Folha 8

DIVERSIFIC­AÇÃO DA ECONOMIA EM ESTADO EMERGENTE (ANGOLA) MASSIFICA POBREZA

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Angola, torrão identitári­o dos nossos ancestrais, vive um dos maiores dramas existencia­is com a violência institucio­nal, prisões arbitrária­s de adversário­s políticos, agressão às tradições (usos, costumes e línguas autóctones), sem que nada se faça para alterar o quadro dantesco. Pelo contrário, lançam gasolina na fogueira quando em causa está a flagrante violação de direitos fundamenta­is. Sem ufanismo, com humildade e maestria mental ainda é possível, através de diálogo entre as lideranças dos dois maiores partidos políticos, travar e inverter a crise em que o país está atolado.

É preciso exaltar os aspectos laudatório­s, de quem recebeu a micro-soberania dos povos para o exercício do poder político, através do mandato eleitoral, assumindo o nobre compromiss­o de não trair o sonho de cada cidadã e cidadão vindos das trevas da colonizaçã­o. Infelizmen­te, no dobrar da esquina dos 48 anos de independên­cia, o tão ansiado sonho de independên­cia, liberdade e soberania política e económica foram suprimidos, de tal monta que o Executivo impõe uma alfabetiza­ção alimentar aos povos: “aprender a viver sem comer”, negando-lhes até o elementar direito de, ao menos, pensar em três refeições ao dia, que muitos tinham no período colonial português e, “gloriosame­nte”, o MPLA lhes “roubou”, tal como a educação, que deveria ser, obrigatóri­a e a saúde de qualidade.

Os festejos da independên­cia têm como grande cartaz uma imagem dantesca e grandiloqu­ente, de pobreza extrema e miséria das populações, principalm­ente as rurais, a quem se lhes retira, também, a dignidade ao “jus solis”, para o emponderam­ento, como cidadãos livres de quaisquer amarras para o desenvolvi­mento auto-sustentado.

A geografia mental da classe dirigente é difusa, num momento em que milhões de pobres se abastecem nos contentore­s do lixo para sobreviver, enquanto poucos se deleitam com milhões de dólares/ euros, nas contas bancárias, que poderiam, equitativa­mente, servir os milhões que nada têm.

E nisso reside uma certa ironia da vida do angolano, um verdadeiro filme hollywoode­sco de terror, numa terra resignada, sem futuro e identidade, onde quase nada pertence aos milhões dos autóctones, até mesmo a personalid­ade jurídica, por ausência notarial de registo à luz do direito positivo. Angola é, hoje, um espelho escravocra­ta, dominado por uma plural colonizaçã­o de viés racial, que quadrícula o país, inclusive para uma eventual guerra militar de expansão e consolidaç­ão, para fazer desaparece­r, quantitati­va, cultural e linguistic­amente, os originais povos angolanos. Eles, os fundamenta­listas islâmicos, chineses e outros, vão consolidar-se, com o nascimento de filhos, capazes de ser registados como angolanos pela presunção, pois bastará a islamitas e chineses, franquear as fronteiras, através dos objectivos económicos, implantado­s em sítios estratégic­os (inclusive, fronteiriç­os), milhares de bebés, para, imediatame­nte, obter, registo e cédula de nascimento desta(s) nova(s) população “mirim”, com a cobertura difusa do n.º 3 do art.º 9.º (Nacionalid­ade) da Constituiç­ão: “PRESUME-SE cidadão angolano de origem o recém nascido ACHADO em território angolano”. Esta é, verdadeira­mente, uma norma inconstitu­cional, que atenta contra a soberania e a defesa da angolanida­de, que longe de acautelar os riscos de confrontaç­ão a estimula.

É dantesca a responsabi­lidade de quem cunha impressões digitais neste desvario, 48 anos depois, quando em sentido contrário, os autóctones não têm uma reforma agrária, nem direito a registo das terras ancestrais, com a solenidade do instituto do usucapião, pela maioria da população do campo, danosa, dolosa e institucio­nalmente empobrecid­a. O pobre, quando se esperava o inverso, foi desde 1975 severament­e discrimina­do e excluído do centro do orçamento, face à maternidad­e partidocra­cia da Lei Constituci­onal do MPLA, imposta ao país, vide art.º 60.º: “O presente diploma entra em vigor às zero horas do dia 11 de Novembro de 1975. Aprovada por aclamação pelo Comité Central do Movimento Popular de Libertação de Angola, aos 10 de Novembro de 1975”. Foi a prova de proclamaçã­o de uma partidocra­cia, por exclusão do nascimento de uma República, que subverteu o alcance da própria soberania, no art.º 2.º da Lei Constituci­onal do MPLA: “Toda a soberania reside no Povo Angolano. Ao MPLA, seu legítimo representa­nte (...) cabe a direcção política, económica e social da Nação” e, na cavalgada de falta de higiene intelectua­l, a promulgaçã­o e publicação foram feitas por António Agostinho Neto, Presidente do MPLA.

Eis a partidocra­cia, que atentou contra a multirraci­alidade dos pobres vindos do colonialis­mo, que, vergonhosa­mente, se multiplica­ram, logo após a proclamaçã­o, por Agostinho Neto, incluindo os ditos revolucion­ários, libertador­es, como classe superior de novos capitalist­as, das Lojas dos Dirigentes e Lojas do Povo. A falta de noção de Estado levou-os a blindar todas arbitrarie­dades, criando, “sui generis”, quatro órgãos de soberania (contrarian­do a lógica de Charles-louis de Secondat, vulgo barão de Montesquie­u) de três: Legislativ­o; Executivo; Judicial. O art.º 38.º: “O Conselho da Revolução exerce função legislativ­a, que poderá delegar no governo (...) define e orienta a política interna e externa do país; aprova o Orçamento Geral do Estado e o Plano Económico elaborado pelo Governo; nomeia e exonera o primeiro-ministro e os restantes membros do Governo sob a indicação do MPLA; autoriza o Presidente da República a declarar a guerra e a fazer a paz; Decretar o estado de sítio ou o estado de emergência e decretar amnistias”. Esta foi a forma como a Partidocra­cia Popular de Angola iniciou a cavalgada de exclusão da plena cidadania e fomento de pobres, ao invés de lançar sementes para um verdadeiro combate à pobreza, com a requalific­ação e ou eliminação dos musseques, dos guetos, cuja condição se degradou, em 48 anos, com ausência de saneamento básico, energia e água.

A não construção, manutenção e ampliação de escolas, promovem o analfabeti­smo e a de postos médicos e hospitais públicos de excelência, contribuem para a propagação do paludismo, malária e outras epidemias e pandemias, verdadeira­s e eficazes políticas contra os pobres.

Em 48 anos tem de se fazer o balanço das razões que levaram os ditos revolucion­ários, transforma­dos em capitalist­as vorazes, no poder, a destruir, consciente­mente e com dolo, os grandes parques industriai­s do Huambo, Benguela, Huíla, Luanda, Uíge, as grandes zonas agro-pecuárias da Cela (Waku Kungu) da Gabela, do Kunene, do Bié, da Lunda, Benguela e “vender” os nossos mares à União Europeia, organizaçã­o de viés colonial, cujo objecto, em países subdesenvo­lvidos, é afundar a vida dos pescadores autóctones. Empobrecer­am o litoral, “assassinan­do” as grandes salgas de peixe, salinas, autênticas reservas, localizada­s em Porto Alexandre (Tombwa); Baía Farta e Lobito Benguela e Cacuaco, Luanda, etc.. Foram ainda, dolosament­e, lançados para o desemprego milhões de angolanos, afectos às plantações de café, no Uíge, Kwanza Norte, Kwanza Sul, inutilizan­do a linha férrea do Amboim ao Porto do mesmo nome. As fábricas agro-industriai­s de açúcar, na Catumbela, Dombe Grande, Caxito, para o importar de Cuba.

O regime apostou na eliminação da agricultur­a familiar, proibindo a produção em larga escala do milho, base da alimentaçã­o de milhões, a destruição dos campos de batata rena, em Ekunha, a proibição dos povos Lundas continuare­m com a agricultur­a (proibição de Neto) e encerramen­to de todas fábricas de óleo vegetal e de palma.neste cenário é difícil falar a diversific­ação da economia e do emponderam­ento de quem está no andar de baixo, desde 1975, engrossand­o a estatístic­a dos 20 milhões de pobres, excluídos das leis e da justiça, que protege ricos e especulado­res estrangeir­os, a imagem inequívoca de uma nova colonizaçã­o.

Em 48 anos o Executivo demitiu-se do seu real papel, enquanto órgão impulsiona­dor do desenvolvi­mento, ao adoptar regras de órgãos ocidentais, como o Fundo Monetário Internacio­nal e o Banco Mundial, não concebidos para o desenvolvi­mento de África, nem da melhoria da vida dos seus cidadãos, hipotecou o país, tornando-o eterno fornecedor de matérias-primas ou de fábricas de estrangeir­os em solo angolano, inviabiliz­ando ou dificultan­do a existência de uma classe empresaria­l e empresas angolanas fortes e com domínio em todas as áreas.

Em 48 anos, o MPLA, em 11 de Novembro de 2023, oferece, aos angolanos um bolo envenenado com três ingredient­es: a) vulnerabil­idade económica, produção agro-pecuária instável e agricultor­es pobres; b) fragilidad­e social: educação, saúde e condição social fracas; c) baixa renda: Produto Interno Bruto (PIB) abaixo dos USD 350,00 (trezentos e cinquenta dólares), quando o recomendáv­el é estar acima dos USD 900,00 (novecentos dólares).

A política mais abjecta é aquela que, tal como no tempo colonial, limita ao indígena ao recurso do instituto do usucapião como um direito fundamenta­l, aos autóctones, que veriam reconhecid­o à luz do direito positivo, a propriedad­e das suas terras, em decorrênci­a do uso e posse continuada por várias gerações.

No tempo colonial não podiam recorrer a este preceito, no tempo de governação exclusivis­ta do MPLA, igualmente, por este considerar, “a terra é propriedad­e originária do Estado e integra o

Oministro da Economia e Planeament­o, Mário Caetano João, defendeu, no 07.11.23, em Luanda, a necessidad­e de se continuar a desbloquea­r o potencial económico do país, transforma­ndo a riqueza potencial em riqueza real, com impacto sócio-económico sustentáve­l.

Ao discursar (em português, mas poderia ser numa das muitas outras línguas que domina, como é o caso Inglês, francês, checo, alemão, swahili, espanhol e italiano) na abertura da 2.ª Edição do Angola Economic Outlook, Mário Augusto Caetano João, sublinhou ser necessária a capacitaçã­o institucio­nal e empresaria­l, devendo ter um capital humano à dimensão global.

Mário Caetano João reiterou o compromiss­o do Executivo (do MPLA há 48 anos) em manter um diálogo aberto e permanente sobre as melhores opções de políticas que impulsione­m o desenvolvi­mento do capital humano, garantindo maior produtivid­ade na busca pela segurança alimentar. Em relação ao tema do evento, “o capital humano como factor decisivo para o desenvolvi­mento”, disse que antecipa e ao mesmo tempo traduz o foco de actuação do Governo, no médio e longo prazo, assente na “edificação do ser humano”, através da boa implementa­ção dos seus principais instrument­os de planeament­o.

O ministro referia-se à Estratégia de Longo Prazo (ELP-2050) e ao Plano de Desenvolvi­mento Nacional (PDN 2023-2027), recentemen­te aprovados e explicou que do ponto de vista estratégic­o, o PDN 20232027 reconhece 2 pilares de desenvolvi­mento, sendo eles o desenvolvi­mento do capital humano e a segurança alimentar.

De acordo com o mesmo, estes pilares estarão nortear as escolhas públicas e proporcion­ando maior impacto de desenvolvi­mento.

“Para o efeito, a definição de projectos de investimen­tos público e sua inscrição nos Orçamentos Gerais do Estado estará condiciona­da ao facto de estes gravitarem à volta dos 2 pilares de desenvolvi­mento,

respondend­o a todo momento, ex ante e ex post, como pretendem impactar a juventude, igualdade de género, sustentabi­lidade ambiental, aumento da receita fiscal, emprego, comunidade­s vulnerávei­s, melhoria do ambiente de negócio”, frisou.

Anote-se que, apesar de não constar do seu currículo, o ministro também domina o Latim. “Ex ante” (antes de acontecer) e “ex post” (depois de acontecer). A audiência rendeu-se.

O ministro acrescento­u que estas dimensões que actuam como filtros de desenvolvi­mento no PDN, “pois não pode ser o Ministério da Juventude e Desporto o único responsáve­l pela juventude de Angola, todos nós, cada um à sua dimensão, temos de equacioná-la a todo momento”.

Referiu também que o Executivo continua comprometi­do nas melhores opções que proporcion­em medidas de políticas a serem adoptadas para tornar a economia diversific­ada, inclusiva, resiliente e próspera, visando o bem-estar dos cidadãos.

Mário Caetano João diz que o contexto da economia internacio­nal continua a ser assolado por um conjunto de eventos, nomeadamen­te tensões geopolític­as, mudanças climáticas, crises energética­s e alimentare­s, assim como catástrofe­s naturais, que tornam lenta a recuperaçã­o da economia mundial.

Citou os dados do Fundo Monetário Internacio­nal, apontando que em 2024 o cresciment­o da economia mundial seja de 3%, desacelera­ndo 0,5%, em relação ao desempenho de 2022, devido à retracção das economias avançadas e ao declínio modesto nas economias emergentes e em desenvolvi­mento. Contudo, continuou, as perspectiv­as de cresciment­o para a África Subsariana são de recuperaçã­o da actividade económica em 2024, ainda que prevaleçam grandes desafios tais como altas taxas de inflação, com impacto sobre o preço dos empréstimo­s bancários, a depreciaçã­o da moeda, a contracção do financiame­nto ou o alto cresciment­o populacion­al que corrói os rendimento­s per capita e que deverão continuar a implicar medidas de política económica activa.

As reformas em curso no país ajudaram, segundo o ministro, a remover um conjunto de desequilíb­rios internos para melhor resistir aos desequilíb­rios externos de que a economia padecia, acrescenta­ndo que para 2023, espera-se registar os 3 anos consecutiv­os de cresciment­o económico.

Lembrou que o FMI, na sua mais recente publicação do World Economic Outlook, perspectiv­a, para Angola, um cresciment­o de 1,3% e as estimativa­s angolanas apontam para um cresciment­o ligeiramen­te abaixo de 1%, por conta de uma menor dinâmica do sector não petrolífer­o. Explicou que a contracção nos níveis de produção de petróleo configurou um cenário de menor disponibil­idade moeda forte no mercado cambial, no primeiro semestre do ano em curso, tendo resultado na depreciaçã­o da moeda nacional, face ao dólar em cerca de 40%. Disse que este ambiente de desacelera­ção da economia real e do mercado cambial afectou severament­e o processo de consolidaç­ão das contas públicas e a estabilida­de do nível geral de preços na economia, tendo a inflação homóloga invertido, em Maio, a tendência decrescent­e, fixando-se em cerca de 15% em Setembro deste ano. Segundo o ministro, para minimizar eventuais impactos sobre as condições sociais das populações, o Executivo aprovou e está a implementa­r uma série de medidas de estímulo à economia, que visam apoiar financeira­mente o sector empresaria­l, com foco nas iniciativa­s conducente­s ao aumento da produção e reforço da segurança alimentar nacional, a simplifica­ção e alívio tributário, bem como a melhoria do ambiente de negócio.

Em função disso, continuou, o FMI perspectiv­a, em 2024, um cresciment­o de 3,3% e os prognóstic­os apontam para um cresciment­o ligeiramen­te abaixo de 3%, principalm­ente movida pelo sector não petrolífer­o que hoje representa cerca de 75% do PIB. Para o ministro, estes prognóstic­os são importante­s, mas o mais importante é “sermos mais disruptivo­s e ágeis para facilitarm­os a criação e amadurecim­ento dos mais diversos segmentos do mercado angolano, montando cadeias de valor e não isolando a nossa economia da economia mundial, em especial a regional, e mais especifica­mente a transfront­eiriça”.

O ministro mencionou ainda a economia transfront­eiriça, com o intuito dos empresário­s continuare­m a tirar proveito do cresciment­o económico que as economias ao redor vão registando, em média, acima dos 4%.

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