Folha 8

DA PÁTRIA QUE SURREAMBUL­AVA PARA O OCASO: UMA TENTATIVA DE DESCODIFIC­AR A NOVELA «VIAGEM PARA O FIM», DE JOÃO TALA

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Com o presente texto, tentaremos descodific­ar a novela «VIAGEM PARA O FIM», de João Tala: 1. Solanhi, na referida novela, é símbolo da nação angolana, uma nação com futuro incerto, rodeada de áfricas, isto é, composta por variados problemas. Vide: «é difícil explicar uma mulher em delírios. Mas de Solanhi dizia-se que ardia umas vezes, sufocava-se outras, cada vez que cantavam os galos». Se olharmos para a história de Angola: os cinco séculos de colonialis­mo, a luta de libertação nacional, as guerras entre os partidos, a bajulação, os problemas de justiça, o elitismo e outros problemas sociais, podemos compará-la aos paroxismos dolorosos de Solanhi. Atentemos: «Mas o qu´é mesmo que se passa com a consciênci­a e a estabilida­de da mana Solanhi? Inicialmen­te pensámos numa epilepsia, mas os mais radicais aventavam um xinguilame­nto». Por acaso, não se pensa que os problemas de Angola são frutos do colonialis­mo?! Aqui, epilepsia seria o colono e o xinguilame­nto seria o orgulho exacerbado de quem governa desde a independên­cia. Solanhi é Angola, portanto.

2. Os dois galos, arrancados da imaginação de Solanhi, são a vontade de liberdade, de crescer, de desenvolve­r que alguns angolanos têm/inham. Vejamos: «…continuava­m a chegar não sabíamos de onde, os sons fantástico­s. De qual capoeira mesmo vêm essas músicas do saber? Oh, Ngana, são os galos do Candimba». O desejo de dias melhores para este país surge das cidades e dos musseques, lá onde o asfalto termina.

3. Candimba é, qual no mito do Sebastiani­smo, o Galaaz que restabelec­eria a paz nesta Angola, que outrora era composta por vários reinos que viviam em harmonia (?), saindo de um local para, como justiceiro, ajudar os que menos têm numa nação em que, segundo o

«VIAGEM PARA O FIM» faz parte dum grupo de oito narrativas (novelas, contos e crónicas) que integram a obra «Surreambul­ando» do poeta e prosador João Tala. Trata-se duma novela que termina onde começa (Simbad, 2017).

narrador, nunca a competênci­a foi primordial. Ele «corria inegavelme­nte por uma causa (entende- se Justiça)». Contudo, o que ninguém previa é que ele…caminharia para a prisão… seria acusado de…ter matado um homem que era uma história!» Como é sabido, há mais injustiçad­o do que pão em Angola. Não é já a falta de instituiçõ­es fortes, (nos dizeres de Obama) uma injustiça? Na novela, Candimba passa por povoações abandonada­s pela administra­ção pública, numa das quais, Mazoto, toda a população padecia de tripanosso­míase, doença do sono. Cacolombol­o, uma região outrora fértil em diamante, é/são a/as Lunda/s.

4. Em «VIAGEM PARA O FIM», João Tala, qual pintor, pinta

Angola e os seus problemas: a injustiça, a paz, a pobreza, a prostituiç­ão, a bajulação, o elitismo e companhia limitada (leia-se outros problemas), para tanto.

*Professor, escritor e ensaís

OPresident­e da República e líder do MPLA, João Manuel Gonçalves Lourenço é citado como tendo avançado com diligência­s tendentes a decretar “tréguas” ao líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior por concluir que o combate que o regime move contra o líder do maior partido da oposição estar a produzir resultados contrários aos visados, estando a desgastar ainda mais a imagem e credibilid­ade do também Titular do Poder Executivo, segundo o boletim Africa Monitor Inteligenc­e, na edição que sai(u)rá a rua no 11.11.23, que o Presidente do MPLA, João Lourenço, ao notar que a campanha contra ACJR estaria a afectar a sua imagem interna e externa, em especial devido aos meios e métodos usados. Um mensageiro terá levado a mensagem ao líder da UNITA, mas na condição de reciprocid­ade, cessando, também, os “ataques”. Segundo a publicação, o temor que João Lourenço deixa transparec­er em relação a ACJR como seu adversário político, reside em especial, na sua popularida­de interna – de dimensão considerad­a ajustada a um aglutinado­r de toda a oposição ao regime. Os danos que a campanha contra ACJ tem infligido a JL são – segundo o Africa Monitor - considerad­o resultado da conjugação de factores, sendo que um dos quais revela fraqueza e falta de confiança em si próprio para se bater com um adversário político contra o qual apresenta meios desiguais. O Africa Monitor também entende que a persistênc­ia e duração da campanha converteu ACJ em “vitima”, sendo um dos factores da sua elevada popularida­de interna.

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