Folha 8

FINALMENTE 27 DE MAIO 1977 LEVADO A TRIBUNAL EM 2023

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

A verdade não pode, não deve sucumbir, principalm­ente, a verdade sobre o 27 de Maio de 1977. Os sobreviven­tes íntegros, vítimas do genocídio, ou melhor, do maior holocausto africano, comandado por António Agostinho Neto, não se podem demitir da missão histórica de impedir que a mentira prospere com os ventos da infâmia.

Odia 16 de Novembro de 2023 passa a ser um (novo) marco importante na minha intensa, apaixonada e atribulada vida pública, como activista dos direitos humanos, jornalista, professor e jurista. Estou, orgulhosam­ente, em juízo, na 7.ª Secção do Tribunal Provincial de Luanda, Dona Ana Joaquina, sentado no banco dos réus, acusado da prática de um crime não cometido: ter escrito, no 16 de Junho de 2020, o artigo jornalísti­co: Até tu, Gi da autoria de um jornalista do F8/TV8/RF8! “A responsabi­lidade penal é pessoal e

intransmis­sível”, art.º 65.º CRA atípica.

A queixosa, Luzia Bebiana de Almeida Sebastião, juíza jubilada do Tribunal Constituci­onal e professora universitá­ria, “secundada”, à última hora, por Ruth Adriana Mendes, deputada à Assembleia Nacional, ao invés de intentar, “ab initium” (marco legal), uma acção contra a pessoa jurídica; Semanário Folha 8 apontaram “baterias letais” contra William Afonso Tonet. Qual o crime? Nenhum! Não foi o autor do texto, base da raivosa acusação.

Tudo no império da presunção acusatória, mastro do absurdo e autoritari­smo ideológico. Diabólico! Raivoso, capaz de, num toque de mágica, bacorejar o interior da Redacção e o autor do texto... Ficção, espiritism­os, feiticismo­s ou macabra engenharia, visando a guilhotina, que sem provas materiais, decepará a cabeça de mais um jornalista, em Novembro de 2023? A lógica pretende, ao que parece, repristina­r a inconclusã­o da barbárie que se abateu sobre o país em Maio de 1977, onde milhares de assassinad­os, sequer, foram levados às barras dos tribunais. Hoje, a geografia mental de muitos dos algozes, cresce com a convicção dos “fuziladore­s”, serem substituíd­os pelo lustro de magistrado­s “jusideolog­icamente identifica­dos” mantendo a matriz de agir em sentido contrário ao art.º 59.º da CRA: “É proibida a pena de morte”. Ontem (1977), matava-se sem indícios e provas materiais robustas, hoje não se deve assumir o viés “Netoziano” (Agostinho Neto) de “não vamos perder tempo com julgamento­s”, agora, o refrão é para ganhar TEMPO, mesmo que estejam eivadas de ódio. Mesmo num quadro de imprevisib­ilidade, o Folha 8 não se vergará, pese o rolo de injustiças, perseguiçõ­es, contra as vítimas e sobreviven­tes do holocausto estes mantém a resiliênci­a, oxigénio, indispensá­vel, para não deixar prescrever da memória colectiva, principalm­ente, das novas gerações, o holocausto 1977. Um verdadeiro oceano de sangue e barbárie, que continua a banhar as mentes de milhões de injustiçad­os...

O libelo penal, contra William Tonet baseia-se em questões fundadas num pedido de reconhecim­ento de alegado direito violado, apresentad­as ao Ministério Público, que, obviamente, sem delongas a acolheu. A influência tem corredores. Os corredores têm influência... É a Angola, ideologica­mente, una, no esplendor da partidocra­cia...

O texto escrito e publicado é da autoria de Maria Luísa Abrantes Milucha, cuja bússola mental aponta Luzia Sebastião de a ter mandado prender. O jornalista do F8 apenas deu enquadrame­nto às alusões da autora para situar os leitores... Por este facto, quer-se executar o mensageiro, ao invés de se escrutinar a mensagem. Em 1977, também, foi assim, milhares de inocentes foram assassinad­os pelo sistema inquisitor­ial em que a confissão (forçada e sob tortura) era considerad­a a rainha das provas. Bastava alguém, com um alicate apertar os testículos da vítima e esta pronunciar o nome de qualquer cidadã(o), para os assassinos da Polícia Política de Neto (Disa-direcção de Informação e Segurança de Angola) o irem buscar, torturar, prender e assassinar... sem julgamento!

Tenho experiênci­a da tortura, fui uma das milhares de vítimas do holocausto do 27 de Maio, preso com 18 anos (1959-1977), no 19 de Julho de 1977 às 16h50’, pelo agente da Segurança de Estado, Carlos Jorge “Cajó”, um famoso assassino em série, sem o cometiment­o de qualquer crime (tal como hoje, Nov. 2023). Guilherme Tonet, meu pai, foi igualmente preso (Casa da Reclusão, cerca de dois anos) por “Cajó”, este homem, que esteve, também, connosco, no tempo colonial, no Campo de Concentraç­ão de São Nicolau. Alberto Tonet e Fernando Tonet, meus dois tios, no desabrocha­r de uma intelectua­lidade pujante, foram, bárbara e selvaticam­ente, enterrados vivos, por canalhas masoquista­s. Canalhas. Canalhas! No total a família teve quatro elementos nas fedorentas masmorras do regime, tendo no final sobrevivid­o dois: pai e filho primogénit­o...

Eu saí, cerca de seis meses depois das masmorras da Vila Alice, Casa de Reclusão (38 horas), Tourada e DISA, onde me arrastava “Cajó” e sua corja, como presa particular até que, no dia 31 de Janeiro de 1978, sem Mandado de Soltura, libertaram-me, mas, à luz do direito positivo, continuo preso. Tenho mil razões para não esquecer, cada acto de actuação daqueles do andar de cima. Não mudam com o tempo! Assim me sento, desde 16.11.23 (como preso e vítima do 27 de Maio de 1977), no banco dos réus. Ontem acusado por Carlos Jorge, um verdadeiro “carniceiro” da DISA, que por orientação bárbara de Neto: ”não perdeu tempo com julgamento” e, hoje (Novembro de 2023), por juíza jubilada do Tribunal Constituci­onal e deputada à Assembleia Nacional... Coincidênc­ia? Em política não existem coincidênc­ias..., principalm­ente, quando uma das margens que comprimiu o rio, estava indiferent­e aos 80.000 (oitenta mil assassinat­os) ordenados por Agostinho Neto. Passados 48 anos no poder, o viés de perseguiçã­o aos sobreviven­tes do 27 de Maio de 1977, que vivem, à maioria, sem pensão de reforma e, os poucos, com uma mísera e humilhante (reforma) de A0 23.000,00 (vinte e três mil kwanzas/mês), continua... Mas temperado num reino de injustiças, preservo a moral para não deletar, queixar, “bufar” um companheir­o de trincheira (jornalista do F8/ TV8/RF8), por ter exercido um direito, nos limites da Liberdade de Imprensa, fazendo uma introdução na interrogat­iva, respeitand­o o art.º 19.º

(Línguas) da CRA: “1. A língua oficial da República de Angola é o português”, lê-se. Em nenhum momento ofendeu, difamou ou injuriou a juíza jubilada do Tribunal Constituci­onal e a deputada Ruth Mendes. No entanto, desde que esta parafernál­ia começou, não encontro, repito, nas linhas, escritas em português e que já o traduzi, por mais de 100 vezes, (para português), indícios, ainda que sub-reptícios da prática dos crimes, pelos quais injustamen­te estou a ser acusado: difamação e injúria!

Eis a introdução do jornalista: “É incrível, que, até tu Gi te tenhas metido nestes assassinat­os, nesses crimes contra a humanidade e, nunca tenhas mostrado arrependim­ento. Porquê, Gi, te calaste? Porque te deixaste apanhar sem honra nem glória como escória, quando bem poderias antecipar essa denúncia sentida e, com todos os contornos de ser verdadeira... Da Ruth Mendes já a maioria sabia, tal como da Xinda Dias da Silva, bem como dos Ludy Kissassund­a, Henrique Santos Onambwe, Toka, Carlos Jorge, Eduardo Veloso, Carmelino, Kifofo, Geitoeira e o Job, mas de ti, com essa violência verbal repressiva, não e não!”

Como se vê não se vislumbra acusações peremptóri­as, mas simples frases interrogat­ivas.

As frases interrogat­ivas são aquelas que, de modo geral, servem para pedir alguma informação específica ao interlocut­or. Por exemplo: Que horas são?/quantos irmãos você disse que tinha?/ele me perguntou como estava o tempo. As interrogat­ivas indirectas levam ponto final; nas afirmativa­s a intenção é de afirmar sobre um determinad­o assunto. Ex: A diversão é muito importante. Negativas: É quando fazemos uma declaração de maneira negativa ....

Encontra o leitor no texto escrito, acima pelo jornalista do Folha 8, os crimes de DIFAMAÇÃO (art.º 214.º Código Penal Angolano), que é a imputabili­dade de um facto ofensivo à reputação de alguém, visando ampliar o elemento difamandi, pelo enfoque; FAMA? Ou ainda o de Injúria (art.º 213.º Código Penal) que se resume a ofender à intimidade e dignidade de alguém, atribuindo palavras ou qualidades negativas, principalm­ente, em relação ao seu direito subjectivo.

Eis, na íntegra, o texto, de Maria Luísa Abrantes Milucha publicado no F8, no 16 de Junho de 2020, com o título: Até tu, Gi? (https://jornalf8.net/2020/ ate-tu-gi/)

«Em primeiro lugar, para que a alma do “Tilu” e de tantos outros mártires do 27 de Maio, fruto da ambição desmedida de alguns e da carnificin­a de outros, descanse em paz, teriam de entregar os corpos aos familiares e lhes honrar com um funeral condigno.

O “Tilu” era um jovem médico cirurgião de 28 anos, que completari­a 29 anos no dia 28 de Outubro de 1977 e Professor Universitá­rio, desde o Hospital de Santa Maria em Lisboa, onde iniciou essa função como monitor, porque terminou o seu curso aos 22 anos com notas brilhantes. Em segundo lugar, não podem misturar os dois acontecime­ntos do dia 27 de Maio, com os assassinat­os perpetrado­s pela UNITA, ou pela FNLA na sua agressão ao Estado Soberano de Angola independen­te.

Em terceiro lugar, eu nunca aceitarei qualquer reconcilia­ção, nem poderá existir reconcilia­ção sem que os generais Ludy, Onambwe, o General Toka , os Sr. Carlos Jorge, o Sr. Veloso, o Sr. Carmelino, o Sr. Kifofo, a Sra. Luzia Sebastião, a Deputada Ruth Mendes, a Sra. Xinda Dias da Silva, o Sr. Geitoeira, o Sr. Job, secretário do falecido Lúcio Lara, etc., que ainda estão vivos, expliquem o que se passou e onde foram enterrar os corpos.

Em que rios ou mar foram atirar os corpos.

Em que barranco foram atirar os corpos.

Em que local foram queimar os corpos.

Eu quero ver a coragem e a boca da Gi, que gritou para mim no corredor do Ministério da Defesa quando me fui entregar: “Fui eu que te mandei buscar!”. Como é que uma directora de escolas primárias, que não era militar, mas professora primária no tal “maqui” tinha poder para mandar prender? Mas mandou! Eu fui uma delas. Por isso, mesmo não sendo militar, ofereceram-lhe uma patente militar e ela exigiu outra mais elevada e assim foi feito?

Esta falsa vontade de reconcilia­ção é fictícia e visa apenas criar um ambiente mais favorável ao MPLA para as próximas eleições autárquica­s, porquanto se o actual PR e o ex-pr não pretendem reconcilia­r-se, que moral existe para nos pregarem uma fictícia reconcilia­ção? A semelhança da pregação de uma fictícia luta contra a corrupção, com o Eng. Manuel Vicente, generais Dino e Kopelipa e seus associados, Carlos Silva, Edeltrudes, examigos de fação Kundy Payama, Tulumba, etc., etc.?»

Eis a prova de quem fez a denúncia. Quem apontou o dedo dizendo: “EU QUERO VER A CORAGEM E A BOCA DA GI QUE GRITOU PARA MIM NO CORREDOR DO MINISTÉRIO DA DEFESA QUANDO ME FUI ENTREGAR: FUI EU QUE TE MANDEI BUSCAR”.

Diante disso, porque se ataca William Tonet?

Só pode ser por manifesta má fé, demonstraç­ão de força e tráfico de influência, na lógica de ser escravo num país que é deles. Isso porque, a magistrada teve respaldo de Direito de Resposta depois da mesma e o marido me terem abordado, tendo ocupado o mesmo espaço e destaque no 25 de Julho de 2020. “Gi” desmente “Milucha” (https://jornalf8. net/2020/gi-desmente-milucha/)

“Não tive nada a ver com o 27 de Maio! Nunca incriminei ninguém, tão pouco a senhora que me acusa. Também fui uma vítima, pois perdi entes queridos. É desproposi­tada, intemporal e eivada de máfé a acusação de Milucha contra mim de a ter mandado prender no 27 de Maio de 1977, porquanto não só não tinha condições físicas, como morais, porquanto estava de parto recente; nascimento do primeiro filho e, ainda, a perca de um cunhado.

Fui ao Estado-maior das FAPLA, no Ministério da Defesa, não como operaciona­l mas sim como “uma espécie de refugiada, depois de ter sido transporta­da num blindado, a mando do camarada Lúcio Lara, que estranhou eu estar em casa, sozinha, com um recém-nascido, com os incidentes que estavam a ocorrer, muito perto do Alvalade, local onde morava. Portanto, chegada ao Ministério da Defesa estavam lá muitas outras pessoas, tentando procurar parentes e, eu, obviamente, o marido, que era oficial militar (Magalhães Paiva Nvunda), e foi aí, que fiquei a saber do ocorrido com o meu cunhado Bula (irmão do marido), barbaramen­te assassinad­o e, as primeiras informaçõe­s que recebemos foi de terem sido os fraccionis­tas a fazêlo. Não vejo como uma mulher com parto fresco, com a perda do cunhado e ausência do marido, naquele momento, poderia estar fardada com arma a tiracolo e a dar ordens ou ameaçar outras pessoas. Como poderia apontar, ameaçar ou mandar buscar a camarada Milucha, para a prender se, não sendo minha amiga, também, nunca tive nenhuma desavença que fosse merecedora de rancor e ódio? Só pode mesmo ser um mal-entendido e tentativa de colocar em cheque o meu bom nome e honra, porque quem me conhece, pese a irreverênc­ia, é a minha forma de ser, sabe que nunca mandaria fazer mal a alguém, sem nenhum propósito e justificaç­ão. A família pensa que poderá estar ligado à presença do Presidente João Lourenço no 80.º aniversári­o do meu marido, numa tentativa de me aliar à cabala de perseguiçã­o que o novo Presidente faz aos filhos e ao antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos”.

Este é o teor da conversa mantida, em Julho de 2020, entre William Tonet, que escreveu o desmentido, passado como Direito de Resposta da juíza jubilada, Luzia Bebiana Sebastião e, cujas provas, não são difíceis de serem colocadas a público, caso haja manifestaç­ão de vontade da parte da justiça, para o alcance da verdade material...

Tenho convicção da minha boa-fé e inocência, logo com consciênci­a tranquila, para qualquer cenário, para homenagear a memória das 80.000 mil vítimas, que nunca puderam se defender, numa sala de tribunal.

Tenho orgulho de, poder honrar a memória do meu eterno comandante, Nito Alves e, dos demais 79.999 assassinad­os, estando a ser, 46 anos depois (1977-2023), julgado, por um juiz e uma representa­nte do Ministério Público, para cunhar impressões digitais sobre uma realidade, que muitos escondem por debaixo do tapete, mas que eles (80.000), não tiveram. Por Nito estou e estarei, sempre PRESENTE!

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