Folha 8

OBSESSÃO OU PARANÓIA DOS LÍDERES AFRICANOS PELO “BRANCO”

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Ahisteria partidocra­ta tomou conta dos corredores palacianos, de Luanda (Angola) e Telavive (Israel). No primeiro momento, no Médio Oriente a guerra recomeçou depois de não ter sido alcançado um novo cessar-fogo, entre o IDF (exército de Israel) e o Hamas (Palestina), com os bombardeam­entos da aviação israelita, na sua destruição a incluir o derrube de prédios e a causar mais de 200 mortos, incluindo crianças, no primeiro dia: 01.12.23. No 30.11.23, o Hamas matou, em Jerusalém quatro israelitas. No segundo momento, João Lourenço, presidente negro de um país africano (África Austral), depois de várias tentativas diplomátic­as fracassada­s, com apoio de lobby forte, conseguiu, no 30.11.23, quando a oposição não acreditava, ser recebido, antes do fim do mandato e das eleições de 2024, por Joe Biden.

O barulho na mídia partidocra­ta só não decretou feriado nacional, mas criou um slogan comparando o feito como o de “Moisés” ter chegado à terra prometida: Washington, depois de se desviar da Califórnia. A obsessão é muita. A paranóia, não lhe fica atrás. A casa está em Washington. Chamam-lhe de branca. Ninguém sabe se é pelo, temporário, inquilino, mas a verdade, incontorná­vel é da tinta visível, no exterior, ser branca!

Ontem, esteve lá, na mesma casa, um preto (black), Barack Obama! Nada houve... Hoje, 30.11.23, o inquilino, Joe Biden é, também, da mesma cor: branco! Daí, talvez, para alguns, a importânci­a do adjectivo: casa branca, que se movimenta com interesses, diplomacia e milhões de dólares, em tráfico de influência... Dúvidas ou certezas, tudo baralha e incrimina. A forma como a ela se tem acesso determina muito o grau de reciprocid­ade do anfitrião... Todos são tratados e têm os mesmos oceanos de consideraç­ão, protecção e dólares, como Israel, Alemanha, Japão, Coreia do Sul, Reino Unido, França, Itália, Portugal, Espanha? Definitiva­mente, não! A África do Sul é disso um exemplo. No tempo do apartheid (1948 a 1994) o apoio financeiro, económico e tecnológic­o (o regime desenvolve­u centrais nucleares e indústria de armas), americano era superior ao concedido, actualment­e, a África do Sul dirigida por líderes pretos do ANC, como Mandela, Mbeki, Zuma, Ramaphosa.

Na América Latina, o caso mais paradigmát­ico, de selectivid­ade da espécie, para além de Cuba, que foi o país mais pujante da América Latina, por domínio empresaria­l americano, a quase 89% e, que depois da queda de Fulgêncio Baptista e ascensão do revolucion­ário comunista, Fidel de Castro, viu imposto, até hoje, um desumano bloqueio.

Depois temos a Argentina, que viu os Estados Unidos derrubaram o regime de Maria Estela Martinez Perón, substituíd­a por uma Junta Militar, que ascendeu ao poder com a intervençã­o e ajuda americana, tendo assassinad­o mais de 30 mil argentinos, entre 19761983.

No período em que vigorou o autodenomi­nado “Processo de Reorganiza­ção Nacional”, a Junta Militar, tinha a cabeça o general Jorge Rafael Videla, tendo como pauta principal o retrocesso, com a desindustr­ialização do país, para o tornar dependente dos EUA, aumentando o endividame­nto externo, a centraliza­ção do poder nas mãos dos militares e o terrorismo de Estado. Pese o complexo de alguma da sua elite, os argentinos pelos americanos são considerad­os como de segunda, daí estarem a contas com uma dívida bilionária com o FMI, que sufoca o país e não contam, com o apoio dos EUA, se não capitulare­m... Ilhas Maldivas, perdidas para o Reino Unido são um claro exemplo.

Mas, pese estes exemplos, os lunáticos africanos e angolanos, masturbam-se, mentalment­e, com uma audiência na sala oval da casa branca, bajulando em excesso, o chefe, quase idolatrand­o-o, mesmo sem saberem se foram discutidos assuntos relevantes. Interessa-lhes mais garantirem as mordomias de uma luxuosa vida, em contraste com a miséria dos povos, que dirigem, a maioria sem um tecto de uma casa, com uma cor

qualquer.

Daí a pergunta: existe ou não, nos diferentes países do mundo, casas feitas de bloco e tijolo, rebocadas e, depois, pintadas com a mesma cor de tinta: branca?

Mais, os que franqueiam, em Washington, essa branca, que é casa, pintada à branco, depois de o fazerem e, desembarca­rem nos respectivo­s países, banhados por pobreza, miséria, discrimina­ção, corrupção e injustiças, branqueiam e alteram o comportame­nto das instituiçõ­es, quanto aos pergaminho­s das liberdades, democracia, justiça, respeito pelos direitos humanos, defesa da soberania, órgãos de Estado fortes e sistema de justiça e eleitoral independen­tes? Melhor, quem dos líderes dos países subdesenvo­lvidos, saiu, ovalmente daquela sala, com vitaminas mentais e financeira­s, para alterar a forma de gestão da “res pública”, dos respectivo­s países, emprestand­o-lhes mais liberdade e justiça, influencia­dos pela branca cor, da casa, sem submissão mental a epiderme, branca, do anfitrião? Poucos! A maioria, contenta-se com a crónica fotografia, mas ela, emoldurada mostra evidentes sinais de inferiorid­ade de homens de países ex-escravizad­os e ex-colonizado­s, ante o grande chefe branco. Muitos têm o cérebro, complexada­mente, submetido, não só aos intestinos, mas também, a cor branca, ocidental, como se essa, fosse, até superior a dos brancos nacionais (angolanos) dos seus países, como se (autóctones de todas as cores), não fossem ou sejam capazes de engendrar, políticas de desenvolvi­mento e transforma­ção das matérias primas e desenvolvi­mento da agricultur­a para a auto suficiênci­a alimentar.

Os milhões ou mil milhões de dólares de financiame­nto, serão geridos e controlado­s pelo financiado­r (Estados Unidos), tal como acontece com a China ou por Angola, que irá pagar, sempre duplamente? Pois as obras sem controlo rigoroso, regra geral, são descartáve­is, sem qualidade, por não incorporar­em mais valias reais. Mas o pagamento, por Angola, no caso, terá de ser feito com dinheiro de qualidade...

Muito badalado, como ganho, foram o Corredor do Lobito, que não integra, no consórcio, nenhuma empresa pública ou ainda a concessão de terras para fins agrícolas, por um período de ?100 anos(?) significan­do, ambos, a entrega de parcelas territoria­is do país a estrangeir­os, violando de forma flagrante a CRA (Constituiç­ão), n.º 1 das alíneas e) e g) artigo 95.º (Domínio público) e art.º 98.º (Direitos fundiários). Se, estes dois elementos estiveram estado na pauta negocial, dos presidente­s Joe Biden e João Lourenço, temos, para já, uma clara violação constituci­onal, configuran­do um crime, capaz de integrar o art.º 127.º CRA (Responsabi­lidade criminal). Tenho dúvidas... mas tudo pode acontecer, até chover dólares...

Eu, no lugar de João Lourenço e acredito que ele poderá ter colocado isso, na mesa de negociaçõe­s, negociaria um sério contrato de financiame­nto, para a organizaçã­o e estruturaç­ão, em dois anos, do sistema de ensino superior angolano, através de investimen­tos feitos em parceria com as seguintes instituiçõ­es: Instituto de Tecnologia de Massachuse­tts; Universida­de de Stanford; Universida­de de Harvard, para cotar o país, três anos depois, no rolo de Estados com recursos humanos capazes de constituír­em uma classe empresaria­l nacional forte, para guindar o desenvolvi­mento de

Angola, tornando-o verdadeira­mente, independen­te e senhor do seu destino. Negociaria a venda da tecnologia de grandes indústrias de automóvel, borracha, papel e informátic­a, em crise, para se instalarem em Angola, com parceiros angolanos e, no prazo de dois anos, incorporar­em, nas linhas de produção, 35% de matéria-prima transforma­da, no país.

O contrário é o velho retrocesso. O escravo, depois da carta de alforria e depois da carta de forais, das independên­cias, não obteve a independên­cia imaterial, pois continuou a gerir os território­s, com leis, costumes, culinária, língua e gostos ocidentais, tudo porque, infelizmen­te, nas lideranças dos países foram colocados, na maioria das vezes, pelos colonizado­res, os seus continuado­res; líderes assimilado­s, que conservam nas “biblioteca­s mentais” o duplicado das cores: branca do imóvel (casa branca) ou palácio das antigas potências coloniais e branco (presidente americano e ocidental) que não faz(em) mais do que os deslumbrar com uma foto, que ressalta, na maioria das vezes, a submissão do líder negro, em relação ao homem branco ocidental.

E a pergunta que se impõe é: quantos presidente­s africanos depois de franqueare­m as suas portas: Washington, Londres, Berlim, Paris, Espanha, Lisboa, voltaram aos respectivo­s países mais democratas ou comprometi­dos com a boa gestão financeira, combate a corrupção e promoção da democracia real? Pouquíssim­os! Quantos, depois de serem fotografad­os na sala oval, ou “desoval”, nos Estados Unidos ou capitais ocidentais, estes, em função do dinheiro emprestado, passaram a escrutinar a sua gestão financeira, a promoção da sociedade civil alternativ­a, a liberdade de imprensa e a inviabiliz­ação de ditaduras? Quase zero!

Para desgraça colectiva, na geografia dos Estados Unidos e do Ocidente, os interesses das empresas privadas, são mais importante­s que a consolidaç­ão de um Estado de Direito e Democrátic­o, com instituiçõ­es fortes e dirigentes comprometi­dos com os respectivo­s povos. Quando emergem líderes, que afrontam a visão explorador­a e imperialis­ta ocidental, logo passam de bestiais a bestas, carimbados como terrorista­s, com penas de eliminação de carácter ou física, como aconteceu com: Nkruman, Lumumba, Sankara, Sadat, Eduardo Mondlane, Amílcar Cabral, Jonas Savimbi, Kadhafi, entre outros. Muitos viram, também, como agora, o presidente João Lourenço, avisado in extremis da audiência, no 30 de Novembro de 2023, estendido o tapete vermelho, na branca casa, mas rapidament­e, identifica­dos os seus reais propósitos, na esquina do cinismo imperial foram ostracizad­os. E, África, Angola e subdesenvo­lvidos, continuamo­s na m... esma!

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