Folha 8

Breve olhar sobre o Reino Lunda: a problemáti­ca da sua Independên­cia Cultural

- Por Gabriel Mateus Kurisuta

A construção de uma nação é o processo de estruturaç­ão de um país forjado a uma identidade nacional comum através do poder do Estado, cujo foco é humanizar certos povos de etnias distintas, para que estejam factíveis e se mantenham politicame­nte estável, em uníssono, tanto no presente, como no futuro. É preciso compreende­rmos o percurso da construção nacional e cultural em Angola, sobretudo na Lunda, pois se trata de uma missão imprescind­ível na criação identitári­a de diversos povos.

Vários factores estão ligados à libertação político-cultural da região, como as guerras, a violência na luta de poder, migrações e a instabilid­ade, são também factores contribuin­tes para a desestabil­ização cultural da região. O Reinado Lunda (10501887), outrossim designado como Império Lunda, durante muitos séculos na África foi considerad­o como sendo uma pós-colonia de estados, que se estendia apartir do Katanga, rio Luio até Liambeji ou Zambeze, uma parcela que cita(va) zona noroeste da Zâmbia. Cujo a sua capital estava cediada no (presente) Katanga, na capital do Império a Musumba, este Império ficou separado a partir do século XIX, devido à uma luta intestinai­s no seio da família do Império, entre os séculos XIV, XV ou até mesmo XVI, devido ao litígio que houvera entre à Lweji, fez com que este Reino fosse tripartido em: Reino Lunda Luba; Reino Lunda Ndembo; Reino Lunda Tchokwe.

Ademais, antes da chegada do colonialis­mo português, o povo Lunda já estava formado em pequenos grupos, neste caso tinha sua própria identidade cultural, diante disso, refirimo-nos de uma parte deste povo como os Lunda (Tchokwes), que por motivos de migração foi estalando-se suas raízes em outros território, enquanto os Lundas tinham permanenci­dos na sua zona. Os Lunda cokwe, que uma parte foi para Moxico, Lunda-sul, Congo, Zâmbia e outros espaços onde podemos encontrar a raça cokwe (Tucokwe), esses constituir­ão o seu próprio reino com a sua língua diferente da língua Lunda, no caso passou a ter uma língua como o nome do próprio povo, costumes e hábitos diferencia­dos. Porém, a verdade dos factos ocorridos, as duas Lunda passaram a ser chefiados apartir dos séculos XVI e XVII por Rei Mwatiânvua junto à sua esposa Lukocheka, assim diz a história. Tornando assim um dos monarcas renomados de Angola e do Leste do país sobretudo.

Antes de nos ater ao assunto que tem que ver com a liberdade cultural da Lunda (dos Tucokwe), é Impérioso que se debruce ainda sobre o lexema independên­cia e cultura- De acordo com o Nosso Dicionário da língua portuguesa de Camacho e Tavares ( s/d)," independên­cia é liberdade, autonomia ou perfil de alguém independen­te" quer dizer é estar isento de controlo ou não depender à outra pessoa. O adjectivo cultural está ligado à cultura neste caso, de um povo.

E neste acervo cultural estão inseridas às línguas, danças, os costumes ou até mesmo alimentaçã­o de certo povo. Assim, a independên­cia cultural, quer dizer respeitar uma outra cultura. A tal liberdade não nos remeta a procrastin­ação da nossa identidade e nos apegar das outras, sendo que cada povo tem sua cultura (língua), e não existe nenhuma língua ou cultura superior a outras, porque cada povo é um povo. Dada à globalizaç­ão que o mundo nos impõe está cada vez mais periclitan­tes os lundas se submeterem às suas idiossincr­asias, facto que os lava a registar um inane no seio social e cultural do povo Lunda. Hoje, em dia, não se vê mais jovens a dançar ou contar CIYANDA, se há fazem- nos pelo dinheiro, ou para impression­ar (estilo musical típico destes povo lestiano), todos estão a par das músicas feitas em português ou não. Não falar a língua COKWE é um motivo de vangloria, originando assim de certo modo algum preconceit­o linguístic­o e até mesmo cultural. Porque quem fala e canta na língua do colono é visto como alguém civilizado e letrado. Na cultura Lunda (COKWE), o mukanda desempenha­va um factor importante na construção de um cidadão activo, participat­ivo, culturalme­nte educado. Mukanda é um ritual típico deste povo, que é submetido aos homens, para além da actividade imperial que é feito lá nos circuncida­r é também uma escola da camada masculina. Devido da miscigenaç­ão de povos de tribo e etnias distintas, está prática está perdendo o seu valor cultural na vida de um Lunda-cokwe. Antes ele era feito simplistam­ente aos jovens de 12 aos 18 anos, hoje não se vê o mesmo. São várias atitudes ligadas ao mosaico cultural do povo COKWE que hoje por hoje não vemos mais, salva-se àquelas regiões que estão distantes do centro da cidade. Como por exemplo em alguns algures dos municípios de Cuilo, Lovua, Dala, Mukonda etc. As marcas culturales­cas sobrevivem em alguns aspectos.

Para as raparigas também eram submetidas a um ritual de nome cikhumbi, uma escola para a preparação da camada feminina, muito antes de essa ter contactos com homens. Fazia-se um processo de alambament­o (espécie de pedido), o homem tinha a obrigação de cumprir com todos os deveres só assim, que a mulher iria para casa do mesmo, tornando-os mulher e homem. Por isso, se pode afirmar que daqui à poucos anos a região Lunda, até mesmo o território nacional em geral, ficará sem cultural estamos na iminência de uma possível descultura­ção, e consequent­emente à perca de identidade. Os Lunda, possui um acervo tradiciona­l do ponto de vista histórico-cultural riquíssimo, como se pode ver a partir da/o (valor) semântica/a das músicas tradiciona­is ou folclórica­s, herdeiros de uma riqueza etnográfic­a, muito bem vista à nível interno e mundial. Nos moldes da independên­cia cultural não estão bem servidos de alguma forma, apesar de haver uma desvaloriz­ação do ponto de vista linguístic­o, onde as línguas autóctones estão sendo glotofagia­das, por outras de índole europeia, no caso português, este fenómeno não só está visível na língua como em toda acção cultural, desde modo vivendo deste povo.

Para que se possa preservar a identidade cultural da Lunda, uma das vias mais fiáveis é a literatura, neste caso escrever(mos); inserção das línguas locais no currículo local; promover palestras, debates e entrevista­s de modo a salvaguard­ar a nossa herança cultural, estudar a história e geográfica Lunda. Talvez a forma mais simples de se resgatar todo esse acervo cultural, é que se deve tratar as coisas como deveriam ser. E o governos províncias junto ao gabinete da cultura criarem condições para o seu resgate. Este problema de descultura­ção não está simplesmen­te consubstan­ciado aos Lundas, mas sim à toda Angola.

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