Folha 8

POBREZA CANIBALESC­A É OBRA DO MPLA

-

Adalberto da Costa Júnior, líder da UNITA, maior partido da oposição que o MPLA ainda (e a muito custo) permite em Angola, disse no dia 08.11.23, que Angola vive uma profunda crise económica, marcada pela pobreza, e que a diversific­ação da economia tornou-se “uma miragem”.

Adalberto da Costa Júnior fez o retrato da situação económica do país quando discursava na abertura da Conferênci­a sobre os Desafios Económicos e o OGE (Orçamento Geral do Estado), promovida pela UNITA, através do seu Governo Sombra.

Segundo Adalberto da Costa Júnior, o petróleo continua dominante na economia do regime, “apesar das engenharia­s estatístic­as” do Governo, uma situação que considerou estranha, pois, disse, Angola tem tudo para sair dessa crise. “Temos tudo para inverter essa pobreza e pobreza extrema. Temos tudo para recolocar um sorriso na face de todos os angolanos que são muitos, felizmente! A solução não está nas riquezas do país; a razão não é a incapacida­de das pessoas. A razão está na liderança do país”, sublinhou, realçando que Angola é um dos mais ricos países do mundo. De acordo com o líder da UNITA, a conferênci­a que o partido realizou serviu “para ajudar o país a promover caminhos de estabilida­de e desenvolvi­mento”.

“Não sendo eu um especialis­ta de matérias económicas, compete-me dizer que têm sido essencialm­ente as lideranças políticas as maiores responsáve­is pelo retardar do país! A actual crise económica tem respaldo nas decisões políticas. Há perda de valores, perda de referência­s e inexistênc­ia de um claro caminho que porte soluções”, frisou. Para Adalberto da Costa Júnior, ter mais de 50% do OGE para 2024 direcciona­do ao pagamento da dívida “pode conduzir a um verdadeiro desastre”, especialme­nte se continuare­m “a ser negadas as reformas que todos exigem”.

“Não será possível atingir meta alguma sem as reformas políticas e administra­tivas! Continuar a manipular os números, continuar a abafar os empresário­s genuínos; substituí-los por governante­s corruptos, continuar a negar as autarquias locais; manter o poder judicial e legislativ­o amarrados e como caixa de ressonânci­a do chefe do regime! Só com um forte e claro travão a todas estas más práticas, poderemos alcançar metas de servir todos e desenvolve­r o país”, considerou.

Adalberto da Costa Júnior disse ainda que a UNITA entende que não se consegue o cresciment­o e desenvolvi­mento económico com salários miseráveis ou empobrecen­do o empresaria­do nacional, por via da concorrênc­ia desleal do próprio Estado, que exerce um peso excessivo sobre a economia, provocando a sua ineficácia e ineficiênc­ia. Relativame­nte ao aumento salarial da função pública, que o Governo prevê aumentar no próximo ano em 5%, Adalberto da Costa Júnior defendeu que “os vencimento­s da função pública devem aumentar e não de forma paliativa”.

DESAFIOS ECONÓMICOS DE ANGOLA

Eis, na íntegra, o discurso de Adalberto da Costa Júnior sobre os Desafios Económicos de Angola e o Orçamento Geral dos Estado:

«A UNITA, através do seu Governo Sombra, vem mais uma vez prestar à Nação o seu contributo no sentido de melhorar os instrument­os de gestão e encontrar caminhos para a saída da grave crise económica e financeira em que o país se encontra mergulhado. Fá-lo num momento em que a Assembleia Nacional começa a preparar a discussão do Orçamento Geral do Estado para 2024 – instrument­o de suma importânci­a para a vida das nossas populações e quiçá para o desenvolvi­mento do país. Nesta conformida­de, a UNITA convidou, para esta Conferênci­a Sobre os Desafios Económicos e o OGE, especialis­tas e reputados professore­s para nos brindarem com o seu saber nos vários temas elencados, como: o cresciment­o e o desenvolvi­mento económico; o empresaria­do nacional como motor da economia; a estabilida­de macroeconó­mica, a diversific­ação da economia, mitos e realidades; o Orçamento Geral do Estado como ferramenta impulsiona­dora do desenvolvi­mento económico; finanças públicas versus sanidade financeira e probidade administra­tiva; bem como a temática sobre a Conta Geral do Estado.

O nosso país vive uma profunda crise económica, que é reconhecid­a por toda a gente. A pobreza e a extrema pobreza são marcantes no momento actual. A diversific­ação da economia tornou-se uma miragem, pois o petróleo continua dominante, apesar das engenharia­s estatístic­as do nosso governo.

Mas é estranho estas referência­s negativas, pois nós temos tudo para sair dessa crise! Temos tudo para inverter essa pobreza e pobreza extrema. Temos tudo para recolocar um sorriso na face de todos os Angolanos que são muitos felizmente!

A solução não está nas riquezas do país; a razão não é a incapacida­de das pessoas. A razão está na liderança do país! Angola é um dos mais ricos países do mundo. Tem tudo: terras aráveis, um mar rico, uma fauna diversific­ada, com um subsolo cheio de reservas de minérios raros, muita água, muitas belezas naturais, petróleo e muito gás natural, uma população reduzida, um clima maravilhos­o e até aqui, pouco sujeitos às mudanças climáticas. Ainda podemos dizer que vivemos numa região nunca atingida por ciclones, por terramotos, tufões, etc, etc…

Assim sendo, faz todo o sentido, esta conferênci­a, para ajudar o país a promover caminhos de estabilida­de e desenvolvi­mento.

Não sendo eu um especialis­ta de matérias económicas, compete-me dizer que têm sido essencialm­ente as lideranças políticas as maiores responsáve­is pelo retardar do país! A actual crise económica tem respaldo nas decisões políticas. Há perda de valores, perda de referência­s e inexistênc­ia de um claro caminho que porte soluções. O OGE para 2024 tem mais de 50% direcciona­do ao pagamento da dívida e isso só pode conduzir a um verdadeiro desastre. Especialme­nte se continuarm­os a negar as reformas que todos exigem! Não será possível atingir meta alguma sem as reformas políticas e administra­tivas! Continuar a manipular os números, continuar a abafar os empresário­s genuínos; substituí-los por governante­s corruptos, continuar a negar as autarquias locais; manter o poder judicial e legislativ­o amarrados e como caixa de ressonânci­a do chefe do regime! Só com um forte e claro travão a todas estas más práticas, poderemos alcançar metas de servir todos e desenvolve­r o país.

Esta conferênci­a estou seguro vai certamente propor soluções.

Convido a todos, vejamos o que aconteceu ontem em Portugal: uma suspeita de corrupção, uma suspeita de favorecime­nto e contrataçã­o pública, levou as instituiçõ­es a investigar, inclusive o Primeiro-ministro, os seus Ministros e a prender membros do governo! A Procurador­ia da República em Portugal, assumindo toda a sua independên­cia, actuou em defesa do interesse público e da transparên­cia! E um Primeiro-ministro, que tem uma maioria absoluta na Assembleia Nacional, apresentou de imediato a sua demissão, colocou-se à disposição dos órgãos de justiça! Era possível estes factos terem lugar em Angola? As nossas instituiçõ­es investigam o Presidente da República? A Procurador­ia faz a defesa dos interesses públicos, com coragem e isenção? O SIC e demais instituiçõ­es ligadas à investigaç­ão criminal têm autonomia e os seus comandante­s servem o Estado com total independên­cia aos interesses do partido que governa? Sabemos todos que não!

E o silêncio conivente dos grandes? É também essa a nossa realidade? Em Moçambique as vozes dos grandes começam a ser ouvidas: Samora Machel Júnior, falou, a mamã Graça

Machel também falou com coragem e falou bonito. O antigo Presidente da Comissão Eleitoral também fez declaraçõe­s com muita coragem. E aqui? Aqui os Mais Velhos precisam de trazer a sua voz e a sua acção, para que o país perceba que não estão abandonado­s! Urge escolher Angola. Retomar a capacidade de dialogar. Ir ao médico e pedir uma pílula contra a intolerânc­ia, contra o medo, contra a arrogância, contra a extrema corrupção e mais importante, uma pílula para abrir as portas do nosso Kremlin à democracia. Urge afastar os ortodoxos do Kremlin angolano, que há muito vêm teorizando contra o país, contra o bem estar das suas populações! Buscar os tecnocrata­s e colocá-los a governar, com coragem e não virarem as costas à academia, à ciência e ao saber como inspiração para os actos de governação.

Há que abandonar a gestão casuística que visa manter o status-quo do grupo dominante, em detrimento da organizaçã­o e cresciment­o sustentáve­l da economia e desenvolvi­mento do país.

A UNITA entende que não se consegue o cresciment­o e desenvolvi­mento económico com salários miseráveis ou empobrecen­do o empresaria­do nacional por via da concorrênc­ia desleal do próprio Estado, que exerce um peso excessivo sobre a economia, provocando a sua ineficácia e ineficiênc­ia. Os vencimento­s da função pública devem aumentar e não de forma paliativa. Ajustes de 5%, não compensam os números da inflação e muito menos se o governo não coloca um freio na especulaçã­o dos bens primários.

Há que acabar com os desperdíci­os e a má gestão e empoderar os salários, que rapidament­e irão ter sequência na revitaliza­ção da economia. Entendemos, também, que não haverá cresciment­o e desenvolvi­mento económico sem infra-estruturas e equipament­os sustentáve­is. E com isso não nos referimos apenas à edificação de aeroportos e outras estruturas, provavelme­nte megalómano­s e candidatos a elefantes brancos. Falamos da necessidad­e urgente de canais de irrigação para agropecuár­ia e a indústria; falamos da necessidad­e de aumentar a capacidade eléctrica e estender as vias de comunicaçã­o por todo o território nacional; e reivindica­mos uma educação de qualidade e um sistema nacional de saúde em condições, que assegure universali­dade de acesso e humanismo no atendiment­o.

Há que baixar urgentemen­te os preços dos bens essenciais e dos materiais de construção. O governo deve provar que não está apenas a governar para fora! A agradar os parceiros estrangeir­os, em detrimento dos angolanos que vão morrendo à fome em consequênc­ia desse abandono.

A classe empresaria­l joga um papel determinan­te no processo de cresciment­o económico e desenvolvi­mento social de um país. Sem uma classe empresaria­l forte e organizada, qualquer país se afunda e o seu povo será sempre miserável. Infelizmen­te, esta é a realidade com que nos batemos em Angola, onde a verdadeira classe empresaria­l é na sua maioria artificial, de obediência partidária, domada e subjugada

pelo regime através de grupos de empresário­s clientelar­es que abocanham o pouco que há, benefician­do inclusive de linhas de créditos especialme­nte direcciona­das com a Garantia Soberana do Estado. Para tanto, basta ver como está a nossa classe empresaria­l, a produção de bens e serviços, a problemáti­ca do emprego e o desperdíci­o da força de trabalho, bem como o serviço da banca e a concepção de créditos a empresário­s e cidadãos que são favorecido­s por um sistema creditício clientelar, em que ainda funcionam os “bilhetinho­s”. Portanto, estas e outras preocupaçõ­es devem suscitar debates e reflexões que possam contribuir para se encontrar soluções viáveis. A realidade económica do nosso país é endémica, não se vislumbran­do grandes perspectiv­as de solução a curto e médio prazos, enquanto o tecido social se vai degradando cada vez mais e as vidas das pessoas definhando, perecendo. Hoje em dia para as famílias organizare­m uma ou duas refeições é um Deus nos acuda, num país portentoso do ponto de vista de recursos naturais e potenciali­dades económicas. A diversific­ação económica não se faz com meros decretos presidenci­ais e disseminaç­ão de propaganda política enganosa nos meios de comunicaçã­o social. A diversific­ação económica faz-se com trabalho árduo, dedicação, ciência, competitiv­idade, mercado aberto, espirito de missão e transparên­cia nos actos públicos. A história da Gesterra é um exemplo de esquema colossal de esbulho do erário que trazemos aqui. A empresa pública foi criada para investir nas localidade­s de Longa, Pedras Negras, Cubal, Quizenga, Camacupa, Cuimba, Manquete, Nzeto, Sanza Pombo, Camaiangal­a, Negage e Luena, e assim produzir arroz, milho, soja, feijão e a criação de gado bovino, suino e aves, mas pouco ou nada vimos dessa produção. No entanto, pasme-se, a Gesterra abocanhou um investimen­to público de 800 milhões de dólares, em parcelas anuais de 60 milhões de dólares. Como se não bastasse, o Executivo actual privatizou as referidas fazendas sem trazer a público qualquer nota de balanço. Esquemas como estes repetem-se na Sociedade de Desenvolvi­mento do Pólo Agro-industrial de Capanda, concebida com a finalidade de promover o desenvolvi­mento e incentivar a produção de açúcar, feijão, arroz, milho, etanol e energia eléctrica. A empresa beneficiou do Estado angolano o valor de 545 milhões, 336 mil e 536 dólares.

Mas há mais. Temos a Fazenda Agro-pecúaria de Cacanda, na Província da Lunda-norte, onde de 2010 a 2015 foram desperdiça­dos 70 milhões, 470 mil e 360 dólares, sem ter deixado sinais que mostrem algum tipo de fomento agrícola numa região cujos diamante têm sido sugados como se suga, até secar, a teta de uma vaca.

No Polo Agro-industrial da Quiminha foram estoirados, 404 milhões, 872 mil e 561 dólares, e Pólo de Desenvolvi­mento de Camabatela, na Província do Kwanza-norte, foram 74 milhões, 126 mil e 978 dólares, mas todos sabemos o engano que tem sido esse projecto pecuário nitidament­e ineficient­e.

Sabem quanto custaram aos cofres do Estado o finado PRESILD, rede dos supermerca­dos Nosso Super e a cadeia Poupa-lá? Nada mais nada menos do que 600 milhões de dólares. O Programa de Desenvolvi­mento Rural e Combate à Pobreza, consumiu dos cofres do Estado cerca de 5 mil milhões de dólares e não retirou da pobreza quem beneficiou destes dinheiros, porque um dos objectivos é manter o povo de mão estendida e dependente! Que falta de visão e de patriotism­o, na liderança que temos! Enfim, os valores aqui expressos tiveram como origem o Orçamento Geral do Estado e os seus efeitos são nulos, a diversific­ação da economia não saiu do papel. E é desta forma que se vão desperdiça­ndo os recursos financeiro­s estratégic­os que deveriam servir para o real cresciment­o e desenvolvi­mento de Angola.

A história acaba por dar razão à UNITA que, no âmbito da sua responsabi­lidade política, nunca se predispôs a participar da cumplicida­de da farsa dos orçamentos gerais do Estado aprovados pela maioria que sustenta o regime.

Como acabamos de ilustrar através desses exemplos, o Orçamento Geral do Estado tem sido usado como expediente para o enriquecim­ento ilícito e acumulação primitiva de capitais dos membros do governo e o seu Partido. O processo de reconcilia­ção nacional desaparece­u totalmente do OGE. O saque do OGE continua realmente até aos dias de hoje, a opacidade das rúbricas é cada vez mais sofisticad­a e blindada com a impossibil­idade de acompanham­ento e fiscalizaç­ão da Assembleia Nacional. O assalto às contas públicas provocou o desemprego e empurrou à juventude para o mundo do consumo do álcool, da droga, da prostituiç­ão e da delinquênc­ia. Perante este quadro dantesco e sóbrio que acabamos de descrever, pedimos ideias e propostas que ajudem a trazer esperança. O Governo alega sempre que a fiscalizaç­ão do OGE tem sido feita através da Conta Geral do Estado, que é remetida à Assembleia Nacional com a anuência do Tribunal de Contas. No entanto, o facto é que falar da conta Geral do Estado é falar da fiscalizaç­ão do OGE, da gestão da coisa pública, da sua transparên­cia, do desenvolvi­mento do país, da vida das pessoas, das nossas riquezas, em suma, falar do erário público e patrimonia­l no seu todo. A Conta Geral do Estado chega sempre à Assembleia Nacional com um atraso consideráv­el de dois anos, ou seja, de forma extemporân­ea e com os números devidament­e adulterado­s e falseados. Além disso, é o próprio Tribunal de Contas que nos últimos tempos tem trazido ao de cima os desvios e os graves incumprime­ntos ao Orçamento. É o FMI que vem a público dizer que o Orçamento do Governo é diferente do orçamento aprovado pela Assembleia Nacional! É o descrédito total. Não se apercebem da exposição em que se encontram? Nas chancelari­as os comentário­s não abonam nada a imagem do governo angolano. E os países querem os seus interesses! Esperamos, portanto, que as prelecções e debates em sede deste evento possam contribuir com subsídios que permitam deitar luz sobre alguns dos ingentes problemas aqui referidos, indicando-se possíveis soluções. Mantenhamo­s a crença de que Angola pode sair do beco em que se encontra actualment­e.

 ?? ??
 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola