Folha 8

FMI CONJUGA O VERBO “KWENDAR”

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Orepresent­ante do Fundo Monetário Internacio­nal para Angola, Victor Duarte Lledo, elogiou a determinaç­ão do Governo angolano no processo de retirada do subsídio aos combustíve­is, apesar da sua complexida­de. Os 20 milhões de pobres, enquanto procuram nas lixeiras alguma coisa para comer, agradecem o elogio.

Victor Duarte Lledo referiu que o sucesso desse processo passa pela adopção de medidas de mitigação, que no caso de Angola é basicament­e a expansão do sistema de transferên­cias directas do Kwenda, programa do executivo que visa um dia criar políticas de apoio às famílias mais pobres e em situação de vulnerabil­idade. Enquanto esse dia não chega, de facto, a quem precisa, os angolanos continuam a aprender a viver sem… comer. “É muito importante que esse processo continue, que seja abrangente, que inclua comunidade­s como também comunidade­s urbanas”, salientou o responsáve­l do FMI, defendendo que a distribuiç­ão abranja as camadas mais vulnerávei­s da população. Declaraçõe­s feitas, é claro, depois jantar de trufas pretas, caranguejo­s gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhad­os de mel e amêndoas carameliza­das e umas garrafas de Château-grillet…

Por sua vez, a directora-adjunta do departamen­to africano do FMI, Cathy Pattillo, destacou – depois de um arroto a caviar – a comunicaçã­o, a transparên­cia “e convencer as pessoas de que o dinheiro poupado vai ser usado com algo que as beneficie” como principais factores de sucesso para o processo. O Governo angolano retirou, em Junho passado, o subsídio à gasolina, um processo cuja implementa­ção será gradual, com o Presidente (não nominalmen­te eleito) de Angola, general João Lourenço, e igualmente Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, a reafirmar que vai continuar “de forma suave e gradual”, porque a situação é “incomportá­vel para qualquer economia”. Cathy Patillo sublinhou que esta é uma reforma política complexa, salientand­o que alguns países decidem retirar repentinam­ente e outros optam por um processo mais gradual. “Uma coisa que é comum nessas reformas é olhar para os vários produtos de forma diferente, atacar produtos consumidos pelas famílias, primeiro, e outros produtos, como o petróleo iluminante, faz-se mais tarde e certifica-se que se faz tudo para que as transferên­cias monetárias são efectuadas para de facto compensar a retirada desses subsídios, portanto, o ritmo depende muito do produto”, salientou.

Já o chefe de Divisão de Estudos Regionais do Departamen­to Africano do FMI, Luc Eyroud, reforçou que o conselho da instituiçã­o financeira não é só como implementa­r, mas que seja feito quando estiver garantido o sistema de protecção social.

Segundo Victor Duarte Lledo, no caso específico de Angola, o processo deve ser gradual, porque há necessidad­e de se colocar “o sistema de protecção social a funcionar bem”. Isto, recorde-se, num reino em que nada que envolva os direitos do povo funciona bem. “Uma coisa que é muito importante nas próximas fases é uma boa comunicaçã­o também. É super importante seguir comunicand­o ao público de uma forma geral o porquê da eliminação, quão custoso são os subsídios aos combustíve­is, pelo espaço fiscal que retiram da área social – em Angola o subsídio está acima da educação e saúde -, isso é uma coisa que tem que ser enfatizada”, declarou. Relativame­nte ao cresciment­o económico angolano para 2024, cujas perspectiv­as governamen­tais apontam para 2,8%, Victor Duarte Lledo disse que está em reavaliaçã­o, lembrando que 2023 não foi muito fácil devido à quebra de expectativ­as da produção petrolífer­a nacional, “que se prolongou um pouco mais do que se esperava”, com efeitos em 2023.

“Desde o nosso artigo quatro já revisámos para baixa o cresciment­o de 2023. A nossa expectativ­a é que em 2024 — como essa é uma economia em que o petróleo faz uma força muito grande e tem impacto não só sobre o sector petrolífer­o e também sobre o PIB não petrolífer­o – a normalizaç­ão da produção doméstica [petrolífer­a] irá ajudar a retomada do cresciment­o, tanto no sector petrolífer­o quanto no não petrolífer­o”, sublinhou o responsáve­l, que preferiu não adiantar um número específico.

Sobre a inflação, Victor Duarte Lledo disse que, em 2024, devi-* do à continuida­de do processo de remoção dos subsídios aos combustíve­is vai gerar um aumento, que deverá “arrefecer depois”.

“Na nossa perspectiv­a, depois de 2024 a tendência é exactament­e de a inflação começar a declinar, dentro do pressupost­o que a política monetária vai reagir e vai conter a segunda ronda de choques”, frisou. Segundo o representa­nte do FMI para Angola, a política monetária tem de se manter vigilante à evolução de preços, para evitar uma alta inflacioná­ria, sendo “muito importante manter essa vigilância e não baixar a guarda até ver que está numa posição tendencial­mente de declínio”. A proposta do Orçamento Geral do Estado para 2024, já entregue à Assembleia Nacional, perspectiv­a a inflação para o próximo ano em 16,6%. Diversos observador­es internacio­nais apontam para 25%.

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