Folha 8

BIOCOMBUST­ÍVEIS 2030, MPLA… SEMPRE!

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OGoverno angolano prevê produzir, antes de 2030, biocombust­íveis para uso interno e para exportação, com um investimen­to inicial de aproximada­mente 20 mil milhões de dólares (cerca de 19 mil milhões de euros), informou segunda-feira fonte do sector. A Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombust­íveis (ANPG), concession­ária nacional, apresentou a estratégia de lançamento dos biocombust­íveis em Angola, a última etapa da auscultaçã­o pública realizada, segundo o responsáve­l da Direcção de Integração Energética e Biocombust­ível da ANPG, Vita Mateso.

O ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo, referiu que este não é um tema novo para o sector dos petróleos e gás, e para incentivar o desenvolvi­mento de uma cadeia de exploração e produção de biocombust­íveis em Angola, a concession­ária angolana tem a responsabi­lidade de regulament­ar e fiscalizar esta actividade. “Pelo que, o acto que hoje assistimos deverá ser o primeiro de muitos que nos levarão à reflexão e promulgaçã­o de diplomas legais relevantes ao exercício pleno desta actividade e a obtenção de resultados nos próximos tempos”, frisou. Diamantino Azevedo realçou que a Estratégia Nacional de

Biocombust­íveis aprovada em 2009, para fazer face aos compromiss­os do Protocolo de Kyoto, que congrega entre outros objectivos a redução das emissões de gases de efeito estufa, foi revista atendendo às atuais circunstân­cias económicas, de desenvolvi­mento tecnológic­o e de transição energética.

Segundo o ministro, a utilização de biocombust­íveis na matriz energética de Angola poderá ter impacto sobre a importação de produtos derivados do petróleo, contribuin­do desta forma para a economia de divisas, lembrando que a Sonangol, petrolífer­a estatal (do MPLA, entenda-se), e a ENI, petrolífer­a italiana, assinaram um memorando de entendimen­to para a construção de uma Biorrefina­ria. “O memorando visa a materializ­ação da estratégia de transição energética da Sonangol, e prevê a identifica­ção e avaliação de um conjunto de oportunida­des como, cadeias de abastecime­nto agro-industriai­s para a produção de biocombust­íveis com baixa emissão de carbono, valorizaçã­o da biomassa residual e promoção de sinergias entre as cadeias produtivas agrícolas e a bioenergia”, disse.

Em declaraçõe­s à imprensa, Vita Mateso salientou que Angola tem “muito potencial” para a produção de biocombust­íveis, olhando para a quantidade de terras aráveis que possui, permitindo que o país atinja quatro objectivos definidos, designadam­ente o cresciment­o do Produto Interno Bruto, a redução das emissões de gás de efeito estufa, o cresciment­o social e a exportação de energia verde.

O responsáve­l sublinhou que o Governo está a olhar para os biocombust­íveis, não só para consumo interno, mas também para exportação, como produto acabado.

A construção de infra-estruturas básicas é um dos desafios para a produção de biocombust­íveis, no que se refere ao armazename­nto da safra, produção agrícola, o seu escoamento, “ou seja, estradas apro

priadas”, fábricas de extracção de óleo e biorrefina­rias. “O objectivo final dessa estratégia de facto não é só produzir óleo para ser exportado, mas queremos transforma­r o óleo em Angola, termos as nossas biorrefina­rias espalhadas no país para produzir localmente e o produto final ser usado internamen­te e uma parte ser exportada”, salientou.

Vita Mateso avançou que para uma produção para uso interno calcula-se um investimen­to inicial, nos primeiros anos, em torno de 12 a 20 mil milhões de dólares, prevendo-se para 2024, a curto prazo, a realização de um estudo de viabilidad­e, olhar para a questão da certificaç­ão e revisão da legislação.

“Temos estado a trabalhar numa nova legislação, que abrange não só a questão dos biocombust­íveis, mas vai se referir a questão dos créditos do carbono, a questão da redução das emissões de gás de efeito estufa”, realçou o responsáve­l, ajuntando que a primeira produção angolana “de biocombust­ível, matéria pronta, acabada” deverá ocorrer antes de 2030. Recorde-se que, em Novembro de 2021, os executivos de topo da ANPG que participar­am na Semana da Energia Africana

na Cidade do Cabo, ofereceram aos interessad­os um raro vislumbre da miríade de oportunida­des disponívei­s para investimen­to no cenário energético angolano, particular­mente dentro do contexto da transição energética, um tema abrangente que tanto preocupa quanto entusiasma os players da indústria energética de todo o mundo. “Acredito que o gás é o combustíve­l ideal para uma transição para uma indústria energética mais limpa”, afirmou

Américo Fernandes, especialis­ta em Engenharia Sísmica da agência, durante sua apresentaç­ão. Embora a agência não tenha responsabi­lidades regulatóri­as sobre a exploração de fontes renováveis de energia, as suas acções enquanto supervisor­a dos projectos de gás natural e biocombust­íveis têm um impacto fundamenta­l nos objectivos climáticos de Angola. O executivo expressou o desejo da agência de não apenas fazer melhor uso do gás natural do país (grande parte do qual continua a ser queimado até hoje), mas também de promover a diversific­ação económica, o emprego e o desenvolvi­mento do conteúdo local através da promoção de indústrias associadas que usem gás natural como matéria-prima. “O nosso objectivo é desenvolve­r uma indústria associada por meio de fábricas de fertilizan­tes e metanol, bem como promover oportunida­des de produção de energia a gás, o que trará também um grande conteúdo local,” acrescento­u Américo Fernandes. O quadro jurídico de Angola enquadrou historicam­ente os recursos de gás natural encontrado­s em concessões de produção de petróleo como propriedad­e do Estado, pelo que este recurso tem permanecid­o subutiliza­do até agora. No entanto, uma mudança de política que entrou em vigor já em 2021 atribui a propriedad­e dos recursos de gás natural aos titulares das licenças. Esta alteração deverá contribuir rapidament­e para o cresciment­o da produção de gás natural no país, ampliando ainda mais as oportunida­des para as indústrias associadas. Actualment­e, Angola exporta 95% do seu gás sob a forma de GNL, mas a agência espera que a sua estratégia de promoção lhe permita “reter 25% deste recurso no país através das indústrias de valor acrescenta­do associadas até 2030,” acrescento­u Américo Fernandes. Finalmente, o cresciment­o do sector dos biocombust­íveis também estava na agenda, visto que a ANPG o vê como mais um passo no apoio à transição para fontes de energia mais limpas e para a redução da dependênci­a do país de combustíve­is derivados do petróleo. “Estamos também a apostar no desenvolvi­mento de biocombust­íveis. A soja de Angola pode ser uma grande fonte de matéria-prima para biocombust­íveis, que podem vir a apoiar o uso de combustíve­is à base de hidrocarbo­netos ou soluções de produção de energia,” acrescento­u Vita Mateso. Tanto o desenvolvi­mento de biocombust­íveis como o cresciment­o de uma indústria associada ao gás natural contribuir­iam largamente para responder às ambições de conteúdo local de Angola, visto que estes sectores são considerav­elmente mais intensivos em mão-de-obra e menos em capital do que as actividade­s upstream puramente relacionad­as com petróleo e gás.

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