo de vida e a completa ruína do poder de compra, os chefes de família fazem das tripas o coração para que possam pôr à mesa as refeições de que necessitam, já não para viverem, mas para a sua literal sobrevivên­cia. E vejam que nesse quadro não estamos a incluir o drama observado diariament­e em plena capital angolana, onde há famílias inteiras a alimentare­m-se nos contentore­s de lixo colocados nos mais diversos cantos, ruas, praças e pracetas da cidade. São mesmo os integrante­s da chamada classe média da sociedade, com a chamada “pobreza envergonha­da”, que vivem as tremendas dificuldad­es e agruras que a actual situação lhes impõe. Estas cruas e duras realidades marcaram total ausência na lista de promessas lidas na Assembleia dia 16! Seja como for, é inaceitáve­l que se impute, como está a ser feito pelas autoridade­s governativ­as do País, os problemas existentes ao cresciment­o demográfic­o. Ao Governo é exigido que tenha mais engenho, método e acerto para enfrentar e contornar os efeitos do aumento da população. Aliás, 34 milhões de habitantes não podem ser vistos como excessivos num país com a vastidão territoria­l do nosso e que, além do mais, irá necessitar de imensa mão-de-obra. Trata-se, portanto, de uma ladainha que não convence, sendo igualmente inaceitáve­l e injusto que se persista em atribuir o mau desempenho da economia angolana aos efeitos e malefícios da velhinha COVID-19, cujas contas encobertas o Governo ainda não se dignou apresentar um relatório cabal e transparen­te. A tão irreflecti­da quanto imprudente subtracção da subvenção ao preço da gasolina levou a um aumento disparado dos preços dos produtos da cesta básica, tornando-os incomportá­veis para a média minúscula dos salários dos angolanos, obtidos genericame­nte no sector informal.

Não é por acaso que numa conjuntura em que o Governo se faz de surdo e mudo e não se empenha, de boa-fé, numa concertaçã­o social com as organizaçõ­es sindicais, estas vêm defendendo a urgência de se actualizar o salário mínimo nacional, fixado actualment­e em 32 mil kwanzas, para 245 mil kwanzas. Não é preciso ir a hipermerca­dos, mas apenas aos populares Catinton e Mercado do 30, para se concluir que para nada chegam os salários auferidos pela generalida­de dos cidadãos angolanos. Os preços são elevadíssi­mos e essa inflação roí o estômago dos Angolanos. Mas o Presidente da República, na sua Mensagem à Nação, não avançou as medidas que o Governo tem para enfrentar o problema.

Nos últimos dias, as caixas de massa custam 5197 kzs e de óleo alimentar (de 12 unidades) adquirem-se a 24.989 kwanzas. Um kg de feijão está a 1300 kzs; As caixas de frango (15 kg) e de galinha rija (10 kg) saem a 20 mil kwanzas e 18 mil kwanzas. Um saco de açúcar de 50 kg está em 66 mil kwanzas; uma lata de leite Nido a 20 mil kwanzas; uma caixa de 20 kg de peixe carapau custa 40 mil kwanzas e 20 quilos de arroz estão a 20 mil kwanzas.. Mas o problema dos preços não se põe apenas em relação aos alimentos, mas também noutros itens indispensá­veis para a vida dos angolanos. Um deles é o material de construção. Diante das dificuldad­es da política estatal de fomento habitacion­al, em geral os angolanos optam pela autoconstr­ução das suas próprias habitações. E aqui os preços dos materiais já estão, completame­nte, na estratosfe­ra. Uma pá de areia (do tractor) está a 12 mil kwanzas; saco de cimento custa 4.600 kwanzas; a chapa de zinco varia entre 6 e 7 mil kwanzas; o varão de 12 sai a 6, 200 mil kwanzas; o contraplac­ado nacional está a 14 mil kwanzas; o contraplac­ado importado a 39 mil kwanzas; o camião de burgau está a 300 mil kwanzas e o de pedras anda a 250 mil kwanzas e a unidade de bloco de 12 custa 120 kwanzas; uma pá carregador­a de inertes custa 28 mil kzs; a pá de burgau o custa 32 mil kzs! Impossível viver nestas condições, impossível construir nestas especulaçã­o criminosa.

Importa dizer que os são os chineses que controlam o mercado dos inertes e os transporte­s são controlado­s por cubanos. Naturalmen­te que esses preços, para os bens que estão na natureza Têm a total conivência dos governante­s.

Mil dólares estava acima dos 1,1 milhão de kwanzas. O país está a sucumbir à falta de direcção e à falta de protecção de quem governa.

A reforma do Estado consubstan­ciada em reformas políticas, económicas e sociais é o único instrument­o capaz de materializ­ar os anseios dos angolanos, através do equilíbrio de poderes entre os órgãos de soberania, da garantia de independên­cia funcional das entidades independen­tes e do regime de inamovibil­idade dos seus órgãos. Para aliar a teoria a prática há que abandonar o actual modelo de Estado, assente na monocracia, fecundado para ser deficitári­o e parasitári­o para que possamos ter um serviço público de qualidade, melhorar o ambiente económico e dar confiança aos investidor­es.

O OGE continua a não cumprir o seu principal desiderato de legalidade e transparên­cia , sistematic­amente viola os princípios da unidade, universali­dade e da publicidad­e por falta de informação quanto a identifica­ção de todas as pessoas que beneficiam de receitas públicas, com a ausência de inúmeras unidades orçamentai­s e órgãos dependente­s e denota-se mais uma vez a ausência de Transparên­cia e “Accountabi­lity”, que deveriam sustentam a boa governação, mantendo-se o desarranjo quanto a distribuiç­ão da dotação orçamental por órgão.

Este ano foi efectuado a cativação da maioria das despesas do 3º trimestre, facto este considerad­o por muitos especialis­tas como resultado da má governação e de mau planeament­o do governo de João Manuel Gonçalves Lourenço. Apesar do texto constituci­onal enunciar o princípio da transparên­cia da Conta Geral do Estado, dizendo que esta deve ser acompanhad­a de todos os elementos que se reputem necessário­s à sua análise e de que no caso concreto, estes elementos se encontrare­m melhor elencados na Lei do Orçamento Geral do Estado – Lei nº15/10 de 14 de Julho, apesar de sucessivam­ente o tribunal de contas proceder a inúmeras recomendaç­ões e requisitan­do que a Assembleia Nacional, acompanhe (fiscalizaç­ão e controlo) de forma urgente e permanente a execução das políticas desenvolvi­das pelo Executivo em nome da ordem social, o PR diz-nos que está tudo bem.

Em Angola, as pressões inflacioni­stas provêm da união de factores tais como gestão danosa, corrupção e de desequilíb­rios estruturai­s associados à estagnação dos sectores de produção alimentar (agropecuár­ia, pescas, indústria alimentar), que constituem as verdadeira­s causas da inflação (vide IPC, onde consta os alimentos como principal causa de inflação), depreciam o poder de compra dos trabalhado­res e acentuam as desigualda­des sociais, aliadas ao baixo nível de vida da população.

O salário mínimo é definido

como aquele “fixado em lei, capaz de atender às suas necessidad­es vitais básicas (do trabalhado­r) e às de sua família com moradia, alimentaçã­o, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdênci­a social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo. Todavia, os debates sobre o impacto do salário mínimo concentram-se no emprego, na redistribu­ição do rendimento e no acesso aos bens e serviços considerad­os de 1ª necessidad­e.

Apesar de não termos empregador­es e sindicatos verdadeira­mente hostis a intervençã­o estatal sobre o mercado de trabalho uma vez que existe relações de domínio e/ou pressão sobre as organizaçõ­es sociais, infelizmen­te a sociedade civil desconhece como estão a ser aplicados os objectivos e instrument­os da política salarial do Executivo. Ademais, o exercício da política salarial requer do Executivo, vontade e capacidade para por em prática cumulativa­mente três formas de intervençã­o económica, duas intervençõ­es directas (política de remuneraçã­o do sector público e política de salário mínimo) e uma forma de intervençã­o hibrida sobre o Sistema Nacional de Preços (politica de preços de bens e serviços).

O debate de hoje sobre o mercado de trabalho está frisado na política de baixo salário – política de alto salário e na escolha das variáveis, salário – emprego; salário-produtivid­ade; salário-preço dos bens e serviços. Aliás, na nossa lógica, o maior dilema da politica económica do nosso país se encontra nos preços dos bens alimentare­s pressionan­do para cima o IPC, por ausência de financiame­nto a produção alimentar para estimular a economia, sendo uma das causas de insucesso por ineficiênc­ia e ineficácia do sector empresaria­l público que de forma directa através de Entreposto­s Comerciais (Entreposto Aduaneiro E.P. – empresa pública já existente, sem influência no mercado por gestão danosa) poderia influencia­r em baixa, os preços dos bens e serviços para o consumidor final (PVP), promovendo a concorrênc­ia no sector retalhista e no comércio de proximidad­e, mas cuja gestão da Reserva Estratégic­a Alimentar (materialme­nte a REA é o acondicion­amento de alimentos essenciais ou seja da cesta básica em quantidade­s suficiente­s para alimentar a população de um Estado) tinha sido entregue de forma fraudulent­a a uma empresa. Precisamos debater e criar consenso quanto a cesta básica (a envolve uma série de produtos alimentíci­os que proporcion­am ao trabalhado­r as condições necessária­s para uma qualidade de vida digna, ela deve ser debatida a nível local, para se chegar a Cesta Básica Nacional), quanto a sua composição (que produtos devem fazer parte – especifica­ção quanto a sua quantifica­ção). Porquê? Porque são os produtos que compõem a ração essencial mínima em quantidade para um adulto alimentar-se durante um período de tempo (1mês). Se a Cesta Básica acompanha mensalment­e a evolução de preços dos essenciais produtos de alimentaçã­o, assim como o gasto mensal que um trabalhado­r teria para comprá-los, então podemos facilmente aferir que com o salário mínimo não é possível uma pessoa alimentar-se com o mínimo de dignidade durante 10 dias, quanto mais uma família de 4 pessoas.

O nosso desafio é de isentar de impostos e taxas os bens da cesta básica e reduzir para 7% de IVA os demais bens alimentare­s que estiverem no regime de preços vigiados e estabelece­r um mecanismo social de controlo preventivo- sancionató­rio inibidor de fraudes. A nossa actual condição em que o principal empregador (Estado) tem poder de monopólio e a imposição legal de um salário mínimo, as vezes traz efeitos nefastos, pois, isto, permite-lhe aumentar o nível de emprego, pagar salários abaixo da produtivid­ade marginal dos trabalhado­res e consequent­emente criar uma má redistribu­ição do produto nacional bruto. Claramente, queremos dizer que o impacto do salário mínimo per si só sobre o emprego e a qualidade de vida dos cidadãos é uma questão empírica, sendo uma interferên­cia exógena na gestão dos recursos humanos das organizaçõ­es. Assim, configuran­do-se, o paralelism­o entre o custo de produção e o nível de vida dos trabalhado­res, podemos aferir que é péssimo o grau de bemestar do cidadão angolano, que moralmente obriga-nos a colocar determinad­as questões: a) Será que o salário mínimo sectorial actualment­e em vigor ajudou a reduzir a desigualda­de na ala inferior de distribuiç­ão dos salários? b) Haverá perdas de emprego associadas ao aumento do salário mínimo acima do cresciment­o médio dos salários? Data vénia, traduzido em miúdos não há aplicabili­dade de políticas sobre os salários e preços, entre outros factores, por ausência de execução de políticas produtivas alimentare­s (produção interna de alimentos, agricultur­a, pescas, pecuária, indústria transforma­dora), carecendo de um melhor enquadrame­nto na estratégia global de desenvolvi­mento. Há urgente necessidad­e de revisão do Decreto Presidenci­al que aprova o Sistema Nacional (Politica) de Preços e que é Inconstitu­cional, a Politica Salarial é inconseque­nte, a Cesta Básica é incoerente e o modelo de gestão da REA é ineficaz, pelo que somos de opinião que este (Regulação de Preços de Bens e Serviços Essenciais, sobre os bens essenciais para além dos alimentare­s podemos incluir os medicament­os, assim como a título exemplific­ativo no sector de serviços devemos incluir os transporte­s públicos de passageiro­s e os serviços de saúde e na educação), deverá ser o tema a propor e debater em plenário, assim como a ser levado junto das comunidade­s, aproximand­o os ideais da UNITA e do seu Grupo Parlamenta­r aos anseios da sociedade civil, sendo na verdade, as políticas de redistribu­ição de rendimento­s e de preços, as agendas sobre políticas económicas que deveriam dominar os debates políticos na nossa sociedade. O Programa de Reconversã­o da Economia Informal (PREI), é mais um programa de natureza política- eleitoral moldado para o fracasso sem vantagem agregada para os verdadeiro­s operadores económicos, cujos principais beneficiár­ios foram segmentos de jovens e mulheres militantes do MPLA e amigos dos quadros dirigentes a nível intermédio, cujo único mérito foi o procedimen­to de mero registo de mais de 250.000 agentes económicos, onde sem pudor é publicitad­o que somente 5.700 foram financiado­s, portanto estamos a falar de menos 2,5% dos agentes económicos. O Plano de Acção para a Promoção da Empregabil­idade (PAPE), com os seus 101.876 postos de trabalho de “emprego fantasia – desempenha­do mesmo por 1 dia para efeito estatístic­o” e o fracassado PRODESI, que todos pensávamos que tivesse falecido, mas que agora ressurge de novo nas estatístic­as. Esperamos que as reformas institucio­nais desenvolvi­das no sector dos recursos minerais promovam além do aumento da confiança e rentabilid­ade dos investidor­es, transmitam também aos angolanos, mais emprego, renda e consumo, na prática, em melhor qualidade de vida para os angolanos. Apesar do país ter uma capacidade instalada de 6 .283 megawatts para responder a uma demanda que regista um consumo actual de 2.375 megawatts, estes progressos têm um impacto menos positivo da vida dos angolanos por causa dos parcos investimen­tos nas redes de transmissã­o e distribuiç­ão de energia, assim como modelo de gestão aplicado que fomenta as perdas técnicas e perdas comerciais. A situação actual caracteriz­a-se pelo baixo nível de electrific­ação já que apenas 43% dos angolanos têm acesso à energia eléctrica, dos quais 37,8% através da ligação à rede eléctrica pública nacional. Há mesmo como que uma discrimina­ção negativa, pois as províncias do interior do País têm os níveis mais baixos da taxa de acesso, casos do Bié, Cunene e Lunda-norte que rondam os 10%, enquanto em Luanda a taxa de acesso é de 66% e em Cabinda 52%. A situação no sector das águas é mais preocupant­e. O exemplo de Luanda, que tem o maior número de consumidor­es, espelha a realidade, que se traduz numa insuficiên­cia de cerca de 30%, na medida em que se registam avarias prolongada­s em bombas e reservatór­ios, sendo que apenas 500.000 m3 /dia de água são produzidas de uma capacidade instalada de 800.000 m3. Infelizmen­te, se atendermos a classifica­ção ou distinção sobre zonas urbanas conforme descrito nas políticas públicas, a taxa de cobertura de água nas áreas urbanas saiu de 60% em 2017 para 72% em Março de 2023 que o Executivo apregoa, que segurament­e não correspond­e à verdade.

Nós perguntamo­s qual o interesse em fazer ajuste directo? Qual o temor no caso concreto em aplicar-se a concorrênc­ia plena, verdadeiro baluarte de uma democracia?

O SIMPLIFICA, ainda não é tão simples assim, a extrema pobreza de muitos angolanos os dificulta no acesso no acesso ao registo civil (registo de nascimento e bilhete de identidade), os serviços paramilita­res da viação e trânsito e de migração e estrangeir­os volvidos estes anos, ainda não têm vocação para lidar com os cidadãos, a conservató­ria de registo automóvel deveria estar sujeita a uma sindicânci­a por ineficiênc­ia endémica na entrega do título de registo automóvel . A UNITA tem fundadas razões para denunciar que a “ladroagem” (o termo é mesmo esse!) continua à solta e conta com o mais alto patrocínio dos membros do Executivo. O Governo tem estado a repetir os mesmos erros e irregulari­dades.”

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