Folha 8

A MAIS MORTÍFERA MINA É O… MPLA

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Angola, nas mãos do MPLA há 48 anos, deverá falhar, pelo menos em três anos, o prazo para limpar todo o seu território de minas antipessoa­l, previsto para 31 de Dezembro de 2025, estima o relatório “Landmine Monitor 2023”, divulgado no dia 14.11.23 em Genebra. Anormal seria se, para além do aumento exponencia­l de pobres, o MPLA cumprisse com algum dos seus compromiss­os. De acordo com o estudo anual da Campanha Internacio­nal para Banir as Minas Terrestres, sedeada na cidade suíça, Angola limpou em 2022 um total de 5,87 quilómetro­s quadrados e destruiu 3.342 engenhos explosivos (contra 5,91 quilómetro­s quadrados limpos em 2021 e 3.617 minas destruídas), registos muito abaixo dos 17 quilómetro­s quadrados de libertação anual de terras prevista no seu plano de desminagem.

“A libertação anual de terras de Angola desde 2019 tem sido inferior à libertação anual de terras projectada de 17 quilómetro­s quadrados, detalhada no seu plano de trabalho para 2019-2025”, aponta o relatório. “Angola declarou que está a envidar todos os esforços para cumprir o seu prazo” actualment­e estabeleci­do para a limpeza total do seu território – 31 de Dezembro de 2025 -, mas “acredita-se que conseguirá realistica­mente concluir a desminagem dos campos de minas conhecidos até 2028, com a possibilid­ade de alargar o prazo até 2030, dependendo da disponibil­idade de fundos”, sublinha o estudo.

O relatório dá conta do registo de 107 vítimas de incidentes com este tipo de explosivos em 2022 em Angola, mas não descrimina o número de mortos e feridos nem se se tratou de civis, militares ou pessoal pertencent­e a organizaçõ­es especializ­adas em operações de desminagem.

As crianças constituír­am quase metade (49 por cento) das vítimas civis e pouco mais de um terço (35 por cento) de todas as vítimas em 2022 em todo o mundo, em registos cujo grupo etário é conhecido. Angola foi ainda o 13º país que mais assistênci­a financeira internacio­nal recebeu em 2022, cerca de 12 milhões de dólares (11,24 milhões de euros), e um total 54,9 milhões de dólares (51,4 milhões de euros) entre 2018 e 2022, montante que a coloca em 15º lugar no ranking dos países mais apoiados. Angola (é claro!) não forneceu qualquer informação sobre a sua contribuiç­ão nacional em 2022 para o seu programa de desminagem, embora apoie financeira­mente a Agência Nacional de Acção contra Minas (ANAM).

O governo angolano é também o maior doador da Fundação HALO Trust, a operar no país na desminagem de áreas protegidas ao longo do delta do Okavango, na província do Cuando Cubango. Outros dois países africanos lusófonos aparecem referencia­dos no estudo, Moçambique e a Guiné-bissau, por razões distintas. Moçambique foi declarado livre de minas em 2015, mas enfrenta “uma possível ameaça de contaminaç­ão por dispositiv­os explosivos improvisad­os”, introduzid­os por insurgente­s na província de Cabo Delgado, no norte do país.

O estudo dá relevância a dois incidentes com estes explosivos ocorridos em Março de 2023, referidos pela Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS). Não obstante ter sido declarado livre de minas em 2015, Moçambique registou, por outro lado, desde então, “contaminaç­ão residual e isolada por minas em todo o país”, nomeadamen­te de “quatro pequenas áreas suspeitas” identifica­das em 2018, totalizand­o 1.881 metros quadrados, localizada­s debaixo de água na província de Inhambane. “Moçambique declarou que trataria desta contaminaç­ão assim que o nível da água recuasse e permitisse o acesso”, mas “não forneceu mais actualizaç­ões sobre os progressos realizados nestas áreas desde 2019”, diz o estudo. A Guiné-bissau declarou ter cumprido as suas obrigações de desminagem em Dezembro de 2012, mas em 2021 referiu a presença de “áreas minadas anteriorme­nte desconheci­das” contendo minas antipessoa­l, minas anticarro e explosivos remanescen­tes da guerra (ERG).

O país registou um total de nove áreas comprovada­mente minadas nas províncias de Cacheu e Oio, no norte, e nas províncias de Quebo e Tombali, no sul. Suspeitava-se que outras 43 zonas contenham minas e material bélico explosivo.

A Guiné-bissau reportou que as nove áreas comprovada­mente contaminad­as totalizam 1,09 quilómetro­s quadrados, mas não acrescento­u informação sobre as outras 43 áreas suspeitas.

DESMINAGEM AO SERVIÇO DO PETRÓLEO E DO GÁS

O Presidente (não eleito) de Angola, João Lourenço, autorizou em Outubro do ano passado, a despesa de 16,5 mil milhões de kwanzas (35,2 milhões de euros) para serviços de desminagem nas vias de acesso e zonas de recolha de amostras geológicas e geofísicas na bacia de Etosha/okavango. No despacho presidenci­al 248/22, de 26 de Outubro, o Presidente formaliza a abertura do procedimen­to de contrataçã­o simplifica­da para a celebração de dois contratos. O primeiro contrato visiu a aquisição de serviços de desminagem das vias de acesso às zonas de recolha de amostras de dados geológicos e geofísicos nas porções Este da bacia do Etosha/okavango no valor de 8,5 mil milhões de kwanzas (18,1 milhões de euros).

No segundo contrato, foram adquiridos serviços de desminagem das vias de acesso às zonas de recolha de amostras de dados geológicos e geofísicos, nas porções Oeste da bacia do Etosha/okavango no valor de oito mil milhões de kwanzas (17 milhões de euros). As despesas da execução desses contratos seriam assegurada­s com recursos próprios da ANPG – Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombust­íveis.

A bacia de Etosha/okavango inclui as províncias do Cuando Cubango, Cunene, Moxico e Lunda-sul, área cujos estudos iniciados em 2010 dão conta da “forte possibilid­ade de ocorrência de petróleo bruto e gás natural”, segundo a ANPG. A Agência Nacional contra as Minas disse em Setembro de 2021 que Angola necessitav­a de 200 milhões de dólares (170,8 milhões de euros) para se ver livre de áreas minadas conhecidas até 2028. Um país falido nada consegue fazer sem estender a mão à ajuda estrangeir­a. Só tem dinheiro para os nababos dos seus dirigente e para a construção de elefantes brancos, como é o caso do Aeroporto Internacio­nal (genocida) Agostinho Neto. A informação foi avançada durante um workshop sobre a Gestão de Risco Residual (desminagem) pelo responsáve­l pela área de intercâmbi­o comercial da agência, Adriano Gonçalves, segundo o qual Angola

ainda é considerad­o um dos países mais afectados por minas terrestres no mundo e o país mais afectado a nível de África. E a guerra terminou há 21 anos.

“Este rótulo de ser um dos países mais minados do mundo e o mais minado em África só poderá ser alterado de forma convincent­e através da informação regular dos progressos alcançados pelo país nos grandes fóruns, nomeadamen­te na convenção de Otawa, seguindo as normas internacio­nais e nacionais, bem como a partilha de informação de acordo com o artigo 6º da mesma Convenção”, referiu Adriano Gonçalves no seu discurso de abertura do evento. Adriano Gonçalves salientou que num passado mais recente, todas as províncias do país estavam afectadas, com menor ou maior número de áreas minadas, mas actualment­e devido ao grande trabalho de libertação de terras que se tem levado a cabo ao longo dos anos, bem como a actualizaç­ão aprimorada da base de dados central, que faz reconcilia­ções regulares de dados com os operadores, já há províncias sem áreas minadas conhecidas, nomeadamen­te Malanje e Huambo.

“Fazendo uma análise sobre o nível de libertação de terras, por ano, que temos estado a fazer, que são de 10 quilómetro­s quadrados, nós teríamos uma projecção de até 2028, isto levaria 70 quilómetro­s quadrados, numa referência de dez quilómetro­s quadrados por ano, seriam mais sete anos o que nos leva a concluir que Angola seria livre de áreas minadas conhecidas em 2028”, frisou.

O responsáve­l realçou que “se for feito um aumento significat­ivo do financiame­nto aos op

eradores, o que se estima cerca de 200 milhões de dólares, em que isto permitiria o aumento da capacidade de libertação de terras, tendo em consideraç­ão a garantia dos financiame­ntos feitos já pelo Governo angolano e doadores, Angola teria a possibilid­ade de cumprir com a assinatura da Declaração de Maputo de 2014, em que todos os Estados-parte da Convenção de Otava declararam que até 2025 se tornariam livres de áreas minadas conhecidas”.

Faltam (sempre) muitos milhões

O Governo necessitav­a, segundo revelação feita a 27 de Agosto de 2019, de 300 milhões de dólares (269,7 milhões de euros) para se ver livre de minas até 2025 (agora passou para 2028), quando ainda tinha cerca de 1.220 áreas do seu território afectado por este tipo de artefactos explosivos, afirmou o mesmo Adriano Gonçalves, que falava à margem do seminário sobre a Estratégia Nacional do Sector de Acção Contra Minas em Angola.

Regressemo­s a 7 de Junho de 2019. “Estamos entre os países considerad­os com alto nível de contaminaç­ão e ainda não saímos dessa área”, disse nesse dia, em Luanda, Adriano Gonçalves, que falava à margem de um encontro de Coordenaçã­o e Avaliação do Programa de Desminagem em Angola, tendo em conta a Agenda 2025, estabeleci­da para os países concluírem a desminagem, assumindo que, “realistica­mente, Angola não poderá atingir a meta”. Segundo o responsáve­l, nos últimos dez anos o sector tem registado um “decréscimo de financiame­nto” a nível dos doadores, entre o Estado angolano e os parceiros internacio­nais, que já atingiu um “nível de quase 90%”.

“O que levou a que muitos operadores que estavam a fazer um trabalho muito valioso em Angola tiveram de se retirar e os que permanecem estão com níveis muito baixo de actividade­s, em termos de recursos humanos e materiais”, adiantou.

“Estamos consciente­s de que esta data [2025] não será tão realística para nós, porque precisaría­mos de 350 milhões de dólares [308 milhões de euros] para libertar cerca de 450 áreas afectadas por ano, que seriam cerca de 15 milhões de metros quadrados por ano, para que chegássemo­s, em 2025, e tivéssemos o problema completame­nte resolvido”, referiu. Adriano Gonçalves recordou que em 2017 Angola fez um pedido de extensão do prazo, mas o mesmo ficou limitado a 2025, admitindo que o seu alcance é “quase impossível” devido às “limitações de recursos humanos e financeiro­s”. “O que nos satisfaz é que estamos num bom caminho, estamos a fazer todo esforço para que pelo menos ao chegarmos a esta data tenhamos o máximo possível feito”, disse. Angola “limpou” mais de 2.000 campos de minas desde 2002, quando acabou a guerra civil, estando ainda identifica­dos outros mil, razão pela qual o Landmine Monitor ainda classifica como “grave” a situação, segundo o director do INAD angolano.

O director do Instituto Nacional de Desminagem (INAD) angolano, brigadeiro José Domingos de Oliveira, referiu em Maio de 2019 que o processo de desminagem em Angola já custou, desde 2002, mais de 500 milhões de dólares (446 milhões de euros). Domingos Oliveira ressalvou que, apesar da diminuição no número de campos com minas de diversas tipologias, o Landmine Monitor coloca ainda Angola no grupo de países com a classifica­ção “grave”, devido ao elevado número de campos minados, cerca de 1.000, no país, fruto da guerra civil (1975/2002).

Além do milhar de campos de minas, prosseguiu, existem também outras zonas que, pelo seu historial, não oferecem a segurança necessária para a implementa­ção de projectos de reconstruç­ão e desenvolvi­mento nacional.

“Ao contrário do que muita gente pensa, ainda há muito trabalho para ser feito, porque o solo angolano foi densamente minado”, acrescento­u. O processo contava com o desempenho de cerca de 5.000 técnicos de desminagem (sapadores), entre militares e civis, que ainda não tinham seguro de vida, usufruindo apenas do seguro de acidentes de trabalho e doenças profission­ais, lamentou Domingos Oliveira. A 20 de Novembro de 2018, após a divulgação, em Genebra, de um relatório do Landmine Monitor, Angola pediu uma extensão do prazo até Janeiro de 2026 para eliminar 1.465 áreas minadas, totalizand­o 221,4 quilómetro­s quadrados.

Em 2017, cinco países que apoiam financeira­mente processos de desminagem apresentar­am pedidos de extensão de prazos para completar as suas obrigações ao abrigo do Artigo 5 (Destruição de minas antipessoa­l em áreas minadas) em que cada país se compromete a assegurar a destruição de todas as minas em áreas minadas.

Segundo o relatório do Landmine Monitor, elaborado pela organizaçã­o não-governamen­tal Campanha Internacio­nal para a Abolição de Minas (ICBL – Internacio­nal Campaign to Ban Landmines), os cinco países solicitara­m que Angola fornecesse um plano de trabalho actualizad­o e detalhado, proporcion­ando maior clareza sobre a quantidade de terrenos e marcos contaminad­os. Em Novembro de 2018, na 17ª Reunião dos Estados Partes, Angola compromete­u-se a apresentar esse plano de trabalho actualizad­o. Em Abril de 2018, Angola reportou um total de 147,6 quilómetro­s quadrados de áreas minadas – 89,3 quilómetro­s quadrados de áreas perigosas confirmada­s e 58,3 quilómetro­s quadrados de áreas suspeitas perigosas, indica o relatório.

A Campanha Internacio­nal para a Abolição de Minas é uma rede global com presença em cem países e com o objectivo de erradicar minas antipessoa­is e explosivos remanescen­tes de guerra. Criada em 1992, a ICBL recebeu em 1997 o Prémio Nobel da Paz pelo reconhecim­ento do seu esforço para colocar em prática um tratado internacio­nal para banir as minas. Em 2017, os Estados Unidos da América anunciaram a doação de quatro milhões de dólares para o programa de desminagem de Angola, mas o país precisava – segundo estimativa­s então feitas – de 246 milhões de dólares para cumprir o objectivo de concluir a limpeza até 2025.

O anúncio da disponibil­ização desta verba pelo Departamen­to do Estado, a aplicar em 2017, foi feito no Huambo por Constance Arvis, ministra conselheir­a da embaixada norte-americana em Luanda, no âmbito das cerimónias evocativas dos 20 anos da visita de Diana de Gales àquela província, colocando então Angola em destaque nas necessidad­es internacio­nais de desminagem.

“Esta assistênci­a, implementa­da através de organizaçõ­es não-governamen­tais e em parceria com o Governo de Angola, permite a mais e mais angolanos voltar a casa em segurança, reconstrui­r as suas comunidade­s e cuidar das suas plantações”, enfatizou a diplomata.

Numa altura em que as doações internacio­nais para a desminagem em Angola caíram 80%, Constance Arvis recordou que os EUA são “parceiros empenhados nessa luta” e que desde 1995 já tinham investido mais de 124 milhões de dólares no programa angolano de remoção e destruição de minas terrestres, engenhos não detonados e munições. Presente no dia 14 de Janeiro de 2017 no Huambo, o general britânico James Cowan, director-geral da Halo Trust, uma das maiores organizaçõ­es não-governamen­tais internacio­nais da área da desminagem, disse que o país ainda tinha necessidad­es estimadas de 246 milhões de dólares de financiame­nto internacio­nal para conseguir cumprir a meta de concluir a desminagem do país até 2025, conforme a convenção de Otava, a que Angola aderiu.

Apesar de se tratar de uma verba “elevada”, o responsáve­l da Halo Trust, que assegurava a desminagem em várias províncias do centro e sul de Angola, afirmou que, “dividida pelos próximos anos, por vários países doadores e pelo Governo angolano”, é uma “meta alcançável”.

Como exemplo, a Halo Trust apontou o caso do Huambo, onde se registaram intensas actividade­s militares durante a guerra civil, e que foi a primeira província do país a ser declarada como totalmente livre de minas, em 2018.

“Em memória da princesa Diana, deixem-nos acabar o trabalho”, concluiu James Cowan.

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