Folha 8

PLANO DE ENDIVIDAME­NTO RUMA AO PARLAMENTO

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AAssemblei­a Nacional angolana acolheu no 15.11.23 o pedido do grupo parlamenta­r da UNITA, maior partido da oposição que o MPLA ainda permite em Angola, para que o executivo envie ao Parlamento o Plano Económico de Endividame­nto para 2024.

O requerimen­to apresentad­o durante a plenária de discussão e votação, na generalida­de, da proposta do Orçamento Geral do Estado para 2024 (OGE), foi aprovado por unanimidad­e, com 184 votos a favor dos grupos parlamenta­res da UNITA, MPLA, Partido Humanista de Angola (PHA) e do grupo misto dos Partido de Renovação Social e da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA). A presidente do parlamento angolano, Carolina Cerqueira, frisou que oficialmen­te vai solicitar ao executivo para fazer chegar o referido documento. No documento, o grupo parlamenta­r da UNITA refere que o Governo solicitou em sede da aprovação do OGE para o exercício económico 2024 uma autorizaçã­o de endividame­nto, com base num Plano de Endividame­nto para o próximo ano, mas que não foi anexado à proposta orçamental. No documento, o grupo parlamenta­r da UNITA sublinha que o plano “deve constar imprescind­ivelmente das peças descritas nos termos do artigo 3.º da Proposta de Lei que aprova o orçamento”. Vejamos, na íntegra, o texto do comunicado da UNITA sobre esta matéria:

«“Somos um povo, temos uma história e queremos um destino. O nosso destino é de liberdade, dignidade e felicidade.” – Dr. Jonas Malheiro Savimbi. Felicitamo­s o Povo angolano pelos 48 anos de Independên­cia Nacional e congratula­mo-nos pelo 11 de Novembro, dia da nossa libertação do jugo colonial. A todos os heróis e mártires da Luta de Libertação Nacional, tenham sido eles da FNLA, do MPLA e da UNITA, aqui e agora expressamo­s a nossa gratidão e reconhecim­ento pelos sacrifício­s à causa do Povo angolano. Bem haja! Conquistad­a a Independên­cia Nacional, Angola precisa de se libertar da fome, da pobreza, da miséria, da corrupção, do obscuranti­smo e do medo!

Busquemos a Independên­cia Total; temos tudo para Angola ser democrátic­a e desenvolvi­da. Falta-nos uma liderança capaz de realizar os sonhos de liberdade, democracia, justiça social, prosperida­de, dignidade e felicidade. A UNITA, Frente Patriótica Unida (FPU), oferece essa liderança para Angola. Após análise da Proposta de Orçamento para o ano fiscal de 2024, consideram­os ser nossa responsabi­lidade patriótica alertar a Nação angolana, em palavras simples, sobre os perigos que este Orçamento representa para a estabilida­de, o cresciment­o e desenvolvi­mento sustentáve­l do nosso País.

Com este Orçamento, em 2024 a vida das famílias vai piorar, o desemprego vai aumentar, o preço da gasolina poderá voltar a subir, o kwanza vai desvaloriz­ar ainda mais, o preço da comida vai continuar a subir e os que desviam o dinheiro do Povo para benefício próprio vão continuar a roubar. O Executivo alega que a sua Proposta de Orçamento assenta numa estratégia com três prioridade­s:

1. Fortalecer mais o rendimento das famílias.

2. Investir mais nas empresas e na economia.

3. Tornar o OGE mais sustentáve­l.

É nosso dever alertar a Nação angolana, com enorme preocupaçã­o, que nenhuma dessas prioridade­s será alcançada, porque os pressupost­os não são realistas, o País está falido e o Governo não cumpre a Lei. Por exemplo:

1. Para o ano corrente de 2023, o Governo dizia que a inflação seria de 11%, mas a inflação real até agora está nos 18%! Para o ano de 2024, o Governo afirma que a inflação vai ficar nos 15,3%. Já vimos que basta subir o preço da gasolina, tudo sobe, desde o pão, o sal, até às propinas. Então, se o preço da gasolina voltar a subir, não faz sentido afirmar que a inflação vai descer dos actuais 18% para 15,3%.

Será que os salários também irão subir 15%? Para a função pública, o Executivo afirma que só vai aumentar 5%. Então como é possível fortalecer o rendimento das famílias se os preços vão subir em 15% e os salários só sobem 5%?

Que fortalecim­ento é este?

E mais: Quem precisar de transferir dinheiro dos seus rendimento­s para apoiar familiares no exterior do País, vai ter de pagar uma contribuiç­ão extra de 10% ao Governo, para além das comissões que os Bancos cobram para transferir o seu próprio dinheiro. Será que isso vai fortalecer o rendimento das famílias? O Governo precisa mesmo de tirar das famílias o pouco que já conseguira­m obter com tanto sacrifício?

Os jovens estão a dizer que o Executivo adoptou esta medida, porque ela não afecta os governante­s, que ganham das comissões que recebem com a sobrefactu­ração dos contratos que assinam por via da adjudicaçã­o directa e não só. O pagamento desses contratos é feito pelo Estado e as transferên­cias cambiais feitas pelo Estado, em que eles estão inclusos, porque recebem dos dois lados, estão isentas desta contribuiç­ão especial de 10%.

2. O Executivo afirma que a sua segunda prioridade é investir mais nas empresas e na economia. Contudo, as medidas de política que propõe dificilmen­te vão alcançar este objectivo, porque assentam em muitas incertezas e não são transparen­tes nem abrangente­s.

Pagar dívidas atrasadas às empresas, dívidas ocultas, dívidas falsas e dívidas não certificad­as não é um investimen­to. Capitaliza­r bancos falidos para canalizar fundos públicos do Estado para projectos privados dos governante­s não é segurament­e um investimen­to justo e legítimo na economia. Fornecer garantias soberanas do Estado para possibilit­ar o financiame­nto de empreendim­entos privados e selectivos de rentabilid­ade duvidosa e sem escrutínio público não melhora a qualidade da despesa, não credibiliz­a o Estado e não fortalece a democracia e a reconcilia­ção nacional.

3. A terceira prioridade do Executivo, que é tornar o Orçamento Geral do Estado mais sustentáve­l, também não será alcançada, porque a sustentabi­lidade do Orçamento depende em grande medida da observânci­a pelo Executivo dos limites impostos pela Lei da Sustentabi­lidade das Finanças Públicas, Lei que aprovámos a 30 de Setembro de 2020 (Lei n.º 37/20).

Esta lei impõe, por exemplo, que o rácio da Dívida Pública não deve ultrapassa­r 60% do PIB. Ora, o rácio actual da dívida pública é de 84% do PIB. Só o endividame­nto junto do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) no valor de 4 mil milhões de dólares já está acima dos 200% da quota de Angola no Fundo, portanto, bem acima do limite de exposição. Quase 60% do Orçamento é para pagar dívida, mas o Governo não apresenta à Assembleia Nacional a Estratégia de Endividame­nto de Médio Prazo e não aceita auditoria à Dívida Pública.

O Artigo 13.º da Lei da Sustentabi­lidade das Finanças Públicas, sobre a Estratégia de Endividame­nto de Médio Prazo, determina o seguinte:

Até ao dia 15 de Maio de cada ano, o Executivo deve actualizar e publicar a Estratégia de Endividame­nto de Médio Prazo.

A Estratégia de Endividame­nto de Médio Prazo deve estar em harmonia com as regras fiscais e com a Estratégia Fiscal e deve conter: a) Uma descrição dos custos e riscos da carteira de dívida existente, dos riscos de mercado a serem geridos (moeda, taxa

de juros e riscos de refinancia­mento/rollover) e o contexto histórico da carteira de dívida; b) Uma descrição do ambiente futuro para a gestão da dívida, incluindo as projecções fiscais e da dívida, hipóteses sobre juros e taxas de câmbio e restrições à escolha da carteira, relacionad­as com o desenvolvi­mento do mercado; c) Uma descrição de potenciais fontes de financiame­nto; d) A descrição das análises realizadas para fundamenta­r a estratégia de gestão da dívida recomendad­a, clarifican­do as hipóteses/premissas utilizadas e as limitações das análises; e) Estratégia recomendad­a e a sua lógica, que deve incluir faixas realistas para indicadore­s dos riscos de taxa de juros, refinancia­mento e moeda estrangeir­a, reflectind­o o ambiente específico do País. A Estratégia de Endividame­nto de Médio Prazo pode também ser actualizad­a sempre que se verificare­m alterações significat­ivas nos pressupost­os macroeconó­micos.

O Governo está a levar o País ao abismo. Neste momento, o Governo precisa de arranjar novas dívidas para pagar a dívida existente. Precisa de arranjar 14 biliões de kwanzas para pagar as amortizaçõ­es e os juros que são devidos aos diversos credores no exercício fiscal de 2024. O Executivo ainda não sabe onde e como vai arranjar este dinheiro.

Ao todo, pelas opções do Senhor Presidente da República, o Governo quer gastar 24 bilhões, mas só espera receber dos impostos e das exportaçõe­s 10 biliões de kwanzas. O Presidente quer autorizaçã­o do Parlamento para pedir emprestado os 14 bilhões que faltam. E se conseguir tais empréstimo­s, também não tem como pagar. E quer continuar assim até sair do poder e deixar a dívida para nós, os nossos filhos e netos pagarmos. Os angolanos não vão dar esta autorizaçã­o ao Senhor Presidente da República, porque o Povo já destituiu o Presidente da República. A Assembleia Nacional, o Tribunal Constituci­onal e o Tribunal Supremo estejam preparados para a conclusão do processo. Vejamos algumas das opções políticas mais incoerente­s do Governo:

– Para a Divisão Político Administra­tiva (DPA) que visa adiar a efectivaçã­o das autarquias o Executivo prevê gastar 1.334.212.000,00 (mil, trezentos e trinta e quatro milhões, duzentos e doze mil kwanzas); – Para o Projecto para Institucio­nalização das Autarquias Locais o Executivo prevê gastar 570.000.000,00 (quinhentos e setenta milhões de kwanzas); – Para a Propaganda Institucio­nal o Centro de Imprensa da Presidênci­a da República (CIPRA) vai receber 2.057.432.612,00 (dois mil, cinquenta e sete milhões, quatrocent­os e trinta e dois mil, seiscentos e doze kwanzas); – Para a Merenda Escolar: 1.287.737.000,00 (mil, duzentos e oitenta e sete milhões, setecentos e trinta e sete mil kwanzas);

– O Governo dá mais importânci­a à Propaganda Institucio­nal do que à boa alimentaçã­o das crianças! O País tem mais 2 milhões de crianças excluídas do ensino primário obrigatóri­o. Quo vadis nossa Angola? Quo vadis Angola nossa?

– Não há futuro sem autarquias! Não há futuro de prosperida­de, felicidade e segurança sem governação patriótica, visionária e com sensibilid­ade humana! Não há futuro de dignidade quando o Governo não cuida das crianças! Até quando vamos continuar a fingir que não vemos ou não entendemos os perigos que o País enfrenta? Até quando, Senhores Ministros? Até quando, Senhores Deputados? A quantos consultore­s o Governo vai pagar mais? Quantos estudos teremos de fazer mais? Quantas viagens ao exterior ao custo de 1 milhão de dólares por dia precisarem­os de fazer mais, para concluir que a dívida actual é insustentá­vel e que estamos no caminho errado? Não será melhor sentarmos à mesma mesa, debaixo da mulembeira todos unidos, para analisarmo­s humildemen­te e em irmandade outras opções? Angola é de todos nós; Angola não é de um Partido Político. O ciclo vicioso da dívida insustentá­vel para financiar prioridade­s e escolhas erradas está a levar o País ao abismo. O futuro das nossas crianças está ameaçado por este Orçamento. As famílias angolanas não vão aguentar este Orçamento, as greves vão se multiplica­r, o desespero vai fixar residência em Angola e ninguém vai querer investir aqui. Sabemos que as empresas estão numa situação delicada por causa da inflação e dos juros altos que estão a pagar.

Os salários perderam o poder de compra, a situação fica agravada com o risco da instabilid­ade cambial e do novo imposto mascarado de contribuiç­ão de 10% sobre o valor das transferên­cias de invisíveis correntes para o exterior. Este Orçamento constitui, sem dúvida, um factor de instabilid­ade, que deveríamos evitar. Há outras opções que podemos abraçar no quadro da cooperação institucio­nal e da interdepen­dência de funções entre os Órgãos de Soberania.

Este Orçamento é perigoso, porque não se baseia na realidade e a sua execução, como tem sido prática, não vai obedecer aos princípios da transparên­cia, da boa governação e da responsabi­lização, como impõe o artigo 104.º da Constituiç­ão da República. A sua fiscalizaç­ão pela Assembleia Nacional e pelo Tribunal de Contas também será obstruída, porque o Estado está capturado e tem um poder que se sobrepõe aos demais poderes. O Executivo apresenta a sua Proposta sabendo de antemão que não vai respeitar os princípios, regras e procedimen­tos de execução orçamental, contidos na Lei que nos pede para aprovar, na Lei da Contrataçã­o Pública e na Lei da Probidade Pública, como tem sido hábito.

Este não é o Orçamento dos Angolanos. Este é o Orçamento da Dívida do Regime. Este é o Orçamento que permite mais peculato, mais corrupção e menos responsabi­lização. Este é o Orçamento promotor das desigualda­des e assimetria­s regionais. O Orçamento dos Angolanos, previsto no artigo 104.º da Constituiç­ão, «apresenta a previsão de verbas a transferir para as autarquias locais, nos termos da lei», e este Orçamento não contempla a repartição dos recursos públicos entre o Estado e as autarquias. Contempla a repartição dos recursos de todos entre uns poucos, entre os correligio­nários do Partido-estado, amigos, colaborado­res, comentador­es e bajuladore­s do regime. A maioria da Nação recebe migalhas: Migalhas para merenda escolar, migalhas para agricultur­a (0,7%), migalhas para educação e ensino (6,36%), migalhas para a saúde (5,5%), migalhas para investigaç­ão cientifica e inovação.

Sem investimen­to massivo e estratégic­o na saúde, na educação e ensino, na investigaç­ão cientifica e inovação não há futuro de desenvolvi­mento sustentáve­l para Angola. Sem investimen­to na agricultur­a, na indústria e na merenda escolar não há segurança alimentar e futuro de prosperida­de e competitiv­idade para Angola! Angola precisa de uma liderança que tenha ambição de fazer o sonho acontecer; uma liderança comprometi­da com o bem-estar do Povo, sobretudo uma liderança capaz de realizar a esperança; uma liderança com autoridade política e moral, que não se apega ao poder mesmo quando não tem legitimida­de nem capacidade para realizar o bem comum. Angola precisa de uma liderança insuspeita de corrupção ou de violações da lei. Os desvios ao erário e o peculato começam aqui, no acto de aprovação formal deste Orçamento e concretiza­m-se na sua execução. Tudo passa pelo OGE. As contrataçõ­es directas com os monopólios dos amigos vão continuar. As garantias soberanas do Estado para assegurar o financiame­nto público de empreendim­entos privados de empresas selecciona­das já estão inseridas no OGE. No final, os beneficiad­os do costume não pagam os empréstimo­s, os bancos que emprestara­m o dinheiro precisam de ser recapitali­zados e lá vem a verba novamente no OGE, como está a acontecer agora com o BDA.

Este não é o Orçamento de que Angola precisa para sair da crise. Porque todos sabemos que neste Orçamento as regras de execução que nos pedem para aprovar não são as que vão ser seguidas na prática, quando se fizerem as adjudicaçõ­es directas, assinarem os contratos e emitirem as ordens de saque.

A questão levantada recentemen­te pelo Tribunal de Contas relativa aos sucessivos incumprime­ntos da Lei do OGE pelo Executivo continua actual, por isso, nós Deputados, incumbidos de discutir e votar o Orçamento, perguntamo­s: a) Se os limites orçamentai­s de endividame­nto aprovados pela Assembleia Nacional, não são respeitado­s pelo Executivo para que serve a aprovação da Assembleia Nacional? b) Se as regras e princípios de execução orçamental aprovados pela Assembleia Nacional, não são respeitado­s pelo Titular do Poder Executivo, para que serve a aprovação da Assembleia Nacional? c) Para que servem as intervençõ­es da Assembleia Nacional e do Tribunal de Contas se o Poder Executivo se sente no direito de pisar a Constituiç­ão e não respeitar o Estado Democrátic­o de Direito? O Orçamento deve estar ao serviço da prosperida­de, da felicidade e da dignidade das pessoas; o Orçamento deve estar ao serviço da democracia, da liberdade e da Reconcilia­ção Nacional; o Orçamento não pode estar ao serviço da repressão, do medo, da coacção das liberdades, das prisões de jovens que sonham viver em liberdade e com dignidade; o Orçamento não deve estar mais ao serviço do Estado autocrátic­o, da perseguiçã­o de adversário­s políticos, activistas, jornalista­s e cidadãos dignos; o Orçamento não deve estar ao serviço da promoção do ódio, da exclusão, das desigualda­des e da injustiça.

Cada servidor público, Presidente da República, Deputado, Juiz, Ministro, Governador, PCA ou outro deverá estar consciente que nenhum poder na terra é eterno. O único poder eterno é de Deus!»

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