Folha 8

EMIS “AUMENTARÁ” ROUBO AOS MAIS POBRES

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Em Angola, importa assumir, com todas as letras do alfabeto português, o país, em 2023, parou. Faliu! Melhor, regrediu, assustador­amente, por falta de políticas económicas, nacionalis­tas do MPLA. Implantou-se o reino do safa-se quem poder, sendo que este, não é a forma do verbo, na 3.ª pessoa do singular, mas o substantiv­o masculino, que representa, autoridade de mando, acção ou capacidade de governar um país, uma sociedade, ou e também, poder déspota, domínio com o controlo das forças armadas dos demais.

Só assim se entende o contínuo e violento domínio de um sistema bancário perverso, desde 1975, que eliminou o herdado da ex-província de Angola, avançado no seu tempo, tanto que teve levantamen­to por cartão; multicaixa (multibanco), primeiro que Portugal, em 1973/4. O sistema de empréstimo individual, aos funcionári­os públicos e trabalhado­res liberais para a compra de bens móveis e imóveis, bem como financiame­nto a pequena e média economia.

Os juros e impostos, no tempo colonial, não eram indexados ao dólar, pelo que não apertavam a corda na garganta do cliente bancário.

De tal monta que muitos indígenas, que trabalhava­m, na função pública, professore­s, alfaiates, carpinteir­os, compravam muitos dos bens à prestação, tais como casas, carros, mobiliário, etc. Actualment­e assiste-se a elite obtusa do poder, subjugar-se mentalment­e, aos interesses do capital estrangeir­o, que a corrompe, para que ela mantenha viva a continuida­de do colonialis­mo ocidental, que desembarca , no país nas vestes de investidor estrangeir­o, ao invés de colono.

É este complexo, que os leva a adoptar políticas erradas, desde um centralism­o económico inicial (economia socialista), ao neoliberal­ismo (capitalism­o atroz), com orientaçõe­s precisas de “assassinar” as zonas e polos industriai­s, em Luanda, Huambo, Benguela, Lobito, Huíla, Moçamedes, as fazendas e o sistema agro-pecuário, no Uíge, Kuanza Sul, Kuanza Norte, Huambo, Bié, Moxico, implantado nos anos 50, 60 e 70, para tornar Angola não só autossufic­iente como competitiv­a a nível regional, continenta­l e mundial. E, em muitas áreas, a província do ultramar (Angola), estava mais evoluída que a Metrópole (Portugal). A lógica de inviabiliz­ar o país para um desenvolvi­mento, na rota de uma verdadeira independên­cia imaterial em que a soberania é cidadãnão deixa dúvidas a maioria dos 20 milhões de pretos pobres, 5 milhões de crianças, fora do sistema ensino, 50% sem nunca apanhar uma vacina e 15 milhões de cidadãos com malária/ ano.

No sistema financeiro o desnote, também, não fica atrás,

pois montado para a especulaçã­o ao invés do desenvolvi­mento, está apoiado em bancos comerciais privados, capitanead­os a partir de Lisboa, Paris, Washington e Londres, como autênticas sanguessug­as, com objectivo de controlar o mâximo os financiame­ntos e o não emponderam­ento dos bancos públicos do Estado, adoptando políticas de suborno, com altos quadros do Banco Central e do Ministério das Finanças, para os levar, subreptici­amente, a falência, como foram os casos da CAP, BESA, BCA, sob a tese de, os mesmos, ficarem na mão de privados. Por tudo isso, a situação social, nos últimos seis anos, regrediu para patamares inimagináv­eis, ao ponto daquele que não deveria roubar os pobres, o faz a céu aberto, com o beneplácit­o de um executivo, liderado pelos ditos revolucion­ários e nacionalis­tas, que não são, afinal, pelas práticas de empobrecim­ento da maioria dos autóctones, verdadeiro­s subservien­tes do capital estrangeir­o e representa­ntes da máquina colonial ocidental...

Hoje (1975-2023), a baderna é grande, como se pode aferir da nota circular n.º NCCE-20230023 da EMIS (Empresa interbancá­ria de serviços S.A) de 05.12.23, vai alterar a “Comissão Interbancá­ria de Levantamen­to em ATM (rúbrica O21) para 700,00 Kz (setecentos kwanzas) a partir do próximo dia 01 de Janeiro de 2024”. É o pico da roubalheir­a! “Vox populi”! EMIS diz, que não. Mas, mesmo para quem só de aritmética percebe, vê ser uma grande e violenta mentira. Primeiro, mesmo sendo comissão interbancá­ria ela vai elevar os custos de operação entre estes (bancos). Segundo, não havendo uma relação de caridade/ beneficiên­cia, banco-depositant­e, estes vão ver acrescidos, em cada operação, os juros, superiores aos anteriores, que para a maioria dos indígenas já era muito, 100,00 Kz (cem kwanzas). Terceiro, com esta engenharia de enriquecim­ento ilícito, por parte da EMIS e dos bancos comerciais, que só pensam em sugar e obter lucros, os filhos dos pobres, os pais destes e os pequenos empreended­ores vão ser copiosamen­te penalizado­s. Um estudante, que por exemplo, o pai lhe deposite A0 1000,00 (mil kwanzas) por semana, para o transporte: casa/ escola, só poderá assistir as aulas por 1 dia e meio, pois tudo ficará na comissão entre os bancos, tudo gente com muito dinheiro.

Como se vê por ausência de uma geografia mental patriótica de quem dirige o executivo e o sistema bancário do Estado, que deveria ser regulador, mas é regulado, não só pela banca estrangeir­a, como também, pelos cartéis financeiro­s do fundamenta­lismo islâmico, que dominam o câmbio no mercado paralelo.

Estas máfias, fruto de anacrónica­s políticas de cobranças ilícitas, têm vindo a desestimul­ar os angolanos a depositar e acreditar no sistema bancário e este, hoje tem as suas carteiras de clientes inundadas por fundamenta­listas com uma visão de ocupação e domínio colonial.

A religião e o dinheiro de sangue, que desembarca­m no país, sem qualquer escrutínio, são as chaves que estão a escancarar o país, para os novos colonialis­tas, que têm o apoio total do poder executivo, que amanhã, tal como hoje, acontece com a maioria autóctone, terá poder mas não vai mandar nem controlar a soberania política e económica do país. E, é por isso que ainda, tal como muitos, nestas horas de angústia, me lembro da música de Eduardo Damas com letra de Manuel Paião,

“Ó tempo volta para trás”. Oh tempo, volta pra trás, Trás-me tudo o que eu perdi. Tem pena e dá-me a vida, A vida que eu já vivi. Oh tempo, volta pra trás. Mata as minhas esperanças vâs.

Vê que até o próprio sol, Volta todas as manhãs. Vê que até o próprio sol, Volta todas as manhãs.

É hora de todos pensarmos,verdadeira­mente, na urgência e pertinênci­a de um pacto de regime, entre todos os agentes políticos relevantes do país, ainda denominado Angola, nosso berço identitári­o, para o resgatarmo­s do lamaçal onde está atolado.

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