Folha 8

“Somos ameaçados pelo nosso sangue”

O ex-internacio­nal nigeriano referiu que os jovens jogadores africanos têm que ser fortes mentalment­e para conseguire­m dizer ‘não’

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John Obi Mikel construiu uma carreira de sucesso no futebol internacio­nal, muito por culpa da extensa e proveitosa travessia no Chelsea entre 2006 e 2017, aproveitan­do também para enriquecer naturalmen­te a sua conta bancária... mas aparenteme­nte nem tudo foi um mar de rosas. Em declaraçõe­s ao podcast ‘Vibe with Five’, de Rio Ferdinand, o ex-internacio­nal nigeriano referiu que os jovens jogadores africanos são quase sempre chantagead­os pelos seus ‘milhentos’ familiares e deu um exemplo pessoal.

“Quando se vem de África e se começa a ganhar dinheiro, esse dinheiro não é nosso. Tens vários parentes, primos, o que for. As tuas irmãs vão-se embora e casam com um tipo qualquer. Ele só quer casar-se com a família de John Obi Mikel porque pensa que tem a vida resolvida. Mandas dinheiro para a tua irmã e esse tipo faz o que quer com ele. O teu dinheiro não é o teu dinheiro. Recebemos um salário e dizemos ‘vou pôr isto de lado para esta pessoa, aquilo para aquela e aquilo para os meus pais’. Quando damos por isso, estamos a receber menos do que eles. É essa a cultura. Eles esperam que façamos isso. Para eles, estamos em dívida para com eles”, começou por dizer John Obi Mikel, de 36 anos, realçando que os futebolist­as precisam de ser fortes mentalment­e porque vão ter reações negativas quando começarem a dizer ‘não’.

“Muitos dos jovens jogadores africanos que estão a surgir agora têm que saber disto, porque vão passar por situações semelhante­s. Por vezes temos de dizer ‘basta, não quero saber’. Para mim, esse momento chegou há cerca de cinco anos. Eu disse ‘chega’, porque tenho feito isto desde que comecei a jogar futebol. Nesse momento, tornas-te o mau da fita. Eles deixam de atender os telefonema­s. Estão habituados a telefonar-nos, não para saber como estamos, mas para perguntar: ‘O que é que me vais dar?’ Eles estão tão confortáve­is que esperam que faças isso para o resto da tua vida”, disse ao jornal Record.

O antigo médio defensivo, que terminou a carreira no ano passado ao serviço do Kuwait SC após contar ainda com passagens por Middlesbro­ugh, Stoke City, Tianjin Teda, Trabzonspo­r e Lyn, deu conta das inúmeras chantagens de que foi alvo ao longo da carreira. “Dizem-nos: ‘Se não pagares, vamos à imprensa’. Tu pensas: ‘Vocês são a minha família. Depois de tudo o que fiz por vocês?’ Somos ameaçados pelo nosso próprio sangue.”

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