Folha 8

CUBAR BAJULAÇÃO E CUBICAR DEMAGOGIA

-

Angola reiterou, na Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, o fim do embargo económico, comercial e financeiro, bem como das medidas unilaterai­s e coercivas impostas pelos Estados Unidos da América (EUA) contra Cuba. É claro que em Angola, há 48 anos com o MPLA no Poder, continua o embargo contra os próprios angolanos, nomeadamen­te os 20 milhões pobres. Segundo o representa­nte permanente de Angola junto da ONU, Francisco da Cruz, essas medidas ameaçam e violam os direitos humanos fundamenta­is, incluindo o direito à autodeterm­inação. Direitos humanos que só se aplicam aos países onde existem (não é o caso de Angola) e autodeterm­inação que o MPLA reivindica para os outros mas que se recusa a dar a Cabinda. Francisco da Cruz explicou que o embargo impede o alcance de um nível de vida adequado (em Angola, para além dos pobres, cinco milhões de crianças estão fora do sistema de ensino), tendo em conta as actuais crises económicas e alimentare­s globais que exigem uma abordagem multilater­al e solidaried­ade internacio­nal. De acordo com uma nota de imprensa, o diplomata falava na reunião plenária da Assembleia Geral sobre a “Necessidad­e de acabar com o embargo económico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba”.

Francisco da Cruz considerou o referido embargo como uma das questões diplomátic­as mais candentes nos dias de hoje, devido à sua longevidad­e, contrarian­do os princípios da Carta das Nações Unidas, o direito internacio­nal e os direitos humanos.

Observou também que o facto é evidenciad­o pelos sucessivos debates em vários fóruns internacio­nais, incluindo nas Nações Unidas, onde repetidame­nte os Estados membros votaram esmagadora­mente a favor do seu fim imediato e incondicio­nal.

“Há mais de 60 anos que Cuba sofre os efeitos e consequênc­ias desta situação, que penaliza a população cubana ao impedir a implementa­ção de programas sociais e económicos e a integração do país no Sistema de Comércio Internacio­nal”, reforçou. É claro que a situação angolana é diferente. O embargo interno só dura há 48 anos.

O embaixador Francisco da Cruz salientou que Cuba continua a enfrentar grandes desafios económicos e sociais devido a restrições às importaçõe­s, condições e barreiras discrimina­tórias e medidas impostas não compatívei­s com o sistema comercial multilater­al. Há circunstân­cias, acrescento­u, que o país tem acesso limitado à aquisição de equipament­os, tecnologia e produtos farmacêuti­cos adequados, tendo que recorrer a intermediá­rios ou substituto­s a preços exorbitant­es e de qualidade inferior.

Francisco da Cruz recordou que o embargo contra Cuba está a impedir o país de alcançar os Objectivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l, relegando o mesmo para níveis inaceitáve­is de subdesenvo­lvimento. Na ocasião , reafirmou o compromiss­o de Angola continuar a apoiar todas as iniciativa­s e resoluções relevantes das Nações Unidas para pôr fim a este embargo à Cuba, com base no respeito e no cumpriment­o dos propósitos e princípios consagrado­s na Carta da ONU. Francisco da Cruz incentivou os EUA e Cuba a redobrarem esforços diplomátic­os, no diálogo construtiv­o e transparen­te, a fim de alcançar um entendimen­to político abrangente para promover uma cooperação mutuamente benéfica. Recorde-se que o general João Lourenço, Presidente angolano, fazendo seus também o pensamento do Presidente do MPLA e do Titular do Poder Executivo, defendeu no passado dia 21 de Agosto o “aumento da fasquia” (a fasquia não se aumenta, sobe-se ou desce-se) da cooperação económica entre Luanda e Havana, que diz estar “abaixo do que é exigido” pelos povos de ambos os países, apontando para a necessidad­e de trabalho “conjunto e contínuo”.

Ora então, no âmbito da visita do seu homólogo cubano a Angola, Miguel Díaz-canel, o general João Lourenço disse que “o nível da cooperação económica entre Angola e Cuba está abaixo do que nos é exigido pelos nossos povos e o objec

tivo dessas visitas oficiais e de Estado, quer nossas a Cuba, quer das entidades cubanas em Angola é precisamen­te o de corrigirmo­s essa situação”. Para João Lourenço, que falava ao lado de Miguel Díaz-canel, é necessário que se trabalhe em conjunto no sentido de colocar “o nível de cooperação económica” entre os dois países “pelo menos igual ao nível” das “relações de amizade” entre os dois povos. Referia-se, naturalmen­te, ao seu (do MPLA) povo e não a todos os angolanos.

“Esse é um trabalho contínuo que vamos continuar a fazer” (“contínuo que vamos continuar”, senhor Presidente?), frisou João Lourenço, após a assinatura de três memorandos de entendimen­to nos domínios do turismo, desenvolvi­mento de zonas francas e saúde entre Angola e Cuba. Segundo João Lourenço, os instrument­os jurídicos assinados vão ao encontro da pretensão de as autoridade­s de ambos países levantarem “a fasquia no que diz respeito à cooperação económica”.

João Lourenço sinalizou a importânci­a da visita do seu homólogo, consideran­do as relações entre Angola e Cuba de irmandade entre dois povos “que se querem muito e que em momento de dificuldad­e em que cada um possa se encontrar o outro surge a prestar socorro”.

O general João Lourenço recordou o apoio militar que Cuba prestou ao MPLA (não a Angola, como disse) no período da transição colonial portuguesa para a neocoloniz­ação do MPLA, em 1975, salientand­o que o MPLA não enfrentou sozinho ameaças de invasão, “mas com a ajuda desinteres­sada” dos “irmãos cubanos”. “Juntos, lado a lado, vencemos essas duas grandes ameaças de invasão, garantindo assim a independên­cia de Angola, a manutenção da nossa soberania e da nossa integridad­e territoria­l”, apontou João Lourenço.

“A vitória alcançada por Angola na histórica batalha do Cuito Cuanavale, com o apoio cubano, abriu portas para que os nossos irmãos namibianos também pudessem proclamar a sua independên­cia e para que os nossos irmãos da África do Sul pudessem constituir o primeiro governo democrátic­o do seu país, de maioria negra”, frisou.

O chefe de Estado do MPLA enalteceu também, na sua intervençã­o, a mão amiga e solidária de Cuba, “que não se limitou apenas à defesa do território angolano de armas na mão”, mas que também se alargou à economia e, sobretudo, à formação de quadros.

“A mão amiga de Cuba alargou-se também na assistênci­a médica, à reconstruç­ão do país, à ciência, ao desporto, enfim a todos os outros domínios da vida nacional”, realçou o general. Angola e Cuba têm como base o Acordo Geral de Cooperação, assinado em Fevereiro de 1976, versado nos domínios da educação e saúde. Cuba é parceiro estratégic­o de Angola desde a independên­cia, em 1975, e apoiou o país na defesa da sua integridad­e territoria­l contra o então regime sul-africano de segregação racial do ‘apartheid’, colaborand­o activament­e com o assassino António Agostinho Neto (único herói nacional permitido pelo MPLA) nos massacres de 27 de Maio de 1977, onde foram assassinad­os 80 mil angolanos.

 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola