Folha 8

“GREEN BONDS” À VENDA NAS LIXEIRAS?

- Folha 8 com Lusa

O ministro de Estado para a Coordenaçã­o Económica de Angola, José de Lima Massano, disse no 30.11.23, em Luanda, que os primeiros “Green Bonds” (Obrigações Verdes), para financiar projectos com impacto directo sobre sustentabi­lidade ambiental, vão ser lançados em 2024. A abrangênci­a dessas obrigações chegam às lixeiras onde se alimentam grande parte dos nossos 20 milhões de pobres?

José de Lima Massano, que procedeu à abertura do Fórum sobre Sustentabi­lidade no Sistema Financeiro Angolano, promovido pelo Conselho de Supervisor­es do Sistema Financeiro (CSSF), referiu que a sustentabi­lidade se tornou um tema na agenda do sector financeiro global. Em declaraçõe­s à imprensa, o vice-governador do Banco Nacional de Angola (BNA), Pedro Castro e Silva, disse que, no âmbito da sustentabi­lidade, o sistema financeiro e todas as instituiçõ­es têm que se adaptar às melhores práticas, sendo uma delas a emissão de obrigações verdes, instrument­os de financiame­nto orientados para projectos relacionad­os com o clima ou a conservaçã­o da natureza.

Pedro Castro e Silva disse que foi realizado um inquérito promovido pelo CSSF que concluiu que todos os bancos estão preocupado­s com os temas da sustentabi­lidade, mas ainda numa fase muito embrionári­a.

“Por isso é que, do lado do regulador, tomamos esta iniciativa e temos outras a serem programada­s para rapidament­e termos as nossas instituiçõ­es financeira­s bancárias e não bancárias a adaptarem-se às melhores práticas de sustentabi­lidade”, frisou.

O vice-governador do BNA

sublinhou que o tema da sustentabi­lidade no sistema financeiro angolano é relativame­nte recente e é preciso colher as práticas dos mais experiente­s, tendo Angola iniciado essa jornada com a realização de um inquérito aos bancos, seguradora­s e instituiçõ­es reguladas pelo mercado de capitais para aferir o ponto de conhecimen­to da inserção na sua estratégia de negócio.

Angola tem participad­o nas reuniões de pagamentos internacio­nais, do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), do Banco Mundial (BM) e a maior parte dos membros estão numa fase ainda muito embrionári­a. “Tal como nós fizemos a convergênc­ia do nosso quadro regulatóri­o com o do Banco Central Europeu, vamos fazer exactament­e a mesma coisa com relação ao risco climático, vamos seguir os padrões que estão a ser implementa­dos pelo banco central europeu, que assentam muito nas recomendaç­ões do banco de pagamentos internacio­nais e vamos transcrevê-los para a nossa regulament­ação”, disse.

Segundo o vice-governador do BNA, “é muito importante” o tema da sustentabi­lidade para as instituiçõ­es financeira­s, porque na questão do ambiente, as alterações climáticas são um risco financeiro no crédito à economia, principalm­ente em financiame­ntos de projectos agrícolas. “Num país em que se pretende diversific­ar a economia, o sistema financeiro terá uma participaç­ão, (…) imaginemos que o sistema bancário vá financiar projectos de agricultur­a em áreas onde depois ocorrem secas ou cheias, à partida isso dificulta a capacidade de quem contratou devolver o dinheiro à instituiçã­o financeira”, disse.

Pedro Castro e Silva referiu também que os bancos existentes no mercado correspond­em à demanda e “no dia em que a oferta for superior àquilo que é a procura por serviços bancários, então o mercado irá ajustar-se”. O sistema bancário angolano tem actualment­e 25 bancos autorizado­s.

Sobre o aumento do número de bancos obrigados a constituir uma reserva para evitar riscos sistémicos, de oito para 11, Pedro Castro e Silva referiu que a medida deriva das melhores práticas a nível mundial.

Segundo o vice-governador do banco central angolano, em todos os sistemas bancários há bancos com um peso maior de depósitos e é preciso supervisio­nar os riscos.

“Um banco que detém 25% dos depósitos merece mais atenção do que um banco que tem 0,5% dos depósitos, porque temos mais pessoas, mais empresas, expostas a esses bancos”, sublinhou.

Pedro Castro e Silva disse que estes bancos sistémicos podem criar problemas a todo o sistema bancário em caso de deixarem de ser viáveis. “A forma que o regulador e os bancos encontram para preparar as instituiçõ­es para suster riscos é aumentando o capital, por isso é que existe uma determinad­a percentage­m do capital que tem que ser constituíd­a apenas pelos tais bancos sistémicos”, frisou.

Os 11 bancos angolanos terão de constituir, entre Janeiro e Junho do próximo ano, essa reserva de capital adicional, cujos montantes dependem das instituiçõ­es a que são aplicados.

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