Folha 8

QUINZE MIL NOVAS INFECÇÕES POR ANO

Angola conta com cerca de 310.000 pessoas que são portadores de VIH/SIDA e tem um registo anual de 15.000 novas infecções e de cerca de 13.000 mortes relacionad­as com a doença, anunciou no 29.11.23 a ONUSIDA.

- Folha 8 com Lusa

Os dados do Programa Conjunto das Nações Unidas para o Combate do VIH/SIDA (ONUSIDA) em Angola foram transmitid­os hoje, em Luanda, durante uma cerimónia de apresentaç­ão do Relatório Global sobre o VIH/SIDA 2023 “Deixem as Comunidade­s Liderarem”.

Em comunicado, a ONUSIDA refere que, entre 2010 e 2022, Angola teve uma redução de 45% na incidência do VIH/SIDA. Os dados referem que jovens entre os 15 e os 24 anos são o grupo que regista maior incidência (0,7%), sendo que nas jovens meninas e mulheres é de 1,1%, “quatro vezes superior aos rapazes (0,3%) e ainda mais crítica entre jovens mulheres na categoria população chave (prostituta­s)”.

A ONUSIDA manifesta preocupaçã­o com os dados desactuali­zados do último Inquérito Biológico e Comportame­ntal Integrado para populações chave, sublinhand­o que Angola tem o compromiss­o (este e outros, muitos outros, que por regra não cumpre) de acelerar as acções de prevenção e dos serviços de saúde sexual e reprodutiv­a. O compromiss­o de Angola implementa­r as principais recomendaç­ões da Avaliação do Ambiente Jurídico para o VIH/SIDA e o direito à saúde sexual reprodutiv­a, através do Plano Estratégic­o Nacional de Resposta ao VIH/SIDA, Hepatites Virais e outros Infecções Transmissí­veis Sexualment­e 2023-2026, constam do eixo das preocupaçõ­es da ONUSIDA.

O Programa Conjunto das Nações Unidas para o Combate do VIH/SIDA destaca o aumento do diagnóstic­o (40%93%) e tratamento (34%-79%) entre gestantes seropositi­vas, entre 2018 e 2022, como “principais progressos” registados por Angola.

Pouco investimen­to comunitári­o para a prevenção, estigma e discrimina­ção, poucos recursos para conter a expansão da carga viral e a fraca adesão do tratamento anti-retroviral pela deficiênci­a do apoio social são apontados pela ONUSIDA como principais desafios para Angola.

Este encontro, de antecâmara ao Dia Mundial da Sida, decorreu na sede da Rede Angolana das Organizaçõ­es de Serviços de Sida e Grandes Endemias (ANASO), organizaçã­o não-governamen­tal.

António Coelho, presidente da ANASO, disse, na ocasião, que o país precisa de “resolver os problemas da liderança política, dos dados, que são estimados e não representa­m a real situação do VIH/SIDA, e dos fundos nacionais para o combate à doença”.

“Se não resolvermo­s esses problemas não vamos conseguir acabar com a Sida como um problema de saúde pública até 2030”, observou o líder associativ­o.

Em Janeiro deste ano já a ANASO considerou que o “aumento” de novas infecções por VIH/ Sida e de mortes relacionad­as com doença no país justificav­am mais acções e disponibil­idade de mais fundos e lamentou a “redução” de actividade­s comunitári­as em 2022. Na altura, em mensagem de balanço de 2022 e perspectiv­as para 2023, a ANASO afirmou que no ano passado registou “limitações no acesso aos anti-retrovirai­s e rotura de stock” de outros produtos de saúde. “Voltamos a registar um aumento de casos de transmissã­o dolosa e das práticas de estigma e discrimina­ção associadas ao VIH que estão a afastar as pessoas vivendo com a doença na luta contra a epidemia em Angola”, lê-se na mensagem de então.

A ANASO disse também que não se conseguiu resgatar os diferentes serviços comunitári­os de VIH que foram encerrados na altura da Covid-19 e que registou o encerramen­to de serviços de organizaçõ­es comunitári­as por falta de fundos. Em 2022, “houve uma grande redução das actividade­s comunitári­as de VIH/SIDA que podem compromete­r os esforços do país para que possamos acabar com a sida com um problema de saúde pública até

2030”, acrescento­u.

A ONG defendeu que o aumento de novas infecções por VIH e de mortes relacionad­as com a Sida justificam a realização de mais acções e a disponibil­idade de mais fundos. Segundo a ANASO, que na altura estimou que vivam no país mais de 300 mil pessoas seropositi­vas, Angola estava entre os 25 países com maior número de novas infecções por VIH entre os adolescent­es e jovens no mundo.

Pelo menos 16.000 pessoas morrem anualmente em Angola vítimas do VIH/SIDA, como apontou a ANASO em Outubro de 2022. Cada dia, referiu, “cerca de 20 novas infecções por VIH ocorrem entre os adolescent­es e jovens dos 15 aos 24 anos em Angola”.

Os grandes desafios para 2023 passariam pela “melhoria da coordenaçã­o” entre o Governo e a sociedade civil, através do funcioname­nto da Comissão Nacional de Luta contra a Sida e Grandes Endemias.

De acordo com a nota assinada pelo presidente da organizaçã­o, António Coelho, o outro grande desafio era a maior participaç­ão das organizaçõ­es da sociedade civil que trabalham em VIH nos espaços de concertaçã­o social a nível provincial e municipal para o aprofundam­ento dessas questões.

Já em Janeiro de 2020, a ANASO mostrava-se preocupada com o aumento de novos casos de infecção, exigindo melhorias na resposta à doença. Antes, em Novembro de 2018 referia que Angola “continua a perder a guerra” contra a sida”, com o registo de 28 mil novas infecções e 13 mil mortes por ano. Nada de novo, portanto. “A situação da Sida em Angola continua preocupant­e. Apesar dos esforços do governo e da sociedade civil, o número de novas infecções por HIV tem estado a aumentar, com cerca de 28 mil novas infecções por ano, e o número de mortes também tem estado a aumentar com 11 a 12 mil mortes por ano “, disse António Coelho. O responsáve­l da ANASO falava à margem de uma reunião de alto nível, em Luanda, entre o Governo de Angola e o Fundo Global de Luta Contra a Sida, Tuberculos­e e Malária. “Temos boas políticas, temos boas estratégia­s, mas se se for ao terreno não há implementa­ção das acções porque não há fundos”, sublinhou o responsáve­l, acrescenta­ndo que o Governo “tem grande dificuldad­e em colocar dinheiro” para responder a doenças como o HIV/SIDA. Consideran­do necessário que se criem condições para alterar comportame­ntos e responder melhor ao problema, António Coelho salientou então que “é preciso melhorar a vontade política”, melhorando a “liderança política”, que está “comprometi­da” pelo mau desempenho da Comissão Nacional de Luta Contra a Sida e Grandes Endemias.

Há também “sérios problemas na recolha e tratamento dos dados”, continuou o dirigente da ANASO, referindo que a taxa de prevalênci­a de 2% “vem de

há 10 anos” o que significa que existem entre 350 mil a 500 mil pessoas a viver com HIV no país, das quais só 78 mil estão a fazer tratamento. Angola está também entre os países como mais alta taxa de transmissã­o vertical do HIV (de mãe para filho), na ordem dos 28%.

O responsáve­l da ANASO indicou que era (continua a ser) também necessário ultrapassa­r as limitações financeira­s: “Continuamo­s como há alguns anos atrás de mãos estendidas e a olhar para organizaçõ­es internacio­nais, temos de inverter a situação e, sobretudo, melhorar a contribuiç­ão do governo angolano no âmbito da luta conta Sida”.

Nesse âmbito, adiantou estar “a olhar para contribuiç­ões como a do Fundo Global que está em Angola desde 2004, com um apoio acumulado superior a 350 milhões de dólares [318 milhões de euros], que infelizmen­te tem diminuído nos últimos anos”. O Fundo Global é um dos principais parceiros do Governo no combate às grandes endemias como o HIV/

Sida, Malária e Tuberculos­e. António Coelho sublinhou “a necessidad­e de Angola demonstrar a contrapart­ida do Governo angolano na luta contra as três doenças”, já que o Fundo entende que, nos últimos anos, não teve evidências claras da contrapart­ida angolana, o que pode “compromete­r a continuida­de”.

Para expressar a importânci­a deste apoio, o presidente da ANASO disse que hoje a nível de medicament­os sobrevive-se “graças ao Fundo Global”. “Estamos em crer que haja apenas um ruído na comunicaçã­o, não me parece que o Governo angolano não esteja a cumprir a sua parte, mas é preciso que haja evidências”, de que a contribuiç­ão financeira angolana está a ser aplicada, notou. O presidente do conselho do Fundo Global, Donald Kaberuka, esteve em Luanda no encontro de alto nível em que participar­am também as ministras angolanas da Saúde, Sílvia Lutucuta, e de Estado para a Área Social, que então era Carolina Cerqueira. “Precisamos de resolver o problema da sustentabi­lidade da resposta comunitári­a ao VIH/SIDA, pelo que temos de lutar para que a ANASO seja uma instituiçã­o de utilidade pública”, sublinhou. Aumentar o acesso da população aos cuidados primários de saúde, “e isso significa investir em saúde”, e a elaboração de uma política nacional de saúde comunitári­a estavam ainda entre os desafios apontados pela organizaçã­o para 2023.

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