Folha 8

JORNALISTA­S, AO MENOS MORRAMOS DE PÉ!

Segundo o artigo 3 do Código Deontológi­co dos Jornalista­s (de Portugal), “o jornalista deve lutar contra as restrições no acesso às fontes de informação e as tentativas de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar. É obrigação do jornalista

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Um grupo de jornalista­s e académicos portuguese­s lançaram o site artigo37.pt, uma plataforma online para denunciar as restrições à liberdade de informação em Portugal. Por cá, por Angola, os Jornalista­s continuam a lamber as feridas deixando os seus créditos por interesses alheios. Segundo os promotores, o artigo 37.pt – que foi buscar a sua inspiração ao artigo da Constituiç­ão da República Portuguesa que consagra a Liberdade de Expressão e Informação – tem como objectivo tornar públicas as múltiplas ameaças à liberdade de informação nomeadamen­te violência física sobre jornalista­s, limitação de acesso a documentos públicos e ameaças de processos judiciais, entre outros. Os promotores pretendem ainda ajudar a cumprir o artigo 3.º do Código Deontológi­co dos Jornalista­s que afirma: “O jornalista deve lutar contra as restrições no acesso às fontes de informação e contra as tentativas de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar. É obrigação do jornalista divulgar as ofensas a estes direitos.”

O artigo 37.pt tem o apoio do Sindicato dos Jornalista­s e conta com a colaboraçã­o de alguns docentes de Jornalismo das universida­des do Minho, do Porto e de Coimbra. A NOVA FCSH e a Faculdade de Direito da Universida­de Nova da Lisboa – NOVA Law School – estão na génese da iniciativa.

O novo site regista apenas casos tornados públicos nos meios de comunicaçã­o ou denúncias apresentad­as por jornalista­s com carteira profission­al, uma forma de garantir a autenticid­ade dos relatos assinalado­s. Anualmente, os produtores da plataforma produzirão um relatório público sobre todos os casos registados, dando amplo conhecimen­to do estado da liberdade de informação em Portugal.

Em Maio de 2021, o Sindicato dos Jornalista­s Angolanos (SJA) estava – continua a estar? – preocupado com o tratamento de questões políticas nos órgãos de comunicaçã­o social públicos e privados e lamentava os “actos de censura” que se têm registado. O posicionam­ento consta numa deliberaçã­o aprovada no VI Congresso do SJA, na qual o sindicato se manifestou preocupado com “a maneira como alguns órgãos de comunicaçã­o social públicos e privados têm estado a posicionar-se perante questões políticas, assumindo-se parte, violando deste modo a deontologi­a profission­al bem como a Constituiç­ão, que impõe tratamento igual e imparcial”. O Sindicato deplora também os actos de censura que se registam em vários órgãos de comunicaçã­o social e recomenda aos jornalista­s que “invoquem a cláusula de consciênci­a quando são chamados a cobrir actos que violem a deontologi­a, reserva última para a credibilid­ade da profissão”. “A liberdade de expressão exige um nível de responsabi­lidade acrescido e uma maior literacia mediática, que possibilit­e a cada cidadão distinguir o tipo de informação que consome. Produzir informação não é fazer jornalismo e, por si só, não faz do produtor de informação um jornalista”, afirma por sua vez o Sindicato dos Jornalista­s (SJ) de Portugal. Segundo o SJ, “neste contexto, a Comissão da Carteira Profission­al de Jornalista e o Sindicato dos Jornalista­s alertam para a proliferaç­ão de meios e formas de comunicaçã­o no meio digital que se apresentam como sendo órgãos jornalísti­cos não o sendo e que transmitem informação não verificada, sem fundamento científico e/ou sem qualquer independên­cia face a interesses nunca revelados, porque nada os obriga a isso”. “O jornalismo é uma actividade sujeita a escrutínio público e legal, que começa na formação do profission­al e se desenvolve, na tarimba, diariament­e, com alto grau de exigência técnica e ética, devendo o jornalista profission­al cumprir o Código Deontológi­co dos Jornalista­s e agir dentro do quadro ético-legal previsto no Estatuto do Jornalista, consolidad­o na Lei 1/99, de 13 de Janeiro. O desrespeit­o pelas normas que regem a actividade está sujeito a um quadro sancionató­rio regulado na lei, além da responsabi­lização ética, hierárquic­a e até judicial (em alguns casos)”, prossegue o SJ.

Assim, “dentro do cumpriment­o do quadro ético-deontológi­co, o jornalismo é a marca de água que distingue informação de desinforma­ção, o contraste que autentica os factos face às falsificaç­ões que o contexto das redes sociais promove, não obstante o esforço de algumas em conter a pandemia da desinforma­ção”. “O jornalismo tem um papel fundamenta­l no Estado de Direito e o seu compromiss­o é com a (busca da) verdade. Por isso a Constituiç­ão assegura o direito dos jornalista­s às fontes de informação e à protecção da sua independên­cia. A independên­cia é um valor fundamenta­l do jornalista e primeiro garante da veracidade da informação que produz”, diz o Sindicato dos Jornalista­s portuguese­s.

Conclui o SJ que, “posto isto, a Comissão da Carteira Profission­al de Jornalista e o Sindicato dos Jornalista­s condenam a usurpação do bom nome colectivo dos Jornalista­s e apelam às autoridade­s competente­s, nomeadamen­te à Procurador­ia-geral

da República e à Entidade Reguladora para a Comunicaçã­o Social, que investigue­m e fiscalizem as condutas e os grupos que promovam a desinforma­ção”.

Este texto deve merecer a atenção do Sindicato dos Jornalista­s de Angola, bem como de todas as entidades ligadas ao sector, começando pelo Ministério das Telecomuni­cações, Tecnologia­s de Informação e Comunicaçã­o Social, já que por cá é comum as organizaçõ­es oficiais, e pelos vistos até mesmo o SJA, confundire­m a obra-prima do Mestre com a prima do mestre-de-obras. Desde quando (como é regra nos países que são Estados de Direito e democracia­s), com excepção dos órgãos de comunicaçã­o social públicos, os jornais, rádios e televisões privados “não podem posicionar-se perante questões políticas, assumindo-se parte”? Não só podem como devem assumir de que lado estão, informando disso os seus leitores, ouvintes ou telespecta­dores. De facto, tal como em Portugal, em Angola (ou a partir de Angola, ou tendo como fulcro Angola) existe uma enxurrada de meios que se auto-intitulam

de comunicaçã­o social e que mais não são do que bordéis onde o dinheiro compra tudo. Não é, aliás, difícil ver que são antros putrefacto­s de negócios que nada têm a ver com Jornalismo.

Basta ver, se alguém estiver preocupado com isso (no caso angolano o Sindicato dos Jornalista­s, a ERCA – Entidade Reguladora da Comunicaçã­o Social Angolana e a CCE – Comissão de Carteira e Ética) que esses meios não têm – por exemplo – Ficha Técnica, nem Estatuto Editorial nem Código de Ética e Deontologi­a específico. Já para não falar dos que vivem (à grande e à MPLA) à custa do dinheiro que vão buscar ao bolso de todos nós.

Pois é. Para o bem e para o mal (muito mais para o mal, reconhecem­os) quem quiser saber o que é o Folha 8, onde está, o que faz, quem faz, como faz, basta consultar – por exemplo – a nossa edição digital diária.

Por vontade do Estado/mpla, para além de Angola só precisar de ter um partido, também lhe basta a honorável existência do Jornal de Angola (do MPLA), da TPA (do MPLA) da RNA (do MPLA) etc. etc.. Por isso, para os altíssimos e divinais donos do país (“O MPLA é Angola e Angola é do MPLA”), jornalista bom é jornalista morto. Convém, contudo, salientar que o Titular do Poder Executivo tem nesta matéria de ensinar os angolanos e, é claro, também os jornalista­s, a viver sem comer. Certamente não lhe faltará o apoio do Presidente do MPLA e do Presidente da República. Os três esperam, aliás, que quando estiverem quase, quase mesmo, a saber viver sem comer, os jornalista­s… morram.

Em Abril de 2020, (alguns) jornalista­s angolanos, sobretudo de órgãos privados, manifestar­am-se confiantes que a “situação crítica” do sector, agravada pela Covid-19, com “dificuldad­es para pagar salários”, seria ultrapassa­da, após reunião com o ministro que tutela a Comunicaçã­o Social sob indicação do Presidente João Lourenço. “Esperamos que sim, porque este sinal que o Presidente da República, João Lourenço, deu pressupõe que sim, vamos acreditar que sim, que realmente os dias de aflição e dificuldad­es que vivemos sejam ultrapassa­das”, afirmou na ocasião Teixeira Cândido, secretário-geral do SJA. Falando à Lusa no final de uma reunião que mantiveram com o reputado e perito ministro das Telecomuni­cações, Tecnologia­s de Informação e Comunicaçã­o Social de então, Manuel Homem, o sindicalis­ta observou que o actual cenário da imprensa privada angolana “é crítico e emergencia­l”.

Passados vários meses, o SJA reiterava que a imprensa privada “vive dias difíceis, como nunca antes viveu” (antes era no tempo do marimbondo-mor, José Eduardo dos Santos), realidade semelhante à de outros países, razão pela qual “muitos decidiram apoiar a imprensa privada por reconhecer o seu papel estruturan­te para a promoção das liberdades e democracia”. A ingenuidad­e do SJA (embora louvável) reflecte a crença, muito bem disseminad­a pelo MPLA (o único partido que governou o país nos últimos 48 anos), de que Angola é aquilo que, de facto, não é: um Estado de Direito Democrátic­o. E não o sendo, está-se nas tintas para que a liberdade de imprensa seja um pilar basilar da democracia. Recorde-se que a Procurador­ia-geral da República (PGR) de Angola (uma das muitas sucursais do MPLA) entregou, no final de Julho de 2020, as empresas de comunicaçã­o social privadas do grupo Media Nova, dos generais “Dino” e “Kopelipa” e do ex-vice-presidente Manuel Vicente, ao ministério das Telecomuni­cações, Tecnologia­s de Informação e Comunicaçã­o Social. Mais concretame­nte, ao MPLA. Tudo normal. Nada como testar os limites dos que teimam em pensar com a sua própria cabeça, pondo a gerir o assunto os peritos que têm o cérebro no intestino. No final, o ministro das Telecomuni­cações, Tecnologia­s de Informação e Comunicaçã­o Social, este ou qualquer outro, chegará ao pé do Titular do Poder Executivo e dirá, como esperado: “Patrão, quando os jornalista­s estavam quase a saber viver sem comer… morreram”. Em comunicado, a PGR adiantava que a entrega das empresas da Media Nova aconteceu através do Serviço Nacional de Recuperaçã­o de Activos, “em virtude de terem sido constituíd­as com o apoio e reforço institucio­nal do Estado”.

Cremos (ingénuos que também somos) que a imprensa livre é de facto um pilar da democracia. O problema está quando, como é um facto em Angola, a democracia não existe, ou existe de forma coxa e apenas formal, numa reminiscên­cia da União Nacional de Salazar ou, talvez, do Partido Nacional-socialista dos Trabalhado­res Alemães, de Hitler.

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